Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

Para você entrar em nossos artigos click nas imagens nas laterais e encontrarás os lincks dos artigos postados.

Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

quarta-feira, 30 de junho de 2010

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Missa Solenidade de São Pedro e São Paulo - 04-julho- 2010
O Amor nos faz avançar e lançar as redes e ir em defesa da fé até o martírio.
Mt 16,13-19 QUANDO SOU FRACO, ENTÃO É QUE SOU FORTE
Neste domingo, celebramos a solenidade de São Pedro e São Paulo, colunas fundamentais da fé da Igreja. O que podemos destacar destes dois grandes apóstolos, entre tantas características, obras e testemunhos de cada um deles? Pedro e Paulo são diferentes por natureza, mas idênticos no amor a Cristo e à Igreja. Jesus muda o nome dos dois: Simão passa a se chamar Pedro, e Saulo, por sua vez, Paulo. Ambos têm um encontro com Jesus ressuscitado: Pedro sobre as margens do Jordão e no Lago de Tiberíades, Paulo sobre o caminho de Damasco. Ambos dão a vida por Cristo até o martírio em Roma.
Dois santos, podemos dizer, que nunca estão parados. Homens como nós, com tantas fraquezas, medos, capazes de trair, mas que têm plena confiança em Cristo.
E Jesus confia neles. Pedro deve repetir por três vezes o seu amor. Paulo repete infinitas vezes que ele, perseguidor, tornou-se apóstolo somente pela graça.
Falando de Pedro e Paulo, podemos falar da grandeza e santidade que eles representam, mas podemos também falar das suas fraquezas e dos seus pecados, e aí, descobrimos que é a mesma coisa, porque é exatamente a bondade e a misericórdia do Senhor que muda o coração deles e os transforma até se tornarem de pecadores a grandes santos e a transformar suas vidas num amor humilde e apaixonado pelo Senhor Jesus.
Pedro demonstrou várias vezes o seu caráter, a sua fraqueza, o seu cansaço para entender o coração de Jesus. Lembremo-nos quando Jesus lhe diz: “afasta-te de mim, Satanás!”; ou quando caminhando sobre as águas, duvida e Jesus lhe diz: “homem de pouca fé!” Mas, sobretudo é humano e fraco no momento da paixão de Jesus. Ele que tinha afirmado: “mesmo que todos os outros te abandonem, eu jamais te abandonarei”, o que pouco depois cai por terra quando constatamos a sua fraqueza quando ele nega por três vezes a Jesus, jurando nunca tê-lo visto. Entretanto, é esta pobreza de Pedro que encontra o olhar misericordioso de Jesus e por ele se deixa curar. Depois da ressurreição, às perguntas repetidas de Jesus se o ama, ele responde: “sim, Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo, tu sabes como te amo”. E a sua vida, mesmo em meio às dificuldades e fraquezas, será sempre a demonstração deste amor apaixonado pelo seu Senhor, até a prisão, às viagens, e, finalmente, ao martírio.
Também Paulo, fariseu convicto, fanático, perseguidor ferrenho dos cristãos, colaborador do martírio de Estevão, é alcançado por Jesus que transforma o seu coração, gastando toda a sua vida numa missão contínua dirigida aos vários povos que ele pôde alcançar. Até o momento no qual pode afirmar: “combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Não me resta outra coisa senão esperar a coroa da justiça que o Senhor, o justo juiz, preparou para mim. O Senhor veio em meu auxílio e me deu forças” (II leitura).
Homens frágeis, pecadores, transformados pela misericórdia do Senhor e pela força do seu Espírito. Deram a vida pelo Senhor e estabeleceram as bases da comunidade cristã, a Igreja, destinada a se espalhar em todo o mundo. Aquela de Pedro e Paulo é a nossa humanidade resgatada; também nós não devemos nunca ficar desencorajados diante das nossas fraquezas, de nossas dúvidas, de nossa falta de fé, mas sempre renovar o nosso amor ao Senhor.
Dois apóstolos diferentes, ambos colunas fundamentais da Igreja, garantindo a unidade desta. Pedro recebe o carisma, isto é, o dom e a tarefa, de ser referência para a unidade e a comunhão entre os que acreditam em Cristo, através do serviço à verdade. Pedro é a pedra sobre a qual Cristo quis edificar a sua Igreja, a sua comunidade e a ele confia as chaves do Reino.
Paulo recebeu a tarefa de difundir a palavra de verdade, o Evangelho, até os confins da terra, por isso, é chamado o Apóstolo das nações, pregando e fundando comunidades cristãs, pregando Cristo.
São santos que encontram no Papa o continuador e o testemunho da missão de Cristo que continua em meio a nós. No Papa, encontra-se a autoridade de Pedro, chefe visível da Igreja e centro de unidade, e no Papa, encontramos o ardor missionário de Paulo.
A festa de hoje nos ajuda a renovar e a refundir a nossa fé. A fé cristã católica não é simplesmente uma fé em Deus ou em Cristo, mas é fé na Igreja. Dizemos no Credo: “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica”. É na Igreja que nós podemos ter uma relação autêntica com Cristo, único salvador e com Deus, o Pai, que Cristo nos revelou.
Este domingo nos chama a sermos presença ativa, assumindo a nossa responsabilidade na Igreja, para que sejamos sempre mais “comunhão” no interior dela e sejamos sempre mais “missão” no mundo de hoje. Hoje é um dia que nos faz sentir-nos honrados em colaborar com o Santo Padre na caridade e no empenho para com tantos famintos de pão e de Deus, aos quais devemos chegar como um sinal concreto de um Deus que é amor e providência para todos os seus filhos.

Porque sofremos?



Inicie esta reflexão lendo o texto do profeta Isaías 53. Antes de continuar a leitura desta postagem pare e deixe-se questionar diante da palavra profética proclamada a quase 750 anos antes do Calvário.
E então nos questionaremos diante do sofrimento que passamos, creio que encontraremos uma resposta para nós, pois esta pergunta "porque sofremos?" ela sempre será uma pergunta que nos levará a grandes interpelações para quem somente busca a tal felicidade querida neste tempo e neste mundo.
Esta é uma pergunta que atormenta a nossa humanidade. O sentido da vida humana pode ser encontrado mediante a realização de alguma coisa, mediante um acolhimento à beleza da natureza ou das artes, por meio das quais a pessoa se realiza e se sente plena( Vitor Frankl).
Podemos citar o exemplo de pessoas que enfrentam escaladas a altas montanhas e ao atingir o cume, saboreiam uma sensação de plenitude. E por último, mediante ao enfrentamento de limitações da vida, as quais abrem um incalculável leque possibilidade diante de situações limites, como as doenças.
A questão é que temos a tendência de exagerar o lado positivo ou negativo da vida, pois exageramos o tom do prazer ou do desprazer em nossas vivências. Dependendo do grau de importância que atribuímos a esses aspectos (positivos ou negativos), caímos na reclamação, na murmuração da vida e, muitas vezes, nos tornamos amargos.
O sofrimento, assim como o prazer e a alegria, faz parte da vida. Não podemos fugir das situações de sofrimento, e muito menos impedir que as pessoas que amamos sofram. Portanto, precisamos aprender a aproveitar as situações que nos fazem sofrer da forma mais positiva possível.
Muitas vezes não temos o poder de mudar os fatos, mas sempre temos o poder de permitir que eles nos mudem!
O sofrimento bem interpretado e bem administrado nos torna mais humanos.
Espero não perder nem um momento dessas lições que o sofrimento apresenta e ter capacidade de gerenciar com humildade esse sofrimento.
E encontrar no próprio sofrimento do Cristo proclamado pelo profeta a 750 anos antes o sentido da nossa vida a Redenção, quando olhado não com masoquismo, mas como algo que posso tirar como lição e no nosso caso de cristãos uní-los ao de Cristo e assim torná-lo Redentor a mim e oferecer aos meus.

Pe. Emílio Carlos Mancini. +
Com minha pobre benção.

terça-feira, 29 de junho de 2010

VOCÊ FICARIA DE PÉ?


Esta é uma história verdadeira que aconteceu há alguns anos, na Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos.
Havia um professor de filosofia que era um ateu convicto.
Sempre sua meta principal era tomar um semestre inteiro para provar que DEUS não existe.
Os estudantes sempre tinham medo de argüi-lo por causa da sua lógica impecável.
Por 20 anos ensinou e mostrou que jamais haveria alguém que ousasse contrariá-lo, embora, às vezes surgisse alguém que o tentasse, nunca o venciam.
No final de todo semestre, no último dia, fazia a mesma pergunta à sua classe de 300 alunos:
- Se há alguém aqui que ainda acredita em Jesus, que fique de pé!
Em 20 anos ninguém ousou levantar-se.
Sabiam o que o professor faria em seguida.
Diria :
- Porque qualquer um que acredita em Deus é um tolo! Se Deus existe impediria que este giz caísse ao chão e se quebrasse.
Esta simples questão provaria que Ele existe, mas, não pode fazer isso!
E todos os anos soltava o giz, que caia ao chão partindo-se em pedaços.
E todos os estudantes apenas ficavam quietos, vendo a DEMONSTRAÇÃO.
A maioria dos alunos pensavam que Deus poderia não existir. Certamente, havia alguns cristãos mas, todos tiveram muito medo de ficar de pé.
Bem..... há alguns anos chegou a vez de um jovem cristão que tinha ouvido sobre a fama daquele professor.
O jovem estava com medo, mas, por 3 meses daquele semestre orou todas as manhãs, pedindo que tivesse coragem de se levantar, não importando o que o professor dissesse ou o que a classe pensasse.
Nada do que dissessem abalaria sua fé... ao menos era seu desejo.
Finalmente o dia chegou.
O professor disse:
- Se há alguém aqui que ainda acredita em Jesus, que fique de pé!
O professor e os 300 alunos viram, atônitos, o rapaz levantar-se no fundo da sala.
O professor gritou:
- Você é um TOLO!!! Se Deus existe impedirá que este giz caia ao chão e se quebre!
E começou a erguer o braço, quando o giz escorregou entre seus dedos, deslizou pela camisa, por uma das pernas da calça, correu sobre o sapato e ao tocar no chão simplesmente rolou, sem se quebrar.
O queixo do professor caiu enquanto seu olhar, assustado, seguia o giz.
Quando o giz parou de rolar levantou a cabeça... encarou o jovem e... saiu apressadamente da sala. O rapaz caminhou firmemente para a frente de seus colegas e, por meia hora, compartilhou sua fé em Jesus.
Os 300 estudantes ouviram, silenciosamente, sobre o amor de Deus por todos e sobre seu poder através de Jesus.
Você tem duas opções:
1 - Apagar esta mensagem de seu pensamento e coração e esquecer a história ou,
2 - Passar a seus amigos, cristãos e não cristãos, dando-lhes a coragem que precisamos todos os dias ao nos levantarmos.
Passando o endereço de meu blog:
http://pemiliocarlos.blogspot.com/
ou ainda copiar esta mensagem e enviar a muitos amigos .

Pe.Emílio Carlos +
Grãozinho de areia.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A caridade (amor) é o vínculo da perfeição.



Que belíssima expressão, mas que exigência terrivél para nós cristãos neste seguimento se não tivermos de fato o coração de Jesus ou melhor não somente deitar nossa cabeça no seu coração, no seu peito, mas ter seu coração em nossa cabeça,isto é trazer os mesmos sentimentos de Cristo em nós exigindo de nós uma verdadeira conduta no seguimento do Novo testamento , sendo esta nossa lei e sendo nos mesmo a nova lei em Cristo.
Tome e leia: Colossenses 3, 12-14
O que é este amor? Em Colossenses 3,14 lemos que: a caridade (amor) é o vínculo da perfeição. Amor é um vínculo. Ele une ou torna um. No amor, dois se tornam um. Eles são unidos num vínculo com uma mente, uma vontade e um desejo. Amor é uma unidade na comunhão. O que é mais: amor é o vínculo da perfeição isto é, da perfeição moral. Isto é o que a Bíblia chama de santidade. Este é o tipo de vínculo que o amor é. Este, a propósito, é precisamente o porquê o amor não pode existir no mundo de pecado e incredulidade. O amor une num vínculo de justiça e de bondade moral. E novamente, que seja enfatizado, o amor procede primariamente de Deus. Deus o Pai, Filho e Espírito Santo vivem num vínculo íntimo de comunhão, um vínculo baseado na perfeição da justiça e santidade do próprio Deus. Deus ama a si mesmo e não precisa de ninguém fora de si. Deus vive no vínculo da perfeição.
A maravilha é que Deus amou e ainda nos ama! Ele nos amou na eternidade. Antes da fundação do mundo, Deus, em seu amor, nos predestinou para sermos conformados à imagem do seu Filho (Efésios 1). Deus, que não tinha necessidade de nós, determinou colocar seu amor sobre nós e nos tomar em sua comunhão pactual. Este amor de Deus é certamente manifesto em Cristo e na sua cruz. "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3,16) "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5,8). Deus nos amou tanto que ele deu seu Filho primogênito à cruz, às agonias do inferno, à morte e ao sepulcro por nós. Olhando para este amor maravilhoso de Deus e considerando nossa indignidade como pecadores depravados e imundos, só podemos exclamar com o apóstolo inspirado: "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus ..." (1João 3,1). Este é o amor de Deus! Vede que grande amor de Deus!
Maravilhe-se e seja grato por ele.
A questão é: como recebemos o amor de Deus? A resposta é: da parte do Espírito Santo. O Espírito Santo, enviado pelo Cristo ascendido, derrama o amor de Deus em nossos corações. A Bíblia diz: "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio..." (Gálatas 5,22-23). Note que o texto não diz os frutos do Espírito, mas o fruto do Espírito. Por conseguinte, não há muitos frutos, mas somente um fruto. Este um fruto do Espírito é o Amor de Deus. E este amor-fruto do Espírito é composto de muitas virtudes e bênçãos. Alegria, paz, longanimidade, benignidade, etc., tudo isso pertence ao amor de Deus, que é o fruto do Espírito. Ele é de fato um fruto riquíssimo!
Este amor de Deus que recebemos do Espírito Santo é visto em nós. Manifestamos este amor de Deus exatamente ao amar os nossos irmãos. Isto significa que nunca os magoamos ou falamos mal deles. Sempre buscamos o bem-estar deles. Estamos dispostos a até mesmo dar nossas vidas pelos irmãos. Isto é enfatizado fortemente na Escritura. Os capítulos 3 e 4 de 1 João estabelecem o ponto de que não podemos amar a Deus se não amarmos o irmão. Jesus disse: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros" (João 13,35).
Este amor de Deus tem duas características principais ou dominantes. Em primeiro lugar, ele é um amor soberano. Isto está escrito em quase toda página da Escritura. Em Deuteronômio 7,7-8 encontramos Moisés se dirigindo a Israel: "Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava." O amor de Deus não dependia de algo em Israel. Na verdade, Israel se manifestou repetidamente como um povo rebelde e de dura cerviz. Não havia nada neles que os tornassem dignos do amor de Deus. A Bíblia ensina (cf. Efésios 1,3-11) que fomos abençoados com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo Jesus, escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo e predestinados para a adoção de filhos por Cristo. E Deus fez tudo isto em amor, em seu soberano amor. Portanto, não há outra razão para a nossa eleição em Jesus Cristo do que o amor soberano de Deus. De acordo com esta mesma passagem da Escritura, este amor de Deus é de acordo com o bom propósito da sua vontade! Deus determinou livremente nos amar em Cristo. Então, há a passagem clássica de 1 João 4,10: "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados." Literalmente, o texto diz: "Nisto está o amor ... " todo amor: o amor de Deus por nós e nosso amor a Deus e aos nossos irmãos em Cristo. Todo amor consiste nisto, não que tenhamos amado a Deus, mas que ele nos amou. O amor de Deus sempre vem primeiro. A parte disso não poderia haver nenhum amor.

Pe.Emílio Carlos +
o irmão menor e pecador grãozinho de areia.

A Vida Contemplativa III



Nesta terceira parte de nossa exposição sobre a vida contemplativa quero apresentar agora elementos para uma vida contemplativa, claro que isso não significa algo pronto e decisivo é um esboço do que penso:
1. É uma intuição que em seu nível inferior transcende os sentidos. No visível superior, transcende o próprio intelecto. Por isso penso que as almas contemplativas serão sempre incompreendidas.
2. Daí ser ela caracterizada por uma espécie de luz nas trevas, de conhecimento no desconhecimento.
3. Nesse contato com Deus, na obscuridade, deve haver certa atividade amorosa, de ambas as partes. Do lado da alma, deve haver desapego das coisas sensíveis, libertação do espírito de todo ser criado, da imaginação, de todo forte apego emocional e apaixonado às realidades sensíveis.
O “pensamento apaixonado” deturpa a visão intelectual, impedindo que se vejam as coisas como são. Mas devemos ir além da inteligência, não nos apegando sequer a “pensamentos simples”.
Todo pensamento, não importando seu grau de pureza, é ultrapassado na contemplação.
O contemplativo – ou a vida contemplativa deve então estar alerta para desligar-se de qualquer apego sensível ou mesmo espiritual.
São João da Cruz nosso baluarte nos ensinará que o contemplativo deve afastar-se mesmo de visões aparentemente sobrenaturais de Deus e de seus santos, de modo a permanecer nas trevas do “desconhecimento.”
Em qualquer caso, a contemplação pressupõe um esforço generoso e total de renúncia ascética de si mesmo.
A contemplação é uma Obra de amor, e o contemplativo prova que ama deixando todas as coisas, mesmo as mais espirituais, para ir a Deus no nada, no desprendimento e na “noite escura”, Deus só. Não é este o nosso Carisma a ser proclamado e vivenciado ,como é este o Carisma dos anjos . Assim todo desejo é desejo de Deus.
Mas o fator decisivo na contemplação é a livre e imprevisível ação de Deus. Só Ele pode dar o dom da graça mística e de alma contemplativa e fazer-se conhecer pelo contato secreto e inefável que revela Sua presença nas profundezas da alma.
O que importa é o amor de Deus pela alma e não o amor da alma por Deus.
O homem conhece a Deus ao tornar-se um com Ele.
Quem ama a Deus compreende que a maior alegria, a perfeita beatitude, é amar a Deus por aquilo que Deus É, e renunciar a todas as coisas por causa Dele exclusivamente ou exclusivamente por causa do amor, porque Deus é amor.
A vida contemplativa é uma experiência do fato de Deus ser amor infinito e de ter-se dado inteiramente a nós,e de que, doravante, só o amor importa.
O próprio ato de amar é o maior prêmio do amor ( S. Bernando)
Um amor puro e desinteressado pelo Deus que é fonte de todo amor só pode ser a alegria mais pura e a mais perfeita e o maior de todos os prêmios.
A experiência da oração e vida contemplativa e os sucessivos estados de contemplação que se atravessam são todos modificados pelo fato de estar a alma passiva total ou parcialmente sob a direção de Deus.
Assim cheios de Deus e em Deus os nossos consagrados participam da “alegre festa da convivência – da vida fraterna”, transbordamento do meu estar e ser em Deus.
Reconhece que tal festa de Deus é uma pregustação da festa Eterna em Deus e assim deve ser o nosso amor a Deus e a nossa vida consagrada na fraternidade, conseguir portanto de algum modo, antecipar e prefigurar a festa de Deus, festa no céu. Monges peregrinos ou ambulantes, antecipando o dia glórioso da visão Eterna.
O nosso ser chamado a “vida ativa” que sabemos como tal classificação serve para interpretações ambíguas e redutivas não se isola de uma vida contemplativa, mas tanto uma como outra se ajustam, pois não são duas vidas - Contemplativa ou Ativa ou Ativa e contemplativa. Contemplativa ou Ativa se sustentam e uma é prolongamento da outra , pois a oração sustenta a ação e a ação exige a oração para manter-se,está aqui a essência do testemunho da vida de consagrados, no aparente e às vezes artificial esplendor das luzes da festa, percebem o fascínio de uma outra luz que brilha misteriosa nas trevas e ilumina a noite mais escura, e se sentem chamados a ser sinal dessa luz, que é luz verdadeira que ilumina todo homem (Jo 1,9), chamado a acendê-la e a reconhecê-la no coração dos homens, para que as luzes e cores da festa terrena não ceguem os olhos feitos para ver a Deus.
É essa a substância e a originalidade do testemunho de nossa vida comunitária e fraterna de oração, contemplação e ação que passa através de uma partilha. Não somente a partilha das coisas mas da vida.
Assim nosso estilo de vida Contemplativo e Ativo consiste numa nova e específica expressão de fraternidade, que se manifesta agora no respeito e na acolhida dos desejos do homem, na compreensão profunda deles, que nasce, na última análise da consciência e da experiência da própria humanidade; compreensão que permite captar e mostrar a natureza apenas preliminar e provisória desses desejos, como algo que precede uma outra coisa que virá e que é maior, muito maior, como sinal ainda tênue e opaco de uma realidade futura luminosíssima, como saciedade de um desejo terreno que é somente uma pregustação da festa de Deus que virá para saciar todo desejo humano e na verdade todo desejo mesmo de Deus para o homem.
Um relacionamento que se inspira na gratuidade, profundas afinidades, não só pelos laços sanguíneos, mas pelos laços do Espírito, permitem caminhar para uma dimensão maior, na convicção de que o seu único e verdadeiro desejo é aquele de ver a Deus e que todo desejo, inclusive o mais terreno ou aquele que depois toma outra direção, pode se tornar caminho que leva a Deus, mesmo quando o próprio homem não está consciente deles.
Não existem desejos demasiadamente pequenos ou menos nobres para Deus. Assim todo desejo humano é desejo de Deus. De fato, aquilo que o homem deseja pode ser saciado de modo pleno e definitivo somente por aquele Deus que é a fonte e o destino, a pátria e o seio do desejo humano.
Do mesmo modo, porém, devemos dizer se todo consagrado , toda vida consagrada a Deus é hoje também chamado a viver a fraternidade espiritual com o homem desta nossa sociedade, então todo consagrado deveria ter aprendido a reconhecer os desejos do homem, em sua natureza misteriosa e um tanto ambivalente ao estar ao lado do irmão para incentivá-lo em direção aos desejos de Deus; deveríamos estar especializados nessa participação – partilha tipicamente fraterna de alguns momentos significativos da vida humana, não somente da festa, mas também do luto, dos momentos que celebram o amor e daqueles que celebram a dor, das situações de ansiedade e onde mais forte é a tentação do desespero, nos lugares onde Deus aparece ausente ou onde o homem se sente esquecido por Ele.
Em resumo, lá onde o ser humano aspira algo e espera alguém, devemos apontar Deus.
Pois como sabemos o homem é um ser que jamais poderá ser saciado por si mesmo, com suas ações, nem dar para si mesmo a sua plenitude desejada, porque não pode senão receber de outro a vida, a alegria, o amor para o qual é feito – somos de Deus.
O problema é que o homem de hoje parece atrofiado em sua procura, não se propõe a ir mais longe, é inerte, passivo, conformado, às vezes superficial e banal em se contentar com tão pouco; incapaz de viver a benéfica inquietação, a incansável luta da busca, que é a primeira e indispensável condição na procura de Deus.
Assim encontramos pessoas que programam o seu futuro simplesmente deduzindo-o do presente, com base naquilo que são ou naquilo que ouvem ou naquilo que são capazes e seguras de fazer, sem mais nenhum espaço para o mistério, para a busca de uma novidade de ser, para a disponibilidade de “ser mais”, em correr o risco de fazer algo de inédito e grande.
Assim vemos multidões de homens do nosso tempo que não sentem mais necessidade alguma de procurar, nem qualquer saudade da verdade e, conseqüentemente, não podem viver senão uma vida inerte, cinzenta e superficial.
Um ponto que se é preciso frisar é que o dom da fraternidade como tradução da espiritualidade e de nossa vida com Deus na contemplação , que será um transbordamento de Deus, evidentemente não se improvisa nem acontece automaticamente ou de forma a se pautar em esquemas de formação ou horário estipulado em nossos planejamentos de vida comunitária.
Todos os tratados sobre vida fraterna e comunitária podem se reduzir em conversa fiada se os membros de qualquer Instituto ou Sociedade de vida cristã não se convencerem de que o primeiro apostolado é produzir fraternidade, vida de comunhão e que a base de qualquer apostolado é essa capacidade de produzir fraternidade – Comunhão – Koinonia – Vida compartilhada a partir de minha abertura e doação.
Não difunde fraternidade quem não sabe ser irmão dos irmãos que o Senhor colocou ao seu lado.
Não poderemos esquecer jamais que somos chamados a ser estes monges que peregrinam, que transeuntes no mundo levamos Deus, somente Deus em tudo e sempre.
O modelo da fraternidade pode ser participado a outros somente através de contato direto e experiência imediata por parte de quem demonstra que é possível viver nos relacionamentos habituais e cotidianos uma relação humana intensa, mas que não provém da carne nem do sangue ( Cfr. Jo 1,13).
“A primeira tarefa da nossa vida consagrada é tornar visíveis as maravilhas que Deus realiza na frágil humanidade das pessoas chamadas.” ( Cfr. VC 20)
Que a nossa vida comunitária consiga mostrar Deus a si mesma e ao mundo eis nossa grande tarefa.
É claro que isto não é algo que se improvisa, não é algo que se faz por informações ou formações, mas é sobretudo uma aprendizagem experiêncial, fruto de uma conversão, uma metanóia contínua. Que acontece dentro da própria comunidade, como lugar no qual se aprende a comunicação entre irmãos, a se querer bem porque se conhecem, e na qual se constrói comunhão exatamente a partir da partilha de vida, daquilo que é vital e central na vida de uma família consagrada, como bens espirituais e materiais que são partilhados. É bom lembrar que ninguém pode improvisar “fora” aquilo que não aprender a fazer “dentro”. Não pode haver fraternidade onde não há comunicação. O próprio testemunho de fraternidade é um evento comunicativo e pascal, pois é preciso mortes e ressurreições, é transmissão de valores, palavras, sentimentos, afetos, primeiramente dentro da comunidade, dentro da vida que se vive e se celebra o dom do Carisma fundacional e depois, fora dela.
Assim nossa Comunidade com o Dom, com o Carisma recebido, nossa Espiritualidade com nosso estilo de vida contemplativo e apostólico onde um é o complemento do outro deve buscar o equilíbrio.
O Apostolado deverá ser decorrência da contemplação. O que foi Contemplação agora é ação. E a ação exigirá o ir para Contemplação onde iremos nos abastecer para levar: Deus nosso Tudo.
O Apóstolo Alpha e Ômega é antes de tudo um homem unido a Deus, e desta união é que resultam a luz e a vida que levarão Deus, somente Deus em tudo e sempre, às pessoas.
Nosso baluarte São João da Cruz vê na pregação um exercício mais espiritual que vocal porque sua força e eficácia advém do espírito interior.
O grande acerto da Santa Reformadora, Teresa D’Àvila, não conhecido até então praticamente, é que ela quis fazer de suas monjas “orantes – apostólicas”. Exigir Carmelos reformados para que ali se orasse pelos pregadores e defensores da Igreja (Cam 1,1). Nada de oração egoísta.
Tinha uma finalidade mais clara, no entanto, para os seus filhos: queria-os grandes contemplativos, mas também grandes apóstolos que realizassem o que elas, por serem mulheres, não poderiam fazer.
Por sua parte, São João da Cruz, tão grande contemplativo, chegou a fazer suas as palavras do Pseudo-Dionísio: “ Entre todas as coisas, a mais divina é cooperar para a saúde das almas”.
Assim conclamo todos os nossos a que sejamos profundo homens de contemplação, monges peregrinos, para que sejamos eficazes homens no Apostolado.
É isso que agora rezo e suplico ao bom Deus , seja eu um verdadeiro Teoforo=portador de Deus.
Que nosso Apostolado seja o resultado do Deus contemplado e assim todo desejo seja desejo de Deus.
Recordo-me com ardor inicial dos nossos cinco primeiros da Comunidade de Vida que a cinco horas da manhã levantávamos para oração das Laudes e o Louvor matinal, para depois sairmos para o trabalho! Onde estamos agora? Onde está o ardor e o fervor primeiro. Onde estão os cinco primeiros?
E os nossos dez primeiros da Aliança? Quantas “loucuras de amor” no início para estarmos juntos para orar e partilhar a vida? Para onde foi este ardor e fogo abrasador das primeiras horas?
Todo desejo é desejo de Deus, quando as almas estão abrasadas pelo verdadeiro amor e assim uma vez possuídas, por nada se deixam presas ou dominadas.
Penso que somente assim é que estaremos sendo e fazendo a nossa parte, dentro da Graça fundacional que nos foi dada por Deus.
Somente assim nosso Carisma será sempre atual, pois o mundo sempre estará necessitado, ou melhor todo o homem estará necessitado de Deus e só em Deus sua realização e sua plenitude, sempre será tempo e momento de se anunciar com a vida: Deus, somente Deus, em tudo e sempre!
Alpha e Ômega.
Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre.
Ao Rei dos séculos imortal e invisível Honra e Glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Pe.Emílio Carlos Mancini+
o grãozinho de areia.

Temos que ser transformados


Precisamos ser no mundo o que Cristo tem sido em nós como o fermento da eternidade.

2 Coríntios 3,18.
Efésios 4,13-16


Nossas vidas são mudadas olhando atentamente a glória que há em Jesus (2 Coríntios 3,18). Há duas coisas que veremos olhando na face de Cristo. Primeiro de tudo, o que não somos. Nunca de fato os homens sabem quão profunda sua impiedade tem sido enquanto não olham com honestidade na face de absoluta santidade e justiça, que não viveu em isolamento celestial mas na suja realidade da carne humana. É uma experiência atemorizadora, mas absolutamente necessária para nossa transformação. Como jamais poderemos ser diferentes enquanto não soubermos quão desesperadamente precisamos sê-lo?
A segunda coisa que veremos na face de Jesus é o que podemos ser. Seja quanto for que sua santidade nos fez ver em nossa impureza, seu amor nos encherá ao mesmo tempo com uma visão do que sua graça e poder podem fazer-nos. Temos que ser "transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito" (2 Coríntios 3,18).
E finalmente, precisamos ser no mundo o que Cristo tem sido em nós como o fermento da eternidade, sempre crescendo, expandindo, mudando-nos. As pessoas poderão ver o que pode acontecer com elas observando o que aconteceu conosco (Mateus 5,13-16).
Que a beleza de Cristo se veja em mim,
Todo a sua bondade e amor sem fim!
Oh! Que todo o meu ser possa se converter!
Que a beleza de Cristo se veja em mim!

Pe.Emílio Carlos +
o irmão menor e pecador grãozinho de areia.

Possuindo o que não tem preço



Aqueles que acham o reino celestial serão provavelmente considerados loucos pelos ignorantes.

Mateus 13,44

"O Reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu, e, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo" (Mateus 13,44).
As parábolas do tesouro escondido e da pérola de grande preço são registradas somente por Mateus. Junto com a parábola da rede elas compõem o trio concludente de parábolas com as quais Jesus encerra sua série sobre a natureza do reino do céu. Diferindo das parábolas anteriores, dirigidas à multidão, estas aparentemente foram ditas em particular aos seus discípulos.
Duas parábolas contêm a mesma mensagem: o incomparável valor do reino de Deus. Mas cada uma tem seu próprio e único modo de apresentar sua lição e merece ao menos algum tratamento individual.
A única disputa real sobre o significado destas duas parábolas que afetaria radicalmente sua mensagem é sobre o que Jesus quis dizer nelas com "o reino".
Há quem defenda o ponto de vista onde o fazendeiro e o negociante, nestas duas histórias, representam Cristo, e que o "tesouro escondido" e a "pérola de grande preço" representam a igreja, cuja redenção do pecado custou-lhe literalmente tudo, um preço que Jesus alegremente pagou. Não há motivo para disputar a verdade de uma tal idéia, mas a questão é se essa é a mensagem destas parábolas.
A palavra grega baseleia (reino) certamente inclui, por implicação, aqueles que são dominados, mas sua idéia raiz é o poder e o domínio do rei. O valor do reino do céu não se apóia principalmente naqueles que, pela graça divina, tiveram permissão para recebê-lo, mas na glória e no poder do Deus que reina sobre ele. Todas as parábolas de Jesus sobre o reino falam deste ponto, de como o reino cresce. Nada no contexto destas duas parábolas sugeriria que, nelas, Jesus voltasse sua atenção para longe de como ele estabeleceria seu reino entre os homens, para falar sobre o grande valor que ele dá a homens e mulheres perdidos. É um ponto válido defendido poderosamente em outros lugares, porém, cremos, não aqui.
Conversas sobre tesouros enterrados, no final do século vinte, trazem à memória o disparate semi-lendário sobre o botim do pirata escondido longe, em alguma caverna de uma ilha, onde aguarda sua retirada pelo afortunado. Mas na Palestina do primeiro século ela não foi tão forçada. A desordem que guerras e revoluções impuseram regularmente ao mundo oriental tornou necessário aos homens o enterrar de valores que não podiam seguramente carregar consigo quando forçados a fugir para salvar suas vidas. Algumas vezes, jamais voltaram para reclamar sua propriedade enterrada e a terra passou para aqueles que não tinham conhecimento do que estava enterrado nela. A Bíblia se refere a essa prática. O assassino que matou o governador caldeu de Judá poupou as vidas de dez homens para conseguir o rico armazém de mercadorias que eles declaravam ter escondido num campo (Jeremias 41,8). Era também a base de uma metáfora comum no mundo antigo. Jó falou daqueles que procuravam a morte "mais do que tesouros ocultos..." (Jó 3,21) e Salomão insta com os jovens a que busquem sabedoria "como a tesouros escondidos..." (Provérbios 2,4).
O homem, na história de Jesus, que encontra acidentalmente um valioso tesouro enterrado em um campo, claramente não estava numa caça ao tesouro.
Ele estava provavelmente apenas arando a terra de outro homem quando o arado bateu e expôs alguma coisa que não era nem pedra nem toco. Incrédulo de sua boa sorte, com o coração palpitando pela excitação, o homem rapidamente reenterra seu achado e vai justamente estourando de alegria secreta e vende tudo o que tem para comprar o campo. Pode-se bem imaginar que todos os seus amigos e vizinhos podem ter pensado que ele estivesse completamente louco, vendendo todas as suas apreciadas posses para comprar um campo que não valia metade do que estava pagando e rindo a bom rir enquanto tudo o que possuía entrava no leilão. Sendo a natureza humana o que é, eles provavelmente lhe disseram simplesmente que ele estava louco varrido e podiam bem ter tentado conter à força sua loucura. Mas absolutamente nada poderia detê-lo, nem o ridículo, nem ameaças, nem insulto; porque ele tinha visto, e sabia, que o tesouro oculto naquele campo valia tudo o que possuía e cem vezes mais.
O reino do céu é assim, Jesus disse, um tesouro tão fabulosamente grande que vale tudo o que um homem possui, cada relação que ele jamais teve ou espera ter, mesmo sua própria vida (Mateus 10,37-39; Lucas 14,25-26). Aqueles que acham o reino celestial serão provavelmente considerados loucos pelos ignorantes. Não é fácil ser são numa casa de loucos, mas quando sabemos o valor eternal do que encontramos em Cristo, não obstante todos os outros, a alegria desse segredo certamente nos levará através das mais duras perdas sem a menor queixa. Essa é a "alegria indizível e cheia de glória" que vem ao descobrir o significado da vida, o tesouro que vale todos os outros juntos.

Pe.Emílio Carlos +
o irmão menor e pecador grãozinho de areia.

JESUS CRISTO VEM SALVAR O QUE ESTAVA PERDIDO


Todos os dias Ele sai ao nosso encontro

Luc 15

JESUS CRISTO VEM SALVAR o que estava perdido, vem carregar as nossas misérias para nos aliviar delas, vem compadecer-se dos que sofrem e dos necessitados. Ele não passa ao largo; detém-se, como vemos no Evangelho, consola, salva. “Jesus faz da misericórdia um dos principais temas da sua pregação. São muitas as passagens dos ensinamentos de Cristo que manifestam o seu amor-misericórdia sob um aspecto sempre novo. Basta ter diante dos olhos o bom pastor que vai à procura da ovelha tresmalhada, ou a mulher que varre a casa à procura da dracma perdida”. E Ele próprio nos ensinou com o seu exemplo constante como devemos comportar-nos diante do próximo, particularmente diante do próximo que sofre.
Pois bem, assim como o amor a Deus não se reduz a um sentimento, mas leva a obras que o manifestem, assim também o nosso amor ao próximo deve ser um amor eficaz. É o que nos diz São João: Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e de verdade( 1 Jo 3, 18). E “essas obras de amor – serviço – têm também uma ordem precisa. Já que o amor leva a desejar e a procurar o bem daquele a quem se ama, a ordem da caridade deve levar-nos a desejar e procurar principalmente a união dos outros com Deus, pois nisso está o máximo bem, o definitivo, fora do qual nenhum outro bem parcial tem sentido”. O contrário – buscar em primeiro lugar os bens materiais, mesmo que seja para os outros – é próprio dos pagãos ou daqueles cristãos que deixaram esfriar a sua fé.
Juntamente com a primazia do bem espiritual sobre qualquer bem material, não se deve esquecer, no entanto, o compromisso que todos os cristãos de consciência reta têm de promover uma ordem social mais justa, pois a caridade refere-se também, ainda que secundariamente, ao bem material de todos os homens. A importância da caridade no atendimento às necessidades materiais do próximo – caridade que pressupõe a justiça e a informa – é tal que o próprio Jesus Cristo, ao falar do Juízo, declarou: Vinde benditos de meu Pai... porque tive fome e me destes de comer;... tive sede e me destes de beber;... estive nu e me vestistes... (Mt 25, 31-40)
Peçamos a Deus uma caridade vigilante, porque para se conseguir a salvação é necessário “reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens”. Todos os dias Ele sai ao nosso encontro: na família, no trabalho, na rua... Ele, Jesus.

Pe.Emílio Carlos +
o irmão menor e pecador grãozinho de areia.

DIANTE DA DOR E DA NECESSIDADE


Termos um coração semelhante ao seu, devemos recorrer em primeiro lugar à oração

Lc 7, 11-17

– A ressurreição do filho da viúva de Naim. Jesus compadece-se sempre da dor e do sofrimento.

– Amor com obras. A ordem da caridade.

– Para amar, é necessário compreender. Amor aos mais necessitados.

CONTEMPLAMOS NO EVANGELHO a chegada de Jesus a uma pequena cidade chamada Naim, acompanhado pelos seus discípulos e por um grupo numeroso de pessoas que o seguem.

Perto da porta da cidade, a comitiva que rodeava o Senhor cruzou-se com outra que levava a enterrar o filho único de uma mulher viúva. Segundo o costume judaico, levavam o corpo envolvido num lençol, sobre uma padiola. Formavam o cortejo a mãe e grande multidão de pessoas da cidade.

A caravana que entrava na cidade parou diante do defunto e Jesus, ao ver a mãe que chorava o seu filho, compadeceu-se dela e avançou ao seu encontro. “Jesus vê a angústia daquelas pessoas com quem se cruzou ocasionalmente. Podia ter passado ao largo, ou esperar por um chamado, por um pedido. Mas nem se afasta nem espera. Toma Ele próprio a iniciativa, movido pela aflição de uma viúva que havia perdido tudo o que lhe restava: o filho.

“O evangelista explica que Jesus se compadeceu: talvez se tivesse emocionado externamente, como por ocasião da morte de Lázaro. Jesus Cristo não é insensível ao sofrimento.”

“Cristo tem consciência de estar rodeado de uma multidão que ficará atônita perante o milagre e irá apregoando o acontecido por toda a região. Mas o Senhor não se comporta artificialmente, não pretende realizar um grande gesto: sente-se simplesmente afetado pelo sofrimento daquela mulher e não pode deixar de consolá-la. Aproximou-se dela e disse-lhe: Não chores (Lc 7, 13). Foi como se lhe dissesse: não te quero ver em lágrimas, porque eu vim trazer a alegria e a paz à terra. A seguir vem o milagre, manifestação do poder de Cristo-Deus. Mas antes tivera lugar a comoção da sua alma, manifestação da ternura do coração de Cristo-Homem”. Tocou o corpo do jovem e ordenou-lhe que se levantasse. E sentou-se o que estava morto, e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe.

O milagre é, ao mesmo tempo, um grande exemplo dos sentimentos que devemos ter diante das desgraças alheias. Devemos aprender de Jesus. E para termos um coração semelhante ao seu, devemos recorrer em primeiro lugar à oração: “Temos de pedir ao Senhor que nos conceda um coração bom, capaz de se compadecer das penas das criaturas, capaz de compreender que, para remediar os tormentos que acompanham e não poucas vezes angustiam as almas neste mundo, o verdadeiro bálsamo é o amor, a caridade: todos os outros consolos apenas servem para distrair por um momento e deixar mais tarde um saldo de amargura e desespero”.

Podemos perguntar-nos na nossa oração de hoje se sabemos amar todos aqueles que vamos encontrando pelos caminhos da vida, se nos detemos eficazmente diante das suas desgraças, e, portanto, se no fim de cada dia, ao examinarmos a nossa consciência, temos as nossas mãos repletas de obras de caridade e de misericórdia para oferecer ao Senhor.

Pe.Emílio Carlos +

o irmão menor e pecador grãozinho de areia.

sábado, 26 de junho de 2010

Quem quiser segui-l’O não pode ter hesitações nem restrições

Vamos Refletir e rezar.

EVANGELHO – Lc 9,51-62
Quando Lucas menciona que Jesus tomou com coragem o caminho de Jerusalém, apresenta Cristo plenamente livre e decidido em ir até ao fim da sua missão, com o risco de aí viver a sua Paixão.
É, pois, um Cristo a caminho que reencontram os seus discípulos e, nesta caminhada como em todas as outras, há obstáculos de toda a espécie. Encontra a recusa dos Samaritanos, mas Jesus passa e respeita a liberdade das pessoas que encontra. Ao contrário de Tiago e João que queriam empregar o método da força… E depois, quando alguém caminha dá também vontade de seguir os seus passos. Somente Cristo em marcha sabe aonde vai, avança com passo decidido. Então, quem quiser segui-l’O não pode ter hesitações nem restrições. Para Ele, o tempo urge, tem a ver com a salvação da humanidade, com a vontade do Pai. Se Jesus parece exigente para com aqueles que O querem seguir, é porque Ele mesmo é exigente quanto à sua própria caminhada. É caminhando que Jesus convida a colocarmo-nos a caminho atrás d’Ele. Então, aqueles que o seguirem poderão dizer como Paulo: “combati o bom combate, acabei a minha carreira, guardei a fé”.

Frases fortes, às vezes revoltantes, as do Evangelho de hoje. É impossível pararmos em cada uma delas. Retenhamos a última afirmação de Jesus: “Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus”. Mas olhar para trás pode ser útil, mesmo necessário: parar para fazer o ponto da situação, fazer o balanço, saber onde se está, reconhecer os erros cometidos mas também os progressos realizados, para poder recomeçar melhor. É também dar graças pelas amizades, pelas experiências enriquecedoras. E tirar lições positivas dos fracassos. Tudo isso é bom e Jesus não pode condenar ou proibir isso. Mas há outra maneira de olhar para trás: é querer voltar para trás, manter em si uma vã nostalgia, como quando dizemos, por exemplo, que “antigamente, é que era bom, era melhor que agora!”. Lamentamos o tempo em que, pensamos nós, havia o respeito dos verdadeiros valores, onde havia referências seguras, que pensávamos imutáveis. Lembramo-nos das igrejas cheias, das missas em latim. “Nessa altura, sim, havia fé!”, dizemos, enquanto que, hoje, só há dinheiro, violência, sexo, divórcios, droga! E suspiramos: “No meu tempo, não era assim!” Ora, esquecemos simplesmente que o “meu tempo” é o tempo que me é dado hoje. Não é mais ontem, não é ainda amanhã, é hoje. Mais ainda, quando acreditamos que Jesus ressuscitou, referimo-nos a um acontecimento que se passou há dois mil anos. E pensamos, por vezes, que para nos juntarmos a Jesus, é preciso voltar atrás. Isso é um grande erro. Pela sua ressurreição, Jesus saiu do nosso tempo, tornou-Se o contemporâneo de cada momento do tempo.

Jesus conhece-me, encontra-me, dá-me a sua presença hoje, em cada instante da minha vida. Jesus pede-me para não voltar atrás, porque me diz: “É agora que te amo, é agora que quero encontrar-te, estar contigo”. Se aceito isso, então sou “feito para o Reino!”

Pe.Emílio Carlos +

O chamamento de Deus e a resposta do homem

13º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO C

27 de Junho de 2010


A liturgia de hoje sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do “Reino”.
A primeira leitura apresenta-nos um Deus que, para actuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu (discípulo de Elias) é o homem que escuta o chamamento de Deus, corta radicalmente com o passado e parte generosamente ao encontro dos projectos que Deus tem para ele.
O Evangelho apresenta o “caminho do discípulo” como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e irrevogável ao “Reino”. Sugere, também, que esse “caminho” deve ser percorrido no amor e na entrega, mas sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito absoluto pelas opções dos outros.
A segunda leitura diz ao “discípulo” que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar dar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.

LEITURA I – 1 Re 19,16b.19-21

MENSAGEM

O texto propõe-nos uma reflexão sobre o chamamento de Deus e a resposta do homem.
O quadro inicial da nossa leitura situa-nos no Horeb, a montanha da revelação de Deus ao seu Povo (cf. 1 Re 19,8). Porquê no Horeb? Porque aí, no lugar onde começou a Aliança, Deus vai definir os instrumentos do restabelecimento da Aliança: Elias é convidado a ungir Eliseu como profeta; ele será (juntamente com Jehú, futuro rei de Israel e de Hazael, futuro rei de Damasco) o instrumento de Deus na aniquilação de Acab, o rei infiel a Jahwéh e à Aliança. Trata-se da única vez que o Antigo Testamento refere a “unção” de um profeta.
Após a apresentação inicial, o autor deuteronomista desenha o quadro do chamamento de Eliseu. Ele está no campo, com os bois, a lavrar a terra quando Elias o encontra e o convida a ser profeta: o profeta não é alguém que, repentinamente, cai do céu e invade de forma anormal o mundo dos homens; também não é alguém que se torna profeta porque não serve para outra coisa; mas é sempre um homem normal, com uma vida normal, a quem Deus chama, indo ao seu encontro e falando-lhe na normalidade do trabalho diário, para lhe apresentar o seu desafio.
Elias lança sobre Eliseu o seu “manto”. Este gesto tem de ser entendido à luz da crença de que as roupas ou os objectos pertencentes a uma pessoa representavam essa pessoa e continham qualquer coisa do seu poder: dessa forma, Elias comunica a Eliseu o seu poder e o seu espírito proféticos (cf. 2 Re 2,13-14; 4,29-31; Lc 8,44; Act 19,12).
Temos, depois, a resposta de Eliseu ao desafio que Deus lhe lança através do gesto de Elias: imolou uma junta de bois, queimou o arado, assou a carne dos bois e deu-a a comer à sua família; depois, seguiu Elias e ficou ao seu serviço.
O gesto de Eliseu significa, provavelmente, o abandono da vida antiga, a renúncia à antiga profissão, a ruptura com a própria família e a entrega total à missão profética. Exprime a radicalidade da sua entrega ao serviço de Deus.

ATUALIZAÇÃO

Ter em conta, para a reflexão, os seguintes dados:

• A história da salvação não é a história de um Deus que intervém no mundo e na vida dos homens de forma espalhafatosa, prepotente, dominadora; mas é uma história de um Deus que, discretamente, sem se impor nem dar espetáculo, age no mundo e concretiza os seus planos de salvação através dos homens que Ele chama. É como se Ele nos dissesse como fazer as coisas, mas respeitasse o nosso caminho e Se escondesse por detrás de nós. É necessário ter em conta que somos os instrumentos de Deus para construir a história, até que o nosso mundo chegue a ser esse “mundo bom” que Deus sonhou. Aceitamos este desafio?

• O relato da “vocação” de Eliseu não é o relato de uma situação excepcional, que só acontece a alguns privilegiados, eleitos entre todos por Deus para uma missão no mundo; mas é a história de cada um de nós e dos apelos que Deus nos faz, no sentido de nos disponibilizarmos para a missão que Ele nos quer confiar, quer no mundo, quer na nossa comunidade cristã. Estou atento aos apelos de Deus? Tenho disponibilidade, generosidade e entusiasmo para me empenhar nas tarefas a que Ele me chama?

• O chamamento de Deus chega a Eliseu através da ação de Elias… É preciso ter em conta que, muitas vezes, o desafio de Deus nos chega através da palavra ou da interpelação de um irmão; e que, muitas vezes, é preciso contar com o apoio de alguém para discernir o caminho e ser capaz de enfrentar os desafios da vocação.

• Finalmente, somos chamados a contemplar a disponibilidade de Eliseu e a forma radical como ele acolheu o desafio de Deus. A referência à morte dos bois, ao desmantelamento do arado (cuja madeira serviu para assar a carne dos animais) e ao banquete de despedida oferecido à família significa que o profeta resolveu “cortar todas as amarras”, pois queria dar-se, radicalmente, ao projeto de Deus. É esse corte radical com o passado e essa entrega definitiva à missão que nos questiona e interpela.

LEITURA II – Gal 5,1.13-18

As palavras de Paulo são um convite veemente à liberdade. Logo no início deste texto (vers. 1), ele avisa os Gálatas que foi para a liberdade que Cristo os libertou (a repetição – libertar para a liberdade – é, sem dúvida, um hebraísmo destinado a dar ao verbo “libertar” um sentido mais intenso) e que não convém voltar a cair no jugo da escravidão (mais à frente – vers. 2-4 – ele identifica essa escravidão com a Lei e com a circuncisão).
Os vers. 13-18 explicam em que consiste a liberdade para o cristão, o homem é livre, o homem é liberdade.Trata-se da faculdade de escolher entre duas coisas distintas e opostas somente? Não. Trata-se de uma espécie de independência ético-moral, em virtude da qual cada um pode fazer o que lhe apetece, sem barreiras de qualquer espécie? Também não.
Para Paulo, a verdadeira liberdade consiste em viver no amor (vers. 13-14). Não há possibilidade de amor senão a que se manifesta no amor. E em toda escolha é inevitavél a responsabilidade em aderie as consequências. O que nos escraviza, nos limita e nos impede de alcançar a vida em plenitude (“salvação”) é o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência; mas superar esse fechamento em nós próprios e fazer da nossa vida um dom de amor torna-nos verdadeiramente livres. Só é autenticamente livre aquele que se libertou de si próprio e vive para se dar aos outros.
Como é que esta “liberdade” (a capacidade de amar, de dar a vida) nasce em nós? Ela nasce da vida que Cristo nos dá: pela adesão a Cristo, gera-se em cada pessoa um dinamismo interior que a identifica com Cristo e lhe dá uma capacidade infinita de amar, de superar o egoísmo, o orgulho e os limites – ou seja, com uma capacidade infinita de viver em liberdade. É o Espírito que alimenta, dia a dia, essa vida de liberdade (ou de amor) que se gerou em nós, a partir da nossa adesão a Cristo (vers. 16).Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, pois nunca podemos escolher o mal; o que escolhemos é sempre o bem e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos.Viver na escravidão é continuar a viver uma vida centrada em si próprio (Paulo enumera, mais à frente, as obras de quem é escravo – cf. Gal 5,19-21); viver na liberdade (“segundo o Espírito”) é sair de si e fazer da sua vida um dom, uma partilha (Paulo enumera, mais à frente, as obras daquele que é livre e vive no Espírito – cf. Gal 5,22-23).

ATUALIZAÇÃO

Considerar, na reflexão, os seguintes elementos:

• Os homens do nosso tempo têm em grande apreço esse valor chamado “liberdade”; no entanto têm, frequentemente, uma perspectiva demasiado egoísta deste valor fundamental. Quando a “liberdade” se define a partir do “eu”, identifica-se com “libertinagem”: é a capacidade de “eu” fazer o que quero; é a capacidade de “eu” poder escolher; é a capacidade de “eu” poder tomar as minhas decisões sem que ninguém me impeça… Esta liberdade não gera, tantas vezes, egoísmo, isolamento, orgulho, auto-suficiência e, portanto, escravidão?

• Para Paulo, só se é verdadeiramente livre quando se ama. Aí, eu não me agarro a nada do que é meu, deixo de viver obcecado comigo e com os meus interesses e estou sempre disponível – totalmente disponível – para me partilhar com os meus irmãos. É esta experiência de liberdade que fazem hoje tantas pessoas que não guardam a própria vida para si próprias, mas fazem dela uma oferta de amor aos irmãos mais necessitados. Como dar este testemunho e passar esta mensagem aos homens do nosso tempo, sempre obcecados com a verdadeira liberdade? Como explicar que só o amor nos faz totalmente livres?

• Falar de uma comunidade (cristã ou religiosa) formada por pessoas livres em Cristo implica falar de uma comunidade voltada para o amor, para a partilha, para as necessidades e carências dos irmãos que estão à sua volta. É isso que realmente acontece com as nossas comunidades? Damos este testemunho de liberdade no dom da vida aos irmãos que nos rodeiam? As nossas comunidades são comunidades de pessoas livres que vivem no amor e na doação, ou comunidades de escravos, presos aos seus interesses pessoais e egoístas, que se magoam e ofendem por coisas sem importância, dominados por interesses mesquinhos e capazes de gestos sem sentido de orgulho e prepotência?

EVANGELHO – Lc 9,51-62

Lucas começa por apresentar as “exigências” do “caminho”. O nosso texto apresenta, nitidamente, duas partes, dois desenvolvimentos.
Na primeira parte (vers. 51-56), o cenário de fundo situa-nos no contexto da hostilidade entre judeus e samaritanos. Trata-se de um dado histórico: a dificuldade de convivência entre os dois grupos era tradicional; os peregrinos que iam a Jerusalém para as grandes festas de Israel procuravam evitar a passagem pela Samaria, utilizando preferencialmente o “caminho do mar” (junto da orla costeira), ou o caminho que percorria o vale do rio Jordão, a fim de evitar “maus encontros”.
A primeira lição de Jesus ao longo desta “caminhada” vai para a atitude que os discípulos devem assumir face ao “ódio” do mundo. Que fazer quando o mundo tem uma atitude de rejeição face à proposta de Jesus? Tiago e João pretendem uma resposta agressiva, “musculada”, que retribua na mesma moeda, face à hostilidade manifestada pelos samaritanos (a referência ao “fogo do céu” leva-nos ao castigo que Elias infligiu aos seus adversários – cf. 2 Reis 1,10-12); mas Jesus avisa-os que o seu “caminho” não passa nem passará nunca pela imposição da força, pela resposta violenta, pela prepotência (no seu horizonte próximo continua a estar apenas a cruz e a entrega da vida por amor: é no dom da vida e não na prepotência e na morte que se realizará a sua missão). Isto é algo que os discípulos nunca devem esquecer, se estão interessados em percorrer o “caminho” de Jesus.
Na segunda parte (vers. 57-62), Lucas apresenta – através do diálogo entre Jesus e três candidatos a discípulos – algumas das condições para percorrer, com Jesus, esse “caminho” que leva a Jerusalém, isto é, que leva ao acontecer pleno da salvação.

Que condições são essas?
O primeiro diálogo sugere que o discípulo deve despojar-se totalmente das preocupações materiais: para o discípulo, o Reino tem de ser infinitamente mais importante do que as comodidades e o bem-estar material.
O segundo diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se desses deveres e obrigações que, apesar da sua relativa importância (o dever de sepultar os pais é um dever fundamental no judaísmo), impedem uma resposta imediata e radical ao Reino.
O terceiro diálogo sugere que o discípulo deve despegar-se de tudo (até da própria família, se for necessário), para fazer do Reino a sua prioridade fundamental: nada – nem a própria família – deve adiar e demorar o compromisso com o Reino.
Não podemos ver estas exigências como normativas: noutras circunstâncias, Ele mandou cuidar dos pais (cf. Mt 15,3-9); e os discípulos – nomeadamente Pedro – fizeram-se acompanhar das esposas durante as viagens missionárias (cf. 1 Cor 9,5)… O que estes ensinamentos pretendem dizer é que o discípulo é convidado a eliminar da sua vida tudo aquilo que possa ser um obstáculo no seu testemunho quotidiano do Reino.

ATUALIZAÇÃO

Na reflexão, considerar os seguintes elementos:

• A nós, discípulos de Jesus, é proposto que O sigamos no “caminho” de Jerusalém, nesse “caminho” que conduz à salvação e à vida plena. Trata-se de um “caminho” que implica a renúncia a nós mesmos, aos nossos interesses, ao nosso orgulho, e um compromisso com a cruz, com a entrega da vida, com o dom de nós próprios, com o amor até às últimas consequências. Aceitamos ser discípulos, isto é, embarcar com Jesus no “caminho de Jerusalém”?

• Jesus recusa, liminarmente, responder à oposição e à hostilidade do mundo com qualquer atitude de violência, de agressividade, de vingança. No entanto, a Igreja de Jesus, na sua caminhada histórica, tem trilhado caminhos de violência, de fanatismo, de intolerância (as cruzadas, as conversões à força, os julgamentos da “santa” Inquisição, as exigências que criam em tantas consciências escravidão e sofrimento…).

Diante disto, resta-nos reconhecer que, infelizmente, nem sempre vivemos na fidelidade aos caminhos de Jesus e pedir desculpa aos nossos irmãos pela nossa falta de amor. É preciso, também, continuar a anunciar o Evangelho com fidelidade, com firmeza e com coragem, mas no respeito absoluto por aqueles que querem seguir outros caminhos e fazer outras opções.

O “caminho do discípulo” é um caminho exigente, que implica um dom total ao “Reino”. Quem quiser seguir Jesus, não pode deter-se a pensar nas vantagens ou desvantagens materiais que isso lhe traz, nem nos interesses que deixou para trás, nem nas pessoas a quem tem de dizer adeus… O que é que, na nossa vida quotidiana, ainda nos impede de concretizar um compromisso total com o “Reino” e com esse caminho do dom da vida e do amor total?



quinta-feira, 24 de junho de 2010

Apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!

Qual é o primeiro ato do caridade? Que obras produz um coração por ela animado? Que sai de um coração assim, comparando com o de um homem de desprovido de tal virtude? Há que fazer o bem a cada um, como com razoabilidade queríamos que assim nos fosse feito; nisto consiste o sumo da caridade. Faço verdadeiramente ao meu próximo aquilo que desejo que ele me faça? Ah, eis um grande exame a fazer.
Olhemos para o Filho de Deus: que coração de caridade, que chama de amor! Jesus, dizei-nos, por favor, o que Vos tirou do céu para virdes sofrer a maldição da Terra, as muitas perseguições e tormentos que aqui recebestes? Ó Salvador, ó fonte de amor, humilhado que fostes até à nossa condição, até um suplício infame! Quem mais amou o próximo, senão Vós?
Viestes expor-Vos a todas estas nossas misérias, tomando a forma de pecador, levar uma vida de sofrimento, e sofrer uma morte vergonhosa por nós. Haverá amor igual? Só Nosso Senhor leva assim a tal ponto o Seu amor pelas criaturas, deixando o trono de Seu Pai para encarnar num corpo sujeito às enfermidades.
E por quê? Para estabelecer entre nós, com o Seu exemplo e a Sua palavra, a caridade pelo próximo.
Ó meus amigos, se tivéssemos um pouco deste amor, deixar-nos-íamos ficar de braços cruzados? Oh, não! A caridade não é ociosa; ela incita-nos a lutar pela salvação e pela consolação dos outros.
Leva-nos passar pelo caminho apertado, pela porta estreitissima da caridade que se esquece de si e se dá inteiramente ao outro sem nada exigir, sem nenhuma troca, sem nenhum querer. Apenas querer o que Ele quer.
A caridade é a virtude por excelência. É ela que comunica sua santidade a todas as outras virtudes e, em conseqüência, deve ordenar e comandar as outras virtudes. Interpretando o hino à caridade (1 Cor 13), São Francisco de Sales sustenta que, quando o Apóstolo afirma que a caridade é benigna, paciente, que tudo crê, tudo espera, tudo suporta, quer significar que; “a caridade ordena e comanda a paciência a ser paciente, e à esperança a esperar, e a fé a crer”. Mas significa também que “o amor é a alma e a vida de todas as virtudes, como se ele quisesse dizer que a paciência não é bastante paciente, nem a fé bastante fiel, nem a esperança bastante confiante, se o amor não as anima e vivifica” (Tratado do Amor de Deus XI, 4).
A caridade, exercendo sua missão de comandar e vivificar todo o corpo das virtudes, coloca em ação cada uma delas de maneira dinâmica e variada; não ao mesmo tempo, não igualmente e não em todos os lugares. Produz cada fruto a seu tempo. Portanto, não é preciso exercitar-se sempre na mesma virtude, nem impô-la aos outros. É preciso discernir, pelos frutos se conhece a árvore. Logo que árvore ou em que árvore estou recebendo a seiva para dar frutos de verdadeira caridade senão for o próprio Cristo, passando minha vida pela porta estreita do amor-caridade."Se o grão de trigo não morrer..." (cf. Jo 12, 24).
O amor-caridade torna-se, deste modo, o fato gerador de toda a atividade cristã. É por esta razão que ele deve sempre agir de acordo com a inspiração divina.
O amor, como já falamos, é o único bem espiritual que transcende e perpassa o fim de nossa vida terrena. A fé e a esperança, por satisfeitas, deixam de existir na eternidade. O amor não! Lá amamos mais e seremos igualmente amados. Os demais dons e carismas, por servirem à causa humana e terrena, com a passagem para a outra vida deixam de existir e de ter sua utilidade. Afinal, sabemos que, quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado.
A perfeição é o amor que vai subsistir acima de todas as virtudes, por humanas, limitadas. Só o amor, por ser oriundo de Deus, que nos é conferido como sinal distintivo do “ser cristão” é capaz de nos conferir a perfeição que erradica tudo que é limitado, sectário, finito, inferior. Seria incoerente afirmarmos amor a Deus sem amar o irmão.
Eis o caminho apertado da perfeição e da vida eterna: «O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles»
«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!»
S. Mateus 7,6.12-14.

Pe.Emílio Carlos +

Deus te abençõe e te guarde encha teu coração do santo amor-caridade e dê frutos que permaneçam.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Acautelai-vos dos falsos profetas

Vamos meditar hoje o Evangelho segundo S. Mateus 7,15-20.

«Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos, os conhecereis. Porventura podem colher-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá maus frutos. A árvore boa não pode dar maus frutos nem a árvore má, dar bons frutos. Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Pelos frutos, pois, os conhecereis.»

Meditando:

Seremos reconhecidos pelos nossos frutos.
Esforçai-vos por vos reunirdes com maior frequência para dar graças e louvar a Deus. Pois, quando vos reunis frequentemente, as forças de Satanás são derrubadas e os seus malefícios destruídos pela unanimidade da vossa fé. Nada supera a paz, que triunfa sobre todos os assaltos das potências celestes ou terrenas.
Nada disto vos será desconhecido se tiverdes em Jesus Cristo uma fé e um amor perfeitos, que são o começo e o fim da vida: o começo é a fé, e o fim a caridade. As duas reunidas são Deus. Todas as outras virtudes que conduzem à perfeição procedem destas duas primeiras. Ninguém peca enquanto professa a fé; ninguém odeia enquanto possui a caridade.
«A árvore conhece-se pelos seus frutos»; do mesmo modo, reconhece-se quem professa ser de Cristo pelas suas obras. Porque a obra que nos é pedida hoje não é uma simples profissão de fé, consiste em praticá-la até ao fim.
Vale mais calar e ser, que falar sem ser. É bom ensinar, quando se faz o que se diz. Temos apenas um mestre, aquele que «disse e tudo foi feito» (Sl 32, 9); mesmo as obras que fez em silêncio são dignas de Seu Pai. Quem compreende verdadeiramente a palavra de Jesus pode entender também o Seu silêncio; será perfeito se agir conforme o que diz e será reconhecido pelo seu silêncio. Nada se oculta ao Senhor; até os nossos segredos Lhe são familiares. Por conseguinte façamos tudo pensando que Ele habita em nós; seremos assim templos Seus e Ele será em nós o nosso Deus.
O essencial não é o que dizemos, mas o que Deus nos diz e o que diz através de nós. Todas as palavras que dissermos serão vãs se não vierem do mais íntimo; as palavras que não transmitem a luz de Cristo aumentam as trevas.
É preciso acreditar neste mistério. Mas, nem a todos é dado entender.
O fazer é necessário, mas o "ser" é que arrasta e fermenta a massa. E isto todo batizado é convidado a realizar. Vivendo sua vocação cristã, buscando a intimidade com o Senhor na oração, procurando irradiá-lo com a vida, estará sendo agente de transformação do mundo.
Seremos reconhecidos pelos nossos frutos.

Pe.Emílio Carlos +
o irmão menor e pecador grãozinho de areia.

OS SÍMBOLOS TERESIANOS

Os símbolos Teresianos: a água, o poço, o castelo e a lagarta, eis aqui alguns para que possamos adentrar mais intimamente na literatura Teresiana

Santa Teresa de Jesus recorre a símbolos expressivos para dar a conhecer melhor a sua mensagem. Era normal que ela utilizasse símbolos quando nos transmitia as suas experiências mais íntimas. Ao usar o símbolo a autora não se sente na obrigação de entrar em detalhes explícitos no momento de nos abrir o interior da sua alma. Sabemos que o símbolo “fala sem falar”, ou melhor ainda, é uma espécie de mensagem aberta, ampla, capaz de despertar no leitor diversas interpretações, dependendo da sua capacidade de receptibilidade ou da sua empatia com a experiência da autora.
É óbvio que Teresa, como filha do seu tempo, utilize imagens e símbolos da sua época. Ela escreve noutro contexto e cabe-nos a nós, leitores de hoje, atualizar a mensagem, ajustar os conceitos sem perder a profundidade dos conteúdos presentes através dos símbolos.
A Santa Doutora confessa, como já referimos, que tenha lido ou ouvido, e certamente assim deve ser. A Originalidade não está na descoberta de metáforas, mas na amplitude e no desenvolvimento que lhes dá, na ternura e graça com que ela expõe na ironia delicada e fina que emerge a partir delas, algo que se torna efeito da influência magnética da Santa Mãe ", o ímã do mundo", como ela chama, animada, Fray Luis de Leon
Por último é preciso dizer que nem todos os símbolos teresianos têm a mesma importância. Alguns são essenciais, outros acidentais e finalmente aparecem os funcionais.
“Se a natureza inanimada despertou em Teresa metáforas tão belas como temos visto, na alma de Teresa de Jesus, maior fertilidade lhe ofereceria e mais beleza de criações surpreendentes, a natureza viva com o encanto de suas maravilhosas transformações, desde a flor que deleita e perfuma ate o coração que sofre e ama.
Nos quadros de natureza inerte, buscava sempre a mística Doutora a variedade do movimento, como para dar-lhes animação e vida. O caminho e a sensação para andar por eles; a água salta entre a arena de seu manancial, o ou correr pela grama e pedras, ou ondulando ao vento ou reverbera a luz, o Sol em si [da Trindade] cascata é como brilha, não brilha na alma como remansos de luz e calma, mas como a luz fervente, inflamada que transferiu os poderes, sentidos e as coisas.
Nos quadros da natureza inerte, buscando sempre a mística da natureza viva não tem necessidade de ser concedido o que ela tomou emprestado de si mesma, o que é a animação e o movimento é essencialmente dinâmico. E por isso as metáforas que inspira são mais ágeis, coloridas e vigorosas do que inertes.
Devemos começar pelas belezas do reino vegetal, examinando-se as analogias favoritas de Santa Teresa, nascida no interior das fronteiras do reino. Alguns são grandes, vou mencionar de passagem, porque vimos, em parte, quando nós contemplamos os córregos de águas claras.
Na verdade, a alma é um jardim. "Pareceu-me", diz Santa-me ter lido ou ouvido essa comparação que eu tenho memória ruim como eu não sei onde, ou o fim, mas por agora contenta-me essa imagem.
Deve fazer conta, ele começa, ele começa a fazer um jardim na terra que é muito infrutuosa e que tem muito mato para que encante o Senhor. Sua Majestade, arranca as ervas ruins ruins, e há de plantar o que é bom...Agora voltamos ao nosso jardim ou pomar e ver como começam essas árvores a florescer e dar frutos mais tarde, flores e cravo e o mesmo, para conferir o odor. Regala-me esta comparação ... que minha alma é um jardim e Deus passeasse nele ...». O trabalho ativo "quando saem desta raiz e das flores perfumadas são impressionantes, pois estas árvores vêm de amor de Deus e o perfume dura muito" e não passa rápido, mas faz grande um grande bem " também as faltas lembram pequenas plantas quando são propostas, mas se regamos as mudas todos os dias "operam-se tão grande mudança que não vê necessidade de ver necessária depois a pá e enxada. Assim parece fazer cada dia a a mesma falta (ainda que pequena que seja) se não nos emendarmos delas, mas se um dia ou dez o evitamos, em seguida, começa a ser facil fácil ».
Além disso, é inútil procurar a origem dessas analogias são muito comuns em livros que abordam a vida espiritual de seu ponto de vista, os Versos belo dos Cânticos, que muito usa em suas comparações entre a alma e Deus.
Deixando, então, pomares e jardins, na primavera, as flores são lindíssimas e alguns frutos são de esperança, nós vemos as cores que nos deixou Santa Teresa, aplicando-se à vida sobrenatural das qualidades reais ou simulados de alguns animaizinhos de Deus” (Fray Luis Urbano, O. P.)

O BICHO DA SEDA
Em pleno coração do livro do castelo interior e dentro das quintas moradas, Santa Teresa descreve a transformação que experimenta a pessoa na oração, com um símbolo muito belo: o bicho da seda, o qual se fecha no seu casulo interior, e aí “com as suas boquitas vão fiando a seda, e fazendo uns casulos muito apertados onde se fecham… E morre este bicho, que é grande e feio, e sai do mesmo casulo uma borboleta branca muito bonita”.
Esta imagem do bicho da seda serve para que Teresa expresse melhor a mudança e a transformação da pessoa, como mistério pascal de morte e ressurreição. No desenvolvimento desta transformação, como no processo em que o bicho da seda se metamorfoseia em borboleta, é muito importante a acção do Espírito Santo que vai ajudando nessa disposição e no nosso trabalho para não ficarmos pelo meio do caminho.

O CASTELO INTERIOR

Talvez seja este o símbolo que melhor representa Santa Teresa e pelo qual ficou ligada para sempre à cultura. Ela utiliza este símbolo para representar a alma (a pessoa e a sua interioridade) “ofereceu-se-me considerar a nossa alma como um castelo…”.
A este castelo, da Santa, não lhe falta nada e assim nos mostra que tem uma cerca que é o corpo, uma porta que é a oração; os habitantes principais são Deus e o homem. Mas há mais gente: vassalos e guardiões, que a Santa compara aos sentidos e às potências da alma (memória, inteligência e vontade). E, como todo o Castelo, conta com os seus inimigos que se reflectem nos vermes e animais, nas coisas peçonhentas e nos demonios.
Finalmente este castelo conta com os aposentos da alma que são como as diversas moradas do Céu, onde habita Deus, “um paraíso onde Ele tem as suas delícias”. As moradas deste castelo encontram-se “umas no alto, outras em baixo, outras aos lados; e, no centro e meio de todas estas, tem a principal, que é o compartimento do palácio onde está o rei”.
Diante do panorama deste castelo apresentam-se-nos três alternativas:

- Destruí-lo, que equivale à perdição total da pessoa.
- Admirá-lo e viver fora dele, o que corresponde a viver na mediocridade e no pecado.
- Ou nos decidirmos a conquistá-lo, para viver unidos a Deus.

Para aprofundar este símbolo recomendamos a leitura do livro:
"As Moradas - Castelo Interior"

Mais imagens nas palavras de Teresa:

...”Já tereis ouvido das maravilhas de Deus no modo como se cria a seda, invenção que só Ele poderia conceber. É como se fosse uma semente, grãos pequeninos como o da pimenta. Devo dizer que nunca o vi, mas ouvi-o dizer; assim, se algo não corresponder, não é minha a culpa. Pois bem, com o calor, quando começa a haver folhas nas amoreiras, essa semente — que até então estivera como morta — começa a viver. E esses grãos pequeninos se criam com folhas de amoreira; quando crescem, cada verme, com a boquinha, vai fiando a seda, que tira de si mesmo. Tece um pequeno casulo muito apertado, onde se encerra; então desaparece o verme, que é muito feio, e sai do mesmo casulo uma borboletinha branca, muito graciosa. Mas se isso não fosse visto, e só contado como ocorrido em outros tempos, quem o poderia crer? Que razões teríamos para concluir que uma criatura irracional como a lagarta ou a abelha seja tão diligente e engenhosa para trabalhar em nosso proveito, chegando a pobre lagartinha a perder a vida na tarefa de o fazer? Para um pouco de meditação basta isso, … mesmo que eu nada mais acrescentasse, porque aí podeis considerar as maravilhas e a sabedoria do nosso Deus. E o que seria se conhecêssemos as propriedades de todas as coisas? É de grande proveito que nos ocupemos em meditar nessas grandezas e nos alegremos de ser esposas de Rei tão sábio e poderoso. A alma — representada por essa lagarta — começa a ter vida quando, com o calor do Espírito Santo, começa a beneficiar-se do auxílio geral3 que Deus dá a todos, fazendo uso dos meios confiados pelo Senhor à Sua Igreja: confissões freqüentes, boas leituras e sermões. São esses os remédios para uma alma que está morta em seu descuido, pecados e ocasiões de cometê-los. Então ela começa a viver e encontra sustento nisso, bem como em boas meditações, até estar crescida. É aqui que se concentra o meu propósito, pois o resto pouco importa. … a lagarta começa a fabricar a seda e a edificar a casa onde há de morrer. Eu gostaria de explicar que essa casa é, para nós, Cristo. Creio ter lido ou ouvido em algum lugar que a nossa vida está escondida em Cristo ou em Deus — o que é a mesma coisa — ou que nossa vida é Cristo....Morra, morra esse verme, tal como o da seda quando acaba de realizar a obra para a qual foi criado! E comprovareis como vemos a Deus e nos vemos tão introduzidas em Sua grandeza como a lagartinha em seu casulo.
...agora o que acontece a essa lagarta; é para isso que tenho dito tudo o mais. Quando está nesta oração — e bem morta está para o mundo —, dela sai uma borboleta branca. Ó grandeza de Deus! Quão transformada sai a alma daqui, depois de ter estado imersa na grandeza de Deus e tão unida a Ele, embora esse estado seja tão breve que, em minha opinião, nunca chega a meia hora!
Eu vos digo, na verdade, que a própria alma não se conhece a si mesma. Porque há aqui a mesma diferença que existe entre uma lagarta feia e uma borboletinha branca. A alma não sabe como pode merecer tanto bem — de onde ele pode advir, quero dizer, pois ela bem sabe que não o merece. ...Oh! Ver o desassossego dessa borboletinha, apesar de nunca ter estado mais quieta e tranqüila em sua vida, é coisa para louvar a Deus! Ela não sabe onde pousar e descansar. Depois de ter experimentado tal estado, tudo da terra a descontenta, em especial quando são muitas as vezes que Deus lhe dá desse vinho. Já não dá valor ao que fazia quando lagarta, que era tecer pouco a pouco o casulo. Nasceram-lhe asas. Se pode voar, como pode ela contentar-se em andar passo a passo? Tudo quanto pode fazer por Deus lhe parece pouco, comparado com os seus desejos. Não acha muito o que os santos fizeram, uma vez que já entende por experiência como o Senhor ajuda e transforma uma alma a ponto de transfigurá-la.”
. Afirmou-se que na simbologia Teresiana prevalece, como motivo, a água. Talvez haja que caracterizar aquela, antes como simbologia feminina. Nela prevalece, é certo, a água em suas mais variadas manifestações, mas abundam os símbolos maternais, como “o menino que ainda mama, aos peitos de sua mãe”, os aromas e as flores, os símbolos caseiros e os do amor, as “panelas”, a pousada ou a morada, a música... Todavia abundam nas páginas de Teresa as imagens bélicas, como a luta ou a peleja (“encerradas pelejamos”), as baterias, artilharia, o capitão e os soldados, o alferes, a seta, o dardo e o arcabuz, o xadrez. Inclusive a “corrida de touros” e o “cadafalso” ou tablado a partir de onde pode ser contemplada sem risco. também Teresa tenha recorre ao simbolismo da chuva, das nuvens, o sol, o céu empírico, o anoitecer e o amanhecer, o mar e suas ondas...

No Livro da Vida, o mais elaborado é o símbolo da água de regado sobre o horto da alma. Imagem que provém a partir de sua experiência pessoal e de suas leituras .Ela o elaborou cuidadosamente, à base dos quatro modos de regar (poço, nora, arroio, chuva, para simbolizar quatro modos de relação entre Deus e a alma, e várias situações do espírito humano: horto árido, flores, frutos, partilha de frutos aos demais. E com isso, uma síntese elementar do desenvolvimento da vida espiritual, seja a nível autobiográfico ,seja a nível doutrinal.

O simbolismo da água terá novas elaborações nos restantes livros doutrinais: fonte de água viva com todos os seus derivados (C 19,2... com expressa inspiração evangélica); água de aquedutos e água de reservatório manancial, no Castelo Interior para simbolizar o contraste entre o esforço humano (ascese: água de aquedutos) e o dom divino (o místico: “reservatório que se enche de água”). Com a explícita confissão de que “não encontro nada mais a propósito para declarar algumas coisas de espírito que essa da água” .“Sou tão amiga deste elemento, que o observei com mais advertência que outras coisas”. Agua em sua plenitude oceânica, mas com marulhada e risco de submersão, como no caso da “nau” que chega ao porto, já nas sétimas moradas Água e esponja, como alma imersa no divino
Sem dúvida, o símbolo mais elaborado por Teresa é o do “castelo da alma”, base de todo o livro das Moradas, e imagem de todo o processo espiritual. Serve-lhe, antes de tudo, para delinear a estrutura do ser humano (corpo, alma, espírito, centro da alma, relação do homem com Deus transcendente e imanente). Serve-lhe, por sua vez, para interpretar o texto evangélico da “inabitação” ou da morada de Deus na alma e para expressar sua própria experiência trinitária
Também O símbolo do “bicho-da-seda” que se metamorfoseia em borboleta. Ao longo das três moradas finais servir-lhe-á para desenvolver o processo místico da vida espiritual, desde o trabalho ascético precedente, através da união com Cristo, até a plena transfiguração mística: fogo em que se abrasa a borboleta .
Teresa recorre ao símbolo esponsal, antes de tudo, para expressar sua própria experiência, e depois para diagramar as fases finais do processo místico. Sem se desligar da motivação bíblica do símbolo, Teresa incorpora a ele a liturgia do sacramento e o realismo da vida social de seu tempo. Desta toma os três momentos do processo: o encontro, o desposório e o matrimônio. O encontro, para ilustrar a fase do conhecimento místico: quintas moradas; o desposório, para expor a mútua entrega das vontades entre a alma e o Senhor; e o matrimônio espiritual, para simbolizar a união plena entre Deus e a alma, ponto culminante da experiência religiosa. Já notamos que a este símbolo lhe concede Teresa a suma aptidão para expressar a vida mística. É bem possível que essa convicção derive de sua leitura do Cântico dos Cânticos
“Tem me dado o Senhor, de alguns anos para cá, um gosto muito grande cada vez que ouço ou leio algumas palavras dos Cânticos de Salomão, e isto de modo tão extremado que eu, sem entender com clareza o latim em língua vulgar, me recolhia mais e tinha minha alma mais movida do que pelos livros muito devotos que compreendo; e isso é uma coisa quase comum...”
Ao lado desses símbolos maiores, existe nos escritos de Teresa uma constelação de imagens ou símbolos menores. Também estes são reveladores do pensamento teresiano. Impossível catalogá-los aqui. Há, antes de tudo, uma larga série de símbolos bíblicos, que denotam a sensibilidade receptiva de Teresa e sua capacidade de entalhamento das imagens clássicas na imaginaria original sua.

Podemos agora visualizar os diferentes elementos contidos no processo desta imagem:
- Semente: São uns bagos, como grãos de pimenta, que se convertem em larvas.
- A folha da amoreira: É o primeiro espaço onde se desenvolvem, é o alimento.
- Ambiente: Calor, elemento que necessita a semente para viver, é a graça do Espírito Santo.
- Bicho da seda: É cada um de nós a partir da perspectiva da transformação profunda.
- Tecer o casulo ou a “casa”: é um convite para construir a própria habitação, a viver a interioridade.
- Fabricar a seda, lavrar a seda: Cristo é a morada. Vive dentro de cada um. A seda é o resultado das maravilhas que Deus faz através de nós.
- Trabalhos: São todos os esforços e acções que temos que fazer para corresponder à graça, para não vivermos superficialmente.
- A borboleta: equivale ao “homem novo”, é o fruto da acção transformadora de Deus. É graça, libertação.Este símbolo é a síntese da história de todo o homem nascido para ter asas e elevar-se.
- A abelha e a aranha, a formiga e o leão, a pomba e a águia, as peçonhas
- A “ave de asas fracas”
- A “panela que ferve em demasia”
- O coração, a ferida interior, as entranhas, “as medulas...,
- A câmara de jóias
- O imperador e o mendigo
- O braseiro
- e os perfumes

Igual floração de linguagem simbólica para perfilar a imagem de Cristo: mestre, esposo, modelo, caminho e vida, amigo verdadeiro, capitão do amor...
É também notável a constância com que Teresa recorre aos símbolos para expressar sua idéia profunda do ser humano: na realidade todos os símbolos maiores refletem seu empenho secreto por dizer o que em sua estima é o homem: castelo de diamante, horto de flores, larva com vocação de vôo e de borboleta; ele é um possível esposo de Cristo ou de Deus; é um paraíso de Deus, “paraíso onde Ele disse ter Suas delícias” , árvore plantada junto às correntes de água.
Tudo isso, em contraste com a imagem que Teresa tem de si mesma: “uma como eu”, “verme que assim vos atreve”, “vermezinho de mau odor”, formiga que tenta falar, “água tão turva” Imagem negativa, compensada de certo modo com a qual ela mesma projeta de seus carmelos e suas monjas: pombaizinhos da Virgem, “pensai que esta congregação é a casa de santa Marta” ,filhas da Vigem, soldados embandeirados de alferes, borboletas, pombas...: “muito mais quero que se prezem de parecer simples, o que é muito próprio de santas, do que de tão retóricas...”

Bibliografia:
- Tomaz Alvarez,
- Fray Luis Urbano, O. P,
- Dicionário Teresiano ,
- Obras Completas De Santa Madre.
________________________________________________________
OS SÍMBOLOS TERESIANOS
* Rose Lemos Piotto é conselheira e membro da Comissão de Formação da Província São José da Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares -OCDS

Rose Lemos Piotto, ocds*- minha amiga e irmã em Cristo Jesus apaixonados por Santa Madre e pelo Carmelo.