Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

Para você entrar em nossos artigos click nas imagens nas laterais e encontrarás os lincks dos artigos postados.

Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Pede à Quaresma

«E logo o espírito o impeliu para o deserto. E ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás» (Marcos 1, 12).

Pede à Quaresma que te ensine o caminho do deserto. Para que o teu coração se deixe purificar. Da tentação de tudo possuir. Do egoísmo do não-compromisso. Da ganância do isolamento. Ou da onipotência de tudo realizar. E querer ser deus. E da ousadia de não saber esperar. E da certeza de possuir a verdade.
Pede à Quaresma que te mostre o caminho do deserto. Onde Jesus te dará o pão da Palavra e do silêncio. No deserto o coração saberá encontrar o silêncio que regenera e reinventa. No deserto o silêncio fará do teu coração uma fonte de onde pode jorrar a verdade de Deus.

«Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles» (Marcos 9, 2).

Pede à Quaresma que te ensine o caminho da montanha. Para que ouses subir ao lugar do encontro com o Deus da vida e da história. Na montanha contemplarás o Rosto. E fixarás nele o olhar. E descobrirás nele o teu rosto. E contemplarás todos os horizontes. Os do teu coração e todos aqueles onde o humano se espraia em tantos desafios.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho da montanha. E ousarás descer para que o teu olhar de encantamento incendeie a vida por onde passas. E sejas sinal de ressurreição.

«Chegou, então a uma cidade da Samaria, chamada Sicar… Ali se achava a fonte de Jacob... Uma mulher da Samaria chegou para tirar água.» (cf. João 4, 5-7).

Pede à Quaresma que te ensine o caminho do poço de Sicar. Sentado à beira desse lugar de encontros singulares está Alguém que te oferecerá água viva. Outrora uma samaritana deixou-se enamorar pelo olhar e pelo coração livre de um sedento. Também ela não ousou recusar dessa água que sacia todas as sedes.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do poço de Sicar. Para que Deus se sente contigo e te sacie. E o teu poço-coração possa recriar-se e ser fonte. E alimentar outras nascentes. Também as que teimam em não jorrar. E saciar todas as sedes e as de todos os que se cruzam com a borda do teu poço.

«Partiu, então, e foi ao encontro do seu pai. Ele ainda estava ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos» (Lucas 15, 20).

Pede à Quaresma que te ensine o caminho para o abraço de Deus. O caminho para esse lugar onde a festa nunca termina. O caminho para esse lugar de onde saíste para viver a vida do sem rumo e do sem sentido. Porque querias ser livre. Porque querias escutar as mil melodias que ainda não tinham sido tocadas no teu coração. Em vez disso a vida empurrou-te para um lugar de desespero onde nem as bolotas eram tuas amigas.

Pede à Quaresma que te ensine o caminho para o abraço de Deus. E ousa recomeçar. E ser filho. E vestir o traje da festa que o Amor prepara para ti a todo o instante.

«Não é preciso que vão embora. Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mateus 14, 16).

Pede à Quaresma que te ensine o caminho do coração do irmão. Daquele que está debruçado sobre o próprio coração em sangue. O coração daquele que a vida atirou para a beira da estrada e que agora espera um qualquer samaritano. O coração e a vida daquele que este tempo defraudou espera que tu sejas consolo e abrigo. Também abraço.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho do coração do irmão. E ousa partilhar da tua pobreza. Daquilo que mesmo fazendo-te falta suavizará a dor de quem já nada tem. De quem já não tem onde morar ou de que se alimentar. Pede à Quaresma que te ensine o caminho da partilha e o coração do irmão pulsará com renovada esperança.

“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só: mas se morrer, produzirá muito fruto” (João 12, 24).

Pede à Quaresma que te ensine o caminho de Jerusalém. A cidade santa espera que os teus passos sigam firmes na senda d’Aquele que já fez o mesmo caminhar. Arrisca nesse seguimento. Mesmo que a luz teime em esmorecer dentro de ti. Mesmo que te impeçam de caminhar atrás do Mestre. A cidade santa espera por ti.
Pede à Quaresma que te ensine o caminho de Jerusalém. Porque a vida e a felicidade que tanto desejas também passa por lá. Não ouses voltar as costas à cruz que a cidade te entrega. Segue atrás desse desejo de vida que nenhuma dor será capaz de enterrar.

Pede à Quaresma que te ensine o caminho de Jerusalém. E deixa-te morrer. A terra que és será nova quando o milagre do grão de trigo irromper.

Pe. Manuel Afonso de Sousa, CSh

Rezar para chegar a Deus


São Mateus 7, 7-11

Rezar não é perder tempo… “Todos Te procuram”.

Há uma espécie de reprimenda nas palavras dos apóstolos.

É verdade: há tantos doentes a curar, o sofrimento é um oceano inesgotável!

Então, porque Se retira Jesus para um lugar deserto para rezar?

Face às urgências do momento, não deveria ficar no meio dos pobres para os aliviar?

Porém… As curas corporais, por mais importantes que sejam, têm apenas um tempo. Todos os miraculados de Jesus são mortos! Então Jesus quer fazer compreender que os seus milagres são sinais que apontam para outra realidade, infinitamente mais importante: a sua vitória sobre o único mal que pode verdadeiramente matar os homens, o pecado, a recusa do amor.

É para isso que o seu Pai O enviou. Jesus deve, pois, alimentar-Se desta vontade do Pai, para a cumprir até ao fim.

Passar tempo a rezar não é perder o seu tempo. Pelo contrário, é deixar a vontade do seu Pai invadi-l’O cada vez mais.

É isso que Jesus quer fazer compreender aos discípulos de então e de hoje: é preciso que também eles se enraízem cada vez mais profundamente neste amor do Pai.

Então poderemos tornar-nos testemunhas eficazes deste amor, que se transbordará, sem dúvida, no serviço muito concreto aos pobres e aos doentes, e que abrirá perspectivas sobre o nosso verdadeiro destino: a vida eterna junto do Pai.
A oração de Jesus não é o grito de um desesperado
***

Queridos irmãos e irmãs,

Pregado na cruz, Jesus lança este grito: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» No momento extremo da sua rejeição pelos homens, Ele reza, deixando transparecer tanto a solidão do seu coração como a certeza da presença do Pai, a quem reafirma plena adesão aos seus desígnios de salvação da humanidade.

Mas, como é possível que Deus não intervenha para libertar o seu Filho desta prova terrível?

É importante compreender que a oração de Jesus não é o grito de um desesperado, que se sente abandonado. Mas, ao rezar um salmo de Israel - as palavras referidas são o início do salmo 22, Jesus toma sobre Si o sofrimento do seu povo e de todos os homens oprimidos pelo mal e leva-o até ao próprio coração de Deus, seguro de que o seu grito será atendido na ressurreição.

Enfim Jesus vive o seu sofrimento em comunhão conosco e por nós; é um sofrimento que brota do amor e, por isso, já contém em si a redenção, a vitória do amor.

* * *

"O amor de Deus é mais forte do que qualquer mal"
Queridos irmãos e irmãs!

Domingo passado vimos que Jesus, na sua vida pública, curou muitos doentes, revelndo que Deus quer para o homem a vida, a vida em plenitude. O Evangelho deste domingo (Mar 1, 40-45) nos mostra Jesus em contato com a doença considerada naquele tempo, a mais grave, a ponto de render a pessoa “impura” e de excluí-la das relações sociais: falamos da lepra. Uma legislação especial (cfr Lv13-14) reservava aos sacerdotes a tarefa de declarar a pessoa leprosa, ou seja, impura; e da mesma maneira cabia ao sacerdote constatar a cura e readmitir o doente curado na vida normal.

Enquanto Jesus andava a predicar pelos vilarejos da Galileia, um leproso lhe veio ao encontro e lhe disse: “Se queres, tens o poder de curar-me!”. Jesus não foge do contato com aquele homem, ao contrário, impulsionado por uma íntima participação à sua condição, estende a mão e o toca – superando a proibição legal – e lhe diz: “Eu quero: fica curado!”. Naquele gesto e naquelas palavras de Cristo está toda a história da salvação. Está encarnada a vontade de Deus de curar-nos, de purificar-nos do mal que desfigura e que arruína as nossas relações. Naquele contato entre as mãos de Jesus e o leproso é abatida toda barreira entre Deus e a impuridade humana, entre o sagrado e o seu oposto, não para negar o mal e a sua força negativa, mas para demonstrar que o amor de Deus é mais forte do que qualquer mal, mesmo aquele mais contagioso e horrível. Jesus tomou sobre si as nossas enfermidades, se fez “leproso” para que nós fôssemos purificados.

Um esplêndido comentário existencial deste Evangelho é a célebre experiência de São Francisco de Assis, que ele reassume no início de seu Testamento: “O Senhor disse a mim, frei Francisco, para começar a fazer penitência assim: quando estava no pecado, me parecia algo muito amargo ver os leprosos; o Senhor mesmo me conduziu entre eles e usou com eles misericórdia. E afastando-me deles, aquilo que me parecia amargo foi transformando-se em docilidade de alma e de corpo . E então, sai do mundo”. Naqueles leprosos, que Francisco encontrou enquanto ainda estava “no pecado”, estava presente Jesus; e quando Francisco se aproximou de um deles, vencendo a própria aversão, o abraçou, Jesus o curou da sua lepra, isto é do seu orgulho, e o converteu ao amor de Deus. Eis a vitória de Cristo, que é a nossa cura profunda e a nossa ressurreição a vida nova!

Queridos amigos, dirijamo-nos em oração à Virgem Maria, que ontem celebramos fazendo memória de sua aparição em Lourdes. À Santa Bernadete, Nossa Senhora entregou uma mensagem sempre atual: o convite à oração e à penitencia. Através de sua Mãe é sempre Jesus que vem ao nosso encontro, para liberar-nos de toda doença do corpo e da alma. Deixemo-nos tocar e purificar por Ele, e usemos misericórdia para com nossos irmãos!

As palavras de Bento XVI durante o Ângelus deste VI Domingo do Tempo Comum

CIDADE DO VATICANO, 12 de fevereiro de 2012 – Às 12 horas

***



EU QUE VOS ESCOLHI DO MEIO DO MUNDO

S. João 15,18-21.


«Como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia»

O Senhor quis que nos alegrássemos, que rejubilássemos de alegria quando somos perseguidos (Mt 5, 12), porque, com as perseguições, vem-nos também a coroa da fé (Tg 1, 12), pois é nessa altura que os soldados de Cristo dão prova do que são, que os céus se abrem ao seu testemunho. Não pertencemos à milícia de Cristo para vivermos descansados, para repousarmos durante o serviço, quando o Mestre da humildade, da paciência e do sofrimento pertenceu à mesma milícia antes de nós. E aquilo que Ele nos ensinou, que foi o primeiro a cumprir e que nos exorta a cumprirmos também, foi que Ele próprio sofreu antes de nós e por nós.

Para participarem nas competições dos estádios, os homens exercitam-se, treinam, e são objeto de grandes honras quando, diante da multidão, recebem o prêmio. Mas eis aqui uma prova ainda mais nobre e extraordinária, em que é diante de Deus que combatemos, nós que somos Seus filhos, e em que Ele mesmo nos concede a coroa celestial (1Cor 9, 25). Também os anjos nos olham e é Cristo Quem nos assiste. Armemo-nos pois com todas as nossas forças para travarmos o bom combate, de alma generosa e fé íntegra.


Pe. Emílio Carlos +


«Eis aqui está quem é maior do que Salomão (...) e eis aqui está quem é maior do que Jonas»

O Evangelho Lc 11,29-32 nos convida a centrar nossa esperança no mesmo Jesus Cristo. O próprio João Paulo II escreveu que «não será uma Fórmula a salvar-nos, mas uma Pessoa, e a certeza que Ela nos infunde: ‘Eu estarei convosco!’».

Deus — que é Pai— não nos abandonou: «O cristianismo é graça, é a surpresa de um Deus que, não satisfeito com criar o mundo e o homem, saiu ao encontro da sua criatura» (João Paulo II).

Encontramo-nos começando a Quaresma: Não deixemos passar a oportunidade que nos oferece a Igreja: «É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação» (2Cor 6,2) Depois de contemplar na Paixão o rosto doloroso de Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda pediremos mais sinais de seu amor? «Aquele que não cometeu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus» (2Cor 5,21). Mais ainda: «Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como é que, com ele, não nos daria tudo?» (Rom 8,32). Ainda queremos mais sinais?

No rosto ensanguentado de Cristo « Eis aqui está quem é maior do que Salomão (...) e eis aqui está quem é maior do que Jonas» (Lc 11,31-32). Este rosto sofrido da hora extrema, da hora da Cruz —escreveu o Papa— é «Mistério no mistério, diante do qual o ser humano pode apenas prostrar-se em adoração. De fato, «Para transmitir ao homem o rosto do Pai, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar inclusivamente o ”rosto” do pecado» (João Paulo II). Queremos mais sinais?

«Eis o homem!» (Jo 19,5): Eis aqui o grande sinal. Contemplemo-lo desde o silêncio do “deserto” da oração: «O que todo cristão deve fazer em qualquer tempo [rezar], agora deve fazê-lo com mais solicitude e com mais devoção: assim cumpriremos a instituição apostólica dos quarenta dias» (São Leão Magno, papa).

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)


«Jonas sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração»


Quarta-feira da 1ª semana da Quaresma

Evangelho (Lc 11,29-32): E, ajuntando-se a multidão, começou a dizer: «Maligna é esta geração; ela pede um sinal; e não lhe será dado outro sinal, senão o sinal do profeta Jonas; Porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração. A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; pois até dos confins da terra veio ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui está quem é maior do que Salomão. Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas».

Reflexão:

«Assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração»

Hoje, Jesus nos diz que o sinal que dará à “geração malvada”, de fato, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração (cf. Lc 11,30). Da mesma maneira que Jonas deixou que o lançasse pela margem para acalmar a tempestade que ameaçava com afundá-los — e, assim, salvar a vida da tripulação—, do mesmo modo que Jesus permitiu que o lançassem pela margem para acalmar as tempestades do pecado que põem em perigo nossas vidas. E, de igual forma que Jonas passou três dias no ventre da baleia antes que esta o vomitara são e salvo a terra, assim Jesus passaria três dias no seio da terra antes de abandonar a tumba (cf. Mt 12,40).

O sinal que Jesus dará aos “malvados” de cada geração é sua morte e ressurreição. Sua morte, aceita livremente, é o sinal do incrível amor de Deus por nós: Jesus deu sua vida para salvar a nossa. E sua ressurreição de entre os mortos é o sinal de seu divino poder. Trata-se do sinal mais poderoso e comovedor jamais dado.

Mas, Jesus é também a sinal de Jonas em outro sentido. Jonas foi um ícone e um meio de conversação. Quando em sua prédicas «Jonas entrou na cidade e começou a percorrê-la, caminhando um dia inteiro. Ele dizia: «Dentro de quarenta dias, Nínive será destruída!» (Jon 3,4) adverte aos ninivitas pagãos, estes se convertem, pois todos eles — desde o rei até as crianças e animais— se cobrem com serapilheira e cinzas. No dia do julgamento, os homens da cidade de Nínive ficarão de pé contra esta geração. Porque eles fizeram penitência quando ouviram Jonas pregar. E aqui está quem é maior do que Jonas.” (cf. Lc 11,32) predicando a conversão a todos nós: Ele o próprio Jesus. Portanto, nossa conversão deveria ser igualmente exaustiva.

«Pois Jonas era um servente», escreve São João Crisóstomo na pessoa de Jesus Cristo, «mas eu sou o Mestre; e ele foi jogado pela baleia, mas eu ressuscitei dos mortos; e ele proclamava a destruição, mas vim a predicar a Boas Novas e o Reino».

Na semana passada, na quarta-feira de Cinza, nos cobrimos com cinza, e cada um escutou as palavras da primeira homilia de Jesus cristo, «O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia» (cf. Mc 1,15). A pergunta que devemos fazer-nos é: — Respondido já com uma profunda conversão como a dos ninivitas e abraçado aquele Evangelho?

Fr. Roger J. LANDRY (Hyannis, Massachusetts, Estados Unidos)

O sinal de Jonas
S. Lucas 11,29-32.

Naquele tempo, aglomerava-se uma grande multidão à volta de Jesus e Ele começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas.
Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração.
A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão!
Os ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.»

Reflexão:
O sinal de Jonas

Toda a história de Jonas no-lo revela como uma prefiguração perfeita do Salvador. [...] Jonas desceu a Jafa para apanhar um barco com destino a Tarsis [...]; o Senhor desceu do céu à terra, a divindade à humanidade, a Potestade soberana desceu até à nossa miséria [...], para embarcar no navio da Sua Igreja [...].

É o próprio Jonas que toma a iniciativa de se deitar ao mar: «Pegai em mim e lançai-me ao mar»; anuncia, assim, a paixão voluntária do Senhor. Quando a salvação de uma multidão depende da morte de um só, essa morte está nas mãos do homem que tem o poder de a atrasar, ou, pelo contrário, de a apressar, antecipando-se ao perigo. Todo o mistério do Senhor está aqui prefigurado. Para Ele, a morte não é uma necessidade; releva da Sua livre iniciativa. Escutai-O: «Ninguém Ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente. Tenho poder de a oferecer e poder de a retomar» (Jo 10,18) [...]

Reparai no enorme peixe, imagem horrível e cruel do inferno. Ao devorar o profeta, sente a força do Criador [...] e oferece com medo, a este viajante vindo do alto, a permanência nas suas entranhas. [...] E, três dias depois, [...] dá-o à luz, para o dar aos pagãos. [...] Foi este o sinal, o único sinal, que Cristo consentiu em dar aos escribas e aos fariseus (Mt 12,39), para lhes fazer compreender que a glória que esperavam lhes viesse de Cristo iria também voltar-se para os pagãos: os ninivitas são o símbolo das nações que creram n'Ele. [...] Que felicidade para nós, meus irmãos! Nós veneramos, vemos e possuímos, face a face e em toda a Sua verdade, Aquele que tinha sido anunciado e prometido simbolicamente.

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 37; PL 52, 304-306

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

DEUS ME CONHECE! EU O CONHEÇO?

“Até hoje, apenas Deus sabia que eu era dele, agora, eu também sei”. Parece frase de um santo famoso. Mas, não é. É frase de um adolescente que participara de um retiro espiritual. Essa afirmação não nasceu de um estudo sistemático de alguma obra teológica ou da síntese de uma aula com o conteúdo de espiritualidade, mas de uma experiência pessoal que ele fez de Deus. Não apenas refletiu sobre Deus, mas saboreou Deus. Deus é sua delícia eterna. Verdadeiro amigo.

Esse encontro com Deus acontece na liberdade. Ninguém pode obrigar outra pessoa a fazer experiência de Deus. Podem, sim, nos conduzir, facilitar o caminho, mas nunca pelo uso da força ou coerção. Isso é tão verdadeiro que até mesmo Santo Agostinho já afirmava que “Quando encontrares em Deus a tua delícia, serás livre”.

É uma atitude de verdadeira fé. É interessante que, quando não temos fé, tudo justificamos. Agora, quando é a fé que nos conduz, temos a coragem de nos abandonar em Deus. O que aconteceu com este adolescente? Teve coragem.
Se abandonou em Deus. Não se deixou prender pelos rótulos que lhe são conferidos por uma sociedade altamente ambígua que, ao mesmo tempo em que enaltece a jovialidade dos adolescentes, também os condena por suas irresponsabilidades, imaturidade e descrença a respeito de tudo.

A fé faz a pessoa enxergar aquilo que ninguém enxerga. É o fundamento da esperança, é a certeza antecipada. A fé amadure mesmo numa idade precoce. Para viver em Deus não há idade determinada. Deus não nos quer somente quando adultos. Toda hora, toda idade é de Deus.
Essa fé é alimentada por uma comunhão íntima com o Senhor. Ela não nasce e não se prolonga por um acaso. Mas é fruto de um segredo revelado pelo próprio Jesus “Contou-lhes uma parábola para lhes mostrar a necessidade de orar em todas as circunstâncias sem desanimar” (Lc 18,1-8).

Oração: estrada que me leva a Deus

Nós temos fé nas pessoas. Quantas vezes acreditamos nas pessoas mesmo sem conhecê-las. Ir a um restaurante pela primeira vez e acreditar que a comida feita por alguém estranho nos fará bem e nos saciará, é ter fé naquela pessoa. Podemos confiar nos homens e não confiar em Deus. É um grande risco que todos corremos. Por isso que a oração é um ponto de encontro. Deixamos Deus entrar em nosso coração. Coração que se abre pelo lado de dentro. E sabemos bem que Deus tem o alimento que nos salva e nos sacia eternamente.

Oração é comunhão profunda. É encontro íntimo. É entregar-se e receber totalmente. Reciprocidade sem limites que acontece na liberdade total. Ninguém sai triste de um encontro verdadeiro com Deus. Aquele adolescente estava radiante de felicidade. Disposto a canalizar suas energias nos seus relacionamentos, dedicar-se ao movimento de adolescentes de que participa, valorizar e ser um missionário evangelizador na Igreja. Resumindo: ser um adolescente de Deus no mundo. Um adolescente reflexo de Deus.
Muitos vivem frustrados nos seus projetos, relacionamentos, sonhos porque não confiam, não depositam fé em Deus. Quando falta a oração, falta coragem. Quando falta fé, inexiste perseverança. Sem Deus ninguém persevera.

A experiência de Deus deve ser feita a cada dia. Não precisamos apenas esperar por um retiro. Se o pudermos fazer, melhor. Mas creia: se perseverarmos na oração não seremos dominados pelo desânimo. Em nossa programação diária precisamos de um espaço para a oração. Não oração diplomática, decorada. Mas oração diálogo, encontro com nosso amigo eterno. Coração de adolescente vive bagunçado? Muitos crêem que sim. Mas de adulto também. Então nos resta crer que somente quando repousarmos em Deus nosso coração encontrará paz. Deus já nos conhece: é preciso aprender com o santo adolescente do último final de semana: agora eu conheci Deus.

Éderson Iarochevski

A Quaresma vem ao nosso encontro

Um dos mais espantosos apelos de Quaresma que conheço não foi assinado por um eclesiástico, nem por um teólogo, mas sim por um poeta. Escreveu-o T.S.Eliot em 1930, três anos após a sua conversão, e deu-lhe um nome austero, sem o cômodo encosto que por vezes é o dos adjetivos: chamou-lhe simplesmente “Quarta-feira de Cinzas”. Nesse poema, dizem-se três coisas fundamentais. Se as soubermos ouvir, percebemos que elas correspondem a caminhos muito objetivos (a mapas pessoais e comunitários) de conversão. E não é esse o desafio da Quaresma, e desta Quaresma em particular?

1. A Quaresma vem ao nosso encontro para que nos reencontremos. Os traços que o poeta desenha coincidem dramaticamente com os do nosso rosto: vivemos uma vida que não é vida, acantonada entre lamentos e amoques, sem saber aproveitar verdadeiramente a oportunidade que cada tempo constitui, como se tivéssemos capitulado no essencial, e passássemos a olhar para as nossas asas (e para as dos outros) sem entender já o papel delas. “Esmorecendo, esmorecendo”.

2. A Quaresma vem ao nosso encontro para nos devolver ao caminho pascal. O que é que nos dá o sentido de redenção no tempo? – pergunta o poema. E o poema evangelicamente responde: o sentido de transformação é-nos dado quando aceitamos trilhar um caminho. O que nos permite passar do cerco das coisas triviais à revigoração da fonte, o que do sono nos dá acesso à vigília iluminada da vida é aceitarmos o desafio de nos fazermos de novo à estrada, e à estrada menos óbvia e mais adiada que é aquela interior. A Páscoa é a grande possibilidade de revitalização. Mas é preciso consentir naquela imagem brutalmente verdadeira do profeta Ezequiel: por agora somos mais uma sucata de restos, do que uma primavera do Espírito.

3. A Quaresma vem ao nosso encontro para que a tensão criadora do Espírito de Jesus redesenhe em nós a vida. Interessantes são os verbos que o poeta usa como prece: “que sejamos instigados”, “que sejamos sacudidos”.

A Quaresma faz-nos passar do “deixa andar”, e do viver espiritualmente entorpecido ao estado da corda tensa. Aquela que é capaz de avizinhar da nossa humanidade reencontrada a música de Deus.

José Tolentino Mendonça




Escolher amar

2ª Semana da Quaresma

Meditação

1 João 3,11-18

Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim que, sendo do Maligno, assassinou o seu irmão. E porque o assassinou? Porque as suas obras eram más, ao passo que as do irmão eram boas. Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte. Todo aquele que tem ódio a seu irmão é um homicida; e vós bem sabeis que nenhum homicida mantém dentro de si a vida eterna. Foi com isto que ficamos a conhecer o amor: Ele, Jesus, deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos. Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele? Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade. (1 João 3,11-18)

Em nenhuma outra passagem da primeira carta de S. João a palavra «irmão» aparece tão frequentemente como nestes versículos: no plural ou no singular encontramo-la sete vezes. E, surpreendentemente, na história de Caim e Abel, a que a nossa passagem de refere (Gênesis 4,1-16), a mesma palavra é também repetida sete vezes. É talvez apenas uma coincidência, mas que imediatamente nos orienta numa direção: quando irmãs ou irmãos estão juntos, amar não é algo automático. Podem aparecer rivalidades e surgir conflitos: então, como comportar-nos?

«Não como Caim», diz a nossa passagem (v.12), mas como «aquele» (v.16) E «aquele» é obviamente Jesus. Como se o autor estivesse a apontar o dedo para ele.

Caim sentiu-se ameaçado pelo seu irmão, porque Abel era, aparentemente, mais bem aceite. De modo a não sentir esta ameaça ele tinha de eliminar o irmão, afastá-lo do seu horizonte. Ao passo que «aquele», Jesus, o que fez? Ele foi capaz de «dar a vida pelos seus irmãos e irmãs», a sua vida terrestre, passageira e frágil (a sua «alma», como o texto refere no versículo 16). Enquanto o primeiro viveu de fato num mundo de morte, não apenas onde tudo acaba por sucumbir à morte, mas onde a morte é infligida àqueles que nos ameaçam, o último coloca-nos numa situação totalmente oposta. Graças a ele firmamo-nos na vida (v.14) e essa vida é eterna (v.15). Assim, é possível abrirmo-nos aos outros (v.17) sem nos sentirmos ameaçados, e dar-lhes tudo, até a nossa própria vida (v.16).

Para o autor da carta, o amor fraterno está no coração desta oposição entre vida e morte. Amar significa fazer uma escolha. Devemos «escolher amar», como escreveu o irmão Roger. Apesar de alguns textos judaicos sugerirem que devemos ter pena de Caim, já que ele habita em todos nós, devemos escolher não ser como ele. Devemos escolher a vida oferecida em Cristo, e não o mundo de morte que nos rodeia naturalmente.

Amar significa viver e dar vida. Viver a única verdadeira vida, que é a vida eterna. Recebê-la sempre, mesmo se não merecemos, e comunicá-la a outros, pobres como nós. É possível que esta carta se oponha às ideias de alguns cristãos que, na procura de pensamentos espirituais superiores, sentiram que estavam acima do crente comum, e desprezaram gestos como o de abrirem os seus corações e partilharem as suas posses (v.17).

O amor tem sempre um movimento descendente. Nunca está satisfeito com palavras, ideias ou sentimentos. É tocado pela verdadeira miséria que vê, que o perturba. Procura formas de lidar com isso. Oferece-se incansavelmente e nunca recua perante o mais humilde e penoso trabalho.

No entanto, S. João liga esta necessidade de fazer prova do amor pela ação com um apelo urgente ao amor «com verdade» (v.18). Mas com isso ele não quer dizer que, acima de tudo, o amor deva ser sincero e passar no teste da verdade. Para ele a palavra «verdade» aponta para o que Deus mostrou de si próprio, para o modo como Jesus mostrou o que é o amor (v.16).

Apesar de todos termos algumas noções sobre o amor e a ele aspirarmos, não sabemos, na realidade, o que o amor é. Nem sempre aquilo a que chamamos amor é, de facto, amor. Para descobrirmos tudo o que a palavra abarca temos que olhar cuidadosamente para o exemplo de Jesus, que nunca se coloca acima dos seus irmãos e que, além disso, não hesitou em dar a sua vida. A verdade do nosso amor não é avaliada exclusivamente com critérios puramente psicológicos ou humanos. Consiste no que Jesus nos permitiu ver e perceber.

Poderíamos resumir a passagem dizendo que amar significa escolher a vida e a verdade. Se estas palavras já não possuem a plenitude e a profundidade do significado que tiveram para João, tornemo-las, ainda assim, atrativas dando-lhes a frescura e amplidão reveladas em Jesus.

Para rezar :

- Se para os Cristãos amar é uma tarefa, um mandamento, o que fazer para se ter uma certeza cada vez maior de que nada é tão belo como amar – tendo em conta que o amor conquista a morte?

- Como podemos enraizar cada vez mais o nosso amor pelos outros numa vida verdadeira?

-Como podemos orientá-la de acordo com a verdade do Evangelho?

post:Pe.Emílio Carlos+

AUTORIDADE COMPASSIVA


"Se queres, podes purificar-me" (Mc. 1,40)


Só o horizonte do "querer" de Deus é garantia de superação de um horizonte que limita demais a expa
nsão da vida. A partir do “querer” de Deus, nosso “querer” se amplia: no encontro dos dois “quereres”, algo novo acontece.

O parâmetro único e insubstituível é o querer de Deus. Só este querer é a garantia de um exercício de autoridade que se toma incontestavelmente um serviço à vida. Não é uma satisfação pessoal, nem um perpetuar situações favoráveis, cômodas ou agradáveis com o risco de uma incapacidade para ver as necessidades dos outros.

Em Mc. 1,40-45, o leproso, dentro de sua necessidade, reconheceu que o "querer" é de Deus. A súplica que brota do seu coração toca o centro do coração compassivo de Jesus. Esta escuta direciona a ação terapêutica d'Ele. A lição do coração de Jesus é única; outro percurso é sempre perigoso e cria cenários de violência, exclusão, sofrimento...

O sentimento que baliza e dá a tônica no exercício da autoridade de Jesus é a compaixão.

Jesus revela sua autoridade e esta é o caminho para o serviço e a promoção da vida.

A autoridade de Jesus é sempre percebida como garantia e sustento da vida. Tem "autoridade" quem garante a vida e a recupera em todas as circunstâncias.

A compaixão esvazia toda pretensão de poder, pois ela projeta a pessoa para o outro, torna a pessoa sensível ao clamor e às necessidades do outro. A compaixão, que toma conta do seu coração, é fruto do corajoso deslocamento para a margem, para a necessidade do outro. A autoridade de Jesus é sempre percebida como garantia e sustento da vida. Tem "autoridade" quem garante a vida e a recupera em todas as circunstâncias.A vida do outro é a razão única da autoridade.

O outro, sua necessidade e sofrimento, será sempre a alavanca que gera no coração humano a compreensão e o exercício da autoridade como verdadeiro serviço.

Só a compaixão desloca cada um para o lugar do outro. Só a compaixão ilumina a realidade do sofrimento do outro. Só a compaixão move na direção da oferta do outro.

O fato de que Jesus se aproxime dos doentes e se deixe tocar por eles, ou de que os cure de forma pouco ortodoxa, era um atentado contra as normas de pureza que foi imposta à sociedade palestina daquele tempo. Jesus não teve receio em transgredir estas normas, pois só assim podia se aproximar daqueles que estavam em situação de exclusão.

O que chama a atenção é a “gestualidade” de Jesus: Ele se aproxima dos homens e mulheres de sua época, toca os enfermos, impõe as mãos, toma as pessoas pela mão, estende as mãos...As verdadeiras curas e milagres de Jesus são, antes de tudo, gestos de “humanização evangélica”: de purificação humana, de libertação pessoal, de abertura à fé... que mostram que o dinamismo final do Reino implica na destruição da enfermidade e da dor.

Em Jesus a “comoção das entranhas” é o núcleo de sua ação curativa.O sofrimento da multidão desperta n’Ele a compaixão e o amor. Curar é sua forma de amar e seu amor curador o impulsiona à proximidade, estima ao enfermo, respeito à capacidade de cura da própria pessoa. Seu amor que cura é gratuito.

Ao curar fisicamente uma pessoa, Jesus busca fazer emergir um ser humano mais são e inteiro, a partir de suas raízes, a partir de seu coração, centro e fonte das decisões. Jesus se compromete com a saúde radical e integral do ser humano, e devolve às pessoas a saúde de seu corpo, em suas emoções, projetos, relações e abertura ao Transcendente. Através das curas Ele mobiliza todas as dimensões da pessoa, reestrutura seu universo relacional e abre sua interioridade à alteridade; ao mesmo tempo Ele potencia a liberdade do ser humano, recuperando a autonomia e a capacidade de dar direção à própria vida.

A enfermidade e o sofrimento tem muito a ver com a fragmentação, a dispersão e a divisão.

A pessoa curada por Jesus recupera a harmonia, a unificação interior e a reconciliação com a vida.

Arriscar-se a curar o ser humano é arriscar-se a colocá-lo de pé, e encaminhá-lo na busca da verdade e da felicidade. A saúde implica viver desde a verdade. Não falamos de um caminho de perfeição farisaico mas de um caminho feito de feridas curadas, apoiado na autenticidade. “Curar”, para Jesus, significava levantar a cabeça daquele que estava encurvado pelo peso do legalismo e comprometê-lo responsavelmente a descer às profundezas de sua condição humana, para aí sentir-se em comunhão com todos os que foram gestados nas mesmas entranhas do Deus Pai-Mãe.

Ser curado implica assumir uma responsabilidade que leva a implicar-se na transformação pessoal e social. A saúde integral tem a “carga” da maturidade e da responsabilidade na própria vida e no próprio processo.

Seguindo a Jesus, sentimo-nos chamados não só a levar ajuda direta às pessoas que sofrem, senão também a reconstruir as pessoas em sua integridade, reincorporando-as à comunidade e reconciliando-as com Deus. Nossa missão encontra sua inspiração no ministério terapêutico de Jesus.

“Cuidar” de alguém é cuidar do que é saudável nele, porque é a partir desse estado de saúde que se poderá integrar e curar as feridas e fragilidades do outro. O cuidado mobiliza e potencia os recursos presentes no outro; é preciso despertar a consciência que todo ser humano tem reservas de riquezas, criatividade, inspiração, intuição..., e que toda pessoa precisa encontrar uma presença capaz de ativar e despertar o seu mundo interior.

Quando acolhemos a realidade e nenhuma venda nos impede ver o sofrimento do outro, a reação imediata é a compaixão; ela não se reduz a um mero sentimento empático; inclui, além disso, a ação por aliviar o sofrimento do outro e o risco de compartilhar seu destino.

A compaixão significa abraçar visceralmente, com as próprias entranhas, o sofrimento ou a situação do outro. Compadecer-se, aproximar-se, curar, cuidar... tecem a rede de ações que definem o compromisso solidário com o outro.

Na oração: pedir a graça de sentir a ternura, o carinho, a proteção e a cura das mãos benditas e providentes de nosso Deus;alargar o coração, para que aí a ternura e a compaixão de Deus possa fazer morada.

Pe. Adroaldo Palaoro sj


«E, orando, não useis de vãs repetições, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário»

Terça-feira da 1ª semana da Quaresma

Evangelho (Mt 6,7-15): «E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.
»Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; O pão nosso de cada dia nos dá hoje; E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém. Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas».

Reflexão:

«E, orando, não useis de vãs repetições, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário»

Hoje, Jesus –que é o Filho de Deus- me ensina a me comportar como um filho de Deus. O primeiro ponto é a confiança quando falo com Ele. Mas o Senhor adverte: «Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras» (Mt 6,7). Porque os filhos, quando falam com os pais, não usam raciocínios complicados, nem muitas palavras, mas com simplicidade pedem tudo aquilo que precisam. Sempre tenho a confiança de ser ouvido porque Deus –que é Pai- me ama e escuta. De fato, orar não é informar a Deus, mas pedir-lhe tudo o que preciso, já que «vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes» (Mt 6,8). Não seria um bom cristão se não oro, como não pode ser bom filho quem não fala habitualmente com seus pais.

O Pai Nosso é a oração que Jesus mesmo nos ensinou, e é um resumo da vida cristã. Cada vez que rezo ao Pai, nosso, deixo-me levar de sua mão e lhe peço aquilo que preciso cada dia para ser melhor filho de Deus. Preciso, não somente o pão material, mas —sobretudo— o Pão do Céu. «Peçamos que nunca nos falte o Pão da Eucaristia» Também aprender a perdoar e a ser perdoados: «Para poder receber o perdão que Deus nos oferece, dirijamo-nos ao Pai que nos ama», dizem as formulas introdutórias ao Pai Nosso da Missa.

Durante a Quaresma, a Igreja me pede para aprofundar na oração. «A oração é conversar com Deus, é o bem maior, porque constitui (...) uma união como Ele» (São João Crisóstomo). Senhor, preciso aprender a rezar e obter conseqüências concretas na minha vida. Sobretudo, para viver a virtude da caridade: a oração me da força para viver cada dia melhor. Por isso, peço diariamente que me ajude a desculpar tanto as pequenas chatices dos outros, como perdoar as palavras e atitudes ofensivas e, sobretudo, a não ter rancores, e assim poder dizer-lhe sinceramente que perdôo de todo coração a quem me tem ofendido. Conseguirei, porque em todo momento me ajudará a Mãe de Deus.

Rev. D. Joaquim FAINÉ i Miralpech (Tarragona, Espanha)

Índia americana será canonizada



A Conferência Episcopal Canadense expressou grande alegria pelo anúncio da futura canonização de Catarina Tekakwhita, feito no último Consistório Ordinário Público.
Tekakwhita é a primeira americana de origem indígena a ser elevada às honras dos altares. A data estabelecida para a cerimônia de canonização foi o dia 21 de outubro deste ano.

"Uma grande honra para toda a América do Norte, mas de modo particular para os povos indígenas" é o que dizem os bispos canadenses que também partilham essa alegria com seus irmãos norte-americanos.

Dom Richard Smith, Presidente dos Bispos Canadenses, escreve em nota: "Como nos recordou Bento XVI, os santos e as santas "através de seus diferentes percursos de vida, nos apontam diferentes itinerários de santidade, tendo todos um único denominador: ser Cristo e conformar-se com Ele, último objetivo de nossa peregrinação humana.

Apelidada de "lírio dos Mohawk", a Beata Catarina Tekakwhita nasceu na atual cidade norte-americana de Albany, na metade do século XVII. Foi rejeitada pela sua tribo após ser atingida por uma epidemia de sarampo que a defigurou e cegou, e ter-se convertido ao cristianismo. Refugiada no Canadá, passou os últimos dias de sua vida em profunda oração. Aos 24 anos entregou sua alma a Deus, quando começavam a desaparecer de seu rosto os sinais do sarampo que a cegou.

Fonte: Rádio Vaticano



AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO

S. João 15,12-17

Quanto mais unidos estamos ao próximo, mais unidos estamos a Deus. Vou dar-vos uma imagem retirada dos Padres para compreenderdes o sentido destas palavras. Pensai num círculo traçado no chão, isto é, numa linha feita com um compasso, a partir de um centro; ao meio do círculo chama-se justamente centro. Aplicai o vosso espírito ao que vos digo. Imaginai que este círculo é o mundo, que o centro é Deus, e os raios são as diferentes vias ou maneiras de viver dos homens. Quando os santos, desejando aproximar-se de Deus, se dirigem para o meio do círculo, na medida em que penetram no seu interior, aproximam-se uns dos outros ao mesmo tempo que se aproximam de Deus. Quanto mais se aproximam de Deus, mais se aproximam uns dos outros; e, quanto mais se aproximam uns dos outros, mais se aproximam de Deus.

E compreendeis que o mesmo acontece em sentido inverso, quando as pessoas se afastam de Deus para se retirar para o exterior; é então evidente que, quanto mais se afastam de Deus, mais se afastam uns dos outros, e, quanto mais se afastam uns dos outros, mais se afastam também de Deus.

Tal é a natureza da caridade. Na medida em que estamos no exterior e não amamos a Deus, nessa medida, distanciamo-nos do próximo. Mas, se amamos a Deus, quanto mais nos aproximamos Dele pela caridade, tanto mais comunicamos a caridade ao próximo; e, quanto mais unidos estamos ao próximo, mais unidos estamos a Deus.

Pe. Emílio Carlos +


«Rezai, pois, assim: 'Pai Nosso'»
S. Mateus 6,7-15.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:« Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos.
Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes.»
«Rezai, pois, assim:'Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino; faça-se a tua vontade, como no Céu, assim também na terra.
Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia; perdoa as nossas ofensas, como nós perdoámos a quem nos tem ofendido; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do Mal.’
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós.
Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas.»

Meditação:

«Rezai, pois, assim: 'Pai Nosso'»

Fora do serviço divino, que sou muito indigna de recitar, não tenho coragem para me obrigar a procurar nos livros belas orações; isso faz-me doer a cabeça, há tantas..., e todas tão belas, tanto umas como as outras...

Não quereria, contudo, minha Madre, que pensásseis que recito sem devoção as orações feitas em comum no coro ou nas ermidas. Pelo contrário, gosto muito das orações em comum, pois Jesus prometeu estar no meio daqueles que se reúnem em Seu nome (Mt 18,19-20). Sei que então o fervor das minhas irmãs faz as vezes do meu; mas rezar o terço sozinha (envergonho-me de o confessar) custa-me mais do que pôr um instrumento de penitência... Reconheço que o rezo tão mal! Por mais que me esforce por meditar os mistérios do rosário, não consigo concentrar a atenção... Durante muito tempo desolei-me por essa falta de devoção que me surpreendia, pois amo tanto a Santíssima Virgem que me deveria ser fácil rezar em sua honra orações que lhe são agradáveis. Agora desolo-me menos, pois penso que a Rainha dos Céus, sendo minha Mãe, verá a minha boa vontade e contentar-se com ela.

Algumas vezes, quando o meu espírito está numa secura tão grande que me é impossível arrancar-lhe algum pensamento para me unir a Deus, recito muito devagarinho um Pai Nosso e depois a saudação angélica [«Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Lc 1,28]. Então estas orações encantam-me, alimentam muito mais a minha alma do que se as tivesse recitado precipitadamente uma centena de vezes...

Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Manuscrito autobiográfico C, 25 r°-v°

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012



«Todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais pequenos,

foi a mim que o deixastes de fazer!»
Segunda-feira da 1ª semana da Quaresma

(Mt 25,31-46)

«Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, ele se assentará em seu trono glorioso. Todas as nações da terra serão reunidas diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos, à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente, e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me’. Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede, e te demos de beber? Quando foi que te vimos como forasteiro, e te recebemos em casa, sem roupa, e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’. Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’.

»Depois, o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. Pois eu estava com fome, e não me destes de comer; com sede, e não me destes de beber; eu era forasteiro, e não me recebestes em casa; nu, e não me vestistes; doente e na prisão, e não fostes visitar-me. E estes responderão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ Então, o Rei lhes responderá: ‘Em verdade, vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais pequenos, foi a mim que o deixastes de fazer!’ E estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna».

Meditação:

«Todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais pequenos, foi a mim que o deixastes de fazer!»

Hoje é-nos recordado o juízo final, «quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos» (Mt 25.31), e é-nos sublinhado que dar de comer, beber, vestir… resultam obras de amor para um cristão, quando ao fazê-las se sabe ver nelas o próprio Cristo.

Diz São João da Cruz: «À tarde te examinarão no amor. Aprende a amar a Deus como Deus quer ser amado e deixa a tua própria condição». Não fazer uma coisa que tem que ser feita, em serviço dos outros filhos de Deus e nossos irmãos, supõe deixar Cristo sem estes detalhes de amor devido: pecados de omissão.

O Concilio Vaticano II, e a Gaudium et spes, ao explicar as exigências da caridade cristã, que dá sentido à chamada assistência social, diz: «Sobretudo em nossos dias, urge a obrigação de nos tornarmos o próximo de todo e qualquer homem, e de o servir efetivamente quando vem ao nosso encontro, quer seja o ancião, abandonado de todos, ou o operário estrangeiro injustamente desprezado, ou o exilado, ou o filho duma união ilegítima que sofre injustamente por causa dum pecado que não cometeu, ou o indigente que interpela a nossa consciência, recordando a palavra do Senhor: «todas as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mt 25,40)»

Recordemos que Cristo vive nos cristãos… e diz-nos: «Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo» (Mt 28,20).

O IV Concilio de Latrão define o juízo final como verdade de fé: «Jesus Cristo há-de vir no fim do mundo, para julgar os vivos e os mortos, e para dar a cada um segundo as suas obras, tanto aos condenados como aos eleitos (…) para receber segundo as suas obras, boas ou más: aqueles com o diabo castigo eterno, e estes com Cristo glória eterna».

Peçamos a Maria que nos ajude nas ações de serviço a seu Filho nos irmãos.

Rev. D. Joaquim MONRÓS i Guitart (Tarragona, Espanha)

VÍTIMAS DO AMOR QUE NÃO É AMADO!

“A alma vítima é pó que todos têm o direito de pisar” (Maria da Conceição Pinto da Rocha. - Fundadora das Irmãs Reparadoras Missionárias da Santa Face).

Estas almas oferecidas segundo a sua vocação de “vítimas interiores pela redenção dos homens, continuando a redenção de Jesus Redentor...” (Cf. “Reparação Expiadora”, Ed das Irmãs Reparadoras Missionárias da Santa Face, Lisboa, 1967,ib. 9. 47-48) e o holocausto de Maria junto à Cruz (manuscrito de Junho de 1933).
Após estas palavras única palavra que me veio foi do Evangelho de Jesus (Mat 25,14-27) precisamente o versículo 15: “A cada qual segundo as suas capacidades!”.

Deus não é cruel meus filhos, Ele não pedirá nada além de suas forças e capacidades.

Perdão mas se sua entrega foi medindo suas conseqüências não foi uma oferta livre.
Foi condicionada e Deus não a tomou. Mas se foi livre Ele se incumbirá de pedir segundo as capacidades que o cordeirinho tem...
Você conhece os seus limites e até onde você pode ir, mas Ele sabe na onisciência até onde pode te exigir e pedir... Ou melhor, não lhe pedirá nada, pois tudo já é Dele.

Depois, o instante, que repercute por toda a vida e eternidade adentro, é o momento máximo da liberdade!

Ser livre é justamente escolher e definir-se entre duas ou mais possibilidades. É o momento, em que os anjos olham com fascinante expectativa para a decisão a ser tomada, ainda mais quando se trata da alternativa entre duas eternidades!

Ser livre não é fazer o que quero, mas é fazer o que devo!

Seguir uma missão é dar grandeza ao coração. É vencer todas as resistências. É seguir o apelo divino que chama a uma missão, a um serviço com generosidade alargada sem ficar com medo das conseqüências.

Ao dizer o SIM, a pessoa não está livre da angústia, da incerteza, da morte. O próprio Cristo disse SIM desde toda a eternidade à vontade do Pai, e, entretanto na cruz exclamou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”.
A resposta do homem deve ser constantemente reassumida. É no dia-a-dia que se deve ir fazendo caminho e assumindo os riscos do nosso SIM.


A vida não é feita só de momentos claros, nos quais se percebe perfeitamente a vontade de Deus. Muitas vezes é necessário seguir por caminhos escuros e até incomuns. Muitos devem lutar duramente para seguir sua missão-vocação. "A Palavra de Deus não dispensa ninguém de pensar, de tatear, de buscar, de tomar decisões".

Seguir uma missão-vocação é buscar incansavelmente uma resposta aos próprios anseios. Todo homem é chamado a decidir-se, a assumir os valores descobertos em si e não poupar esforços para alcançar os objetivos propostos.

Do que ter medo meus filhos... o medo não é para nós... o medo é para os pagãos, nós sabemos em quem colocamos nossa confiança. A nós somente o santo temor de perder a Deus.

Ele não pedirá ao seu cordeirinho o que não for capaz de lhe dar... Ele lhe pedirá tudo.
Assim queira tudo no Tudo ofertar sem reservas e medos. Deus não é cruel e nem padrasto, Ele é Pai e ele é bom e bom é tudo o que Ele faz.
Lembre-se o ouro, a prata só tem valor se provados no fogo.
Sua oferta e sua entrega só serão aceitas e será louvor para Ele quando passar pelo fogo do Amor.

Em nome de Jesus lhes digo meus filhos: "Deus fala continuamente, muitas vezes e de muitos modos" (Hb 1,1). É importante saber ler e interpretar tudo aquilo que se passa ao redor, para descobrir o plano de Deus a nosso respeito. Realizar o plano de Deus é realizar a própria felicidade. E Ele não esta interessado em nosso bem, mas na nossa Salvação!

Seguir uma missão-vocação é viver a vida com intensidade. É responder aos apelos de Deus. É renovar-se, converter-se, ir além, superar-se constantemente.

Toda missão-vocação é o resultado comum, de duas decisões livres:
• de Deus, escolhendo e chamando livremente o homem;
• do homem respondendo livremente ao apelo divino.

A missão-vocação vai despertando e se desenvolvendo lentamente, silenciosamente. Na entrega diária à vontade de Deus, descobre-se a verdadeira resposta.

Porque medos?

Homem algum consegue viver sem fazer, conscientemente, sua escolha. Todo homem deve dizer: "sim" ou "não" ao chamado que Deus lhe faz. A decisão deve ser livre. É o indivíduo que decide e ninguém mais deve influir sobre suas procuras.

A resposta que as grandes figuras da Bíblia deram a Deus foi uma resposta sem reserva, uma resposta que colocava o cumprimento da missão de toda a realização humana. Leia em sua Bíblia as seguintes vocações:
• Vocação de Abraão (Gn. 12,1);
• Vocação de Moisés (Ex. 3,7-10);
• Vocação de Samuel (I Sm 3,7-12);
• Vocação de Jeremias (Jr 1,4-10);
• Vocação de Isaias (Is 6,8-9ss);
• Vocação de Maria (Lc 1,28-38);
• Vocação de Paulo (At 9,3-6; 26,12-15; 22, 6-11).

Como nossa busca nunca será completa, também nunca daremos uma resposta perfeita. Todos os dias devemos voltar a escolher aquilo que Escolhemos, ou melhor, Fomos Escolhidos e desejamos alcançar.
Deus acompanha o homem: "Eu estarei contigo", diz incessantemente o Senhor. Ajuda a vencer as dúvidas, as vacilações, os momentos de incertezas, as horas de escuridão.

Ajuda a vencer a vontade de fugir à responsabilidade da missão-vocação, a tentação de dizer "não" e a virar as costas. E quem faz vencer todas as resistências, é a convicção de que Deus está com a gente. Ele acompanha o homem que procura dar uma resposta sincera, que tem fé. A função do homem é ter vontade firme e deixar-se conduzir por Ele.

Sê fiel à sua entrega e não fique pensando no que Ele irá pedir e como pedirá.

Cada missão, vocação é original, é fruto da liberdade, é um acontecimento pessoal, único e incomunicável. Tem como finalidade primeira a humanização da pessoa e o serviço do Reino.

Lembre-se que já lhes falei do Jogo do amor em que o Divino Esposo, Jesus me pede algo me dizendo: “Conto contigo” e eu, humildemente, na fraqueza e debilidade humana e no nosso nada respondemos: “Eis-me aqui!”.

Só que no “jogo do amor” entre Nós e Ele prossegue, pois também lhe dizemos todos os dias: “Conto contigo” e Ele, no seu amor infinito, nos responde: “Eis-me aqui!”.

É preciso que compreendamos o amor de Deus através da cruz, que é a loucura de Deus. Um abismo incompreensível, mas que exige a nossa resposta que nos constrange que nos impele à perfeição.

Entreguemo-nos como vitimas do Amor que não é amado!


Deus só e nada mais!

Pe. Emílio Carlos Mancini




REPLETA DO CONFORTO DO ESPÍRITO SANTO, A IGREJA VAI CRESCENDO

S. João 15,26-27.16,1-4.


«Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, [...] Ele dará testemunho a Meu favor
.

Repleta do conforto do Espírito Santo, a Igreja vai crescendo. Ele é a alma desta mesma Igreja. É Ele que faz com que os fiéis possam entender os ensinamentos de Jesus e o Seu mistério. Ele é Aquele que, hoje ainda, como nos inícios da Igreja, age em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e conduzir por Ele, e põe na sua boca as palavras que ele sozinho não poderia encontrar, ao mesmo tempo que predispõe a alma daqueles que escutam, a fim de a tornar aberta e acolhedora para a Boa Nova e para o reino anunciado.

As técnicas da evangelização são boas, obviamente; mas ainda as mais aperfeiçoadas não podem substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem Ele. De igual modo, a dialética mais convincente, sem Ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E ainda os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de valor.

Vivemos na Igreja um momento privilegiado do Espírito. Procura-se por toda a parte conhecê-Lo melhor, tal como a Escritura O revela. De bom grado as pessoas se colocam sob a Sua moção. Fazem-se assembleias em torno Dele. Aspira-se, enfim, a deixar-se conduzir por Ele. É um fato que o Espírito de Deus tem um lugar eminente em toda a vida da Igreja; mas é na missão evangelizadora da mesma Igreja que Ele mais age.

Não foi por acaso que o grande ponto de partida da evangelização sucedeu na manhã do Pentecostes, sob a inspiração do Espírito. Pode-se dizer que o Espírito Santo é o agente principal da evangelização [...]. Mas pode-se dizer igualmente que Ele é o termo da evangelização: de fato, sé Ele suscita a nova criação, a humanidade nova que a evangelização há-de ter como objetivo, com a unidade na variedade que a mesma evangelização intenta promover na comunidade cristã. Através Dele, do Espírito Santo, o Evangelho penetra no coração do mundo, porque é Ele que faz discernir os sinais dos tempos - os sinais de Deus-, que a evangelização descobre e valoriza no interior da história.

Pe. Emílio Carlos +



«Foi a Mim mesmo que o fizestes»

S. Mateus 25,31-46.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória.
Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos.
O Rei dirá, então, aos da sua direita: 'Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me,
estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’
Então, os justos vão responder-lhe: 'Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?
Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos?
E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’
E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: 'Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’
Em seguida dirá aos da esquerda: 'Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos!
Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber,
era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’
Por sua vez, eles perguntarão: 'Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’
Ele responderá, então: 'Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’
Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna.»


Meditação:

«Foi a Mim mesmo que o fizestes»

Jesus disse: «O que fizerdes ao mais pequeno dos vossos irmãos, é a Mim que o fazeis. Quando recebeis uma criança, é a Mim que recebeis. Se em Meu nome oferecerdes um copo de água, é a Mim que o fazeis» (Mc 9,37; Mt 10,42). E, para ter a certeza de que tínhamos entendido bem o que Ele disse, afirmou que é assim que seremos julgados na hora de nossa morte: «Tive fome e destes-Me de comer, era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me que vestir».

Não se trata apenas de uma fome de pão; é uma fome de amor. A nudez não diz respeito apenas ao vestuário; a nudez é também a falta de dignidade humana e desta magnifica virtude que é a pureza, tal como a falta de respeito duns pelos outros. Estar sem abrigo não é só não ter casa; estar sem abrigo é também ser rejeitado, excluído, mal amado.

Bem-Aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Jesus, the Word to Be Spoken, cap. 8


Maria, transparência de Deus

Em Sua Criação, uma palavra, entre todas as que o Pai pronunciou, foi absolutamente singular. Esta não poderia ser esplendor do divino sol, mas sombra doce e suave. Leve nuvem branca que, em seu percurso, vem suavizar a luz do sol, muito viva para os nossos olhos. Estava nos planos da Providência que o Verbo se fizesse carne. Uma palavra, a Palavra, deveria ser inscrita, em carne e sangue, aqui na Terra, e esta Palavra carecia de uma base, de um pano de fundo. As harmonias celestes desejavam, ardentemente, por amor a todos nós, transportar seu concerto único para as nossas tendas. Era preciso encontrar o silêncio para que o concerto ecoasse. Aquele que conduziria a humanidade, para dar sentido aos séculos passados, iluminar e arrastar os seres no seguimento dos Seus passos pelos séculos que viriam, deveria surgir na cena deste mundo. Porém, fazia-se necessária uma tela imaculada onde Ele pudesse resplandecer.

O maior entre todos os projetos que o Amor de Deus poderia imaginar, deveria ser traçado em linhas majestosas e divinas.

Uma paleta completa de virtudes estaria reunida num coração humano disposto a servi-Lo. Esta admirável sombra, a portar o sol dentro de si, cede-lhe lugar e nele se encontra; esta tela imaculada, este abismo insondável que contém a Palavra, o Cristo, e nele se perde, luz dentro da Luz; este sublime silêncio que já não mais se cala porque no seu interior cantam as divinas harmonias do Verbo; e que se torna, n´Ele, a nota musical entre todas as notas, o "lá" do canto eterno, elevando-se do Paraíso; o cenário majestoso e esplêndido como a natureza, onde se concentra a beleza derramada em profusão no universo, pelo Criador: Este universo reservado ao Filho de Deus, que se esquece de si próprio, tendo como interesse primordial Aquele que deveria descer à Terra e que desceu, Aquele que viria para cumprir Sua obra e que assim o fez; este arco-íris de virtudes que sugere e inspira a "paz" a todos os seres, ofertou a Paz ao mundo; esta criatura, criada pela Santíssima Trindade, em seu insondável mistério, e que nos foi ofertada, é Maria.


Chiara Lubich

In memorian.

Fundadora do movimento dos Focolares

Contemplação e experiência de Deus





Nossa estrutura de pensamento está condicionada pela visão antropocêntrica do mundo, herdada do Renascimento, mas ainda muito presente no pensamento contemporâneo. As correntes filosóficas, as ciências assim ditas humanas, as ciências positivas e técnicas e o direcionamento da cultura geral fazem com que o homem tenha a ilusão de ser o centro do universo.

Também no mundo religioso, tanto nos grandes movimentos de apostolado como no silêncio da contemplação, o homem continua voltando o pensamento para si mesmo. No apostolado, os grandes problemas da humanidade giram em torno da fome, da miséria, do analfabetismo e da guerra que o atingem. Na mística, são os estados de ânimo que preocupam o homem: “Deus, mesmo para aqueles que acreditam na sua existência, se existe, existe para o homem. É uma dimensão do homem” (Garaudy, Parole d’homme, Paris 1975).

Esta maneira de ver as coisas faz com que pareça estranha, anacrônica e inadmissível a concepção segundo a qual Deus é o centro para o qual convergem todos os movimentos. Nesta concepção o homem e as coisas passam ao segundo plano, dando espaço para a manifestação do Único Absoluto.

Um outro dado importante que podemos ponderar é a respeito da nossa rotina quotidiana. Nós vivemos recebendo uma grande invasão de informações que nem sempre nos levam a maior interioridade e intimidade com Deus. Em geral, somos muito atarefados com reuniões, visitas, celebrações, entrevistas de aconselhamento. Vivemos cheios de compromissos, de planos e projetos. Tudo isso indica que nossas vidas, pastoral e consagrada, tendem a ser tremendamente secularizadas.
Posto isto, ponho-me a refletir sobre a proposta de nossos retiros pessoais e em rever a nova vida no silêncio e na oração buscando conjugar nossas vidas de oração, contemplação e ação com dias de exercício de contemplação e experiência de Deus”.

Percebo que na Igreja quando se fala muito de contemplar , rezar, oração exercícios espirituais e agora quaresma tempo forte de busca da oração que transforma a vida o coração a existência cristã colhemos os sentimentos em relação a esta proposta algumas dificuldades e resistências. A simples idéia de parar, deixar as nossas atividades, empenhos pastorais, causa uma sensação de perda de tempo. Por outro lado, percebe-se que os fiéis e mesmo os religiosos e sacerdotes sentem a necessidade de maior exercício de contemplação e oração, mas esbarramos sempre no quesito do tempo, dos compromissos pastorais, das necessidades do povo. Ficamos profundamente atingidos e de certa forma dependentes das reações do meio e do momento. Temos enorme dificuldade de parar, fazer silêncio e acolher o convite à transformação.

A resolução parece a buscar uma decisão muito sábia em benefício da qualidade de nosso testemunho de vida nas atividades e compromissos cristãos e de Igreja de Jesus Cristo comprometida com o povo. Na medida em que tivermos a coragem de enfrentar o silêncio e a solidão com Deus, estaremos qualificando os nossos trabalhos apostólicos.

Queremos oferecer a todos os fiéis e mesmo religiosos e consagrados , sacerdotes eficaz meio para deixarmos de ser vítimas de nossa sociedade que continua nos enredando nas ilusões do falso eu.

O Pai seráfico S. Francisco nos aponta para um recurso usado pelo próprio Jesus: o recolhimento na solidão, que é o lugar da grande luta e do grande encontro; luta contra as compulsões do falso eu, e o encontro com Deus. É o que desperta o medo que se oculta ou se disfarça em resistências diversas.

Mas é importante recordar: o tempo que nos é oferecido, não é tempo perdido, nem tempo ou lugar para recarregar as baterias e continuar a competição da vida, nem para descansar... Também pode servir para isso.
Mas esse tempo de contemplação é muito mais convite à solidão, que é o lugar privilegiado da conversão, onde o falso “eu” morre e o verdadeiro renasce, onde morre o velho homem e ressurge o novo.

Percebo no meu próprio viver que é muito dificil entrar na "aventura da morte" junto com o Cristo em sua paixão, morte, para ressucitar para a vida nova . Sim Teresa de Jesus dizia-nos que : " Não vejo outro caminho para alcançar a santidade, a não ser a morte do meu querer!"

Quão dificil é a morte de minha vontade própria , do meu querer, da minha natureza de caida.

Não vai ser tarefa fácil, mas vale a pena tentar. Muitos de nós já tivemos alguma experiência semelhante e sabemos o quanto isso foi decisivo na própria vida. Agora estamos tendo esta oportunidade para aperfeiçoar a nossa vida de santidade , aproveitemos este tempo que Paulo chama de " Káiros" -Tempo favoravél de conversão que é a quaresma – quem sabe – desenvolver um modelo cristão de contemplação que poderá estimular muitas outras pessoas a buscarem o Senhor.

Em visita a nos no seminario menor e propedêutico nosso bispo ao falar conosco seminarista e reitor dizia-nos: " É preciso aprender dosar ação e contemplação.Há pessoas que trabalham muito , mas não rezam. Há outras que rezam muito mas não trabalham. Precisamos aprender a administrar o nosso tempo !"

No início da Quaresma, a Palavra de Deus apela a repensar as nossas opções de vida e a tomar consciência dessas “tentações” que nos impedem de renascer para a vida nova, para a vida de Deus.

Este tempo quaresmal ajuda-nos na busca de uma vida de contemplação e convida-nos a prescindir de uma atitude arrogante e auto-suficiente em relação à salvação que Deus nos oferece: a salvação não é uma conquista nossa, mas um dom gratuito de Deus. É preciso, pois, “converter-se” a Jesus, isto é, reconhecê-lo como o “Senhor” e acolher no coração a salvação que, em Jesus, Deus nos propõe.

Paz e Bem!


A obediência é a sua atenciosa escuta da vontade do Amor e do Amado.A sua mística é fazer-se um só com o Divino numa superação de si mesmo para ser sempre alma Esposa.

Padre Emílio Carlos+

domingo, 26 de fevereiro de 2012

«Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo»

S. Marcos 1,12-15.

Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto.
E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no.
Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus,
dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.»



Meditação:
«Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo»

A vida dos mortais está cheia de armadilhas que nos fazem tropeçar, está cheia de redes de enganos [...]. E como o inimigo teceu essas redes por todo o lado, e nelas apanhou quase todos os homens, era necessário que aparecesse Alguém mais forte para as dominar, as romper, e para trilhar o rumo àqueles que O seguissem. Eis porque, antes de vir unir-se à Igreja como Sua esposa, também o Salvador foi tentado pelo diabo. [...] Ensinava desta maneira à Igreja que não seria por ociosidade e prazer, mas através de provações e tentações, que ela haveria de chegar a Cristo.

Mais ninguém poderia, de fato, triunfar daquelas teias. Porque «todos pecaram», como está escrito (Rm 3, 23) [...]; Nosso Senhor e Salvador Jesus foi o único que «não cometeu pecado» (1Pe 2,22). Mas o Pai «O fez pecado por nós» (2Co 5,21). [...] «De fato, Deus fez o que era impossível à Lei, por estar sujeita à fraqueza da carne: ao enviar o Seu próprio Filho, em carne idêntica à do pecado e como sacrifício de expiação pelo pecado, condenou o pecado na carne» (Rm 8,3). Jesus entrou portanto naquelas teias, mas foi o único a não ficar nelas enleado. Mais ainda, tendo-as rompido e rasgado, deu confiança à Igreja, de tal forma que ela ousou, a partir de então, calcar aos pés as armadilhas, libertar-se das teias, e dizer cheia de alegria: «A nossa vida escapou como um pássaro do laço de caçadores; rompeu-se o laço e nós libertámo-nos» (Sl 123,7).

Também Ele sucumbiu à morte, mas voluntariamente e não, como nós, pela sujeição do pecado. Porque Ele foi o único a ter sido libertado de «entre os mortos» (Sl 87,6, LXX). E porque estava livre entre os mortos, venceu «aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo» (Heb 2,14) e levou-lhe os «cativos em cativeiro» (Ef 4,8) que estavam prisioneiros na morte. Não só Ele próprio ressuscitou dos mortos, como, simultaneamente, «nos ressuscitou e nos sentou no alto do Céu, em Cristo» (Ef 2,5ss); «ao subir às alturas, levou cativos em cativeiro» (Ef 4,8).

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Comentário sobre o Cântico dos Cânticos, III, 27-33