Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

Para você entrar em nossos artigos click nas imagens nas laterais e encontrarás os lincks dos artigos postados.

Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Quão delicadamente me enamoras!


Chama de Amor Viva

Ó chama de amor viva,
que ternamente feres
dessa minha alma o mais profundo centro!
Se já não és esquiva,
acaba já, se queres,
ah! Rompe a tela desse doce encontro!

Ó cautério suave!,
ó regalada chaga!,
ó mão tão leve, ó toque delicado!,
que a vida eterna sabe,
a dívida selada!
Matando, a morte em vida transformada.

Ó lâmpadas de fogo,
em cujos resplendores
as profundas cavernas do sentido,
que estava escuro e cego,
com estranhos primores
calor e luz dão juntos ao seu Querido!

Quão manso e amoroso
despertas em meu seio,
lá onde tu secretamente moras,
nesse aspirar gostoso
de bem e glória cheio,
quão delicadamente me enamoras!

[São João da Cruz]

Em Tempo de Advento

Alegremo-nos em Ti, ó Maria!

«Ficou o Verbo encarnado
Nas entranhas de Maria.»
[São João da Cruz]

alegremo-nos em Ti, ó Maria!
fixemos o nosso olhar, no Teu doce e compassivo olhar, apreendamos o Segredo da alegria cristã, entremos na realidade da «boa nova» e alegremo-nos nesta ditosa alegria que Ele em Ti encontrou, que a face da terra mudou!
ó maternidade estendida a toda a humanidade, que encontremos o nosso centro em Ti…
entregando-nos,
abandonar-nos-emos em Vós!
Amém.

Unidos a Deus

«Com Deus estamos unidos, segundo a nossa fé; quanto mais caímos, mais unidos estamos a Deus» [São João da Cruz]

São João da Cruz, não oscila em dizer que a união com Deus ocorre somente através de uma impetuosa vida de fé.

Ele salienta a real necessidade de caminharmos ordenadamente na vida espiritual pelo caminho da verdade, pela meditação, contemplação e oração… Salientando estas linhas na nossa vida, estaremos seguros quando o caminho se apresentar sinuoso, cheio de espinhos e escuro, pois mesmo de noite as sombras existem.

E nós, quantas vezes aspiramos a ser luxuosas árvores e não passamos de rastejantes arbustos?!

Aceitar este místico nas nossas vidas é em cada novo dia, desencalacrar o nosso próprio caminho, para podermos estabelecer uma íntima relação com Deus.

Continuemos a aceitar em nós as coordenadas deste Homem do Mundo!

Um Homem, com que Deus presenteou a Humanidade e que num hoje, nos ajuda neste curso de fé, neste trilho de união com Deus.

Que tal como os apóstolos o nosso centro seja o estar na presença do ressuscitado.

Que nos desinstalemos e, entremos ainda mais, dentro da Sua infinita misericórdia… A Ele nos unamos e peçamos a graça de podermos permanecer unidos, dia após dia.

E que neste caminho encontremos «amigos fortes de Deus» que nos animem a estar mais unidos a Ele...

Que assim seja!


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Deus é o centro da minha alma

Deus é...


«Deus é o centro da minha alma»
[São João da Cruz]

Sendo Deus o centro da nossa alma, jamais poderemos ficar parados nesta jornada interior… Com confiança e esperança, transponhamos altas montanhas e confiemos... Na espera, jamais poderemos estacionar, nesta espera, alcancemos a luz do Espírito Santo. Esta força nos guarnecerá para que possamos seguir O caminho! (Re)comecemos o percorrido. Que a força deste caminhar nos leve para alem das palavras, onde o Seu silêncio habita. No centro da nossa alma, só Ele mora! Entremos na interioridade de nós mesmos. Deixemos formar em nós um terno manto de Amor, consumado de luz, exalemos este celeste aroma, naturalmente inexplicável… Da unificação do ser, nascerá o Novo HOMEM! Alegremo-nos. Alegremo-nos após a tristeza. Alegremo-nos na alegria. Patenteemos em nós com clareza a hipersensibilidade que Ele foi afunilando em nós, que Ele nos convidou a viver neste tempo de Quaresma. Não desperdicemos os sinais do Seu tempo, no nosso tempo. E… no silêncio conquistemos o muito para onde Ele um dia nos levou! Descubramos este Deus em nós, pois «nele vivemos, nos movemos e existimos» [At. 17,28]. Peregrinando nesta certeza, nesta busca do centro da nossa alma, deleitemo-nos com a convicção de São João da Cruz em seguir Jesus Cristo o crucificado por Amor!
Decidamos Amar e entremos neste Amor divino!
Como nos disse Bento XVI : " Colocai Jesus no centro de vossa vida, e recebereis d'Ele luz e valentia em toda decisão cotidiana." (quarta-feira,22 de novembro 2006).
"Tudo consiste nisso e Deus só recompensa essa Vida de Jesus Cristo em nós.
Sois de Deus, pertenceis sempre a Deus; é mister, pois, viver continuamente de Deus, repousar em Deus, alegrar-vos em Deus".(São Pedro Julião Eymard)

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

O CAMINHO DA SANTIDADE


Que a paz de Jesus esteja em seu coração!

Caríssimos irmãos, estamos vivendo em tempos difíceis conforme previsto pelas Sagradas Escrituras (Mat. 24), onde satanás tem seduzido a muitos, investido de todas as formas para que as almas venham a se perder. Onde olhamos o que vemos e escutamos vem sempre carregado de uma dose do veneno da serpente a fim de nos contaminar e entorpecer a nossa mente para nos afastar dos desígnios de Deus.

O CAMINHO DA SANTIDADE

Infelizmente, grande parte dos meios de comunicação estão empenhados a levar os filhos de Deus ao inferno; é um absurdo como o pecado cresce em longa escala, por exemplo, um só capitulo de novela é capaz de nos ensinar a pecar contra os 10 (dez) mandamentos da lei de Deus, bem como os 7 (sete) pecados capitais, nos induzindo a seguirmos os filhos das trevas com suas idéias fúteis e pecaminosas.

Santo Agostinho disse que “a soberba povoou o inferno de anjos, e a impureza o enche de homens”. Portanto, devemos travar uma batalha incansável em busca da santidade, por meio da prática e exercício das virtudes cristãs. O próprio Pai nos convida a sermos santos (Lev. 19,2) e São Paulo ainda nos alerta "foge das paixões da mocidade, busca com empenho a justiça, a fé, a caridade, a paz, com aqueles que invocam o Senhor com pureza de coração” (II Tim. 2,22).

A impureza, que traz em si uma sexualidade desenfreada e o vicio das paixões é um dos pecados que mais atrai destruição para os que o praticam, “porque sabei bem, nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento – verdadeiros idolatras! – terá herança no Reino de Cristo e de Deus. E ninguém vos seduza com vãos discursos. Estes são os pecados que atraem a ira de Deus sobre os rebeldes (Ef. 5,5-6). Santo Ambrosio dizia que “quem entra na luxuria, abandona a via da fé”. Portanto, a impureza é inconciliável com o seguimento cristão.

Como cristãos batizados somos chamados a ser sacerdotes, profetas e reis, buscar a santidade constantemente, amando a Cristo e sua Igreja, pois só assim encontraremos a verdadeira felicidade.

Os santos foram pessoas que se doaram inteiramente pela salvação dos homens e por amor a Jesus Cristo, buscando a santidade dia e noite, pois sabiam que sem a santidade não é possível ver a Deus (Heb. 12,14).

Amados irmãos, antes de continuar a leitura convidamos você para fechar os olhos, se concentrar, e fazer uma oração sincera, se dirigindo ao Pai das Luzes para que ilumine vosso entendimento (Tiago 1,17). Peçamos ainda o auxílio do Espírito Santo para que nos seja dada a graça da santidade, da pureza, a força e a perseverança dos santos para que possamos vencer as batalhas contra o inimigo de Deus e da nossa alma.

Rogamos, ainda, que o Espírito Santo nos conceda o dom da fortaleza para chegar à santidade, bem como para iniciarmos um caminho de amor que nos conduzirá a ter uma verdadeira intimidade com Jesus.

São João Bosco (Dom Bosco) nos ensina que o tempo da juventude é o período fundamental, para começarmos a preparar o nosso caminho pautado nas virtudes ou nos vícios. Se observarmos veremos que os vícios como bebida, cigarro, jogatina e inúmeros outros em homens maduros, começaram na juventude acompanhando-os por toda vida. E o lamentável é que há uma falsa mentalidade incutida na mente dos homens deste século, pois muitos esperam a idade avançada para procurar a Deus, e para se livrar de tais vícios. No entanto, não se recordam que não temos o poder de saber qual será o último dia de nossas vidas na terra, correndo o grave risco de passar a eternidade no inferno, e deixar de gozar as alegrias do céu.

Por isso, não perca mais tempo e entregue sua vida inteiramente nas mãos do Senhor, para que Ele possa conduzir sua jornada na terra, a fim de estar um dia com Ele na eternidade desfrutando do Paraíso, juntamente com os anjos, os santos e a Virgem Maria.

A palavra diz "Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes e a palavra de Deus permanece em vós, e vencestes o maligno" (I Jo 2, 14b). Portanto, se entendermos a dimensão desta palavra, teremos força para lutar contra o mal e contra qualquer pecado. Uma das razões pela qual o maligno nos últimos tempos tem atacado cruelmente a juventude, é justamente porque ele conhece a palavra de Deus (Mat. 4,5-6), e ele sabe que quando um jovem se levanta, cheio do Espírito Santo, com o propósito de viver a santidade, com amor e perseverança ele já não terá mais domínio sobre essa alma (Gal. 5,1).

Assim sendo, queremos partilhar com os caros irmãos alguns princípios básicos, que inclusive utilizamos na nossa vida, para alcançar à santidade, fazer a vontade de Deus e crescer na vida espiritual.

Inicialmente, é primordial a vivencia dos sacramentos, ministrados na Igreja Católica.
É uma grande alegria pertencer a igreja que contêm os sacramentos, presentes que o próprio Deus nos deixou para nos auxiliar na salvação. Que gozo sentimos em nosso coração de saber que nossa Igreja é a única que tem o corpo, sangue, alma e divindade de nosso Senhor Jesus Cristo, de saber que a nossa Igreja é a única que ministra o sacramento da confissão, ou como os santos diziam o sacramento de amor, é categórico que para nós católicos não nos falta nada. São Pio X dizia que “se os anjos pudessem ter inveja, eles nos invejariam porque podemos comungar” ao passo que eles mesmo vivendo na glória eterna ao lado do Cristo, não têm o privilégio que nós temos de recebê-lo em nossa vida para nela fazer morada.
Na Eucaristia Deus realiza as promessas feitas ao seu povo: "Porei no meio deles a minha morada e serei o seu Deus e eles serão meu povo. É minha alegria morar entre os filhos dos homens e não haverá outra nação que tenha a divindade tão perto de si, como está perto o Senhor Deus". (Dt 4,7).
No entanto, para que Jesus possa reinar em nossa alma, precisamos estar sempre em estado de graça, praticando com freqüência uma boa confissão, pois JAMAIS devemos comungar em estado de pecado mortal. São Padre Pio de Pieltrecina dizia para seus coirmãos " Deus que vê manchas até nos Anjos, o que não verá em mim?". O apologeta São Cirilo dizia com fortes palavras: "Quem comunga em sacrilégio, recebe em seu coração a satanás e a Jesus Cristo; a satanás para fazê-lo reinar e a Jesus Cristo para oferecê-lo a sacrifício a satanás". O sacramento da confição nos deixa mais brancos que a neve (Sal 50,9), nos faz dignos de receber o corpo santo de Jesus Cristo na Eucaristia.

Quando comungar não fique somente pedindo, pois Deus que é Pai sabe de nossas necessidades, adore a Jesus com toda a força e potencia de seu coração. Diga a Ele que o ama, que o adora e logo depois silencie seu coração e escute o que Jesus tem para lhe falar. Faça uma ação de graças digna, aproveite seu tempo com o Senhor.

Conta-nos a história que Santa Maria Madalena de Pazzi entendeu o mistério da Eucaristia, pois após uma comunhão, ajoelhada no meio das noviças, com os braços em cruz, levantou os olhos para o céu e disse “Irmãs, se compreendêssemos que, no tempo em que permanecem em nós as Espécies Eucarísticas, Jesus está presente e opera em nós, sem separar-se do Pai e do Espírito Santo, e que em nós está toda Santíssima Trindade (...)", entretanto, não pôde terminar sua fala, pois foi arrebatada em sublime êxtase.

Meditar a Palavra de Deus

É fundamental que o cristão compreenda as Sagradas Escrituras, pois a palavra de Deus santifica o homem e o leva a conhecer a Deus. Se você ainda não tem intimidade de como manusear as Sagradas Escrituras não se perturbe, você tem a mãe Igreja que assim como mãe educa seus filhos. A Igreja nos da sua liturgia diária e você poderá acompanhar as leituras que a Igreja celebra diariamente. Leia com amor e devoção sem esquecer de antes pedir que o Espírito Santo lhe de a graça de guardá-la em seu coração e para pô-la em prática. “Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes" (Tiag 1, 22).

Também aconselhamos que procure ler o Catecismo e os livros dos santos da Igreja Católica, assim poderá meditar como eles viveram a palavra de Deus e seus meios de santificação.

A oração pessoal.

"Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai que vê num lugar oculto, recompensar-te-á" (Mat 6,6). É maravilhoso a graça de poder ajoelhar em seu quarto, fechar os olhos e se comunicar com aquele que fez todas as coisas (Apo. 21,5), se comunicar com Aquele que é: o principio e o fim (Apoc. 21,6), o Deus Todo Poderoso, que te amou desde o ventre da sua mãe e lá já lhe chamava pelo nome (Isa. 49,1). São Padre Pio dizia “na leitura da palavra conhecemos Deus, na oração o encontramos"! Comece sua oração hoje mesmo, louvando e bendizendo o seu Senhor sempre atento às palavras que saírem de sua boca, não jogue palavras ao vento, converse atentamente com Deus, tenha concentração e peça sempre o batismo do Espírito Santo. Depois de louvar e bendizer aquele que é três vezes Santo, chegará a hora sublime, a hora de silenciar! Escute o que o Senhor fala na sua alma, adore Ele com seu coração, sinta a presença real desse Deus que nunca lhe abandona e se deixe apaixonar por Jesus.

A intimidade com Maria Santíssima.

A devoção a Virgem Maria é algo extraordinário, não teve um santo que não fosse devoto da Virgem Maria, pois se do seu ventre nasceu o Santo dos Santos, é claro que toda sua descendência será também gerada por ela (S. Luiz Maria G. Montfort). Maria é a mãe do Santíssimo Sacramento, é a mãe da Igreja, e a mãe dos filhos de Deus, mãe dos apóstolos (Jo. 19,26-27), a mulher de pentecostes (At. 1,14) a mãe do meu Senhor (Luc. 1,43) aquela que pisou na cabeça da serpente, satanás (Gen 3,15) e também será aquela que lhe ensinará a ser santo, pois o próprio filho do Altíssimo foi criado por Ela, educado por Ela e era submisso a Maria Santíssima (Luc. 2,51).

A verdadeira devoção a Virgem Maria consiste em imitar suas virtudes, pois foram as virtudes de Maria que agradaram o coração de Deus. Testemunhamos que depois que nos apaixonamos pela Virgem Maria, nossa vida espiritual começou a ter mais sentido, como Maria me aproxima de Jesus cada dia mais, Maria nos ensinou a amar a igreja, a amar os sacramentos, principalmente o sacramento da comunhão, a ter gosto pela santa missa, a ter prazer pelas coisas de Deus e pela santidade. E é na recitação do Rosário que temos encontrado a força necessária para fugir do pecado e das paixões da carne. Ó Maria Santíssima como é bom ser todo seu, pois sendo todo seu seremos completamente de Jesus. Aconselhamos você comprar o livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria” de S. Luiz Maria G. Montfort, onde poderá se consagrar a mãe de Deus de uma maneira sublime e ser escravo de Jesus pelas mãos de Maria Santíssima. “Por fim, meu Imaculado coração TRIUNFARÁ!" (N.S. de Fátima)

Vale dizer ainda, que o caminho da santidade é estreito (Mat 7,13), e diário, mas é nele que encontramos a verdadeira felicidade. Como seria bom se tivéssemos começado já na infância nosso caminho de santidade, porém, nunca é tarde para começar, não importa sua idade ou como você se encontra nesse momento, Deus te chama para começar a viver a santidade a partir de hoje e obter uma intimidade extraordinária com Ele.

Lembre-se que no meio do caminho teremos dificuldades, pois os que querem seguir a Jesus piedosamente haverão de sofrer perseguições (II Tim. 3,12), contudo Jesus nos consola dizendo que "no mundo havereis de ter muitas aflições, mais coragem eu venci o mundo” (Jo. 16,33).

Bem vindo ao exército de Cristo. Que o Senhor te ilumine.


Rafael de Paula

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

O Mistério de Deus nas pessoas que sofrem

“Quando penso nos sofrimentos que o Senhor suportou sendo inteiramente inocente, não sei onde vem à cabeça lamentar-se dos meus sofrimentos. O mérito consiste no sofrer e amar”.

A grande mística e a primeira Doutora da Igreja Santa Teresa de Ávila dizia: “Quando penso nos sofrimentos que o Senhor suportou sendo inteiramente inocente, não sei onde vem à cabeça lamentar-se dos meus sofrimentos. O mérito consiste no sofrer e amar”.

É do sofrimento que nasce a sabedoria e o heroísmo.

Os gregos já diziam que “sofrimento é escola”. E o ínclito sábio Santo Agostinho afirmava: “A cruz é uma escola”.

O sofrimento é uma experiência bastante dolorosa é inesquecível e deixa profundas marcas na alma.

Não importa que seja curto ou prolixo.

Muitas das vezes o sofrimento é causado pela doença, enfermidade, falta de caridade de certas pessoas, ingratidão, injustiça, abandono, rompimento de uma paixão, saudade, solidão, tristeza, desemprego, miséria, fome, separação conjugal, angústia profunda, envelhecimento e a perda de um ente querido.

O pensador latino Publílio Siro disse: “A dor da alma é muito mais penosa que a do corpo”. Aqui entra o contexto psicológico do sofrimento na alma, causado pela depressão, traumas, recalque, melancolia, fobias, frustrações e vários tipos de complexos.

Muita gente não agüenta a dura realidade da vida.

Não suporta viver gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Brandam contra este desterro de dor e infortúnio.

O vale de lágrimas, vale tenebroso ou vale da sombra da morte, contém as mazelas da vida: traição, covardia, calúnia, difamação, cobiça, soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja, preguiça e boçalidade.

Como viver com tudo isso? De maneira aguerrida. “Nenhum mal temerei, pois Deus está junto a mim” (Salmo 23,4).

Do Calvário ao Paraíso, resta a fé, a paciência e a esperança.

Enquanto isso, diz a sentença latina: “Opus divinum est sedáre dolórem – É obra divina aliviar a dor alheia”.

IGNORÂNCIA DO SOFRIMENTO

Muitos líderes religiosos fraudulentos e charlatões usam o sofrimento do povo para construir seus impérios financeiros. Outros pela ignorância teológica dão explicações erradas sobre o sofrimento. Respostas sem exegese bíblica que vão desde um ‘Deus catastrófico’ ao pensamento deísta.

Os lideres religiosos, em vez de fornecer respostas satisfatórias sobre esse assunto, muitas vezes aumentam ainda mais a confusão. Vamos concentrar-nos agora em apenas três das suas respostas mais comuns.

Primeiro: muitos líderes religiosos ensinam que Deus provoca catástrofes para punir pessoas más. Por exemplo, nos Estados Unidos, depois de a cidade de Nova Orleans, Louisiana, ter sido devastada pelo furacão Katrina, alguns ministros religiosos afirmaram que Deus havia castigado a cidade. Eles se referiram à prevalecente corrupção, jogatina e imoralidade como motivos para isso. Alguns até mesmo citaram a Bíblia como prova disso, lembrando ocasiões em que Deus destruiu os maus por meio de dilúvio ou fogo. Essas afirmações, porém não refletem o que a Bíblia ensina. (Gálatas 6,7-9).

Segundo: alguns clérigos afirmam que Deus tem suas razões para fazer com que calamidades sobrevenham à humanidade, mas que essas razões estão além da nossa compreensão. Muitas pessoas ficam insatisfeitas com essa explicação. Elas se perguntam: “Será que um Deus amoroso faria tais maldades, recusando-se depois a explicar seus motivos aos que anseiam receber consolo e clamam: ‘Por quê’?” Essa é uma boa pergunta, pois a Bíblia diz que “Deus é amor”. (1 João 4,8).

Terceiro: outros líderes religiosos talvez concluam que, afinal, Deus não é nem todo poderoso nem amoroso. Essa idéia também levanta perguntas sérias. Será que Aquele que ‘criou todas as coisas’ – incluindo o magnífico e insondável Universo - é incapaz de evitar o sofrimento neste planeta, a Terra? (Apocalipse 4,11). Como é possível que Aquele que nos deu a capacidade de amar, e cuja Palavra, a Sagrada Escritura, o descreve como sendo a própria personificação do amor sem limite, seja indiferente ao sofrimento das pessoas? (Gênesis 1,27; 2,1-3; Isaías 49,15; João 3,16).

A PERMISSÃO DO SOFRIMENTO

Diante do sofrimento e da dor, muita gente pergunta “por quê isso acontece comigo?” “Por quê eu tenho que sofrer?”. “Por quê Deus não me livrou dessa desgraça, da miséria e da tormenta?” “Por quê os bons sofrem tanto e os maus não?”.

É normal a nossa revolta e indignação no confronto com os problemas e as dificuldades. O bom Deus não leva em conta a nossa raiva diante das adversidades.

Como José do Egito, nós não entendemos o mal que está acontecendo em nosso redor – em parte sim, em parte não – mas, com o passar do tempo, as coisas vão se revelando e nós começamos entender o porquê do fato ter acontecido (Gênesis 50,18-21). É claro! Nem tudo podemos entender os mistérios desta vida. Aguardemos a eternidade.

O ilustre rabino Henry Sobel disse: “A fé não é a ausência da dúvida. Eu como rabino tenho muitos problemas com Deus, como Deus deve também ter problemas comigo. Mas nem por isso desisto. Faço da minha dúvida a vontade de conhecer melhor”.

O rabino diz que, quando perdeu a mãe, questionou a justiça de Deus: “Por quê?”.

Depois, entendeu que a pergunta não era “por quê?”, mas “para que?”

“Aprendi que a dor deve servir a uma finalidade maior. Existe uma missão na vida, e essa missão é enriquecida pela dor”.

Afirma Sobel: “A fé é a coragem de continuar”.

Ás vezes quando uma pessoa pergunta “por que?”, ela não está somente em busca de respostas, mas também de consolo, pois talvez tenha sofrido uma grande perda.

A Sagrada Escritura fornece esse consolo? Considere três importantes verdades bíblicas relacionadas a esse assunto.

Primeiro: não é errado perguntar por que Deus permite o sofrimento. Alguns têm receio de fazer uma pergunta dessas porque acham que isso significa falta de fé em Deus ou falta de respeito por ele. Isso não é verdade. Se você faz essa pergunta com sinceridade, não é o único. O santo profeta Habacuque perguntou a Deus: “Por que me fazes ver tanta maldade? Por que toleras a injustiça? Estou cercado de destruição e violência; há brigas e lutas por toda parte.” (Habacuque 1,3- Bíblia na Linguagem de Hoje). Deus não repreendeu Habacuque por ter dito essas palavras. Em vez disso, fez com que as perguntas desse homem fiel fossem registradas para que todos nós as lêssemos. (Romanos 15,4).

Segundo: é importante saber que Deus sente compaixão quando você passa por uma situação difícil. Ele não é indiferente e misterioso; ele “ama a justiça” e detesta a maldade e o sofrimento que essa causa. (Salmo 37,28; Provérbios 6,16-19). Nos dias de Noé, Deus sentiu-se “magoado no coração” porque a violência se espalhava pela Terra (Gênesis 6,5,6). Deus não mudou; seus sentimentos em relação ao que acontece atualmente são os mesmos. (Malaquias 3,6). Os homens mudam e não deveriam mudar para pior.

Terceiro: Deus não é a causa do sofrimento. A Sagrada Escritura deixa muito claro isso. Devido a desobediência do primeiro casal no Jardim do Édem, surgiu os desabores da vida (Gênesis 3,1-24). Aqueles que atribuem ao Senhor Deus a culpa por coisas catastróficas e a maldade no mundo estão difamando o Criador, ou seja, blasfemando Aquele que é o “Sumo Bem”. “Todas as obras de Deus procedem de sua bondade para felicidade dos bem-aventurados”, afirma Santo Tomás de Aquino.

Escreve Jó: “Escutai-me, homens sensatos. Longe de Deus o mal, e do Todo Poderoso, a iniqüidade!” Corrobora com este pensamento São Tiago: “Ninguém, ao ser tentado, deve dizer: “É Deus que me está tentando”, pois Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Antes, cada qual é tentado péla própria concupiscência, que o arrasta e seduz. Meus amados irmãos, não vos enganeis: todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto e desce do Pai das Luzes, no qual não há nenhuma mudança nem sombra de variação” (Tiago 1.13-17).

Quando você estiver passando pelo sofrimento e terríveis provações, tenha certeza que o bom Deus não é a causa de tais tentações.

Porém, tenhamos ciência que Deus permite tais provações para elevar a alma ao patamar da maturidade espiritual.

“E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio” (Romanos 8,28).

CONCLUSÃO

Ninguém está livre dos sofrimentos e das incompatibilidades da vida. Surpresas incômodas e indesejadas sempre irão acontecer. Ninguém pede os tsunamis e os katrinas e as tribulações, mas, infelizmente, eles chegam sem a nossa vontade.

“Precisamos aprender a confrontar realidades desagradáveis e entender que o mundo é imperfeito”, diz o mega investidor George Soros.

As vitórias pedem esforço dobrado, suor e sangue, persistência, atitude aguerrida, motivação incessante e centralidade no alvo.

Valentia, coragem e inteligência são atributos dos heróis.

Nesta vida há necessidade de algo a mais para vencer os titãs do sofrimento.

Disse o pai da psicanálise Sigmund Freud: “Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de ferro”.

O ex-ateu, renomado escritor cristão, o irlandês Clive Staples Lewis, escreveu que: “o sofrimento oferece uma oportunidade para o heroísmo” e acrescenta que “essa oportunidade é aceita com surpreendente freqüência”.

Este autor do sucesso mundial ‘As Crônicas de Nárnia’, explica que “o problema de conciliar o sofrimento humano com a existência de um Deus só é insolúvel enquanto associamos um significado trivial à palavra ‘amor’ e considerarmos as coisas como se o homem fosse o centro delas”.

Os que sofrem como verdadeiros cristãos têm consciência que o padecimento tem como objetivo purgar as imperfeições e aumentar a fé, o estado de graça e acender a chama ardente da comunhão com o bondoso Deus.

“Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós” (Romanos 8,18).

Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

«Velai, pois, orando continuamente...»


«Velai, pois, orando continuamente, [...] para aparecerdes firmes diante do Filho do Homem»

Este tempo do Advento representa as duas vindas do Senhor; em primeiro lugar, a dulcíssima vinda do «mais belo dos filhos dos homens» (Sl 45 (44), 3), do «Desejado de todos os povos» (Ag 2, 8 [Vulgata]), do Filho de Deus que manifestou ao mundo, na carne, visivelmente, a Sua presença, de há muito esperada e desejada ardentemente por todos os Patriarcas — a vinda que O trouxe a este mundo para salvar os pecadores.

Mas este tempo relembra-nos também a vinda que aguardamos com uma esperança firme e da qual devemos todos os dias relembrar-nos com lágrimas: aquela que terá lugar quando o próprio Senhor Se manifestar na Sua glória, ou seja, no dia do Juízo, quando ele Se manifestar para julgar.

A Sua primeira vinda foi conhecida por muito poucos homens;

na segunda, manifestar-Se-á aos justos e aos pecadores como o anuncia o profeta: «E toda a gente há-de ver a salvação de Deus» (Is 40, 5; Lc 3, 6). [...]

Assim, irmãos caríssimos, sigamos o exemplo dos Patriarcas, reavivemos o seu desejo e inflamemos as nossas almas com o amor e o anseio de Cristo.

Bem sabeis que a celebração deste tempo foi instituída para renovar em nós este desejo que os antigos tinham pela vinda do Senhor e para que, seguindo o seu exemplo, possamos nós também suspirar pelo Seu regresso.

Consideremos todo o bem que o Senhor nos alcançou com a Sua primeira vinda — quanto maiores bens nos alcançará Ele quando regressar!

Com este pensamento teremos ainda maior estima pela Sua vinda passada e um maior desejo pelo Seu regresso!

Se quisermos a paz quando Ele vier, esforcemo-nos por acolher com fé e amor a Sua vinda passada; demoremo-nos fielmente nas obras que então nos manifestou e nos ensinou; nutramo-nos, do coração, do amor de Cristo e, por ele, do Seu desejo, para que, logo que chegue o Senhor, o Desejado de todos os povos, possamos levantar os olhos para Ele com toda a confiança.

Santo Aelredo de Rievaulx (1110-1167), monge cisterciense
Sermão para o Advento do Senhor (PL 195, 363; PL 184, 818)

com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

Enfim, recoloca-se a questão: por que ainda ser cristão hoje?



A intrigante questão por que ainda ser cristão hoje? é título de um opúsculo do filósofo e teólogo suíço Hans Küng (*1928), publicado pela Verus Editora, em 2004.
Nessa obra o autor enfoca com clareza, profundidade e ousadia questões básicas para a fé cristã e, sobretudo, coloca em evidência aquilo que realmente importa para ser um autêntico cristão. Muito preocupado com doutrinas e práticas tradicionais da Igreja Católica, pergunta-se: O que é ser um autêntico cristão e não apenas um cristão de fachada? Se uma pessoa ou instituição não é cristã pelo simples fato de ter cristão no nome, o que se requer além do nome?
O que é especificamente cristão e não apenas eclesiástico, católico, católico romano, magisterial?

Por que ainda ser cristão hoje?

Hans Küng inicia o supracitado texto explicitando que a sociedade moderna encontra-se em uma ampla e profunda crise de orientação. A falta de orientação básica manifesta-se sobretudo após a rebelião dos jovens e estudantes no final da década de 1960. A partir de então já não existe mais nenhuma instituição ou autoridade guardiã das tradições e valores que não esteja sendo radicalmente questionada.

A religião cristã, que até então era matéria de convicção pessoal ou pelo menos uma questão ligada à tradição e aos bons costumes, tende a ser afastada totalmente da vida pública e relegada para a privacidade do indivíduo. Esse processo de secularização preocupa bastante inclusive ao Papa Bento XVI porque se verifica que com a perda da religião como um evento social, perde-se também os valores éticos.

Para o pensador suíço não existe nenhum dever incondicional para determinado modo de agir humano sem a abertura a uma autoridade absoluta (Deus) que imponha sobre nós aquele dever; não existe ação humana,incondicionalmente obrigatória, sem religião. Como demonstrar, unicamente a partir da razão, que a liberdade é melhor do que a opressão, a justiça melhor do que a busca do lucro, o amor melhor do que o ódio e a paz melhor do que a guerra? Como justificar filosoficamente a atitude de uma pessoa que abre mão de vantagens pessoais, ou até mesmo de sua própria vida, em benefício da vida do próximo? Por que não posso roubar, matar e mentir se isto me traz vantagens? Talvez por causa dessa crescente convicção de que não é possível fundamentar os valores éticos exclusivamente a partir da razão, que se sustenta, hoje, a necessidade de articular novamente razão e fé, fé e política, e de entender esta como forma de viver o espírito de solidariedade na sociedade.

A perda da fundamentação incondicional (religiosa) dos princípios éticos reflete-se na necessidade de estabelecer, com freqüência, novas normas de conduta e novos regulamentos (leis) que, porém, muito mais salvaguardam interesses de grupos ávidos de benefícios próprios (éticas egocêntricas) do que a melhoria da qualidade de vida de todos. Se hoje, portanto, fala-se tanto de crise ética em vários setores da sociedade é porque falta uma orientação básica e, segundo Küng, falta uma orientação básica cristã.

Sabe-se que ao longo da história do cristianismo foram cometidos vários erros, entre os quais, as cruzadas, a perseguição contra os judeus, o caso Galileu, a cumplicidade com os donos do poder, etc. Porém, apesar do fundo sombrio de muito daquilo que é chamado cristão, é possível hoje encontrar uma orientação básica na mensagem cristã em si mesma, ou melhor, na vida a partir de e no seguimento de Jesus Cristo. Na base do cristianismo está a pessoa de Jesus de Nazaré, o Filho de Deus encarnado. Jesus Cristo, in persona, é a manifestação visível de que Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele (1Jo 4,16).

O Deus revelado por Jesus Cristo, em vez de condenar, perdoa; em vez de castigar, liberta; em vez de impor a justiça, faz valer a graça e a misericórdia. Foi por esse Deus que Jesus suplicou, falou, lutou, sofreu e morreu na cruz. Humildade, amor, perdão, compaixão, fidelidade, serviço ao próximo sem esperar retribuições são, portanto, atitudes humanas de Jesus que expressam a vontade de Deus em relação a todos os seus filhos e filhas. Enfim, Jesus revelou a face de Deus Uno e Trino através de sua vida de doação incondicional a todos os seres humanos, que culminou na sua morte de cruz.

O teólogo Bruno Forte, em A essência do cristianismo (Vozes, Petrópolis 2003), conclui que desde o início do movimento cristão até hoje, a essência do cristianismo é Jesus Cristo crucificado. Na cruz de Jesus Cristo, Deus revela todo o seu amor pela humanidade, e na cruz de Jesus Cristo realiza-se maximamente a vocação fundamental do ser humano. A essência do cristianismo é o Amor crucificado em sua abissal profundidade humano-divina.

Por conseguinte, autêntico cristão é aquele que se deixa orientar por Jesus Cristo, imita-O na busca da liberdade, na prática da justiça, da solidariedade e da paz.

Porém, na esteira de Jesus Cristo, o senso de justiça ultrapassa o respeito aos deveres elementares da condição humana, como não matar, não roubar, não mentir, etc.

O autêntico cristão, abraçado à cruz de Jesus Cristo, engaja-se despretensiosamente em favor do próximo, compromete-se com um amor que não somente respeita, mas integra até mesmo o inimigo.

São Lucas escreve acerca deste tema: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei aos que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam (Lc 6, 7-28).

O apóstolo Paulo aponta para todas as características que, juntas, constituem o fruto do Espírito de Cristo e de todo o cristão, a saber: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5, 22-23).

O distintivo dos cristãos se encontra nas palavras do próprio Jesus: Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros (Jo 13, 34s).

Conforme dissemos anteriormente, ao longo da história do cristianismo muitos cristãos não foram cristãos no sentido mais profundo, verdadeiro e original da palavra. Porém, seria um equívoco condenar a religião cristã e a Igreja Católica por causa de atitudes anti-cristãs de cristãos de fachada. Pois, a partir da inspiração originária do próprio cristianismo rejeita-se tudo quanto de algum modo tenha a ver com um dogmatismo autoritário ou com uma moral cristã estreita e casuísta, distanciada da vida.

Mas é verdade também que na Igreja há muitos cristãos que são verdadeiros discípulos do mestre Jesus Cristo, ou seja, que fazem de Jesus Cristo a orientação básica de suas vidas.

Entre os mais renomados discípulos de Jesus Cristo destaca-se São Francisco de Assis. Ele quis ser cristão porque encontrou no Evangelho de Jesus Cristo o sentido fundamental de sua vida. Ao ouvir o trecho do Evangelho acerca da missão dos apóstolos (Mt 10, 7-13), imediatamente exclamou: É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração (1Cel 22). Sem demora, no espírito de Deus, começou a colocar em prática o que ouvira, isto é, distribuiu aos pobres todos os seus bens materiais e renegou completamente a sua vontade para livremente fazer a vontade de Deus. Francisco quis, pura e simplesmente, viver e agir o mais fielmente possível como Jesus viveu e agiu e, conseqüentemente, anunciar o Reino de Deus, a conversão e a paz. Francisco abraçou pobre e humildemente a cruz. Não quis mais gloriar-se a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 6,14). Por isso, no final de sua vida, todo arrebatado em Deus e transformado à semelhança de Jesus pelo amor e pela compaixão, teve visivelmente impressos sobre seu corpo os estigmas do Crucificado (1Cel 94;95; LM 13,3).

E à medida que a sua opção de vida suscitou discípulos e fez crescer a comunhão fraterna entre eles, e levou-os à solidariedade com todos os necessitados, sem discriminação, reinaugurou-se o ideal primitivo da Igreja de Jesus Cristo. De modo que, com toda a razão, S. Boaventura comparou Francisco a Jesus Cristo e a fraternidade primitiva franciscana à comunidade primitiva dos cristãos.

Enfim, recoloca-se a questão: por que ainda ser cristão hoje?

Certamente muitos denominam-se cristãos pelo simples fato de terem nascido dentro de uma tradição cristã de 20 séculos e querem continuar honrando essa nobre tradição.

Outros provavelmente são cristãos por causa da convicção de que, seguindo Jesus Cristo, é possível viver, agir, sofrer e morrer dignamente como um ser humano.

E, talvez, muitos são cristãos ainda hoje porque encontram na pessoa de Jesus Cristo, a exemplo de S. Francisco de Assis, o sentido (orientação básica) para a sua existência.

E você, por que ainda é cristão hoje?

Frei João Mannes, OFM

com minha benção
Pe Emílio Carlos+

A fé é o segredo da felicidade.

"...ter fé é seguir um caminho novo, traçado não por nós, mas por Deus para nós."

A fé do oficial romano

“É louco quem julgar poder poupar a luz do dia para se servir dela durante a noite.” (Giovanni Guareschi)

Mt 8,5-11

Muitos virão do Oriente e do Ocidente para o Reino do Céu.

Este Evangelho narra a cura do empregado do oficial romano. Chamam a nossa atenção a fé e a humildade do oficial, resumidas na sua frase: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e o meu empregado ficará curado”. Junto com Jesus, a Igreja expressa a sua admiração à atitude desse oficial, repetindo a sua frase em todas as Missas, na hora da Comunhão.

Ele tinha tanta certeza da divindade de Jesus e do seu poder sobre as doenças, que achava que apenas uma palavra de Jesus já devolveria a saúde ao seu empregado.

A fé é o segredo da felicidade. Quem tem fé “tira de letra” todas as dificuldades e obstáculos que aparecem na vida. Quem tem fé sabe que uma doença, por mais grave que seja, para Deus é um grãozinho de areia.

A fé é uma graça que Deus dá a quem ele quer, do Oriente ou do Ocidente, do Norte ou do Sul. Jesus se referiu aos pontos cardeais, para dizer, primeiro, que todas as pessoas do mundo recebem as graças suficientes para ter fé, esperança e caridade, e para se salvar.

Deus ama a todos e não faz distinção de qualquer espécie entre as pessoas.

Segundo, para dizer aos judeus que eles não eram o povo privilegiado de Deus, como pensavam. Não existe povo privilegiado diante de Deus. Simplesmente, Israel recebeu a missão de preparar a vinda do Messias, só isso.

A fé é uma graça que Deus dá a todos os seres humanos indistintamente, sem nenhuma restrição em relação à raça, ao país ou a qualquer outra distinção.

Quem tem fé faz como o oficial fez: vai atrás de Jesus, expõe o seu problema e acredita que Jesus quer e pode resolver, portanto vai resolver. Por isso, quem tem fé não entra em pânico, não se revolta, não desilude, não alvoroça, não perde a alegria nem a esperança, mesmo nas situações mais desafiadores, pois sabe que nenhum problema é maior que Deus.

Ter fé é muito mais que acreditar com a cabeça; é acreditar com o corpo inteiro; por isso já dá o primeiro passo no novo caminho que pediu a Deus. Mas, é claro, ter fé é seguir um caminho novo, traçado não por nós, mas por Deus para nós.

“A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem” (Hb 11,1). É caminhar “como se visse o invisível” (Hb 11,27).

O exemplo de Moisés, na travessia do Mar Vermelho, nos mostra bem o que é fé: “Moisés estendeu o bastão sobre o mar e durante a noite inteira o Senhor fez soprar sobre o mar um vento leste muito forte, fazendo recuarem as águas... E assim os hebreus puderam atravessar” (Ex 14,21-22).

Dá impressão que no início as águas não se afastavam, mas Moisés ficou firme, com o seu bastão estendido sobre o mar. Deus quer que nós mostremos a fé nele, mesmo sem ver uma resposta imediata. Em vez de uma noite, ele pode demorar dias ou até anos para nos atender. Mas se permanecermos com o nosso bastão estendido, ele se manifesta e, com toda a certeza, separará as águas.

Nós queremos crescer na fé, porque dela nasce a esperança, e das duas nasce a caridade. Assim, vivendo as três virtudes teologais, seremos certamente felizes, agora e por toda a eternidade.

Certa vez, em um mosteiro, um noviço chegou para o mestre e disse: “Padre mestre, penso que não tenho vocação. Não consigo guardar na memória o que leio na Bíblia, nem as palestras do senhor”.

O mestre não respondeu imediatamente a questão. Apenas disse ao jovem: “Pegue aquele cesto de junco, desça ao riacho, encha-o de água e traga aqui”.

O noviço olhou para o cesto, todo furado e sujo, e achou muito estranha a ordem. Mas obedeceu. Desceu ao riacho, encheu o cesto de água e começou a subir. Quando chegou até o mestre já não havia água, pois se escorreu toda pelos buracos.

O mestre lhe pediu que repetisse a viagem. O noviço voltou ao riacho, afundou o cesto na água, encheu-o e veio trazendo. Mas novamente chegou com o cesto vazio.

Então o mesmo perguntou: “Meu filho, o que você aprendeu?” O rapaz respondeu na hora: “Que cesto de junco não transporta água”.

O mestre lhe disse: “Olhe para o cesto. Vê alguma diferença?” O noviço olhou e disse com um sorriso: “Vejo que o cesto, que antes estava todo sujo e empoeirado, agora está limpo. Se a água não chegou aqui, pelo menos lavou o cesto!”

O mestre concluiu: “Nada importa que você não consiga guardar na memória os textos bíblicos e as palestras; o importante é que a sua vida fique limpa diante de Deus”.

Em relação ao Evangelho de hoje, podemos dizer também: Importa obedecer as Leis de Deus, mesmo que não as entendamos na hora. Deus, o legislador, é mais inteligente que nós, e sabe que seus mandamentos, se não transportam água, pelo menos lavam o cesto.

Isabel elogiou a fé da sua prima Maria Santíssima: “Feliz aquele que acreditou, pois aquilo que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45). Maria nunca vacilou na fé, nem na hora mais difícil, que foi a cruz. Que ela nos ajude a crescer na fé.

Muitos virão do Oriente e do Ocidente para o Reino do Céu.


Padre Queiroz

Tempo do Advento na Igreja


O Tempo do Advento

Introdução
A palavra "advento" quer dizer "que está para vir". O tempo do Advento é para toda a Igreja, momento de forte mergulho na liturgia e na mística cristã. É tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Senhor, como uma noiva que se enfeita, se prepara para a chegada de seu noivo, seu amado.
O Advento começa às vésperas do Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e vai até as primeiras vésperas do Natal de Jesus contando quatro domingos.

Esse Tempo possui duas características: As duas últimas semanas, dos dias 17 a 24 de dezembro, visam em especial, a preparação para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a segunda vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador e Senhor da história, no final dos tempos. Por isto, o Tempo do Advento é um tempo de piedosa e alegre expectativa.
Origem
Há relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo, como preparação para a festa do Natal. No final do século IV na Gália (atual França) e na Espanha tinha caráter ascético com jejum abstinência e duração de 6 semanas como na Quaresma (quaresma de S. Martinho). Este caráter ascético para a preparação do Natal se devia à preparação dos catecúmenos para o batismo na festa da Epifania. Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 domingos.
Só após a reforma litúrgica é que o Advento passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo a tradição das 4 semanas. A Igreja entendeu que não podia celebrar a liturgia, sem levar em consideração a sua essencial dimensão escatológica.

Teologia do Advento

O Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão escatológica do mistério cristão e nos insere no caráter missionário da vinda de Cristo. Ao serem aprofundados os textos litúrgicos desse tempo, constata-se na história da humanidade o mistério da vinda do Senhor. Jesus que de fato se encarna e se torna presença salvífica na história, confirmando a promessa e a aliança feita ao povo de Israel. Deus que, ao se fazer carne, plenifica o tempo (Gl 4,4) e torna próximo o Reino (Mc 1,15) . O Advento recorda também o Deus da revelação, Aquele que é, que era e que vem (Ap 1, 4-8), que está sempre realizando a salvação mas cuja consumação se cumprirá no "dia do Senhor", no final dos tempos. O caráter missionário do Advento se manifesta na Igreja pelo anúncio do Reino e a sua acolhida pelo coração do homem até a manifestação gloriosa de Cristo. As figuras de João Batista e Maria são exemplos concretos da missionariedade de cada cristão, quer preparando o caminho do Senhor, quer levando o Cristo ao irmão para o santificar. Não se pode esquecer que toda a humanidade e a criação vivem em clima de advento, de ansiosa espera da manifestação cada vez mais visível do Reino de Deus.
A celebração do Advento é, portanto, um meio precioso e indispensável para nos ensinar sobre o mistério da salvação e assim termos a Jesus como referencia e fundamento, dispondo-nos a "perder" a vida em favor do anúncio e instalação do Reino.

Espiritualidade do advento

A liturgia do Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza, a conversão.
Deus é fiel a suas promessas: o Salvador virá; daí a alegre expectativa, que deve nesse tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera acontecerá com certeza. Portanto, não se está diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. A esperança da Igreja é a esperança de Israel já realizada em Cristo mas que só se consumará definitivamente na parusia do Senhor. Por isso, o brado da Igreja característico nesse tempo é "Marana tha"! Vem Senhor Jesus!
O tempo do Advento é tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança (I Tm 1, 1); esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante das perseguições, etc.
O Advento também é tempo propício à conversão. Sem um retorno de todo o ser a Cristo não há como viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda. É necessário que "preparemos o caminho do Senhor" nas nossas próprias vidas, "lutando até o sangue" contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na Palavra.
No Advento, precisamos nos questionar e aprofundar a vivência da pobreza. Não pobreza econômica, mas principalmente aquela que leva a confiar, se abandonar e depender inteiramente de Deus (e não dos bens terrenos), que tem n'Ele a única riqueza, a única esperança e que conduz à verdadeira humildade, mansidão e posse do Reino.

As Figuras do Advento:

ISAIAS

É o profeta que, durante os tempos difíceis do exílio do povo eleito, levava a consolação e a esperança. Na segunda parte do seu livro, dos capítulos 40 - 55 (Livro da Consolação), anuncia a libertação, fala de um novo e glorioso êxodo e da criação de uma nova Jerusalém, reanimando assim, os exilados.
As principais passagens deste livro são proclamadas durante o tempo do Advento num anúncio perene de esperança para os homens de todos os tempos.

JOÃO BATISTA

É o último dos profetas e segundo o próprio Jesus, "mais que um profeta", "o maior entre os que nasceram de mulher", o mensageiro que veio diante d'Ele a fim de lhe preparar o caminho, anunciando a sua vinda (conf. Lc 7, 26 - 28), pregando aos povos a conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos pecados (Lc 1, 76s).
A figura de João Batista ao ser o precursor do Senhor e aponta-lO como presença já estabelecida no meio do povo, encarna todo o espírito do Advento; por isso ele ocupa um grande espaço na liturgia desse tempo, em especial no segundo e no terceiro domingo.
João Batista é o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são chamados a também ser profetas e profecias do reino, vozes no deserto e caminho que sinaliza para o Senhor, permitindo, na própria vida, o crescimento de Jesus e a diminuição de si mesmo, levando, por sua vez os homens a despertar do torpor do pecado.
MARIA

Não há melhor maneira de se viver o Advento que unindo-se a Maria como mãe, grávida de Jesus, esperando o seu nascimento. Assim como Deus precisou do sim de Maria, hoje, Ele também precisa do nosso sim para poder nascer e se manifestar no mundo; assim como Maria se "preparou" para o nascimento de Jesus, a começar pele renúncia e mudança de seus planos pessoais para sua vida inteira, nós precisamos nos preparar para vivenciar o Seu nascimento em nós mesmos e no mundo, também numa disposição de "Faça-se em mim segundo a sua Palavra" (Lc 1, 38), permitindo uma conversão do nosso modo de pensar, da nossa mentalidade, do nosso modo de viver, agir etc.
Em Maria encontramos se realizando, a expectativa messiânica de todo o Antigo Testamento.

JOSÉ

Nos textos bíblicos do Advento, se destaca José, esposo de Maria, o homem justo e humilde que aceita a missão de ser o pai adotivo de Jesus. Ao ser da descendência de Davi e pai legal de Jesus, José tem um lugar especial na encarnação, permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de "Filho de Davi".
José é justo por causa de sua fé, modelo de fé dos que querem entrar em diálogo e comunhão com Deus.

A Celebração do Advento
O Advento deve ser celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta o Glória, para que na festa do Natal, nos unamos aos anjos e entoemos este hino como algo novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós. Pelo mesmo motivo, o diretório litúrgico da CNBB orienta que flores e instrumentos sejam usados com moderação, para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus.
As vestes litúrgicas (casula, estola etc) são de cor roxa, bem como o pano que recobre o ambão, como sinal de conversão em preparação para a festa do Natal com exceção do terceiro domingo do Advento, Domingo da Alegria ou Domingo Gaudete, cuja cor tradicionalmente usada é a rósea, em substituição ao roxo, para revelar a alegria da vinda do libertador que está bem próxima e se refere a segunda leitura que diz: Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto.(Fl 4, 4).
Vários símbolos do Advento nos ajudam a mergulhar no mistério da encarnação e a vivenciar melhor este tempo. Entre eles há a coroa ou grinalda do Advento. Ela é feita de galhos sempre verdes entrelaçados, formando um círculo, no qual são colocadas 4 grandes velas representando as 4 semanas do Advento. A coroa pode ser pendurada no prebistério, colocada no canto do altar ou em qualquer outro lugar visível. A cada domingo uma vela é acesa; no 1° domingo uma, no segundo duas e assim por diante até serem acesas as 4 velas no 4° domingo. A luz nascente indica a proximidade do Natal, quando Cristo salvador e luz do mundo brilhará para toda a humanidade, e representa também, nossa fé e nossa alegria pelo Deus que vem. O círculo sem começo e sem fim simboliza a eternidade; os ramos sempre verdes são sinais de esperança e da vida nova que Cristo trará e que não passa. A fita vermelha que enfeita a coroa representa o amor de Deus que nos envolve e a manifestação do nosso amor que espera ansioso o nascimento do Filho de Deus. A cor roxa das velas nos convida a purificar nossos corações em preparação para acolher o Cristo que vem. A vela de cor rosa, nos chama a alegria, pois o Senhor está próximo. Os detalhes dourados prefiguram a glória do Reino que virá.
Podemos também, em nossas casas, com as nossas famílias, mergulhar no espírito do Advento celebrando-o com a ajuda da coroa do Advento que pode ser colocada ao lado da mesa de refeição.

Blog Liturgia

sábado, 27 de novembro de 2010

Revelações do livro-entrevista de Bento XVI

"Ser cristão é em si mesmo algo vivo, moderno, que atravessa toda a modernidade, formando-a e moldando-a, e, portanto, em certo sentido realmente a abraça. Aqui se necessita de uma grande luta espiritual..."

Passagens antecipadas pelo jornal vaticano

Apresentamos algumas passagens que o L’Osservatore Romano antecipou nesse domingo do livro “Luz do mundo”, que recolhe conversas de Bento XVI com o jornalista alemão Peter Seewald.

* * *
Alegria do cristianismo

Toda minha vida esteve sempre atravessada por um fio condutor, que é este: o cristianismo dá alegria, amplia os horizontes. Em definitivo, uma existência vivida sempre e apenas “em contra” seria insuportável.

Mendigo

No que se refere ao Papa, também ele é um pobre mendigo frente a Deus, ainda mais que os demais homens. Naturalmente rezo, em primeiro lugar, sempre ao Senhor, ao qual estou vinculado, por assim dizer, por uma antiga amizade. Mas invoco também os santos. Sou muito amigo de Agostinho, de Boaventura e de Tomás de Aquino. Portanto, digo a eles: “ajudem-me!”.

A Mãe de Deus é sempre e de todos os modos um grande ponto de referência. Nesse sentido, integro-me na comunhão dos santos. Junto a eles, reforçado por eles, falo, e também com o bom Deus, sobretudo mendigando, mas também agradecendo; ou simplesmente porque estou contente.

Dificuldades

Que a atmosfera não seria sempre alegre era evidente. Dada a atual constelação mundial, com todas as forças de destruição que existem, com todas as contradições que se dão nela, com todas as ameaças e os erros. Se eu tivesse continuado recebendo apenas aprovações, teria de me perguntar se estava realmente anunciando todo o Evangelho.

Abusos sexuais

Os fatos não me pegaram totalmente de surpresa. Na Congregação para a Doutrina da Fé, eu me tinha ocupado dos casos norte-americanos; tinha visto aumentar também a situação na Irlanda. Mas as dimensões, de todos os modos, foram um choque enorme. Desde minha eleição à Sé de Pedro, tinha-me encontrado repetidamente com vítimas de abusos sexuais. Há três anos e meio, em outubro de 2006, em um discurso aos bispos irlandeses, pedi-lhes “estabelecer a verdade do ocorrido no passado, tomando todas as medidas necessárias para evitar que se repita no futuro, assegurar que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curar as vítimas e todos aqueles que foram afetados por estes crimes abomináveis”. Ver o sacerdócio de repente sujo deste modo, e com isso a própria Igreja Católica, foi difícil de suportar. Nesse momento era importante, no entanto, não separar a vista do fato de que na Igreja o bem existe, e não só estas coisas terríveis.

Media e abusos

Era evidente que a ação dos meios de comunicação não estava guiada pela pura busca da verdade, mas tinha também uma complacência em ridicularizar a Igreja e, se fosse possível, desacreditá-la. E, no entanto, era necessário que isso ficasse claro: desde o momento em que se tenta levar a verdade à luz, devemos dar graças. A verdade, unida ao amor corretamente entendido, é o valor número um. E os meios de comunicação não teriam podido dar aqueles informes se na própria Igreja não houvesse dado o mal. Só porque o mal estava dentro da Igreja os outros puderam lançá-lo contra ela.

Intolerância

A verdadeira ameaça diante da qual nos encontramos é que a tolerância seja abolida em nome da própria tolerância. Está em perigo de que a razão, a assim chamada razão ocidental, sustente ter reconhecido finalmente o que é correto e avance assim em uma pretensão de totalidade, que é inimiga da liberdade. Considero necessário denunciar com força esta ameaça. Ninguém está obrigado a ser cristão. Mas ninguém deve ser obrigado a viver segundo a “nova religião”, como se fosse a única e verdadeira, vinculante para toda a humanidade.

Mesquitas e burcas

Os cristãos são tolerantes e, como tais, permitem também aos demais sua peculiar compreensão de si. Alegramo-nos pelo fato de que em países do Golfo Árabe (Qatar, Abu Dabi, Dubai, Kuwait) haja igrejas nas quais os cristãos possam celebrar a Missa e esperamos que ocorra assim em todas as partes. Por isso, é natural que também em nossas terras os muçulmanos possam-se reunir em oração nas mesquitas. Pelo que se refere à burca, não vejo razão de uma proibição generalizada. Diz-se que algumas mulheres não o usam voluntariamente, mas que, na realidade, é um tipo de violência imposta. Está claro que com isso não se pode estar de acordo. No entanto, se querem usá-lo voluntariamente, não vejo porque teria de se impedir.

Cristianismo e modernidade

Ser cristão é em si mesmo algo vivo, moderno, que atravessa toda a modernidade, formando-a e moldando-a, e, portanto, em certo sentido realmente a abraça. Aqui se necessita de uma grande luta espiritual, como quis mostrar com a recente instituição de um Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização. É importante que tentemos viver e conceber o cristianismo de tal modo que assuma a modernidade boa e correta e, ao mesmo tempo, afaste-se e distinga-se daquela que está-se convertendo em uma contra-religião.

Otimismo

Poder-se-ia contemplar com superficialidade e restringir o horizonte só ao mundo ocidental. Mas se se observa com mais atenção, e é isso o que posso fazer graças às visitas dos bispos de todo o mundo e também a tantos encontros, vê-se que o cristianismo neste momento está desenvolvendo também uma criatividade de todo nova [...]. A burocracia está desgastada e cansada. São iniciativas que nascem desde dentro, a partir da alegria dos jovens. O cristianismo talvez assumirá um novo rosto, um aspecto cultural diverso. O cristianismo não determina a opinião pública mundial, outros está à guia. E, no entanto, o cristianismo é a força vital sem a qual as outras coisas tampouco poderiam continuar existindo. Por isso, em virtude do que vejo e do que consigo tornar experiência pessoal, sou muito otimista a respeito do fato de que o cristianismo encontre-se frente a uma dinâmica nova.

A droga

Muitos bispos, sobretudo da América Latina, dizem-me que ali onde passa o caminho do cultivo e do comércio da droga, e isso ocorre em grande parte desses países, é como se um animal monstruoso e malvado estendesse sua mão sobre o país para arruinar as pessoas. Creio que esta serpente do comércio e do consumo de droga, que envolve o mundo, é um poder do qual nem sempre conseguimos ter uma ideia adequada. Destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras. Também esta é uma terrível responsabilidade do Ocidente: tem necessidade de drogas e assim cria países que lhe oferecem aquilo que logo terminará por consumi-los e destruí-los. Surgiu uma fome de felicidade que não consegue se saciar com aquilo que há, e que logo se refugia, por assim dizer, no paraíso do diabo, e destrói completamente o homem. Na

Sexualidade

Concentrar-se só no preservativo quer dizer banalizar a sexualidade e esta banalização representa precisamente o motivo pelo qual muitas pessoas já não veem na sexualidade a expressão de seu amor, mas só uma espécie de droga, que se fornecem por sua conta. Por este motivo, também a luta contra a banalização da sexualidade forma parte do grande esforço para que a sexualidade seja valorizada positivamente e possa exercer seu efeito positivo no ser humano em sua totalidade. Pode haver casos justificados singulares, por exemplo, quando um prostituto utiliza um preservativo, e este pode ser o primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver de novo a consciência sobre o fato de que nem tudo está permitido e de que não se pode fazer tudo o que se quer. No entanto, este não é o verdadeiro modo para vencer a infecção do HIV. É verdadeiramente necessária uma humanização da sexualidade.

Igreja

Paulo não entendia a Igreja como instituição, com organização, mas como organismo vivente, no qual todos trabalham um pelo outro e um com o outro, unidos a partir de Cristo. É uma imagem, mas uma imagem que permite aprofundar e que é muito realista, ainda que só seja pelo fato de que nós cremos que, na Eucaristia, realmente recebemos Cristo, o Ressuscitado. E se cada um recebe o próprio Cristo, então realmente todos nós estamos reunidos neste novo corpo ressuscitado como o grande espaço de uma nova humanidade. É importante entender isso e, portanto, conceber a Igreja não como um aparato que deve fazer de tudo, também o aparato lhe pertence, mas dentro dos limites – mas ainda mais como organismo vivente que provém do próprio Cristo.

Humanae Vitae

As perspectivas da Humanae Vitae continuam sendo válidas, mas outra coisa é encontrar caminhos humanamente praticáveis. Creio que haverá sempre minorias intimamente convencidas da exatidão dessas perspectivas e que, vivendo-as, ficarão plenamente satisfeitas do modo que poderão ser para outros um fascinante modelo a seguir. Somos pecadores. Mas não deveríamos assumir este fato como uma instância contra a verdade, quando essa alta moral não é vivida. Deveríamos buscar fazer todo o possível, e apoiar-nos e suportar-nos mutuamente. Expressar tudo isso também desde o ponto de vista pastoral, teológico e conceitual, no contexto da atual sexologia e pesquisa antropológica, é uma grande tarefa à qual é necessário se dedicar mais e melhor.

Mulheres

A formulação de João Paulo II é muito importante: “A Igreja não tem, de nenhum modo, a faculdade de conferir às mulheres a ordenação sacerdotal”. Não se trata de não querer, mas de não poder. O Senhor deu uma forma à Igreja com os Doze e depois com sua sucessão, com os bispos e os presbíteros (os sacerdotes). Não fomos nós que criamos esta forma de Igreja, mas se constitui a partir d’Ele. Segui-la é um ato de obediência, na situação atual, talvez um dos atos de obediência mais graves. Mas isso é importante: a Igreja não mostra ser um regime do arbítrio. Não podemos fazer o que queremos. Há, em contrapartida, uma vontade do Senhor para nós, à qual nos atemos, ainda que seja fadigoso e difícil na cultura e na civilização de hoje. Por outro lado, as funções confiadas às mulheres na Igreja são tão grandes e significativas que não se pode falar de discriminação. Seria assim se o sacerdócio fosse uma espécie de domínio, enquanto que, pelo contrário, deve ser completamente serviço. Se se lança o olhar na história da Igreja, damo-nos conta de que o significado das mulheres – desde Maria a Mônica, até a Madre Teresa – é tão eminente que as mulheres definem de muitas maneiras o rosto da Igreja mais que os homens.

Vinda de Cristo

É importante que cada época esteja próxima do Senhor. Que também nós mesmos, aqui e agora, estejamos sob o juízo do Senhor e nos deixemos julgar por seu tribunal. Discutia-se sobre uma dupla vinda de Cristo, uma em Belém e uma ao final dos tempos, até que Bernardo de Claraval falou de um Adventus medius, de uma vinda intermédia, através da qual Ele sempre entre periodicamente na história. Creio que encontrou o tom adequado. Nós não podemos estabelecer quando terminará o mundo. Cristo mesmo disse que ninguém o sabe, nem sequer o Filho. Devemos, no entanto, permanecer, por assim dizer, sempre diante de sua vinda, e sobretudo estar seguros de que, no sofrimento, Ele está próximo. Ao mesmo tempo, deveríamos saber que em nossas ações estamos sob seu juízo.

[Traduzido por ZENIT]

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 22 de novembro de 2010 (ZENIT.org)

“Luz do mundo”

"quando se escuta o Papa dessa forma e se está sentado na frente dele, percebe-se não somente a precisão do seu pensamento e a esperança que provém da fé, mas também se torna visível, de forma especial, um esplendor da Luz do mundo, do rosto de Jesus Cristo, que quer ir ao encontro de cada ser humano e não exclui ninguém".

Bento XVI responde ao homem de hoje

Publicado um livro-entrevista sobre o Papa, a Igreja e os sinais dos tempos

"O que você está fazendo comigo?
Agora, a responsabilidade é sua. Você tem de me conduzir! Eu não posso. Se você me escolheu, então também tem de me ajudar."

Isso é o que Bento XVI pôde dizer ao Senhor, com simplicidade, no momento em que foi eleito Papa, segundo ele mesmo explica no livro-entrevista "Luz do mundo.

O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos", apresentado hoje no Vaticano.

Ao responder a cerca de 220 perguntas do jornalista alemão Peter Seewald, ao longo de 176 páginas, Bento XVI esclarece questões sobre os desafios da sociedade atual, a fé e a crise da Igreja.

Não faltam suas explicações simples e pedagógicas sobre questões controversas, como o caso Williamson, seu discurso em Ratisbona, os Legionários de Cristo e seu fundador, o uso do preservativo, a indissolubilidade do matrimônio, os homossexuais, suas modificações na liturgia, sua opinião sobre Pio XII, o celibato, o sacerdócio feminino, os nacionalismos, entre outros.

Como um papa reza?

O relato detalhado das suas experiências mais humanas como pontífice é uma das novidades do livro, fruto da terceira sessão de conversas concedidas ao jornalista alemão Peter Seewald, depois das duas anteriores, antes de ser eleito Papa, que foram traduzidas nos livros "O sal da terra" e "Deus e o mundo".

Bento XVI explica em primeira pessoa, por exemplo, como é sua relação pessoal com Deus.

"A oração e o contato com Deus são agora mais necessários e também mais naturais e evidentes que antes", reconhece, e assegura que, em meio à sua intensa atividade, "acontece, sem dúvida, a experiência e a graça de estado".

"Também eu sou um simples mendigo frente a Deus, e mais que todas as demais pessoas - revela.

É claro que rezo sempre em primeiríssimo lugar ao nosso Senhor, com quem tenho uma relação de tantos anos. Mas também invoco o Espírito Santo."

"Entro na comunhão dos santos - acrescenta. Com eles, fortalecido por eles, falo então também com Deus, sobretudo mendigando, mas também agradecendo ou simplesmente com alegria."

Sobre sua eleição como sucessor de João Paulo II, recorda: "Eu tinha certeza de que esse ministério não era o meu destino e que, depois de anos de grande esforço, Deus ia me conceder algo de paz e tranquilidade".

"Nesse momento, só pude dizer para mim mesmo e deixar claro: ao parecer, a vontade de Deus é outra, e começa algo totalmente diferente, novo para mim. Ele estará comigo", explica com humildade.

Bento XVI constata que a responsabilidade de um papa "é realmente gigantesca". Reconhece que percebe que suas forças vão decaindo, que "tudo isso exige demais de uma pessoa de 83 anos", mas destaca que, "graças a Deus, há muitos bons colaboradores".

Ao mesmo tempo, é consciente de que, para responder a todos os requerimentos, "é preciso ater-se com disciplina ao ritmo do dia e saber quando é preciso ter energia".

Em sua vida cotidiana, Bento XVI não pratica esportes; acompanha diariamente as notícias e às vezes também assiste a algum DVD com seus secretários. "Gostamos de ver Don Camillo e Peppone", explica. Também revela que, nos dias festivos, escutam música e batem papo.

Afirma não ter medo de um atentado e reconhece: "Poucas são as pessoas que têm tantos encontros, como eu. Sobretudo, são importantes para mim os encontros com os bispos do mundo inteiro".

Diz sentir-se reconfortado com as muitas cartas que recebe de pessoas simples que o incentivam, assim como presentes e visitas. "Sinto também o consolo 'do alto'; experimento a proximidade do Senhor na oração; e na leitura dos Padres da Igreja, vejo o esplendor da beleza da fé".

Com relação ao seu predecessor, Bento XVI afirma que se sabe "realmente um devedor seu que, com sua modesta figura, procura continuar o que João Paulo II fez como gigante. (...)

Junto aos grandes, tem que haver também pequenos papas que ofereçam o pouco que têm", indica.

Renúncia ao papado

Nas conversas com Seewald, que aconteceram em Castel Gandolfo durante 6 dias do último mês de julho - uma hora por dia -, Bento XVI não fechou a porta à possibilidade de renúncia ao papado.

"É possível renunciar em um momento sereno, ou quando já não se é capaz - disse.

Se o papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente já não pode suportar o peso do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar."

Dos seus 5 anos de pontificado, destaca as viagens a diversos países, a celebração do Ano Paulino, do Ano Sacerdotal e os dois sínodos, sobretudo o da Palavra de Deus.

"Por outro lado, estão esses grandes períodos de escândalo e as feridas na Igreja", indica, mas afirma que elas "têm para nós uma força purificadora e, no final, podem ser elementos positivos".

Com transparência, o Papa também reconhece estar decepcionado com algumas realidades: "Decepcionado sobretudo por existir no mundo ocidental esse desgosto com a Igreja, pelo fato do secularismo continuar tornando-se autônomo, pelo desenvolvimento de formas nas quais os homens são afastados cada vez mais da fé, pela tendência geral da nossa época de continuar sendo oposta à Igreja".

Sincero e próximo

Outra das novidades de "Luz do mundo" é o estilo direto, cheio de liberdade, sinceridade e proximidade. "Nunca antes, na história da Igreja, um papa havia respondido com tanta franqueza às perguntas de um jornalista em uma entrevista direta e pessoal", indica a editora Herder, responsável pela edição espanhola.

Em referência ao título do livro-entrevista, Peter Seewald indica que, "quando se escuta o Papa dessa forma e se está sentado na frente dele, percebe-se não somente a precisão do seu pensamento e a esperança que provém da fé, mas também se torna visível, de forma especial, um esplendor da Luz do mundo, do rosto de Jesus Cristo, que quer ir ao encontro de cada ser humano e não exclui ninguém".

Colocar Deus no centro

"Luz do mundo" inclui também algumas das habituais análises de Bento XVI, claras e concisas, sobre a situação atual da Igreja e do mundo, com a identificação de numerosos problemas e a proposta de respostas e soluções.

"Poderiam ser mencionados muitos problemas que existem na atualidade e que é preciso resolver, mas todos eles só podem ser resolvidos quando se coloca Deus no centro, quando Deus volta a ser visível no mundo", destaca o Papa na entrevista.

Com relação à Igreja, ele garante que ela "vive".

"Contemplada somente a partir da Europa, parece que se encontra em decadência - indica -, mas esta é somente uma parte do conjunto.

Em outros continentes, ela cresce e vive, está repleta de dinamismo."

América Latina

O Papa oferece numerosas referências concretas de vários países. Com relação à América Latina, indica que, "definitivamente, duas são as figuras que fizeram os homens da América Latina crer: por um lado, a Mãe e, por outro, o Deus que sofre".

Finalmente, fala da simplicidade do cristianismo e afirma que, "em nosso racionalismo e frente ao poder das ditaduras emergentes, Ele nos mostra a humildade da Mãe, que aparece a crianças e lhes diz o essencial: fé, esperança, amor, penitência".

(Patricia Navas)

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 23 de novembro de 2010 (ZENIT.org)

O nosso “hoje” é também o “hoje” de Deus



Espiritualidade


Liturgia da Palavra do domingo: o nosso “hoje” é também o “hoje” de Deus
I Domingo do Advento – Ano A

Leituras: Is. 2,1-5; Rm 13, 11-14; Mt 24, 37 – 44

“Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor!” (Is 2,5).

“Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo!” (Rm 13 14).

“Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor” (Mt

24,42)

Três gritos de amor e de admoestação saídos do coração do Senhor e ecoados com paixão pela Igreja nossa Mãe.

Estas admoestações são para chamar nossa atenção, muitas vezes tomada pela aparente normalidade dos acontecimentos, tal como ocorreu aos concidadãos de Noé; elas se colocam para despertar as consciências atordoadas e adormecidas pelas coisas passageiras e superficiais, para nos estimular a nos renovarmos radicalmente, assumindo sempre mais a maneira de sentir, julgar e atuar do próprio Jesus na sua relação filial com o Pai e para conosco.

Revestir-se de Cristo, segundo a eficaz expressão do Apóstolo, indica o processo da nossa progressiva identificação interior com Ele. Este processo, iniciado no batismo, quando nos foi entregue o símbolo da veste branca, vai se desenvolvendo até culminar na entrada, com o próprio Cristo, na festa do reino de Deus (Ap 7,9).

Os últimos domingos do ano litúrgico – que acabou de chegar à sua conclusão com a grande celebração do Senhor Jesus, Rei e juiz do universo – alimentaram a nossa esperança mostrando que para o Senhor está orientada não somente a grande história da família humana e da criação, mas também o caminho pessoal cotidiano de cada um, vivenciado na fé como seu discípulo e discípula.

A palavra deste primeiro domingo nos diz que o nosso “hoje” é também o “hoje” de Deus, aberto por ele em vista do futuro de novas possibilidades de vida e de relações:

Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemos nos guiar pela luz do Senhor”.

Nele também o mundo do homem e da mulher de hoje se torna a casa onde pessoas, povos, raças e religiões diferentes podem encontrar novamente o lugar da recíproca reconciliação e acolhida.

Nele nossa vida de cada dia se torna a porta na qual ele fica batendo, para ser reconhecido, acolhido e assim partilhar com ele a mesa da amizade e da intimidade (Ap 3,20).

Casa do homem e de Deus. É preciso estar atentos! Qualquer situação e momento pode ser a ocasião certa e a situação oportuna para receber sua v

isita, ouvir sua palavra, gozar da sua presença íntima e transformadora.

“Agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé”.

O caminho da fé é um processo dinâmico, sempre mais abrangente e capaz de unificar nossa existência pela força interior do mesmo Espírito do Senhor.

É uma verdadeira passagem das trevas do pecado e da preguiça espiritual para a luz e a fecundidade de uma vida nova.

“A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz”.

O ano litúrgico, com sua constante referência à páscoa do Senhor, e através da linguagem própria de cada uma das suas etapas, alimenta a vida espiritual da Igreja e de cada cristão.

É a partir desta intrínseca relação com o Cristo morto e ressuscitado através do ano litúrgico que devem encontrar a própria orientação e o próprio sentido toda iniciativa pastoral e toda forma de piedade comunitária e pessoal, como ensina o Concílio Vaticano II (SC 12,13,105) e como destaca o Papa Bento XVI na Exortação Apostólica recém publicada Verbum Domini - A Palavra do Senhor (n.52).

O Advento marca o início do novo Ano litúrgico.

Mas este inicia a partir das alturas onde chegou o fim do precedente: o cumprimento de toda história da salvação e a glória do Senhor.

Com o primeiro domingo, iniciamos um novo caminho de louvor e de agradecimento ao Pai, por Jesus Cristo morto e ressuscitado, fonte inesgotável de vida nova no Espírito Santo.

Um caminho de profunda renovação, quase de novo nascimento pela força do Espírito, até chegar à maturidade da vida espiritual de homens e mulheres tornados adultos em Cristo.

Este dom do amor gratuito e salvador de Deus, que costumamos chamar com a venerável tradição cristã de “Mistério Pascal”, constitui o centro irradiante da história da salvação e por isso também do ano litúrgico, continuando a alimentar de domingo a domingo a vida da Igreja e a marcar o caminho de constante renovação de cada fiel.

Assim a liturgia, através da íntima união entre a Palavra e a Eucaristia, como afirma a constituição Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II, “é a primeira e necessária fonte da qual os fiéis atingem o espírito verdadeiramente cristão” (SC 14).

É o dom que a Igreja pede ao Pai na oração depois da comunhão deste primeiro domingo de Advento: “A participação nos vossos mistérios nos ajude a amar desde agora o que é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam”.

É o que destaca também o Papa na sua exortação apostólica: “A Eucaristia abre-nos à inteligência da Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumina e explica o Mistério eucarístico” (Verbum Domini. 55).

Talvez alguém, ao ouvir a palavra “Advento”, pense imediatamente no curto espaço de tempo que nos prepara ao Natal de Jesus. Idéia talvez reforçada pela vista dos arranjos natalinos que já enfeitam as lojas e as ruas das cidades ou os primeiros presépios que iniciam a ser montados com carinho nas famílias.

Mas o Advento na linguagem litúrgica e na experiência da Igreja é bem mais rico de sentido espiritual e existencial.

A palavra Advento provém do latim adventus, que significava a “vinda” e a visita” de uma autoridade, como o rei ou o imperador, a uma cidade a quem “manifestava” assim sua atenção e sua benevolência para com o povo.

Transferida pela comunidade cristã do âmbito social ao religioso próprio, a palavra Advento veio a indicar antes de tudo a vinda gloriosa do Senhor no fim dos tempos, vinda que esperamos com fé, como Salvador.

Em segundo lugar indica a vinda/revelação do Senhor na humildade da encarnação através da qual ele manifesta o amor do Pai, e esta por sua vez se torna fundamento inabalável da sua presença fiel e carinhosa na nossa vida de cada dia até o fim dos tempos, como Jesus prometeu aos discípulos.

A liturgia da Palavra dos dois primeiros domingos do Advento destaca a promessa da vinda gloriosa do Senhor e a esperança ativa com que a Igreja espera essa vinda; enquanto o terceiro e o quarto domingo nos preparam para celebrar no Natal, com alegria e agradecimento, o evento central e fundador da nossa fé: o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). “Que alegria, quando me disseram: vamos à casa do Senhor!” (Sal. Resp.)

A abertura para com as visitas e surpresas de Deus, o desejo apaixonado da sua amizade e intimidade, o sentido da necessidade que o Senhor entre na nossa vida e a dirija, são as atitudes fundamentais a serem cultivadas neste tempo de Advento. São as condições para acolher o Senhor que vem, celebrar dignamente a memória da sua encarnação, reconhecê-lo nas suas visitas misteriosas nos acontecimentos da vida e caminhar com renovada esperança ao encontro da sua vinda gloriosa.

Seremos guiados pelos profetas que anunciaram a vinda do Messias do Senhor e sustentaram a fé de Israel, e de maneira especial acompanhados pelo profeta Isaías, cujos textos são lidos com abundância nas liturgias eucarísticas e na Liturgia das Horas deste tempo.

Solicitados pela palavra forte de João Batista, estaremos na doce companhia de Maria, que guarda com fé no seu coração toda Palavra de Deus e acontecimento (cf Lc 2,19).

Chegaremos então, através de sua graça, a gerar também em nós o Verbo de Deus: “Isabel diz a Maria: Feliz és tu que acreditaste.

Felizes sois também vós, que ouvistes e acreditastes, pois toda alma que possui a fé concebe e dá à luz a Palavra de Deus e conhece suas obras” (Santo Ambrósio).

É fácil constatar que estas atitudes interiores – e modalidades de ser e de atuar – que constituem o cerne da espiritualidade do Advento, formam verdadeiramente o âmago de toda espiritualidade cristã e a energia profunda do Espírito que anima a missão e o testemunho da Igreja e de cada cristão e cristã no mundo rumo ao cumprimento do reino de Deus.

O Advento nos ajuda a redescobrir estas atitudes e a guardá-las.

O Advento não é somente um tempo do ano litúrgico: é uma dimensão constitutiva da identidade cristã.

Dom Emanuele Bargellini

Prior do Mosteiro da Transfiguração

Mogi das Cruzes (São Paulo)

ZENIT.

Apresentamos o comentário à liturgia do próximo domingo – I do Advento (Ano A) Is. 2, 1-5; Rm 13, 11-14; Mt 24, 37-44 – redigido por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração (Mogi das Cruzes - São Paulo). Doutor em liturgia pelo Pontifício Ateneo Santo Anselmo (Roma), Dom Emanuele, monge beneditino camaldolense, assume os comentários à liturgia dominical a partir de hoje, sempre às quintas-feiras, na edição em língua portuguesa da Agência ZENIT.

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