Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

Para você entrar em nossos artigos click nas imagens nas laterais e encontrarás os lincks dos artigos postados.

Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

sexta-feira, 30 de setembro de 2011



27º DOMINGO DO TEMPO COMUM
02 de outubro de 2011




“É preciso produzir frutos de justiça e de bondade”


Leituras:
Livro do Profeta Isaías 5, 1-7;
Salmo 79 (80), 9-10,13-14, 15-16, 19-20;
Carta de São Paulo aos Filipenses 4, 6-9;
Mateus 21, 33-43 (parábola dos vinhateiros).
Reunidos em comunidade e testemunhando a mesma fé em Jesus Cristo, nosso Salvador, formamos o Povo de Deus, a caminho do nosso destino eterno. E a liturgia de hoje nos mostra como Deus é pródigo em oferecer o dom da salvação a todos. E mesmo que uns e outros desprezem e recusem, Ele continua oferecendo a quem possa produzir os frutos esperados. É a imagem da vinha. Como Igreja, nós somos a vinha do Senhor, para que possamos produzir frutos de conversão e de perseverança. Trazemos a esta celebração a presença dos missionários e das missionárias e de todos aqueles que recebem o anúncio do Evangelho, pois hoje iniciamos o mês missionário.

1. Situando-nos brevemente:

Entramos na celebração de hoje, animados pela antífona de aclamação ao Evangelho: “Eu vos escolhi, foi do meio do mundo, a fim de que deis um fruto que dure. Eu vos escolhi, foi do meio do mundo. Amém. Aleluia”.
Entrando no mês dedicado às missões, peçamos a Deus a fidelidade a seu serviço, para que sejamos dignos de sua eleição. Pois, como assembléia, somos a vinha do Pai, regada pelo sangue de Cristo, para produzir bons e abundantes frutos no mundo e na sociedade. Temos no confronto dessa alegria, a parábola dos trabalhadores que se apossaram da vinha e foram infiéis.
Celebramos nossa Páscoa semanal e fazemos memória do Senhor, a videira verdadeira e fecunda, parceiro fiel do Pai no cuidado do seu povo e que zela pelo seu bem-estar.
Mesmo percebendo nossas dificuldades e nossa mesquinha pretensão em tomarmos posse da sua vinha, ele nos convida para renovar com ele a Aliança, que traz vida e realizações plenas a todos os que procuram fazer o que lhe agrada.

Em seu amor de Pai, ele sempre nos concede mais do que merecemos e pedimos. Pedimos que derrame sobre nós a sua misericórdia, perdoando o que nos pesa na consciência (oração da coleta).
Lembramos, neste início de mês de outubro, todos os missionários espalhados por todo o mundo,e todos os que, em qualquer âmbito, tem por ministério o cuidado da vinha. Durante este mês“a Igreja procura redescobrir a missão que o Senhor está lhe dando no campo e na cidade,dentro e fora do país, ‘para que todos tenham vida’” (DAp, n.146).

2. Recordando a Palavra

Interessante é lembrar o contexto da leitura de Isaías no capitulo V. O senhor é Deus. As videiras selecionadas são os israelitas que o Senhor foi buscar lá fora, no Egito. A terra fértil, na qual este povo foi colocado, é a Palestina. As pedras que se encontram no campo e foram removidas são os povos que ocupavam a Palestina antes da chegada dos israelitas. A torre de proteção é a dinastia de Davi. O castigo é o símbolo das invasões dos povos estrangeiros. Eles destruíram a vinha do Senhor e deportaram os israelitas para suas terras como escravos.
A imagem simbólica da vinha aplicada ao povo aparece mais de dez vezes na Bíblia. Exprime a Aliança de Deus com seu povo como uma união conjugal, pois a vinha é também símbolo do amor. O Cântico de Isaías, em sua origem, é um poema de amor, escrito oitocentos anos antes de Cristo e transformado em parábola de julgamento.
O bem-amado trata da terra, escolhe a melhor cepa, edifica uma torre para cuidar de sua vinha, cava um lagar... Com tanto carinho, esperava uvas boas, mas a vinha deu somente uvas más. Os habitantes de Jerusalém e de Judá são chamados a serem juízes entre o amado e sua vinha.

O Salmo 79 (80) é uma súplica coletiva à necessidade de o povo ser restaurado por Deus. A imagem da vinha volta novamente neste salmo, demonstrando a estreita ligação entre Deus e seu povo, muitas vezes, dominado e pisado por nações poderosas.
A videira é propriedade do Senhor, mas foi destruída. O povo está oprimido e somente o Senhor pode mudar sua sorte. Peçamos ao Senhor que reúna o nosso coração em torno do seu projeto e venha de novo nos guiar em nossos caminhos.
Na Carta aos Filipenses, Paulo escreve à comunidade, estando preso, dando-lhe orientações sobre a oração cristã. Recomenda que não é necessário inquietar-se, mas sim, entregar a Deus as necessidades e preocupar-se em praticar tudo o que merece louvor e foi ensinado por Jesus Cristo. Assim a paz de Deus estará presente e nada pode causar angústia, se o cristão permanecer unido a Deus na oração.
O Evangelho é sequência do domingo anterior e completa-lhe o significado. A perícope retoma a
primeira leitura de hoje. O cântico da vinha é uma das poesias mais belas da Bíblia. Uma parábola típica do Primeiro Testamento, encontrada em vários profetas e também nos salmos. É a canção de amor que descreve a vinha querida, porém, ingrata. Lembra a relação amorosa entre Deus e seu povo, vinha amada, mas infiel.
Israel não aprendeu a prática do direito e da justiça. Deus esperava a justiça, mas houve sangue
derramado; esperava retidão de conduta, mas surgiram exploração e grito de socorro de pessoas
maltratadas. Tanto Jesus como seus ouvintes conheciam muito bem o profeta Isaías e identificavam a vinha com o povo da Primeira Aliança, “casa de Israel”.
O “proprietário” ama a vinha e espera dela os frutos de fidelidade à Aliança. A vinha designa não o povo histórico, mas sim o Reino de Deus. Os vinhateiros, portanto, são não apenas os chefes, mas todo o povo infiel. O Reino de Deus será tirado dos vinhateiros homicidas e confiado a um povo que produza frutos. Em Mateus a importância maior é dada aos “frutos de justiça”.
A parábola tem uma introdução, depois descreve a desilusão do senhor da vinha com a falta de
frutos verdadeiros. Ele envia seus servos que correspondem às várias fases da história da salvação que Deus faz com seu povo: missão reiterada e muitas vezes frustrada dos profetas.
Por fim, o envio do filho, sua morte violenta e a vocação dos pagãos. Deus abrirá as portas a um povo novo: pecadores, cobradores de impostos, pagãos, mulheres, doentes... Uma geração nova de crentes que dêem frutos como a prática da justiça e a obediência à vontade de Deus e à sua Aliança.
Essa parábola é colocada na boca de Jesus, que se preocupa com a sorte da vinha. A tradição pré-sinótica das comunidades primitivas tinha sua atenção centrada na sorte do Filho, enviado pelo Pai. O Filho que fala vai ser morto, mas ressuscitará. Quem não quiser ser esmagado pela pedra angular deve declara-se a favor dele.
3. Atualizando a Palavra
Jesus retoma o texto de Isaías, mas não coloca a culpa na vinha por sua falta de bons frutos, e sim nos meeiros que deviam cuidar dela. Além de impedir que os bons frutos cheguem ao dono da vinha, ainda são violentos com seus enviados. É uma crítica muito seria que faz aos que se consideram donos da religião e senhores da fé do povo. Apropriam-se da relação entre Deus e seu povo, desorienta aquilo que permite o povo ligar-se a seu Senhor.
Muitas vezes, certas lideranças religiosas impedem que o povo seja Povo de Deus para ser povo dos anciãos, dos escribas, dos sacerdotes, de fulano, de tal movimento... O povo vira joguete nas mãos dos chefes religiosos que buscam seus interesses e não o Reino de Deus. É isso que Jesus critica, mesmo que sua denúncia profética lhe cause a morte.
Que frutos se esperam da vinha plantada e cuidada com tanto carinho? O Senhor esperava dela o
direito e a justiça. Estabelecer o direito à Aliança entre Deus e seu povo. Nosso Deus, que é Deus da vida e do amor, quer que, em nosso meio, reine a justiça, respeite-se o direito de todos, em especial dos mais pobres.

Na Bíblia, a opressão contra os mais pobres é considerada um homicídio. Os vinhateiros são homicidas não só porque matam os enviados, inclusive o Filho, mas também porque despojam o pobre, violam o direito, não dão os frutos da justiça que pede o Senhor. Por ser assim, o Reino de Deus vai ser entregue a outras pessoas.
O fato de sermos cristãos não nos garante o Reino. Somos escolhidos pra sermos sinal de amor,
da misericórdia e da salvação de Deus. É preciso provar essa escolha com frutos e ações
concretas de justiça e direito. Ser cristão é dar a vida. Se colocarmos em prática o Evangelho, o
Deus da paz vai estar conosco e dessa paz seremos testemunhas no mundo em que vivemos.
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
Como assembléia litúrgica, somos a vinha fecunda do Pai, regada pelo sangue de Cristo, seu
Filho amado e fiel. Escutando a parábola dos trabalhadores que se apossaram indevidamente da
vinha do Senhor, reconhecemos também nossas incoerências e infidelidades na realização de seu
projeto.
Confiando em sua paternal prodigalidade, suplicamos na oração inicial: “Derramai sobre nós sua
misericórdia, perdoando o que nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos
pedir”.
Acolhendo sua palavra, renovamos com novo ardor a Aliança com Ele e suplicamos, nas preces,
que ele nos dê a firme decisão de sempre corresponder a seu chamado. Que seu espírito nos
mantenha abertos, vivendo a catolicidade, a universalidade do amor.
Enxertados em Cristo, pelo mistério de sua morte e ressurreição atualizado na celebração,
somos fortalecidos para produzir os frutos que o Pai deseja e espera de nós. “E o fruto que o Pai espera de nós é o pão e inebriar-nos do vosso vinho para que sejamos transformados naquele que agra recebemos”.
Em cada celebração, colocamos em nossos lábios muitos cantos e palavras, repetimos orações e fazemos tantos gestos. Tudo isso terá sentido e agradará a Deus como oferta bendita se for expressão de um coração orante e comprometido com a vontade do Pai.
A Palavra de Deus nos faz mergulhar em nossa fragilidade humana e nos leva a experimentar a
bondade sempre fiel do Senhor que nos propõe mudança de vida e acredita em nossa conversão.
Ele, porém, não se contenta que apenas o invoquemos, repetidamente: “Senhor, Senhor”.
Mais do que palavras, preces, aclamações e cânticos, liturgia é ação. Eucaristia é ação de graças, é entrega de nossa vida ao Pai, com Cristo, o Filho fiel que provou sua obediência na cruz. Com ele passamos da morte para a vida, seu Espírito é derramado sobre nós, infundindonos o mesmo sentimento e a prontidão para doarmos com ele a vida, para que os outros vivam.
Essa ação deve ser testemunhada no cotidiano de nossas lidas e lutas pela realização da vontade do Pai, o Reino de justiça, amor e paz a ser estabelecido, o quanto antes, entre nós. A Palavra e a confissão dos lábios tornam-se ação e gesto das mãos, com o testemunho, “cuidando cada um não só do que é seu, mas também do que é dos outros” (cf. segunda leitura).

A



27º Domingo do Tempo Comum - Ano A
Somos a vinha do Senhor, seu povo escolhido



Somos a vinha do Senhor, seu povo escolhido, o povo da predileção. A leitura de Isaías é linda, veja o amor de Deus pela boca do profeta: “Vou cantar para o meu amado o cântico da vinha de um amigo meu”. O Senhor plantou uma vinha especial, uma propriedade Sua algo tão particular que não conseguimos alcançar a dimensão desta propriedade. Deus se esqueceu do resto do mundo por alguns instantes e dedicou ao povo por Ele escolhido para manifestar o Seu amor fazendo amigos no meio dos homens.

Mas este povo não soube responder aos privilégios que Deus lhes concedeu e ainda, este Deus Amoroso chora pela negação de seu povo e lamenta suas atitudes como um apaixonado – “O que poderia eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz?”. O Povo de Israel foi o povo escolhido por Deus. Não compreenderam o projeto de Deus, agiram sem responsabilidade, arbitrariamente, destruíram o que Deus estava plantando e como se não bastasse, Deus, depois de enviar seus profetas, que foram mortos de tantas formas pelo povo eleito, manda seu próprio Filho que foi igualmente torturado e sacrificado pelo povo escolhido por Deus.

Agora, diz Jesus, que a vinha será entregue a outro povo. Este povo somos nós, a Igreja Católica, instituída pelo Senhor na pessoa de Pedro e nos apóstolos que chega até nós na pessoa do Papa com o Colégio dos Bispos. Agora somos nós a raça escolhida, o povo da predileção de Deus. E o que estamos fazendo com a vinha que o Senhor nos confiou? Como estamos tratando e cultivando esta vinha? A quem estamos oferecendo os frutos da vinha? Como estamos cuidando do campo aonde à vinha está plantada e do lagar onde o fruto é processado? Será que não estamos repetindo o mesmo que o povo de Israel? São perguntas intrigantes. O que vemos na Igreja? O compromisso de cada cristão com seu testemunho de vida, sua forma de viver o evangelho em uma sociedade em que a maioria é cristã está correspondendo com as expectativas de Deus e estamos dando os frutos que Ele espera de cada um de nós membros de sua vinha? Precisamos de conversão. Sim precisamos mudar de vida e rápido. O tempo está curto, o dono da vinha pode voltar a qualquer momento. Jesus está voltando. Vamos clamar ao Senhor como nos orienta São Paulo: “Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, guardará os vossos corações e pensamento em Cristo Jesus”.

Nossas necessidades não pode estar focada “em nosso umbigo”, de forma egoísta olhando pra si como se fosse a única pessoa no mundo e é o que fazemos na maioria das vezes, olhamos somente para as nossas necessidades e queremos que Deus nos atenda conforme queremos e se isso não acontece ficamos “de mal” com Deus. Quanta infantilidade. Não entendemos até hoje o que viemos fazer aqui e qual é o plano de Deus para nós. É a mesma coisa que aconteceu com o povo de Israel só que tem uma grande diferença e que piora a nossa situação. Jesus já realizou sua missão de redentor e nos capacitou com o Espírito Santo. Não temos desculpas, agora somos templos de Deus e assistidos pelo Espírito Santo. Temos a força de Deus habitando em nós como uma “presença” e com isso podemos mudar o mundo. Somos os trabalhadores da vinha e não podemos contrariar o nosso Deus. Vamos mudar de rumo as nossas atitudes, vamos buscar uma conversão sincera de nosso coração, deixemos de ser crianças levadas pelas paixões deste mundo que nos arrasta para as coisas materiais, para o hedonismo, relativismo, egoísmo... E vamos nos colocar “desnudos” diante de Deus e sermos seus soldados, trabalhadores, pessoas firmes que Ele possa contar como profissionais da vinha que implantam Seu Reino na evangelização, na comunhão com os irmãos, formando um povo que viva totalmente para Ele – “... ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor”. – Assim seremos um povo que agrada a Deus e certamente Ele não irá destruir esta vinha.

Avante! Servos do Senhor.

Antonio ComDeus





A

terça-feira, 27 de setembro de 2011


"É preciso aprender Sofrer!"

Quando entendemos o sentido pelo qual sofremos, encontramos força para continuar.

Todos nós passamos por muitos sofrimentos, dificuldades e tribulações nesta vida. Quanto mais, aqueles que se decidem seguir Jesus Cristo. Como diz o livro do Eclesiástico: “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação” (Eclo 2,1)

Não podemos esquecer que a vida com Cristo é para os corajosos, pois sabemos que o preço que se paga é a Cruz. Contudo, a maior dor daquele que ama a Deus, não é sofrimento que se apresenta diante da vida, mas sim, a falta de sentido no sofrimento que tem suportado.

Por isto, a grande pergunta não deve ser: Se vou ou não sofrer na caminhada com Deus. Mas sim: “Qual o sentido do sofrimento que suporto por amor a Jesus?”

Muitas vezes, a súplica daqueles que sofrem, não é para que Deus os alivie em seu sofrimento, mas para que do Alto venha um Auxílio Divino, que ilumine o sentido daquilo que está passando em sua vida. Uma vez encontrado o sentido da dor, da perseguição e dos sofrimentos, também se encontra a fonte de onde tirar forças para suporta tantas e tantas adversidades.

Olhando para Jesus Crucificado, percebemos que o Verbo de Deus, chegou ao ápice do sofrimento humano. Entretanto, havia em seu coração um sentido diante de tanta dor, suor e sangue. Dentro do seu coração havia um profundo amor pela Vontade de Deus, e a fome e sede de salvar a cada um de nós, se oferecendo como vítima em expiação dos nossos pecados.

Sim amados! Quando entendemos o sentido pelo qual sofremos, encontramos força para continuar em frente. Pois o sentido das dores que suportamos, é sempre maior que o próprio sofrimento. E quando este sentido é encontrado, somos invadidos pela força da coragem, que nos faz continuar, confiando sempre em Deus mesmo sem entender.

Precisamos aprender a sofrer. Abraçar a nossa cruz todos os dias. Pois quando abraçamos o sentido de nossas dores, sofremos por amor a Deus e aos irmãos.

Queres aprender a sofrer? Comece abraçando a sua Cruz!


Fraternalmente na alegria das Chagas do Ressuscitado

Ricardo Alexandre

(fundador e moderador geral da Comunidade Católica Chagas de Amor)

A



A visao de eternidade

PEREGRINANDO COM VISÃO DE ETERNIDADE

A vida do homem neste mundo é passageira.

Experimentamos que este caminhar tem um limiar indubitável: a morte. Todavia, pela fé compreendemos que este trânsito marca o começo do destino definitivo: o encontro pleno com a Santíssima Trindade. Por isso a Carta aos Hebreus nos diz que «não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da cidade que está para vir»1.

Quando o homem faz silêncio em seu interior percebe a nostalgia de infinito que leva gravada no mais profundo do coração, a qual aponta sempre como uma bússola para o norte de sua existência.

Precisamente a visão de eternidade é aquele olhar espiritual que nos leva a transcender a imagem deste mundo que passa e a fixar-nos no essencial; a descobrir a mediação das realidades cotidianas e seu verdadeiro sentido – que não se esgota em sua dinâmica imanente, puramente temporal –, a divisar como a natureza, o verdadeiro, o bom, o belo nos lançam ao encontro pessoal com Deus Amor.

A visão de eternidade está fundamentada firmemente na fé, é alentada pela esperança e nutrida constantemente pelo fogo da caridade derramada em nós pelo Espírito Santo2. É uma magnífica conselheira que nos faz crescer na paz interior e na prudência, evitando toda a afobação, indolência, triunfalismo ou pessimismo. É expressão da fé na mente e nos permite aproximar-nos da realidade para vê-la adequadamente sob sua luz. Por este motivo o olhar para a imortalidade pode ser chamado de “binóculo”, que permite ver bem longe, ou “colírio” que purifica os olhos. É também fonte de energia e de atividade, de esforço magnânimo e longânime por um ideal nobre, segundo a oração do Apóstolo: «... esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está diante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus»3. Vem à nossa memória aquele lema em que tanto insiste nosso Fundador: “A medida da grandeza de tua vida é a medida da causa à qual serves”.

Embora devamos ter a visão de eternidade em todo instante, existem algumas circunstâncias especiais que a exigem com urgência singular. Ante as dificuldades da vida cotidiana, as incompreensões, o cansaço natural, as enfermidades e o sofrimento, os fracassos no trabalho ou no apostolado, a ruptura da solidariedade que se busca construir, a rotina em muitas responsabilidades, os trabalhos que às vezes parecem intermináveis, devemos considerar a glória escondida silenciosamente no reto obrar, fadigoso e alentador, repetindo-nos constantemente: “Por Quem fazemos tudo isto? Por ti, Senhor! Para que teu Plano se realize!”. Como nos diz São Paulo, «Pois nossas tribulações momentâneas são leves em relação ao peso eterno da glória que elas nos preparam até o excesso. Não olhamos para as coisas que se vêem, mas para as que não se vêem; pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno »4.

Chegados a este ponto podemos concluir: Necessitamos ter visão de eternidade! Mas, como ou de quem aprender a vivê-la?

O Senhor Jesus e a visão de eternidade

O Senhor Jesus sempre teve uma visão de eternidade que moldava toda a sua vida cotidiana. Percebemos isso contemplando com profundidade algumas passagens dos Santos Evangelhos: o chamado aos Apóstolos5, o discurso do Pão de vida6, das bem-aventuranças7, seu encontro com a Samaritana8 e com Nicodemos9, a ressurreição de Lázaro10, a Transfiguração11, o anúncio de sua Paixão12, de sua Ressurreição13, da vinda do Espírito Santo14 e a aparição aos discípulos de Emaús15.

Também na sua oração o Senhor Jesus rezava contemplando o eterno: «... e erguendo os olhos ao céu, disse: “Pai, chegou a hora; glorifica teu Filho, para que teu Filho te glorifique”»16.

É necessário estudar e rezar cada uma destas passagens com uma perspectiva especial: com visão de eternidade, que é justamente participação e reflexo da visão de Deus. Como nos recomenda nosso Fundador, «contemplemos cada episódio [do Evangelho] sob a ótica de Jesus, com os olhos de Jesus»17.

Santa Maria e a visão de eternidade

A Mãe do Senhor, conformada plenamente com seu Filho, também participava de sua visão de eternidade, confiando firmemente nas promessas divinas. Podemos descobrir isso em diversas passagens da Sagrada Escritura: na Anunciação-Encarnação vêmo-la perguntando confiante ao Anjo do Senhor, ante o que estava por vir: «Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?»18 e respondendo «Faça-se»19 agora e para sempre; na Visitação vêmo-la saudando gozosa e com olhar expectante sua prima Isabel: «Doravante as gerações todas me chamarão de bem aventurada, pois o Todo-poderoso fez grandes coisas a meu favor»20; em Caná, diante das dificuldades das bodas pela falta de vinho, confia solícita em que seu Filho solucionará o aperto, e diz aos serventes: «Fazei tudo o que ele vos disser»21; em meio à dor pela morte de seu Filho na cruz vemo-la de pé e vislumbrando a ressurreição à luz da fé, confiante na promessa de Jesus: «Depois de três dias ressuscitarei»22.

Nosso Fundador nos diz em Maria desde Puebla: «...a humilde donzela de Nazaré simboliza a opção fundamental pela realidade concreta do ser humano, onde as medidas usuais como o poder, o ter, o possuir-prazer, próprias de toda cultura de morte, ficam fora de questão. Na visão de eternidade que Ela expressa em sua vida e em seus atos, o interior aparece como essencial, mostrando que Deus “exalta os humildes” e, se é o caso, “derruba os poderosos de seus tronos”»23.

Meios concretos

A consciência de que somos peregrinos e que nosso destino é eterno deve acompanhar nossa vida em todo momento. A memória contínua da “irmã morte” nos faz valorizar mais nosso peregrinar neste mundo. A Sagrada Escritura nos diz que se tivéssemos a morte sempre diante de nossos olhos, não pecaríamos e faríamos o bem em todo momento: «Em tudo o que fazes, lembra-te de teu fim e jamais pecarás»24. Isto, longe de fazer-nos prescindir de nossa vida no aqui e agora, pelo contrário nos leva a ter muito seriamente nossas responsabilidades pessoais e sociais.

Contemplar fixamente o horizonte, especialmente o mar ou o céu com todas as suas estrelas. Relacioná-lo com nossa limitação e pequenez... mas também com a semente de eternidade que levamos no coração e que nos faz seres especialmente abençoados pelo amor de Deus.

Quando visitamos o Senhor Jesus Sacramentado, devemos considerar que não somente vamos para vê-lO, mas também para que Ele nos veja: contemplamo-lO e Ele nos contempla. Devemos enriquecer a perspectiva à que estamos acostumados e ver-nos como Ele nos vê, com seus olhos. Por isso a visão de eternidade é, enquanto participação do olhar de Deus, uma visão ao futuro e uma visão a partir do futuro. Como nos diz o Salmo: «Com tua luz nós vemos a luz»25.

Comungar com freqüência o “Pão de vida eterna”, alimento do peregrino, da mesma maneira acudir com freqüência ao sacramento da reconciliação, por meio do qual Deus nos perdoa e por sua vez nos prepara para o juízo final, fazendo com que demos peso de eternidade a nossas obras.

Ler as vidas dos santos e dos mártires: considerar particularmente como a visão de sua ressurreição futura, sua experiência antecipada da vida eterna em Cristo ressuscitado, os levava a assumir com valor e perfeição a dor, porque os sofrimentos de sua vida presente não eram nada em comparação à gloria que haveria de manifestar-se neles26. Como diz belamente Santo Atanásio: «... eles, pelo mérito de suas obras, alcançaram a liberdade, e agora celebram no céu a festa eterna, se alegram de sua antiga peregrinação, realizada em meio de trevas, e já contemplam a verdade que antes somente haviam vislumbrado»27. Para a maioria de nós não será um martírio cruento, mas uma entrega radical por amor , cotidiana, que deve ser assumida com disposições semelhantes.

A cruz é o símbolo mais eloqüente da visão de eternidade porque nela está latente a ressurreição.

Por isso devemos fixar o olhar constantemente no crucifixo, no Filho eterno de Deus morto por amor aos homens: «Deus amou tanto ao mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna»28. Unidos a Ele na cruz escutemos como o “bom ladrão”: «Eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso»29.

Acolhamos as palavras do saudodo beato Santo Padre João Paulo II que nos exorta a “lançar as redes” e “remar mar adentro” interiormente e na missão apostólica: «Agora, devemos olhar para a frente, temos que “fazer-nos ao largo”, confiados na palavra de Cristo: Duc in altum!»30.

CITAÇÕES PARA A ORAÇÃO
  • Deus, em Cristo Jesus, promete a vida eterna aos que crêem nEle: Jo 3,16; 1Cor 2,9; 1Pe 1,3-5; 1Jo 2,25.
  • Quem alcança a vida eterna?: Mt 16,25-26; Lc 9,25; Jo 12,25-26; Eclo 16,12-14.
  • Nossas obras na vida presente têm peso de eternidade: Lc 20,34-36; Rm 2,6-10; Mt 25,46.
  • A visão de eternidade nos leva a valorizar em sua justa medida as coisas passageiras, a não apegar-nos ao passageiro e a apostar no que não passa: Cl 3,1-4; 1Jo 2,15-17.
  • A visão de eternidade nos leva a considerar com realismo a fugacidade da vida presente, e assim saber andar por ela com tino e sabedoria: Sl 38,5-7; 88,48-49; 89,5-6.9-10.12; 102,15-17; 144,3-4; Eclo 10,9-11, 14,17-19; 17,1-2; 18,8-10; 7,1.6-7.
  • A memória da morte é boa conselheira: Eclo 7,36; 8,7; 14,12; 14,17.
  • A visão de eternidade nos ajuda a superar com paciência os sofrimentos da vida presente: Rm 8,18; 1Pe 1,6-9; Hb 11,25-26.
  • A visão de eternidade leva a ansiar vivamente a vida eterna: Sl 72, 23-26.
  • A visão de eternidade nos anima a despojar-nos de todo o lastro de pecado, a privar-nos de todo apego vão, para lançar-nos a conquistar o “prêmio” prometido, a vida eterna: Hb 12,1-3; Fl 3,13-14; 1Cor 9,24-25.
  • A visão de eternidade é alentada pela esperança: Rm 8,24-25

Notas

  • 1 Hb 13,14.
  • 2 Ver Rm 5,5.
  • 3 Fl 3,13-14.
  • 4 2Cor 4,17-18.
  • 5 Ver Jo 1,35-51.
  • 6 Ver Jo 6.
  • 7 Ver Mt 5,1-12.
  • 8 Ver Jo 4,1-42.
  • 9 Ver Jo 3,1-21.
  • 10 Ver Jo 11,1-43.
  • 11 Ver Mt 17,1-13.
  • 12 Ver Jo 12,20-36.
  • 13 Ver Mc 8,31.
  • 14 Ver Jo 14,13-17.
  • 15 Ver Lc 24,13-35.
  • 16 Jo 17,1.
  • 17 Luis Fernando Figari, Em Companhia de Maria, Loyola, São Paulo 1989, p. 19.
  • 18 Lc 1,34.
  • 19 Lc 1,38.
  • 20 Lc 1,48b-49a.
  • 21 Jo 2,5.
  • 22 Mt 27,63.
  • 23 Luis Fernando Figari, Maria desde Puebla, FE, Lima 1992, pp. 46-47.
  • 24 Eclo 7,36.
  • 25 Sl 36,10.
  • 26 Ver Rm 8,18.
  • 27 Das Cartas pascais de Santo Atanásio, Carta 14, 1-2: PG 26, 1419.
  • 28 Jo 3,16.
  • 29 Lc 23,43.
  • 30 S.S. João Paulo II, Novo millennio ineunte, 15.
A






Com fome de Deus

EXPERIMENTAR A FOME

Se somos sinceros conosco mesmos e entramos em nosso interior podemos constatar uma realidade inapelável: “algo” nos falta. E esse “algo” não é uma coisa supérflua, Melhor, experimentamos que se trata de uma realidade essencial, fundamental, que saciaria nossa fome de felicidade, de sentido, de infinito.
Por que “sofremos” tal realidade? Como se explica? Como pode ser saciada? À luz da fé essa condição que toda pessoa experimenta só pode ser entendida como fome de Deus. Ele é nosso Criador, nos fez “a sua imagem e semelhança”, deixando sua marca em nós para que o busquemos e, encontrando-o, sejamos felizes, encontrando o sentido de nossa vida. Por isso nos dirá o Catecismo: «O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar.»1

O HOMEM É UMA FOME

De muitas maneira em toda a sua história e em todas as culturas o homem expressou essa fome na busca de Deus por meio de crenças e de comportamentos religiosos. Por isso podemos dizer com o Catecismo que «o homem é um ser religioso»2
O homem tem fome de Deus e fome de pão. Essas duas dimensões, vertical e horizontal, espiritual e material, marcam o fundo de seu ser. Por isso se diz que o homem é um ser incompleto, que não se deve a si mesmo, que algo lhe falta pois se experimenta vazio apesar de ter muitas coisas. Experimenta esta realidade constantemente apesar de não percebê-la com total claridade. É um desconforto de não poder fazer tudo o que o seu impulso de realização deseja. E isso se deve sentir com muitíssima intensidade, com ímpeto, com ardor, se se é verdadeiramente humano.

Se você quer ser uma pessoa autêntica deve tomar contato com a fome que há em você e deixar que flua em sua vida, para que possa responder adequadamente. No fundo só importa sua fome e a resposta a essa fome. Se você não a experimenta tomando contato consigo mesmo, se não a “sofre”, não vai poder valorizar adequadamente a resposta. E, pior ainda, se não se apercebe dessa fome, como vai poder percebê-la em outro? Como você vai poder fazer apostolado?

Todavia, outra pergunta também nos pode surgir: Por que não experimento essa fome em minha vida com a suficiente intensidade? Isto acontece porque você costuma colocar barreiras em sua existência para não ir ao essencial. E a muralha por excelência é seu pecado pessoal. Esse pecado não permite que você tome contato com o mais intimo do seu ser e interprete equivocadamente seus anseios, buscando saciá-los onde só existe vazio, quer dizer, no prazer, no poder e no ter.

SÓ A COMUNHÃO PLENA SACIA

Assim pois, o verdadeiro contato com a fome de Deus deve permanecer toda a vida porque só o encontro definitivo com Ele pode saciá-lo. Por isso nos dirá Luis Fernando que «o ser humano não é um ser fechado sobre si mesmo, seu próprio ser está aberto em uma projeção de encontro que aponta a sua plenitude no amor, no encontro e na comunhão com Deus. É, pois, um ser aberto, mas não a um infinito abstrato e quiçá somente ideal, mas Àquele que é fundamento de tudo, a Deus, Comunhão de Amor»3

Diz a Sabedoria: «Vinde a mim todos os que me desejais... Os que me comem terão ainda fome, os que me bebem terão ainda sede.» 4 Que grande paradoxo da vida cristã o que está escrito neste texto inspirado! É que enquanto estamos neste mundo não poderemos saciar plenamente nossa nostalgia de infinito. Essa realidade aponta para algo “mais além”, uma plenitude eterna. Temos que ser conscientes de que nada nem ninguém nos pode dar o que só a comunhão plena com Deus pode saciar!.

JESUS TEM SEDE

O encontro do Senhor Jesus com a samaritana no poço de Jacó é uma passagem de muito mistério e profundidade. Nele podemos encontrar muitos elementos para aprofundar em nossa fome de Deus. Vejamos alguns.

O primeiro que São João ressalta é que Jesus toma a iniciativa, sai ao encontro da mulher e lhe diz: «Dá-me de beber»5 Nos diz Santo Agostinho: «A Vida declina para fazer-se matar; o Pão declina para ter fome; o Caminho declina para fatigar-se andando: a Fonte declina para sentir a sede»6.

A samaritana se assombra de que Jesus, sendo judeu, lhe peça de beber, posto que havia entre as duas culturas uma grande rivalidade e não se relacionavam uns com os outros. Jesus lhe responde: «Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva»7 Jesus aponta à realidade mais profunda da mulher, a sua nostalgia de infinito, mas ela parece não entender e replica: «Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras essa água viva?» 8

Jesus, com uma pedagogia sábia e amorosa, vai além do sentido material e toca sutilmente a mesmidade9 da mulher: «Aquele que bebe desta água terá sede novamente, mas quem beber da água que eu lhe der jamais terá sede»10. A mulher aceita o chamado e clama sedenta: «Senhor, dá-me dessa água, para eu não tenha mais sede»11. Uma vez despertada a fome de Deus da mulher e já que ela quis responder, Jesus questionará seu modo de vida em relação a seus “cinco maridos”. É necessário abandonar os sucedâneos para poder responder adequadamente à fome de Deus.

Mais adiante a mulher dirá a Jesus que estava esperando o Messias: «Quando ele vier, nos anunciará tudo»12. Aqui culmina o ciclo revelador de Jesus à mulher: «Sou eu, que falo contigo»13. Porque Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, dirá o Servo de Deus João Paulo II: «Somente Ele pode saciar a sede de felicidade que levais dentro de si. Porque Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Nele estão as respostas às perguntas mais profundas e angustiantes de todo homem e da própria história14.

Dois últimos ensinamentos importantes sobre esta passagem: diz o evangelista que a mulher correu ao povoado para anunciar a Jesus: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz»15. O autêntico encontro com o Senhor sacia a fome de Deus e inspira ao anúncio apostólico. Nesse sentido nos dirá Bento XVI: « Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo »16.

O outro grande ensinamento da passagem foi dirigido por Jesus aos apóstolos quando eles insistiam para que comesse: «Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra»17. A melhor resposta à fome de Deus é a obediência amorosa a seu Plano.

APLICAÇÕES PRÁTICAS

Um meio privilegiado para responder à fome de Deus é nos alimentarmos freqüentemente com o “Pão de vida eterna”. É o próprio Jesus que vem ao nosso encontro para cear conosco.

A oração pessoal constitui outro âmbito privilegiado de encontro da fome de Deus com a fome do homem: «A oração, saibamos ou não, é o encontro da sede de Deus e da sede do homem. Deus tem sede de que o homem tenha sede d’Ele»18.

Como conseqüência lógica de “sermos amigos de Jesus”, outro meio importante consistirá em “sermos amigos em Jesus”. A experiência de amizade profunda com outras pessoas será mais humanizada na medida em que se oriente mais real e autenticamente pra a comunhão com Deus.

A nostalgia de Deus exige ideais altos e nobres. Por isso devemos fazer um grande esforço em evitar os sucedâneos, todos aqueles vícios que entorpecem nosso caminho até o Senhor. Isto porque contemplar o horizonte do mar e a imensidão do céu e contrastá-los com nossa miséria pessoal acentua em nós a fome de infinito, o desejo de eternidade. É importante despojarmo-nos de tudo aquilo que nos escravize aos propósitos pequenos e, com coragem, lançarmo-nos ao encontro de Deus vivo.

Por último devemos ressaltar o apostolado, verdadeiro encontro entre a fome do evangelizador e a fome do que é evangelizado.

CITAÇÕES BÍBLICAS

  • Reconhecer a sede de Deus e pedir-lhe que nos sacie: Jo 4,10.15.
  • Somente o Senhor Jesus pode saciar a sede de água viva: Jo 4,13-14.
  • O alimento de Jesus é cumprir o Plano do Pai: Jo 4,30-34.
  • O Senhor Jesus tem sede de nossa sede: Jo 19,28.
  • A fome de Deus se expressa em fome de santidade: Mt 5,6.
  • É essencial buscar a Deus, pois n’Ele vivemos, nos movemos e existimos: At 16,26-28.
  • Nem só de pão vive o homem: Dt 8,3.
  • A sede de Deus anseia por ver seu Rosto: Sl 42.

PERGUNTAS PARA REZAR:

  • Sou consciente de minha própria fome de Deus? O que estou fazendo para saciá-la?
  • Por que nosso pecado pessoal é obstáculo para saciar a fome de Deus? Quais são meus maiores obstáculos para encontrar-me com o Senhor?
  • Que importância tem conhecer-me a mim mesmo e entrar em meu próprio interior para encontrar a autêntica resposta que busco? Conheço-me? O que posso fazer para conhecer-me mais?
  • Sou consciente de que somente o Senhor Jesus sacia minha fome de infinito? O que vou fazer para encontrar-me mais com o Senhor?
  • Em minha vida cotidiana costumo fazer silêncio para escutar a voz de Deus em meu interior? E se o escuto, respondo-o?

NOTAS

  • 1 Catecismo da Igreja Católica, 27.
  • 2 Ali mesmo, 28.
  • 3Luis Fernando Figari, Nostalgia de Infinito, Letra Capital, Brasil 2005, p. 17.
  • 4 Eclo 24,19a.21. 26,29
  • 5 Jo 4,7.
  • 6 Santo Agostinho, Sermão 78,6.
  • 7 Jo 4,10.
  • 8 Jo 4,11.
  • 9 mesmidade – do neologismo “mismidad” em espanhol, que designa a realidade constitutiva mais profunda do ser humano. É o âmago da identidade, única e irrepetível. Realidade objetiva que não muda.
  • 10 Jo 4,13b-14a.
  • 11 Jo 4,15.
  • 12 Jo 4,25b.
  • 13 Jo 4,26.
  • 14 S.S. João Paulo II, Mensagem aos jovens, Lima 15/5/1988, 3.
  • 15 Jo 4,29.
  • 16 S.S. Bento XVI, Deus caritas est, 1.
  • 17 Jo 4,34.
  • 18 Ver Santo Agostinho, Questão 64, 4.
A






AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO

S. João 15,12-17


Quanto mais unidos estamos ao próximo, mais unidos estamos a Deus. Vou dar-vos uma imagem retirada dos Padres para compreenderdes o sentido destas palavras. Pensai num círculo traçado no chão, isto é, numa linha feita com um compasso, a partir de um centro; ao meio do círculo chama-se justamente centro. Aplicai o vosso espírito ao que vos digo. Imaginai que este círculo é o mundo, que o centro é Deus, e os raios são as diferentes vias ou maneiras de viver dos homens. Quando os santos, desejando aproximar-se de Deus, se dirigem para o meio do círculo, na medida em que penetram no seu interior, aproximam-se uns dos outros ao mesmo tempo que se aproximam de Deus. Quanto mais se aproximam de Deus, mais se aproximam uns dos outros; e, quanto mais se aproximam uns dos outros, mais se aproximam de Deus.

E compreendeis que o mesmo acontece em sentido inverso, quando as pessoas se afastam de Deus para se retirar para o exterior; é então evidente que, quanto mais se afastam de Deus, mais se afastam uns dos outros, e, quanto mais se afastam uns dos outros, mais se afastam também de Deus.

Tal é a natureza da caridade. Na medida em que estamos no exterior e não amamos a Deus, nessa medida, distanciamo-nos do próximo. Mas, se amamos a Deus, quanto mais nos aproximamos Dele pela caridade, tanto mais comunicamos a caridade ao próximo; e, quanto mais unidos estamos ao próximo, mais unidos estamos a Deus.



Com minha benção.
Pe. Emílio Carlos Mancini.+

A


“Precisamos ter o máximo cuidado com o emprego de expressões tais como “auto-renúncia”. Na prece, verdadeiramente buscamos direcionar todo o nosso ser para uma contemplação da bondade de Deus, de seu infinito amor.

Todavia, só conseguiremos algum grau de eficácia nisso, caso antes tenhamos verdadeiramente nos aproximado de nós mesmos.

A própria prece é um caminho que nos leva a experimentar a verdade das palavras de Jesus: “Aquele que quiser salvar sua vida, deve antes perdê-la”. Todavia, cabe-nos dar o primeiro passo. E, este passo é o de conquistar a confiança necessária para entregar nossa vida na pobreza do único verso em meditação. Esta é a tremenda importância da comunidade cristã: ao vivermos com outras pessoas, percebendo-nos reverenciados e amados, solidificamos a confiança que necessitamos para adentrar a prece, na qual praticamos essa completa pobreza, essa completa renúncia. E, a auto-renúncia cristã, será sempre uma auto-afirmação em Cristo.

A meditação, e sua pobreza, não é nenhuma forma de auto-rejeição. Não estamos fugindo de nós mesmos e, também não se trata de nos odiarmos. Ao contrário, nossa busca é uma busca por nós mesmos, e pela experiência da nossa própria e infinita capacidade de sermos amados. A Tradição cristã atesta muito bem a harmonia do verdadeiro Eu, que repousa além de todo egoísmo, além de toda atividade que se baseia no ego.

Santa Catarina de Gênova afirma isso de maneira sucinta: “Meu eu é Deus. Eu nem reconheço minha identidade, exceto nEle”.

Todavia, para alcançarmos nossa identidade (e é para responder a esse chamado que meditamos), ou, fazendo uso de uma linguagem ocidental que é mais feliz e talvez mais correta, para encontrarmos realização pessoal, precisamos passar pela radical experiência de pobreza pessoal, em uma inabalável auto-entrega.

Aquilo que entregamos, aquilo para o qual morremos é, dentro da visão mistica, não propriamente o eu ou a mente, mas sim aquela imagem do eu ou da mente que, por engano, passamos a identificar com o que somos realmente.

Todavia, certamente indica que aquilo a que renunciamos na prece é, essencialmente, o que é irreal. As dores da renúncia serão proporcionais ao tamanho de nosso compromisso com a irrealidade, à medida com que adotamos nossas ilusões como sendo reais. Na prece nos despimos das ilusões do ego que nos isola. Fazemos isso em um continuado ato de fé, distanciando-nos da idéia de nós mesmos, por meio da concentração de todo o nosso ser no Eu verdadeiro, criado por Deus, redimido por Jesus, um templo do Espírito Santo.”

Meditação Cristã

A


Jesus dirigiu-Se resolutamente para Jerusalém

S. Lucas 9,51-56.

Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem.


Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém.

Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?»

Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os.

E foram para outra povoação.

Reflexão:

Jesus dirigiu-Se resolutamente para Jerusalém

Cristo é o caminho e a porta. Cristo é a escada e o veículo, [...] e o sacramento escondido desde os séculos. Quem olha para este propiciatório de rosto plenamente voltado para Ele, contemplando-O suspenso na cruz com fé, esperança e caridade, com devoção, admiração e alegria, com veneração, louvor e júbilo, realiza com Ele a Páscoa, isto é, a passagem. E assim, por meio da vara da cruz, atravessa o Mar Vermelho. [...] Nesta passagem, se for perfeita, é necessário que se deixem todas as operações intelectivas e que o ápice mais sublime do amor seja transferido e transformado totalmente em Deus. Isto porém é uma realidade mística e ocultíssima, que «ninguém conhece a não ser quem recebe» (Ap 2,17), que ninguém recebe senão quem deseja, nem deseja senão aquele que é inflamado, até à medula da alma, pelo fogo do Espírito Santo, que Cristo enviou à terra. Por isso diz o Apóstolo que esta sabedoria mística é revelada pelo Espírito Santo.

Se pretendes saber como isto sucede, interroga a graça e não a ciência [...], a nuvem e não a claridade. Não interrogues a luz, mas o fogo que tudo inflama e transfere para Deus, com unção suavíssima e ardentíssimos afetos. Este fogo é Deus; «a Sua fornalha está em Jerusalém» (Is 31,9). Cristo acendeu-o na chama da Sua ardentíssima Paixão. [...] Quem ama esta morte pode ver a Deus, porque é indubitavelmente verdade que «nenhum homem poderá ver-Me e continuar a viver» (Ex 33,20).

Morramos, pois, e entremos nessa nuvem; imponhamos silêncio às preocupações terrenas, paixões e imaginações; passemos, com Cristo crucificado, «deste mundo para o Pai» (Jo 13,1), a fim de que, ao manifestar-se-nos o Pai, digamos com o apóstolo Filipe: «Isso nos basta» (Jo 14,8); e ouçamos com São Paulo: «Basta-te a Minha graça» (2Cor 12,9); e exultemos com David, exclamando: «Desfalece a minha carne e o meu coração: Deus é o meu refúgio e a minha herança para sempre» (Sl 72,26).

São Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja

Itinerário da alma para Deus, 7 (trad: Breviário)

A

segunda-feira, 26 de setembro de 2011





ACERCA DAS SETE PALAVRAS PRONUNCIADAS POR CRISTO NA CRUZ

(DE SEPTEM VERBIS A CHRISTO IN CRUCE PROLATIS)

São Roberto Belarmino

Tradução: Permanência

CAPÍTULO II
O primeiro fruto que se há de colher da consideração da primeira Palavra dita por Cristo na Cruz

Tendo dado o significado literal da primeira palavra dita por Nosso Senhor na Cruz, nossa próxima tarefa será esforçarmo-nos para recolher alguns de seus frutos mais preferíveis e vantajosos. O que mais nos impressiona na primeira parte do sermão de Cristo na Cruz é sua ardente caridade, que arde com fulgor mais brilhante que o que possamos conhecer ou imaginar, de acordo com o que escreveu São Paulo aos Efésios: “e conhecer também aquele amor de Cristo, que excede toda a ciência”[37]. Pois nesta passagem o Apóstolo nos informa, pelo mistério da Cruz, como a caridade de Cristo ultrapassa nosso entendimento, já que se estende para além da capacidade de nosso limitado intelecto. Pois quando sofremos qualquer dor forte, como uma dor de dente, ou uma dor de cabeça, ou uma dor nos olhos, ou em qualquer outro membro do corpo, nossa mente está tão atada a isto, que se torna incapaz de qualquer esforço. Então não estamos com humor para receber os amigos nem para continuar com o trabalho. Mas, quando Cristo foi pregado na Cruz, usou seu diadema de espinhos, como está claramente expresso nos escritos dos antigos Padres; por Tertuliano, entre os Padres latinos, em seu livro contra os judeus, e por Orígenes, entre os Padres gregos, em sua obra acerca de São Mateus; e portanto se segue que Ele não podia mover a cabeça para trás nem movê-la de um lado para o outro sem dor adicional. Toscos cravos lhe sujeitavam as mãos e pés, e, pela maneira como lhe dilaceravam a carne, ocasionavam doloroso e longo tormento. Seu corpo estava desnudo, desgastado pelo cruel flagelo e pelo intenso ir-e-vir, exposto ignominiosamente à vista do vulgo, aumentando por seu peso as feridas nos pés e mãos, numa bárbara e contínua agonia. Todas estas coisas combinadas foram origem de muito sofrimento, como se fossem outras tantas cruzes. Não obstante, ó caridade, verdadeiramente a ultrapassar nosso entendimento, Ele não pensou em seus tormentos, como se não sofresse, não estando solícito senão à salvação de seus inimigos, e, desejando cobrir-lhes a pena dos crimes, clamou fortemente a seu Pai: “Pai, perdoa-lhes”. Que teria feito Ele se esses infelizes fossem as vítimas de uma perseguição injusta, ou se tivessem sido seus amigos, seus parentes, ou seus filhos, e não seus inimigos, seus traidores e parricidas? Verdadeiramente, ó benigníssimo Jesus! vossa caridade ultrapassa nosso entendimento. Observo vosso coração no meio de tal tormento de injúrias e sofrimentos, como uma rocha no meio do oceano que permanece imutável e pacífica, ainda que as ondas choquem furiosamente contra ela. Pois vedes que vossos inimigos não estão satisfeitos com infligir ferimentos mortais a Vosso Corpo, senão que têm de escarnecer-vos a paciência, e uivar triunfalmente com os maus tratos. E os olhais, digo eu, não como um inimigo que mede o adversário, mas como um Pai que trata com os extraviados filhos, como um médico que escuta os desvarios de um paciente que delira. Vós não estais aborrecido com eles, mas os compadeceis, e os confiais ao cuidado de Vosso Pai Todo-poderoso, para que Ele os cure e os deixe inteiros. Este é o efeito da verdadeira caridade, estar de bem com todos os homens, não considerando nenhum como inimigo, e vivendo pacificamente com aqueles que odeiam a paz.

Isto é o que é cantado no Cântico do amor acerca da virtude da perfeita caridade: “As muitas águas não puderam extinguir o amor, nem os rios terão força para o submergir”[38]. As muitas águas são os muitos sofrimentos que nossas misérias espirituais, como tormentas do inferno, infligem a Cristo através dos judeus e dos gentios, os quais representavam as paixões obscuras de nosso coração. Ainda assim, esta inundação de águas, quer dizer, de dores, não pode extinguir o fogo da caridade que ardeu no peito de Cristo. Por isso a caridade de Cristo foi maior que tal transbordamento de muitas águas, e resplandeceu brilhantemente em sua oração: “Pai, perdoa-lhes”. E não só foram estas muitas águas incapazes de extinguir a caridade de Cristo; também nem sequer depois de anos puderam as tormentas da perseguição sobrepujar a caridade dos membros de Cristo. Assim, a caridade de Cristo, que possuiu o coração de Santo Estêvão, não podia ser esmagada pelas pedras com que foi martirizado. Estava viva então, e ele orou: “Senhor, não lhes imputes este pecado”[39]. Enfim, a perfeita e invencível caridade de Cristo, que foi propagada nos corações de mártires e confessores, combateu tão tenazmente os ataques de perseguidores, visíveis e invisíveis, que se pode dizer com verdade, até o fim do mundo, que um mar de sofrimento não poderá apagar a chama da caridade.

Mas da consideração da Humanidade de Cristo ascendamos à consideração de Sua Divindade. Grande foi a caridade de Cristo como homem para com seus verdugos, mas maior foi a caridade de Cristo como Deus, e do Pai, e do Espírito Santo, no dia último, para com toda a humanidade, que fora culpada de atos de inimizade para com seu Criador, e que, se tivesse sido capaz, o teria expulsado do céu, pregado a uma cruz, e assassinado. Quem pode conceber a caridade que Deus tem para com tão ingratas e malvadas criaturas? Deus não poupou os anjos quando pecaram, nem lhes deu tempo para arrepender-se; com freqüência, todavia, suporta pacientemente o homem pecador, blasfemos, e aqueles que se enrolam no estandarte do demônio, Seu inimigo, e não só os suporta mas também os alimenta e cria, e até os alenta e sustém, porque “n’Ele vivemos, e nos movemos, e existimos”[40], como diz o Apóstolo. Tampouco preserva somente o justo e bom, mas igualmente o homem ingrato e malvado, como Nosso Senhor nos diz no Evangelho segundo São Lucas. Tampouco nosso Bom Senhor meramente alimenta e cria, alenta e sustém seus inimigos, senão que amiúde acumula seus favores sobre eles, dando-lhes talentos, tornando-os honrosos, e os eleva a tronos temporais, enquanto lhes aguarda pacientemente o regresso da senda da iniqüidade e perdição.

E, não nos ocupando aqui de várias características da caridade que Deus sente pelos homens malvados, os inimigos de sua Divina Majestade, cada uma das quais requereria um volume se as tratássemos singularmente, limitar-nos-emos agora àquela singular bondade de Cristo que estamos tratando. Pois “Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito”?[41]. O mundo é o inimigo de Deus, porque “todo o mundo está sob o [jugo do espírito] maligno”[42], como nos diz São João. E, “se alguém ama o mundo, não há nele o amor do Pai”[43], como torna a dizer adiante. São Tiago escreve: “Portanto, todo aquele que quiser ser amigo deste século constitui-se inimigo de Deus” e “a amizade deste mundo é inimiga de Deus”[44]. Deus, portanto, ao amar este mundo, mostra seu amor a seu inimigo com a intenção de fazê-lo amigo seu. Com este propósito enviou seu Filho, “Príncipe da Paz’[45], para que por seu intermédio o mundo possa ser reconciliado com Deus. Por isso, ao nascer Cristo, os anjos cantaram: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra”[46]. Assim, Deus amou o mundo, seu inimigo, e deu o primeiro passo para a paz, dando seu Filho, que pode trazer a reconciliação sofrendo a pena devida a seu inimigo. O mundo não recebeu Cristo, acresceu sua culpa, rebelou-se diante do único Mediador, e Deus inspirou a este Mediador pagar o mal com o bem orando por seus perseguidores. Orou e “foi atendido pela sua reverência”[47]. Deus esperou pacientemente o progresso que teriam os Apóstolos por sua pregação na conversão do mundo. Aqueles que tiverem feito penitência têm o perdão. Àqueles que não se tiverem arrependido após tão paciente tolerância, extermina-os o juízo final de Deus. Portanto, desta primeira palavra de Cristo aprendemos, em verdade, que a caridade de Deus Pai — que “amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito, para que todo o que crê n’Ele não pereça, mas tenha vida eterna”[48] — ultrapassa todo e qualquer conhecimento.

Notas:

[37] Ef 3,19.

[38] Cant 8,7.

[39] Atos 7,59.

[40] Atos 17,28.

[41] Jo 3,16.

[42] 1Jo 5,19.

[43] 1Jo 2,15.

[44] Tg 4,4.

[45] Is 2,6.

[46] Lc 2,14.

[47] Hb 5,7.

[48] Jo 3,16.

A


O Terço salvador

Nosso avô era mineiro e trabalhava com ardósias. Ele ia para o trabalho, diariamente, a pé, rezando o terço, dedicando todo o seu tempo de caminhada, exclusivamente para rezar. Naquela época, ainda não existiam os ônibus. E ele levava, aproximadamente, meia hora para chegar ao trabalho e o mesmo tempo para voltar.

Um dia, após haver feito um bom percurso, vovô se deu conta de que havia esquecido o terço. O que fazer? Continuar o caminho ou voltar atrás, para procurá-lo? Logo, decidiu-se por voltar, deu meia volta e saiu correndo em direção ao lar, pegou o terço, dirigindo-se então para o trabalho, mas lá chegou com 10 minutos de atraso. Seus companheiros de trabalho o aguardavam, pois, como responsável pela obra, era ele quem tinha as chaves. Juntos, então, todos se dirigiram para a mina.

Naquele momento, quando estavam prestes a descer, mina adentro, os mineiros ouviram um violento estrondo, imenso fragor. Os homens se entreolharam aterrorizados. Alguma coisa terrível acontecera. A montanha parecia ter desmoronado. Graças a Deus, nenhum trabalhador estava no interior da mina. Após um primeiro controle, constatou-se que enormes blocos de rochedos se desprenderam no interior, obstruindo diversas galerias... Se, naquele dia, vovô não tivesse se atrasado, muitos trabalhadores não teriam sobrevivido ao desastre. Nem ele! Todos reconheceram a proteção de Deus e da Santíssima Virgem em tal acontecimento. Quando, naquele dia, vovô voltou para casa e nos contou este fato, eu estremeci.

Desde então, o terço é honrado em nossa família. Não posso deixar de dizer que a oração do terço nos preservou de muitos outros infortúnios.

Inge Kowalski, em "Retendes Gottes volk",

colhido e traduzido por Frei Albert Pfleger, marista, para o Florilégio Mariano.

A




A verdadeira justiça e fé são encontradas em Jesus

Evangelho: Mateus (Mt 21, 28-32)

Naquele tempo, Jesus disse aos sacerdotes e anciãos do povo: 28"Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: 'Filho, vai trabalhar hoje na vinha!' 29O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois mudou de opinião e foi. 30O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi. 31Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O primeiro". Então Jesus lhes disse: "Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. 32Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele. Ao contrário, os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele". Palavra da Salvação!

Comentando :


Quem é contra a justiça do Reino?

A parábola dos dois filhos só se encontra no Evangelho de Mateus. Esse dado é importante, pois o evangelista tirou lá do fundo do baú (cf. 13,52) coisas antigas, mas também coisas “novas”, a fim de dar ao seu escrito uma dimensão especial. As parábolas exclusivas de Mateus são as coisas novas que ele reservou para o momento certo, querendo com isso sublinhar a idéia básica que percorre todo o evangelho. Essa idéia básica é o tema da justiça do Reino, como já tivemos oportunidade de ver nos comentários ao evangelho dos domingos anteriores.

Jesus está em Jerusalém e, mais exatamente, no templo, centro do poder político, econômico e ideológico daquela época. É aí que ele conta três parábolas, sendo a primeira delas a “parábola dos dois filhos” (as outras duas vão aparecer nos próximos domingos). Trata-se de parábolas de confronto e de conflito entre o Mestre da Justiça e os promotores da sociedade injusta, representados, na parábola de hoje, pelos chefes dos sacerdotes (poder religioso-ideológico) e anciãos do povo (poder econômico).

a. Quem é quem diante da justiça do Reino (vv. 28-30)

A parábola é muito simples. Jesus se dirige, de forma provocadora, às lideranças político-econômicas e religiosas do tempo, perguntando: “O que vocês acham disso?” A parábola, portanto, é uma provocação de Jesus aos que servem de suporte a uma sociedade injusta. Ao responderem à parábola, eles serão forçados a se posicionar e, conseqüentemente, acabam emitindo a própria sentença.

A parábola fala de dois filhos com atitudes contrastantes: o filho mais velho é muito impulsivo e reage com um “não quero” quando o pai lhe pede que vá trabalhar na vinha. A seguir, pensa melhor e volta atrás: “depois, arrependeu-se e foi”. O filho mais novo é cheio de etiquetas, incapaz de responder impulsivamente: “Sim, senhor, eu vou”, mas acaba não indo trabalhar na vinha.

O filho mais velho representa os pecadores e os marginalizados que aceitam a mensagem de Jesus e se comprometem com a proposta da justiça do Reino. O próprio evangelista Mateus está entre essas categorias sociais, pois era cobrador de impostos. As prostitutas e os cobradores de impostos constituíam os grupos sociais mais detestados pelas elites religiosas e políticas do tempo de Jesus. Os donos do saber e da religião haviam decretado que essas categorias de pessoas não teriam parte no mundo futuro – exatamente o contrário de tudo o que Jesus ensinou. Cobradores de impostos e prostitutas, portanto, são a síntese da marginalidade, considerados pecadores públicos.

O filho mais novo recorda as “pessoas de bem”, maquiladas de religiosidade e “justiça” – prontas a se escandalizar e se levantar em defesa de suposta verdade, mas presas fáceis do dinheiro (os anciãos eram latifundiários) e crentes de que estavam cumprindo a vontade de Deus. Desde o começo do Evangelho de Mateus, os chefes dos sacerdotes estão ao lado de Herodes, que pretende matar Jesus (cf. 2,3-4). Herodes morreu em seguida, mas os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo, membros do sinédrio, serão os responsáveis diretos pela morte do Mestre da Justiça.

Notemos ainda duas coisas: 1) No Antigo Testamento, Israel inteiro era considerado filho de Deus. No tempo de Jesus, todavia, as elites haviam determinado que pobres, analfabetos, cobradores de impostos, prostitutas e outras categorias de marginalizados deveriam ser considerados “malditos de Deus”, portanto, excluídos do povo. 2) O pai pede que os filhos vão hoje trabalhar na vinha. Esse “hoje” não é um dia apenas. É o período que vai do início da atividade libertadora de Jesus, anunciada por João Batista, até a construção aqui na terra da justiça que instaura o Reino no meio de nós. Os marginalizados deram ouvidos e se comprometeram. O mesmo não se pode dizer das elites. Isso nos mostra que ser filho obediente do Pai não é questão de palavras, mas de gestos libertadores, à semelhança da prática de Jesus.

b. Uns entram no Reino, outros não (vv. 31-32)

Depois de contar a parábola, Jesus pergunta aos chefes dos sacerdotes e anciãos do povo: “Qual dos dois fez a vontade do Pai?”. Por trás dessa pergunta ressoam as primeiras palavras que traçam o programa de Jesus segundo o Evangelho de Mateus: “Devemos cumprir toda a justiça” (3,15). A vontade do Pai está expressa na prática do Filho. Os que se comprometem com ele se comprometem também com o projeto de sociedade nova por ele trazido. Jesus confirma, a seguir, a sentença que as elites inconscientemente deram a si próprias: “Pois eu lhes asseguro que os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no reino do céu. Porque João veio até vocês para mostrar o caminho da justiça, e vocês não creram nele. Os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele” (vv. 31b-32a). Segundo os estudiosos, a expressão “entrar antes” é um modo de afirmar a exclusão. Não é que os cobradores de impostos e as prostitutas entram antes e os outros entram depois. Afirma, isso, sim, que os primeiros entram e os segundos ficam fora. E isso está de acordo com a parábola, pois o filho mais novo diz sim e acaba não indo trabalhar na vinha. Ressoa mais uma vez a afirmação de 5,20: “Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e fariseus, vocês não entrarão no reino do céu”.

Por que há pessoas que não entram no reino do céu? Porque não se sensibilizaram diante de João Batista nem com a adesão dos cobradores de impostos e prostitutas e, pior ainda, procuram sufocar o caminho da justiça, matando Jesus. Grave alerta para todos nós que nos julgamos seguidores de Jesus. Há muita gente por aí que, embora não freqüente igrejas e não se diga cristã, tem um sentido e uma prática de justiça muito mais acurados que os nossos. Exatamente como no tempo de Jesus. O sentido da justiça se encontrava precisamente naqueles que nada tinham a ver com a religião. Esta é grave previsão de futuro: encontrar o sentido da justiça longe das igrejas e das entidades religiosas, entre os discípulos anônimos do Mestre da Justiça. Por quê? Porque eles descobriram no hoje da nossa História a urgência da justiça que, por si só, já os faz participantes do Reino.

Eles vos precederão no Reino de Deus

As três parábolas lidas nos evangelho deste e dos dois domingos seguintes, tratam de um único tema: a rejeição do povo judeu que não quis escutar Jesus, e a sua substituição pelos pagãos.

Ninguém é marginalizado por Deus

A parábola dos dois filhos justifica a posição do Cristo diante dos “desprezados”, esta nova categoria de pobres. Cristo dirige a parábola aos sumos sacerdotes e anciãos, como faz, com outra do mesmo teor, aos fariseus (fariseu e publicano: Lc 18,9); replica a todos os que se escandalizam com sua predileção pelos pecadores, dizendo-lhes que estes estão mais próximos da salvação do que os que se consideram justos; entra em casa de Zaqueu, que durante anos usurpou os vencimentos de todos, deixa que uma prostituta lhe lave os pés, protege a adúltera contra os “puros” que a queriam apedrejar.

Sua vida deixa a Deus a possibilidade de manifestar-se como verdadeiramente é. Estas situações revelam, no fundo, a liberdade de Deus. A parábola se dirige, pois, aos que se fecham para a Boa-nova, aos que não querem reconhecer a identidade de Deus em nome da própria justiça e se consideram pagos por sua própria suficiência.

As prostitutas haviam dito “não”

A fidelidade a Deus e a justiça não se julgam pelo dizer “sim” ou pela vinha que se possui (figura da pertença racial ao povo eleito!), mas pelos fatos. Trata-se de eliminar as discriminações sociais que a tradição hebraica elaborou. O que importa não é agir como a tradição ensina. É necessário ter coragem de sujar as mãos e de se arriscar na busca de novos valores mais próximos da liberdade, do amor, da felicidade do homem. É pelas obras que se julga a pertença. “Nem todo que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus” (Mt 7, 21). As palavras, as ideologias podem enganar, podem ser uma ilusão. Descobre-se a verdade do homem por suas obras. Elas não dão margem a equívocos. Só então o homem mostra o que é. Compreendemos então aquela palavra de Jesus, que provoca escândalos aos ouvidos dos que se pretendem bons: “Em verdade vos digo: os publicanos e as prostitutas vos precederão no reino de Deus”. Oficialmente, conforme as categorias religiosas e os critérios morais exteriores da época, eles tinham dito “não”, mas de fato o que importa é sua profunda disponibilidade: a vontade de cumprir, não com palavras, mas com fatos, as obras de penitências.

Deus não decidiu, um dado momento da história, rejeitar Israel e adotar as nações pagãs. Foi o comportamento perante o Messias que os fez perder o papel que desempenhavam na ordem da mediação. O modo como viviam o seu “sim” à Lei os levou a dizer “não” ao evangelho.

Para além das práticas

Existe ainda uma concepção exterior e quantitativa da religiosidade dos grupos e das pessoas (como se só fosse possível medir a religiosidade pela pertença sociológica ou a presença a certas práticas religiosas facilmente verificáveis: missa, sacramentos, orações, devoções, esmolas...) Contribuem para provocar este equívoco certas pesquisas sócio-religiosas que codificam convencionalmente uma escala de religiosidade e de pertença eclesial que, se de certo ponto de vista obriga a abrir os olhos para situações penosas, de outro está bem longe de esgotar o complexo fenômeno da religiosidade, tanto de grupo como individual.

Para além da prática e da pertença exterior e jurídica, existe uma presença e um evidente influxo cristão e evangélico em camadas de populações aparentemente marginais e alheias.

A religião, como é vivida pelos cristãos, apresenta diversos níveis e modalidades de experiência. Pode ser vivida como uma soma de práticas, de devoções, de ritos, como fins em si mesmos; como uma visão do mundo e das coisas; como um critério de juízo sobre pessoas, valores, acontecimentos. Pode manifestar-se como código moral e norma de ação ou como integração fé-vida, isto é, como síntese no plano do juízo e da ação, entre a mensagem do evangelho e as exigências e os esforços da própria vida pessoal e comunitária.

O cristão opera a integração fé-vida. Isto é, o “sim” de sua fé se torna o “sim” de sua vida; a palavra e a confissão dos lábios se tornam ação e gesto das mãos. Assim, a discriminação entre o “sim” e o “não” não passa través das práticas e da observância das leis, mas através da vida.


A