Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

Para você entrar em nossos artigos click nas imagens nas laterais e encontrarás os lincks dos artigos postados.

Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

 

Que fazer quando não consigo acreditar?

O Novo Testamento fala quase tanto da dúvida como da fé. Os apóstolos não estavam muito surpreendidos pela dificuldade em acreditar, pois sabiam que ela estava predita pelos profetas. Paulo e João citam a palavra de Isaías: «Senhor, quem acreditou na nossa mensagem?» (João 12,38 e Romanos 10,16). João acrescenta: «era o que Isaías tinha dito ainda: ‘Cegou-lhes os olhos e embotou-lhes o espírito, a fim de não verem com os olhos e não entenderem com o espírito’» (João 12, 39-40). Os quatro Evangelhos fazem todos referência a esta passagem de Isaías 6. A fé não é evidente.
O Evangelho de João mostra a fé no pano de fundo do seu oposto. Desde o início Cristo é ignorado: «Veio ao que era seu e os seus não o receberam» (João 1,10-11). É verdade que a certa altura, muitos seguiram Jesus. Mas, rapidamente, a maioria deixa de acreditar nele: «Muitos dos seus discípulos retiraram-se e já não andavam com ele» (João 6,66). Jesus não tenta agarrá-los. Constata: «Por isso é que vos disse: ‘Ninguém pode vir a mim se não lhe for concedido por meu Pai’» (João 6,65).

 
Cristo não procurou suscitar a adesão através da persuasão, pois a fé tem uma profundidade que ultrapassa a inteligência e as emoções. Enraíza-se nessas profundidades onde «o abismo chama outro abismo» (Salmo 42,8), onde o abismo da nossa condição humana toca no abismo de Deus. «Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não atrair» (João 6,44). A fé nasce inseparavelmente da actuação de Deus e da vontade humana. Ninguém acredita se não quiser. Também ninguém acredita sem que Deus o permita.

Se a fé é um dom de Deus e se nem todos acreditam, será que Deus afasta alguns? Na passagem onde João cita Isaías sobre a impossibilidade de crer, também transmite uma palavra de esperança de Jesus: «E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim» (João 12,32). Elevado sobre a cruz e elevado na glória de Deus, Cristo «atrai» como o Pai «atrai». Como é que ele faz para atingir todos os seres humanos? É impossível dizê-lo. Mas por que não havemos de confiar nele no que diz respeito àquilo que nos ultrapassa?
 
Até à última página, o Evangelho de João mostra a fragilidade da fé. A dúvida de Tomé tornou-se proverbial. Mas o que é decisivo é que, sem acreditar, permanece na comunidade dos crentes – e evidentemente, estes não o expulsam! Tomé espera, o Ressuscitado mostra-se a ele, e ele acredita. Depois Jesus diz: «Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditam!» (João 20,29). A fé não é um feito. 
Vem inesperadamente, ninguém sabe como. É uma confiança que se espanta com ela própria.

 

 

 

 

A fé

Por que é preciso acreditar para ser salvo?

«O Evangelho é poder de Deus para salvação de todo o crente» (Romanos 1,16). A salvação é a libertação do que desfigura, diminui, destrói a vida. E o poder de que Deus se serve para salvar é «o Evangelho de seu Filho» (Romanos 1,9). Este Evangelho, boa nova, revela Deus dando tudo: o seu perdão, a sua vida, a sua alegria. É por isso que a salvação não está reservada para os que preencheriam certos critérios. É para os bons e para os maus, os sábios e os loucos. Deus salva «todos os que crêem».
Será então a fé a condição para receber este dom de Deus? Se assim fosse, a minha vida, a minha felicidade, a minha salvação dependeriam ao fim e ao cabo de mim mesmo. O que decidiria tudo seria a minha aceitação ou a minha recusa. Esta ideia não corresponde ao que a Bíblia entende ser a fé. A fé não é um meio de que nos servimos para obter qualquer coisa. É uma realidade bem mais humilde, uma simples confiança, sempre cheia de espanto: sem que eu tenha obedecido a nenhuma condição, Deus restabelece-me na sua amizade.

A fé é quase nada, mal se discerne – pequena como um grão de mostarda, diz Jesus (Lucas 17,6). Ao mesmo tempo, é «mais preciosa que o ouro» (1 Pedro 1,7), «santíssima» (Judas 20). Com a esperança e a caridade, permanece para sempre (1 Coríntios 13,13). No séc. VII, Máximo, o Confessor, identifica fé com reino de Deus: «A fé é o reino de Deus sem forma visível, o reino é a fé que tomou forma segundo Deus.» E acrescenta que a fé realiza «a união imediata e perfeita do crente com Deus em quem crê». A fé não é um bilhete de entrada para o reino de Deus. Na própria fé, Deus está presente. Quem acredita e confia no Evangelho já está unido a Deus.
Antes da vinda de Cristo, a fé não era a atitude habitual para se ligar a Deus. Houve crentes excepcionais, como Abraão, e no momento decisivo da travessia do Mar Vermelho, «o povo acreditou no Senhor e em Moisés seu servidor» (Êxodo 14,31). Mas, no dia a dia, a fidelidade contava mais do que a fé. A comunidade da primeira aliança não era formada pelos «crentes», mas pelos «humildes», «os justos», «os santos» (Salmo 34). Foi com o Evangelho de Cristo que a fé, que até aí era uma excepção, se torna normal, a ponto de se poder chamar os discípulos de Jesus simplesmente «os crentes» (Atos 2,44).

Pois, desde que o evangelho revela o dom de Deus sem medida nem moderação, a salvação é oferecida gratuitamente. Já não há condições a preencher, basta crer. Ninguém é excluído do amor de Deus, segundo as palavras do apóstolo Paulo: «Pusemos a nossa esperança em Deus vivo, o Salvador de todos os homens, sobretudo dos crentes» (1 Timóteo 4,10).
A SANTIDADE DE MUITOS

Fruto da conversão realizada pelo Evangelho é a santidade de muitos homens e mulheres do nosso tempo; não só daqueles que foram proclamados oficialmente santos pela Igreja, mas também dos que, com simplicidade e no dia a dia da existência, deram testemunho da sua fidelidade a Cristo. 
Como não pensar aos inumeráveis filhos da Igreja que, ao longo da história do continente europeu, viveram uma santidade generosa e autêntica no mais recôndito da vida familiar, profissional e social? «Todos eles, como “pedras vivas” aderentes a Cristo “pedra angular”, construíram a Europa como edifício espiritual e moral, deixando aos vindouros a herança mais preciosa. 
O Senhor Jesus havia prometido: “Aquele que acredita em Mim fará também as obras que Eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai'' (Jo 14,12). 
Os santos são a prova viva da realização desta promessa, e ajudam a crer que isto é possível mesmo nos momentos mais difíceis da história». [nº 14 da Exortação Apostólica Ecclesia in Europa de João Paulo II]
CELEBRAR
 OS SANTOS 
 NA RESSURREIÇÃO

As Bem-aventuranças revelam a realidade misteriosa da vida em Deus, iniciada no Batismo. Aos olhos do mundo, o que os servidores de Deus sofrem, são efectivamente formas de morte: ser pobre, suportar as provas (os que choram) ou as privações (ter fome e sede) de justiça, ser perseguido, ser partidário da paz, da reconciliação e da misericórdia, num mundo de violência e de lucro, tudo isso aparece como não rentável, votado ao fracasso, consequentemente, à morte.
Mas que pensa Cristo? Ele, ao contrário, proclama felizes todos os seus amigos que o mundo despreza e considera como mortos, consola-os, alimenta-os, chama-os filhos de Deus, introdu-los no Reino e na Terra Prometida.
A Solenidade de Todos os Santos abre-nos assim o espírito e o coração às consequências da Ressurreição. O que se passou em Jesus realizou-se também nos seus bem amados, os nossos antepassados na fé, e diz-nos igualmente respeito: sob as folhas mortas, sob a pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para se revelar no Grande Dia, quando chegar o fim dos tempos. Para Jesus, foi o terceiro dia; para os seus amigos, isso será mais tarde.

O EVANGELHO NO PRESENTE.

Os membros de uma mesma família têm traços do rosto comuns…
As pessoas que partilham toda uma vida juntos acabam por se parecerem…
Esta festa anual de Todos os Santos reúne inúmeros rostos que trazem em si a imagem e a semelhança de Deus.
Um rosto de humanidade transfigurada. 
Enquanto vivos, os santos não se consideravam como tais, longe disso! Eles não esculpiam a sua efígie num fundo de auto-satisfação… Contrariamente àquilo que geralmente aparece nas imagens ditas piedosas e nas biografias embelezadas, eles não foram perfeitos, nem à primeira, nem totalmente, nem sobretudo sem esforço. Eles tinham fraquezas e defeitos contra os quais se bateram toda a vida. Alguns, como S. Agostinho, vieram de longe, transfigurados pelo amor de Deus que acolheram na sua existência. Quanto mais se aproximaram da luz de Deus, tanto mais viram e reconheceram as sombras da sua existência.
Peregrinos do quotidiano, a maior parte deles não realizaram feitos heróicos nem cumpriram prodígios. É certo que alguns têm à sua conta realizações espectaculares, no plano humanitário, no plano espiritual, ou ainda na história da Igreja. Mas muitos outros, a maioria, são os santos da simplicidade e do quotidiano! Canoniza-se muito pouco estas pessoas do quotidiano!

Um rosto com traços de Cristo.
Encontramos em cada um dos santos e das santas um mesmo perfil. Poderíamos mesmo desenhar o seu retrato-robô comum. Por muito frequentar Cristo, deixaram-se modelar pelos seus traços.
Como Jesus, os santos tiveram que viver muitas vezes em sentido contrário às ideias recebidas e aos comportamentos do seu tempo. Viver as Bem-aventuranças não é evidente: ser pobre de coração num mundo que glorifica o poder e o ter; ser doce num mundo duro e violento; ter o coração puro face à corrupção; fazer a paz quando outros declaram a guerra…
Os santos foram pessoas “em marcha” (segundo uma tradução hebraizante de “bem-aventurado”), isto é, pessoas activas, apaixonadas pelo Evangelho… Os santos foram homens e mulheres corajosos, capazes de reagir e de afirmar a todo o custo aquilo que os fazia viver. Eles mostram-nos o caminho da verdade e da liberdade.
Aqueles que frequentaram os santos – aqueles que os frequentam hoje – afirmam que, junto deles, sentimos que nos tornamos melhores. O seu exemplo ilumina. A sua alegria é o seu testemunho mais belo. A sua felicidade é contagiosa.
Pérola do Dia:

SOFRER COM QUEM SOFRE


A dor partilhada alivia o sofrimento.
Porém, não esperemos que alguém venha se solidarizar com a nossa dor. 
Tomemos a iniciativa. Veremos o nosso sofrimento se dissipar, sublimado pelo amor que doamos indo para além da nossa dor.
Estar ao lado de quem sofre.
Não se preocupar em dar respostas, nem dizer palavras de consolo. 
A presença basta. E é mais eloquente do que qualquer falar.
Vamos ao encontro de quem sofre sob o peso da cruz. 
Sejamos como Simão, o Cirineu, que abraçou a cruz de Jesus.
Partilhou com Jesus o peso da cruz, e certamente, participou por primeiro de sua Ressurreição.

Abraços


SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS- ANO B

1 de Novembro
 
Primeira leitura: Como descrever a felicidade dos mártires e dos santos na sua condição celeste, invisível? Para isso, o profeta recorre a uma visão.
Salmo Responsorial: O salmo de hoje proclama as condições de entrada no Templo de Deus. Ele anuncia também a bem-aventurança dos corações puros. Nós somos este povo imenso que marcha ao encontro do Deus santo.
Segunda leitura: Desde o nosso batismo, somos chamados filhos de Deus e o nosso futuro tem a marcada da eternidade.
Evangelho: Que futuro reserva Deus aos seus amigos, no seu Reino celeste? Ele próprio é fonte de alegria e de felicidade para eles.

LEITURA I – Ap 7,2-4.9-14

As primeiras perseguições tinham feito cruéis destruições nas comunidades cristãs, ainda tão jovens. Iriam estas comunidades desaparecer, acabadas de fundar? As visões do profeta cristão trazem uma mensagem de esperança nesta provação. É uma linguagem codificada, que evoca Roma, perseguidora dos cristãos, sem a nomear directamente, aplicando-lhe o qualificativo de Babilónia. A revelação proclamada é a da vitória do Cordeiro. Que paradoxo! O próprio Cordeiro foi imolado. Mas é o Cordeiro da Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o caminho de morte em caminho de vida para todos aqueles que O seguem, em particular pelo martírio, e eles são numerosos; participam doravante ao seu triunfo, numa festa eterna.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 23 (24)

Refrão: Esta é a geração dos que procuram o Senhor.

Do Senhor é a terra e o que nela existe,
o mundo e quantos nele habitam.
Ele a fundou sobre os mares
e a consolidou sobre as águas.

Quem poderá subir à montanha do Senhor?
Quem habitará no seu santuário?
O que tem as mãos inocentes e o coração puro,
o que não invocou o seu nome em vão.

Este será abençoado pelo Senhor
e recompensado por Deus, seu Salvador.
Esta é a geração dos que O procuram,
que procuram a face de Deus.

LEITURA II – 1Jo 3,1-3

Segunda mensagem de esperança. Ela responde às nossas interrogações sobre o destino dos defuntos. Que vieram a ser? Como sabê-lo, pois desapareceram dos nossos olhos? E nós próprios, que viremos a ser?
A resposta é uma dedução absolutamente lógica: se Deus, no seu imenso amor, faz de nós seus filhos, não nos pode abandonar. Ora, em Jesus, vemos já a que futuro nos conduz a pertença à família divina: seremos semelhantes a Ele.

ALELUIA – Mt 11,28

Aleluia. Aleluia.

Vinde a Mim, vós todos os que andais cansados e oprimidos
e Eu vos aliviarei, diz o Senhor.

 EVANGELHO – Mt 5,1-12

 Depois de dizer quem é Jesus (cf. Mt 1,1-2,23) e de definir a sua missão (cf. Mt 3,1-4,16), Mateus vai apresentar a concretização dessa missão: com palavras e com gestos, Jesus propõe aos discípulos e às multidões o “Reino”. Neste enquadramento, Mateus propõe-nos hoje um discurso de Jesus sobre o “Reino” e a sua lógica.
Uma característica importante do Evangelho segundo Mateus reside na importância dada pelo evangelista aos “ditos” de Jesus. Ao longo do Evangelho segundo Mateus aparecem cinco longos discursos (cf. Mt 5-7; 10; 13; 18; 24-25), nos quais Mateus junta “ditos” e ensinamentos provavelmente proferidos por Jesus em várias ocasiões e contextos. É provável que o autor do primeiro Evangelho visse nesses cinco discursos uma nova Lei, destinada a substituir a antiga Lei dada ao Povo por meio de Moisés e escrita nos cinco livros do Pentateuco.
O primeiro discurso de Jesus – do qual o Evangelho que nos é hoje proposto é a primeira parte – é conhecido como o “sermão da montanha” (cf. Mt 5-7). Agrupa um conjunto de palavras de Jesus, que Mateus colecionou com a evidente intenção de proporcionar à sua comunidade uma série de ensinamentos básicos para a vida cristã. O evangelista procurava, assim, oferecer à comunidade cristã um novo código ético, uma nova Lei, que superasse a antiga Lei que guiava o Povo de Deus.
Mateus situa esta intervenção de Jesus no cimo de um monte. A indicação geográfica não é inocente: transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.
As “bem-aventuranças” que, neste primeiro discurso, Mateus coloca na boca de Jesus, são consideravelmente diferentes das “bem-aventuranças” propostas por Lucas (cf. Lc 6,20-26). Mateus tem nove “bem-aventuranças”, enquanto que Lucas só apresenta quatro; além disso, Lucas prossegue com quatro “maldições”, que estão ausentes do texto mateano; outras notas características da versão de Mateus são a espiritualização (os “pobres” de Lucas são, para Mateus, os “pobres em espírito”) e a aplicação dos “ditos” originais de Jesus à vida da comunidade e ao comportamento dos cristãos. É muito provável que o texto de Lucas seja mais fiel à tradição original e que o texto de Mateus tenha sido mais trabalhado.

As “bem-aventuranças” são fórmulas relativamente frequentes na tradição bíblica e judaica. Aparecem, quer nos anúncios proféticos de alegria futura (cf. Is 30,18; 32,20; Dn 12,12), quer nas ações de graças pela alegria presente (cf. Sl 32,1-2; 33,12; 84,5.6.13), quer nas exortações a uma vida sábia, refletida e prudente (cf. Prov 3,13; 8,32.34; Sir 14,1-2.20; 25,8-9; Sl 1,1; 2,12; 34,9). Contudo, elas definem sempre uma alegria oferecida por Deus.
As “bem-aventuranças” evangélicas devem ser entendidas no contexto da pregação sobre o “Reino”. Jesus proclama “bem-aventurados” aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o “Reino” e a situação destes “pobres” vai mudar radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, na sua fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e coração disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que Deus lhes oferece em Jesus (a proposta do “Reino”).
As quatro primeiras “bem-aventuranças” referidas por Mateus (vers. 3-6) estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos “pobres” (as segunda, terceira e quarta “bem-aventuranças” são apenas desenvolvimentos da primeira, que proclama: “bem-aventurados os pobres em espírito”). Saúdam a felicidade daqueles que se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles que, de forma consciente, deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança nos bens, no poder, no êxito, nos homens, para esperar e confiar em Deus; daqueles que aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si próprios e estar disponíveis para Deus e para os outros.
Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar, livremente, aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem, incondicionalmente, nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.
Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas pelos poderosos; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos e prepotências dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do “Reino”.
Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do “Reino” vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria…
A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico – isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.
O segundo grupo de “bem-aventuranças” (vers. 7-11) está mais orientado para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir.
Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros homens e mulheres, que são capazes de ir ao encontro dos irmãos e estender-lhes a mão, mesmo quando eles falharam.
Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano.
Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; e são aqueles que procuram ser – às vezes com o risco da própria vida – instrumentos de reconciliação entre os homens.
Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do “Reino” e são desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.
Na última “bem-aventurança” (vers. 11), o evangelista dirige-se, em jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.
No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão e a partilha podem fazer-se à volta dos seguintes elementos:

• Jesus diz: “felizes os pobres em espírito”; o mundo diz: “felizes vós os que tendes dinheiro – muito dinheiro – e sabeis usá-lo para comprar influências, comodidade, poder, segurança, bem-estar, pois é o dinheiro que faz andar o mundo e nos torna mais poderosos, mais livres e mais felizes”. Quem é, realmente, feliz?

• Jesus diz: “felizes os mansos”; o mundo diz: “felizes vós os que respondeis na mesma moeda quando vos provocam, que respondeis à violência com uma violência ainda maior, pois só a linguagem da força é eficaz para lidar com a violência e a injustiça”. Quem tem razão?

• Jesus diz: “felizes os que choram”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes motivos para chorar, porque a vossa vida é sempre uma festa, porque vos moveis nas altas esferas da sociedade e tendes tudo para serdes felizes: casa com piscina, carro com telefone e ar condicionado, amigos poderosos, uma conta bancária interessante e um bom emprego arranjado pelo vosso amigo ministro”. Onde está a verdadeira felicidade?

• Jesus diz: “felizes os que têm ânsia de cumprir a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que não dependeis de preconceitos ultrapassados e não acreditais num deus que vos diz o que deveis e não deveis fazer, porque assim sois mais livres”. Onde está a verdadeira liberdade, que enche de felicidade o coração?

• Jesus diz: “felizes os que tratam os outros com misericórdia”; o mundo diz: “felizes vós quando desempenhais o vosso papel sem vos deixardes comover pela miséria e pelo sofrimento dos outros, pois quem se comove e tem misericórdia acabará por nunca ser eficaz neste mundo tão competitivo”. Qual é o verdadeiro fundamento de uma sociedade mais justa e mais fraterna?

• Jesus diz: “felizes os sinceros de coração”; o mundo diz: “felizes vós quando sabeis mentir e fingir para levar a água ao vosso moinho, pois a verdade e a sinceridade destroem muitas carreiras e esperanças de sucesso”. Onde está a verdade?

• Jesus diz: “felizes os que procuram construir a paz entre os homens”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes medo da guerra, da competição, que sois duros e insensíveis, que não tendes medo de lutar contra os outros e sois capazes de os vencer, pois só assim podereis ser homens e mulheres de sucesso”. O que é que torna o mundo melhor: a paz ou a guerra?

• Jesus diz: “felizes os que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que já entendestes como é mais seguro e mais fácil fazer o jogo dos poderosos e estar sempre de acordo com eles, pois só assim podeis subir na vida e ter êxito na vossa carreira”. O que é que nos eleva à vida plena?


31º DOMINGO TEMPO COMUM – ANO B
SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS E SANTAS
04 DE NOVEMBRODE 2012




“Não se manifestou ainda o que havemos de ser”

Leituras: 
Apocalipse 7, 2-4.9-14; 
Salmo 23 (24); 
Primeira Carta de João 3, 1-3; 
Mateus 5, 1-12a.

COR LITÚRGICA: Branco.

A celebração de hoje nos fala de duas realidades: a do céu e a da terra, que nos conduz à santidade. Como nós estamos a caminho para a eternidade é importante nos perguntarmos sobre nossa vida de santidade ainda neste mundo, pois um dia estaremos vivendo mergulhados na santidade divina, no céu.

1. Situando-nos brevemente

Estamos no primeiro domingo do mês de novembro. No Brasil, a solenidade de todos os santos e santas de Deus é transferida para o domingo, para que todos os cristãos possam hoje celebrar sua vocação para a santidade.

No último domingo, tivemos o segundo turno das eleições em algumas cidades. A partir de agora, vivemos, no contexto municipal, um novo momento político, perante o qual, como comunidade, somos sinal de unidade, pela qual todos são convidados a tomar consciência de que somos parte de um mesmo povo. É hora de superar e esquecer divisões que possam ter ocorrido em tempo de campanha.

Ainda temos presente o dia de Finados, que celebramos na última sexta-feira, através do qual somos levados a vivenciar a comunhão dos Santos que professamos na fé.

A solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus, que celebramos neste domingo, nos lembra que o chamado à santidade é uma proposta a todos os fiéis para buscarem o seguimento do caminho do Senhor e para esperarem pela sua ação redentora, testemunhada através da Igreja.

A liturgia destes dias está, de certa maneira, unida à reflexão escatológica que os domingos que seguem nos apresentam. Aqui, com certeza, não se trata de uma especulação sobre o futuro e sim de uma esperança viva que se experimenta a partida da fé.

2. Recordando a Palavra

O evangelho traz para nossa meditação a vocação à santidade partindo da proclamação das bem-aventuranças.

As bem-aventuranças dentro do Evangelho de Jesus integram a proclamação da nova aliança, da nova Lei. Através dela Jesus introduz o cumprimento da justiça de Deus e o anúncio de seu Reino entre nós.

O evangelho diz que Jesus, para proclamar as bem-aventuranças, subiu à montanha. É preciso lembrar que, no contexto bíblico judaico, “montanha” é o lugar onde Deus se manifesta e fala com Moisés e ainda o lugar onde Deus confiou os dez mandamentos (a Lei) a Moisés.

O evangelho fala que, na montanha, Jesus “sentou-se”. “Sentar” significa que Jesus é mestre, ensina com autoridade. Esta autoridade se confirma no evangelho, porque ele mesmo vive as bem-aventuranças e nele elas se cumprem.

A nova lei, proposta por Jesus, é apresentada aos discípulos, que “se aproximaram” e junto dele estão para escutar seus ensinamentos. O discípulo que está na montanha junto ao mestre participa desta realidade nova, ao ser destinatário da proclamação e convocado a testemunhar a ação de Deus. Isto é, os discípulos são proclamados felizes, quando se fazem testemunhas de Jesus, em particular quando perseguidos por causa de seu nome.

O contexto de perseguição e adversidade ao qual aquele que se faz discípulo está sujeito, conforme a última bem-aventurança anunciada, aproxima o discípulo ainda mais do seguimento ao mestre.

Os bem-aventurados, de acordo com o evangelho, cumprem seu caminho a partir da fé e da esperança.

As promessas das bem-aventuranças anunciam a presença do Reino que já se cumpriu através da ação redentora de Jesus. Por isso, para o discípulo, mesmo como promessa, pela fé abraçada no seguimento de Jesus, torna-se uma realidade atual e confere-lhe um estado do bem-aventurado. A acolhida e a vivência da bem-aventurança é o lugar a partir do qual, no seguimento de Jesus, Deus realiza seu Reino.

O conteúdo da proclamação do Reino, a proposta das bem-aventuranças, tem como tema central a justiça do Reino. As bem-aventuranças são assim um juízo de Deus sobre os homens, tornando justos e felizes os que acolhem o reino na fé e o realizam a partir do seguimento a Jesus.

A proclamação das bem-aventuranças apresenta a ação de Deus que santifica e torna felizes, isto é, leva a participar de seu Reino aqueles que estão destituídos da vida e da dignidade humana e aqueles cuja prática promove a justiça.

O programa das bem-aventuranças propõe, pois, através do conteúdo da promessa, uma ligação entre a primeira e a última. Em ambas se estabelece a vivência da fé como condição para possuir o estado de bem-aventurado.

Na primeira, a condição da fé aparece em “felizes os pobres em espírito”, como despojamento diante dos valores do mundo: dinheiro, poder e prazer. Na última, a condição da fé aparece como seguimento e testemunho de Jesus e de sua obra, ao dizer: “felizes sereis quando vos perseguirem por causa do meu nome”.

A partir desta fé, Jesus leva o discípulo a testemunhar a ação de Deus que cumpre a justiça para com “os aflitos”, “os despossuídos” e “aqueles que têm fome e sede de justiça”, como parte de uma promessa de libertação para a humanidade.

É Deus que se solidariza com o gênero humano da mesma forma como no Egito, quando libertou o povo da escravidão. A santidade aqui aparece como pura graça de Deus, como ação de Deus que santifica e restitui a vida.

A mesma realidade podemos afirmar a partir das promessas que Deus fez por meio de profetas, anunciando seu messias.

O discípulo pode ainda experimentar a ação de Deus que justifica, santifica, torna felizes aqueles cujas ações concretizam a prática da justiça esperada por Deus. Assim, Jesus apresenta como ditosos “aqueles que prestam ajuda”, “os limpos de coração” e “aqueles que promovem a paz”.

Enquanto buscamos viver as bem-aventuranças, temos o testemunho daqueles que alvejaram a veste no sangue do Cordeiro, o que se constitui num vivo apelo ao testemunho (martírio). O destaque que a leitura do Livro do Apocalipse atribui aos eleitos que deram testemunho do seguimento ao Senhor com suas vidas, perante todos os demais eleitos, é um vivo apelo à santidade, através da fidelidade e da entrega radical da vida nas mãos de Deus.

3. Atualizando a Palavra

Na festa de Todos os Santos, celebramos a vida daqueles que estão na glória com o Senhor e nossa comunhão de vida e de fé com eles, através de Jesus, em quem todos fazem parte de uma mesma Igreja, Corpo Místico, e de um mesmo mistério pascal que se atualiza em cada Eucaristia.

Nesta festa de Todos os Santos, queremos refletir sobre a ação de Deus que nos santifica, contemplando aqueles que já trilharam este caminho aqui na terra e hoje estão na glória. Esta festa nos lembra, em especial, que, como cristãos, devemos ter a esperança de um dia estar com ele nesta mesma glória. Assim proclamamos que Jesus é o caminho que nos leva a participar da mesma bem-aventurança.

A leitura do Apocalipse mostra que a santidade abrange uma multidão, gente de todos os povos, línguas e nações. Nesta festa, queremos exaltar a força e a ação de Deus que os levou à santidade, para assim podermos também nós participarmos, com esperança renovada, desta verdade que os céus nos dão.

Ao refletirmos sobre a santidade proposta na liturgia da Palavra deste domingo, somos levados a dizer que Jesus se fez fonte e modelo de santidade, pois nele as bem-aventuranças encontram realização.

As bem-aventuranças nos ajudam a ver e conhecer o rosto de Jesus, isto é, a descobrir a santidade de Deus proposta para a humanidade e a tomar parte nela. Elas ajudam também a mostrar para onde o olhar de Deus se dirige e qual a vontade de Deus a ser buscada, para que se realize seu Reino.

O programa de vida que enuncia as bem-aventuranças é o caminho do discípulo para conhecer Jesus na intimidade e, ao mesmo tempo, para segui-lo, isto é, tomar parte na realização do Reino de Deus e de sua justiça entre nós.

A santidade que Jesus nos apresenta e proclama, a partir da ação de Deus no mundo, é, em primeiro lugar, graça em que Deus restitui vida e realiza a justiça. Em segundo lugar, é tarefa pela qual Deus confirma a ação daqueles que colaboram com a realização de seu reino, promovendo o perdão e a paz para todos.

A santidade, assim, está longe de ser uma prática ritual vazia. Ela é um efetivo e íntimo convívio e conhecimento do Senhor e de sua vontade, para o serviço eficaz aos irmãos.

No contexto do Evangelho de Mateus e das bem-aventuranças, Deus espera de seu povo a prática da justiça, mas não qualquer justiça e sim aquela cuja ação devolve esperança e vida. Nestas ações, estão em destaque aquele que busca ser limpo de coração, sem segundas intenções, e aquele que é fonte de perdão, pois estes colaboram para que haja paz, shalom, o bem maior do Reino.

A santidade em Deus não é pietismo ritualista mas ação de Deus em favor da vida. A santidade de Deus, presente no meio do povo e apresentada por Jesus no evangelho, confirma a fé daqueles que, contra as certezas do mundo, pautam sua ação pelo cumprimento das promessas do Senhor e pela realização de seu Reino.

Para nos abrirmos a este caminho de santidade no seguimento de Jesus, devemos hoje ser sensíveis aos apelos daqueles que são os aflitos, os desprovidos, os que têm fome e sede de justiça, para lhes sermos anúncio vivo, sinal da presença de Deus entre nós.

A palavra de Deus, especialmente através das bem-aventuranças, é critério para avaliarmos nossas práticas espirituais, devoções e participação na comunidade. A vida de santidade, que hoje celebramos na festa de Todos os Santos, é comunhão destes no Senhor e realização das bem-aventuranças em suas vidas, como cumprimento do Reino definitivo.

Perguntemo-nos: nossa prática de fé e busca de santidade conseguem nos despertar para a vida e para as necessidades dos irmãos? Onde o nosso compromisso com os outros consegue fazer parte de nossa oração e busca de Deus?

4. Ligando a Palavra com a Ação Eucarística

Na Prece Eucarística II, assim rezamos: “Na verdade, ó Pai, vós sois santo e fonte de toda a santidade!” Isto depois de termos cantado solenemente; “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo”.

Na Sacrosanctum Concilium n.8, encontramos uma bela reflexão sobre a unidade da Igreja peregrina e da Igreja Celeste, que acontece em cada celebração litúrgica: “Na liturgia terrena nós participamos, saboreando-a já, da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual nos encaminhamos como peregrinos, onde o Cristo está sentado à direita de Deus, qual ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo; com toda a milícia do exército celeste entoamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer parte da sociedade deles; esperamos pelo Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste, e nós apareceremos com ele na glória”.

Enfim, em cada celebração eucarística somos convidados a participar do banquete nupcial, da ceia do Cordeiro imolado. Um dia, no céu, participaremos, com todos os anjos e santos, desta mesma Ceia, não mais com o Pão e o Vinho, mas na presença, face a face, de Jesus.

A mesa do altar é “a mesa dos peregrinos”, conforme rezaremos na oração após a comunhão.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

CAMINHAR NUM PROCESSO DE CURA INTERIOR


Num processo de cura interior é muito importante que observemos alguns aspectos importantes. 
O primeiro deles é o exercício de uma verdadeira, autêntica e profunda vida espiritual. 
Através da vida de intimidade com o Senhor somos introduzidos num processo de cura, pois esta intimidade nos leva ao conhecimento de Deus e conseqüentemente ao auto-conhecimento.
Neste momento com o Senhor, o Espírito Santo está em ação e ilumina nossa inteligência, esclarecendo-a sobre fatos, sobre realidades profundas, sobre sentimentos, sobre verdades religiosas, sobre o plano de Deus para determinados momentos, mesmo que estes sejam muito doloridos, ajudando-nos a tirar conclusões sábias.
O Espírito Santo também age na nossa vontade, inspirando-lhe decisões acertadas, firmes, perseverantes, corajosas e criativas. Ele concede à vontade motivações sobrenaturais claras, convincentes e gratificantes, que nos impulsiona a agir com muito vigor, a entender com amor as motivações das pessoas que provocaram algum constrangimento a nós ou foram causa de traumas profundos.
O Espírito Santo age ainda na nossa imaginação, na nossa memória e na nossa afetividade, concedendo-nos imagens esclarecedoras, sejam elas acontecimentos do passado, da vida cotidiana. Pode inspirar sentimentos como compaixão, alegria, piedade, vigor, de gratidão… que são capazes de transformar, de dar vida nova aos corações e de nos reconciliar com a nossa própria história.
A busca intensa de Deus e da Sua verdade é muito importante, porque temos imagens e impressões muito deformadas dos acontecimentos, das pessoas e de nós mesmos, e não ficarmos limitados na superficialidade na cura interior, mas descermos ao mais profundo do nosso ser à luz de Deus. 
Não basta deixarmos que Deus retire a casca grossa das nossas feridas, mas permitir que a Sua luz penetre nas raízes das nossas feridas mais profundas, que muitos de nós não têm o conhecimento e que são verdadeiros obstáculos para a vivência da salvação em nossas vidas. 
A salvação precisa atingir nossas vidas como um todo.
A obra de salvação de Deus em nossa vida passa pelo auto-conhecimento. Este acontece a medida que o Espírito Santo nos revela a nossa verdade interior. Quanto mais nos aproximamos de Deus em espírito e verdade, mais ele nos revela a nossa realidade interior. É interessante observarmos isto, porque existem dois motivos que nos impedem de sermos curados e assim livres, a ignorância e o medo de olharmos para dentro de nós mesmos, preferimos culpar os outros. Quanto mais profunda for a ferida, maior o amor de Deus para nos curar.
O Senhor possui o remédio eficaz para a nossa ferida mais profunda. Aliás, só ele tem o remédio. Só ele é o remédio. Ele tem amor suficiente para derramar sobre as nossas feridas que doem, que queimam como um fogo, que ardem, que incomodam, como um bálsamo que as acalma, que as alivia e que as cura. É muito importante que aceitemos a nossa vida, a nossa história, o nosso passado e presente que temos.
É fundamental que aceitemos a dor, a ferida que temos em nossa vida. Devemos crer que esta dor se constituirá na manifestação da glória de Deus. É preciso trocarmos a amargura e o medo da dor pela esperança de que em Jesus venceremos, seremos transformados. Há um futuro para nós, por maior que seja a nossa dor, a nossa ferida. As nossas feridas se transformarão em pérolas, serão as nossas riquezas, não só para nós, mas também para os outros. Se deixarmos Deus trabalhar em nossas vidas, se deixarmos Deus penetrar naquela ferida, em vez de ser amargura, se transformará em amor. Não nos assustemos com a dor inicial, pois para Deus curar as feridas precisa abri-las, rasga-las. 
Diz São João da Cruz: “A chaga produzida pelo Espírito Santo será profunda, porque é feita por Aquele que só sabe curar”.
A graça do Espírito Santo é Luz e pode iluminar todas as áreas da nossa vida até que elas se tornem muito mais resplandecentes do que a luz do sol, do que os seus raios do meio dia, isto é, alcançarem a plenitude do Espírito. 
Quando o Espírito Santo inunda a vida humana com seus dons, o homem passa a se sentir extraordinariamente bem, com a alma cheia de um silêncio, uma paz, um calor e uma alegria inexplicável.
Uma delícia extraordinária! Acontece exatamente o que São Paulo diz: “O que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam” ( 1Cor 2,9). Todas estas graças que o homem passa a experimentar neste momento aqui na terra, nada é em comparação com o Bem Supremo que o Senhor tem preparado para ele na eternidade. É apenas uma antecipação da glória que desfrutará no céu.
A graça do Espírito Santo renova as forças humanas, formam-lhe asas como as águias, os impulsiona a correr e não se fatigar, a caminhar e não se cansar ( cf. Is 40,31). O Reino de Deus, que se entende pela graça do Espírito Santo, passa a habitar no mais profundo de nós, em nosso coração. E aí ele nos ilumina e aquece, alegra os nossos sentidos, enche o ar de perfumes suaves e sacia o nosso coração com seu amor, com alegria indizível. A nossa fé não é mais vacilante, frágil, nem de livros, nem de testemunho de outros, mas da manifestação do poderio do Espírito. Pequenos como somos, podemos, pela misericórdia de Deus sermos cheios da plenitude de Seu Espírito.
Precisamos decidirmo-nos em entregar verdadeiramente o nosso coração a Deus, passarmos a ser seus amigos de verdade. É isto que o Senhor procura um coração que o adore em espírito e verdade, um coração cheio de amor por Ele e pelo próximo, um coração cheio de fé Nele e em Seu Filho único, em resposta envia do alto a graça do Espírito Santo. Ele mesmo diz em Provérbios: “Meu filho, dá-me o teu coração, e o resto eu te darei por acréscimo” ( Pr 23,26). A saúde do nosso coração consiste no perfeito amor a Deus.
Nós não podemos nos desfazer do mal sozinhos, nem devemos deixar o tempo passar sem recebermos a cura dos nossos males porque não nos abrimos para a graça de Deus, precisamos da ajuda da graça divina. Quanto mais nos tornamos amigos de Deus mais experimentamos o seu amor por nós e mais o amamos e é essa relação de amor, de confiança, de abandono em suas mãos que vai nos configurando a ele e vamos nos sentindo extraordinariamente bem.
Para que o homem conheça a sua enfermidade, em primeiro lugar Deus o entrega a si próprio, para que ele compreenda que nada pode fazer por si, para compreender a sua impossibilidade e nunca julgar a graça divina como algo supérfluo. Chegando neste ponto em sua vida onde conheceu sua pequenez e sua enfermidade, o Senhor, convenientemente, lhe concedeu a sua graça pela qual se ilumina um cego e se cura um doente.
É importante o processo de cura interior porque na verdade as nossas feridas por serem frutos do nosso pecado e do pecado dos outros, estão ligadas diretamente a nossa vida com Deus. Pela ação da graça divina em nós somos iluminados para o conhecimento da verdade, somos esfriados para o desejo do mal, somos inflamados pelo amor as virtudes, somos comprometidos com a messe do Senhor, enfim amamos a Deus e aos irmãos com o perfeito amor.
Precisamos, portanto, ir além da teoria e praticarmos. Como? Nas orações pessoais ministre sobre você mesmo a cura interior, ore pela sua cura interior. Exponha a sua vida diante do Senhor. Dê espaço na sua oração pessoal para que a cura interior aconteça. Não tenha medo. Não resista. Você vai sentir mais bem-estar do que antes. 
Peça ao Senhor as manifestações dos Seus dons carismáticos.

Passos: 

01. Coloque-se de maneira simples diante do Senhor;
02. Peça ao Espírito Santo que revele as feridas que Ele deseja curar.
03. Em nome de Jesus e diante de Jesus, ministre sobre si mesmo a aceitação deste fato do seu passado ou presente e num ato de fé creia que Jesus reverterá isto em um grande bem para você e para os outros.
04. Apresente a Jesus a área ferida, traumatizada, marcada .
05. Ore em línguas ministrando a cura do Senhor, o quanto a inspiração lhe mover. Neste instante abra-se ao Espírito pois pode o Senhor revelar palavras de ciência, sabedoria, profecia sobre esta situação.
06. Agradeça a Deus por esta área ferida, na certeza do grande bem (pérola) que está sendo gerado. Louve ao Senhor pelo bem que Ele lhe fez neste momento.
07. Não se esqueça que a cura interior é um processo que ocorre das mais variadas formas e que esta oração pode de acordo com a inspiração ser feita em repetidas oportunidades, entretanto, em cada uma delas, precisamos crer no poder de Jesus que se manifesta concretamente em nós.
CONHECEREIS TODOS ELES PELOS SEUS FRUTOS

Mt 7,15-20


Mateus versículos 15-16 - 15“Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. 16Vós os conhecereis pelos seus frutos. Amado (a) onde estão os falsos profetas? Com certeza estão em todos os lugares! O que são os falsos profetas?

 São todos aqueles que pregam e vivem o contrário do evangelho! Esses dias eu estava fazendo um aconselhamento com uma senhora que chegou em mim e disse que: Na igreja que ela freqüentava o seu líder disse que sua igreja seria como uma empresa e sempre que um fiel viajasse esse teria que pagar uma multa para igreja. Um outro rapaz amigo meu disse que seu líder estava exigindo 20% do seu salário como dízimo e caso ele não desse ele estaria roubando a Deus. 
Hoje em dia tem muitos lideres atraindo as pessoas pregando curas, milagres e prosperidade e quantas pessoas hoje estão se deixando envenenar por esse tipo de pregação e continuam doentes, sem o milagre prometido e com as contas atrasadas. 
Muitos pregam o evangelho segundo Alan Kardek, como se esse tivesse vivido com Jesus ou com algum dos que viveram com ele. Conhecereis todos eles pelos seus frutos e todo fruto diferente da ressurreição, todo fruto diferente do amor que Jesus pregou no evangelho, todo fruto diferente da palavra de Deus aponta e prova como são os falsos profetas.

Não se deixe enganar, deixai-vos conduzir pelo Espírito Santo e entregai-vos de todo coração ao que realmente Jesus pregou e anunciou com a própria vida.

Ore assim comigo: Senhor Jesus eu creio que tu és o filho de Deus, eu creio que a tua palavra me convida ao amor e que toda cura acontece pelo amor e que a maior prosperidade que posso buscar é o enriquecimento da tua palavra, eu creio na ressurreição dos mortos, creio em tua Igreja Católica, creio no teu Espírito Santo. Amém!

Pe. Emílio Carlos Mancini+
Pérola do Dia   

Enfrentar situações procurando pôr nelas uma visão cristã.

Quando o homem começa a olhar e a viver a partir de Deus, quando caminha em companhia de Jesus, passa a viver segundo novos critérios e então um pouco de eschaton, daquilo que há-de vir, está presente já agora. 
A partir de Jesus, entra alegria na tribulação.
Frequentemente no nosso dia a dia, necessitamos de enfrentar situações procurando pôr nelas uma visão cristã e consentânea a essa condição, se movidos pelo amor, que encontramos sempre a palavra justa para contrapor àqueles que insistem ir por caminhos menos corretos.
Senhor, meu Deus, não vos aparteis de mim, meu Deus dignai-vos socorrer-me (Sl 70,13). Pois me invadem vários pensamentos, e grandes temores afligem minha alma. 
Como escaparei ileso, como poderei vencê-los?
 
****************
Ajuda-nos pois, a, com humildade e abnegação, estarmos sempre disponíveis para corrigir e oferecer a outra face se necessário.



 “Deus não economiza o Seu amor”

 – Lucas 13, 18-21 –

Mais uma vez somos chamados a meditar sobre o reino de Deus que é apresentado como uma semente de mostarda atirada no jardim.
A semente  é o amor de Deus que foi semeado no jardim do nosso coração e que,  na medida em que nos damos conta da sua existência se vai tornando grandioso a ponto de extrapolar  e espalhar-se como os galhos de uma árvore  abrigando e alimentando todos os que dele  são carentes.
Em todos os momentos da nossa vida há oportunidade de fazermos uma experiência com o amor de Deus, principalmente naquela horas em que somos afligidos pelas provações e tribulações.
Nessas horas o terreno do nosso coração parece ser regado pelo amor infinito de Deus que nos cumula de graças. E, aí então, o amor de Deus no nosso coração nos faz amar, perdoar, compreender e acolher a todos os que estão necessitados.  Jesus compara também o seu reino de amor a um fermento que faz aumentar a massa sem que se perceba como isso pôde ser possível acontecer. O coração que está aberto e disponível é terreno fértil para que o reino de Deus possa ocorrer.
Para que isso seja possível, a primeira coisa que precisamos fazer é tomar consciência de que esta semente foi plantada no coração de todos e não somente de alguns privilegiados. Deus não economiza o Seu amor! Ele é infinito e abundante, portanto, o amor de Deus quando é amado, gera muito mais amor para se amar.  

  • – Você tem consciência de que a semente do amor de Deus foi plantada em você? 
  • – Você tem usufruído dessa bênção?  
  • – Você tem usado o amor de Deus para também amar as pessoas da sua vida? 
  •  – Você se sente amado (a) pelas pessoas com o amor que vem de Deus?
  «Um grão de mostarda»

Felizes os que esperam no Senhor.

 S. Lucas 13,18-21.
 
Naquele tempo, disse Jesus: «A que é semelhante o Reino de Deus e a que posso compará-lo?
É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e deitou no seu quintal. Cresceu, tornou-se uma árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus ramos.»
Disse ainda: «A que posso comparar o Reino de Deus?
É semelhante ao fermento que certa mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar levedada toda a massa.»

Comentário :
«Um grão de mostarda»

 
Seguidamente, o Senhor propõe a parábola do fermento. «Assim como o fermento comunica a sua força invisível a toda a massa do pão, do mesmo modo a força do evangelho transformará o mundo inteiro graças ao ministério dos Meus apóstolos. [...] 

Não me respondais: “Que poderemos fazer, nós doze miseráveis pecadores, perante o mundo inteiro?” Será precisamente a enorme diferença entre a causa e o efeito, a vitória de um punhado de homens perante a multidão, que demonstrará o vigor da vossa força. Não é por se misturar o fermento na massa “ocultando-o” nela, segundo o evangelho, que toda a massa se transforma? Assim, meus apóstolos, será misturando-vos na massa dos povos que os embebereis com o vosso espírito e que triunfareis sobre os vossos adversários. O fermento, desaparecendo na massa, não perde a sua força; pelo contrário, altera a natureza de toda a massa. Do mesmo modo, a vossa pregação alterará todos os povos. Portanto, estai cheios de confiança.» [...]

É Cristo que dá tão grande força a este fermento. [...] Por conseguinte, não Lhe censureis o pequeno número dos Seus discípulos: é a força da mensagem que é grande. [...] Basta uma faísca para transformar num braseiro alguns pedaços de madeira seca, que seguidamente inflamam toda a madeira, mesmo a verde, à sua volta.

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja

Homílias sobre o Evangelho de Mateus, nº46, 2 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Pobreza Espiritual
 
No evangelho de São Lucas, Jesus diz: "Guardai-vos escrupulosamente de toda avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas" (12,13). 
E logo depois Ele conta a parábola de um homem bastante rico que não tem onde recolher sua plantação. Esse homem, que já tem um celeiro e deseja fazer um celeiro ainda maior - no qual porá todos os seus bens e depois descansará - é chamado por Deus de insensato.

A avareza

Quando começamos a ler essa parábola, encontramos uma palavra muito forte: "escrupulosamente". Jesus aqui está falando de uma idolatria, que se chama avareza.

E São Paulo vai nos dizer: "Que terrível idolatria é a avareza". Quando Lucas mantém a palavra "escrupulosamente" é porque Jesus está falando de uma coisa muito séria, da qual depende perder ou ganhar a alma, ir para o céu ou para o inferno.

A idolatria ao dinheiro pode levar o homem ao inferno. E quando falamos em dinheiro, não falamos apenas de dólar, real ou lira, mas daquilo que possuímos, daquilo que temos. E do risco que corremos de entesourar, como esse homem da parábola fez: ele já tinha um celeiro, mas construiu um maior. Ele não pensou em repartir a herança com os pobres.

Assim somos nós! Eu tenho roupa suficiente, mas se ganho dinheiro, não penso em repartir com os pobres, penso em ter mais roupas, embora eu não precise. Já tenho meu carro, mas se ganho dinheiro, penso em comprar um carro melhor, outro carro; não me passa pela cabeça que aquele dinheiro me foi dado para repartir com os pobres. Porque a idolatria dos bens, do dinheiro, me faz juntar casa a casa, comprar uma casa mais luxuosa, um carro mais luxuoso, uma roupa desnecessária, um móvel desnecessário, uma casa desnecessária.

E o salmo 148 diz: "Quando um homem se torna muito rico, aumenta o luxo de sua casa. Morrendo, ele nada levará consigo e a sua fortuna não descerá com ele aos infernos".

Jesus fala, portanto, de uma questão de salvação. Vejamos o que diz Santa Teresa: "Escutai, vós que desejais possuir riquezas, ter posses: apoiar-se sobre as riquezas é apoiar-se sobre o ferro em brasa". E João Paulo II diz: "Entre as exigências de renúncia que Jesus propõe aos seus discípulos - não é uma opção ou uma escolha, é uma exigência - figura a renúncia aos bens terrenos, e em particular às riquezas". É uma exigência dirigida a todos os cristãos e que se refere ao espírito de pobreza, isto é, o desapego aos bens terrenos, desapego que nos faz ser generosos para reparti-los com os outros.

A avareza, a idolatria dos bens, é oposta ao evangelho. Nós todos deveríamos ter isso na cabeça, porque encontramos muitas desculpas para não nos despojarmos, para não imitar Jesus, para não partilhar os nossos bens.


A pobreza espiritual


São Francisco de Sales diz uma coisa muito interessante: "Quando o fogo do amor está em um coração, todos os móveis voam pela janela". Porque o meu coração se despoja, dá. Você quer saber se o fogo do amor está em seu coração, se você ama a Deus? Abra a janela da sua casa, se os móveis voarem pela janela, é sinal que você ama a Deus; se os móveis continuarem presos ao chão, é sinal que você não ama a Deus.

Quando São Francisco de Sales dizia isso, no século XVI, os móveis eram pesadíssimos, não eram como os nossos hoje que são levíssimos, e até esses ficam pregados.

Ainda me apego ao que tenho, e se me derem mais algum dinheiro eu compro mais daquilo que tenho, ou coloco numa poupança que já tenho para garantir meu futuro. E isso garante meu futuro, no inferno.

Outra coisa que João Paulo II ensina: "A pobreza é um compromisso de vida inspirada pela fé e pelo amor a Cristo". Quem inspira a pobreza não são os estatutos, não é o formador ou esse ou aquele santo, não é um pobre que está no meio da rua, não é um livro bonito, é a fé e o amor a Jesus Cristo. O Papa diz mais: "É o Espírito que exige também uma prática. O espírito de pobreza vale para todos e cada um necessita colocá-lo em prática, de acordo com o evangelho". O espírito de pobreza vale para todos!

Quando nos deparamos com a ordem de Jesus: "Guardai-vos escrupulosamente da avareza", ou seja, guardai-vos de ter casa sobre casa, bens sobre bens, celeiros sobre celeiros, às vezes podemos dizer: "Ah, mas eu sou um homem de negócios, tenho de prosperar". O que é, de fato, prosperidade? Qual o espírito capitalista, consumista que te move? Certamente, não é o espírito do evangelho.
O espírito do evangelho não é um espírito capitalista, nem consumista; é um espírito de partilha. Não é também um espírito comunista, nem socialista; é um espírito de partilha, de comunhão de bens. Os bens são divididos e não acumulados ou socializados ou unificados. Partilhados por amor, e não divididos por uma imposição do Estado.

O espírito de partilha do evangelho não é conivente com o capitalismo nem com o socialismo nem com o consumismo nem com o neoliberalismo ou o nome que você quiser dar. O homem nunca encontrou o que está óbvio no evangelho: "A salvação da alma do homem, a salvação da sociedade, a paz da humanidade vem pelo espírito evangélico de partilha". E nós, que somos a comunidade da paz, para promovermos a paz entre os povos, entre as nações, precisamos viver para depois pregar o espírito evangélico de partilha, independente de qualquer sistema econômico.

Precisamos viver independentes do sistema econômico no qual estamos, seja ele qual for. Porque aí poderei ir do Brasil para a África, de Xangai para a Groenlândia, posso ir para Macau ou para Brasília. Onde eu estiver estou livre, seja do comunismo, seja do capitalismo, seja do socialismo, seja do neoliberalismo; sou livre porque vivo a partilha, a comunhão de bens. Vivo a partilha que vem do amor a Jesus.

Cada vez mais precisaremos viver essa pobreza de que fala o Papa, para podermos pregar o evangelho. Se não, seremos como o sepulcro caiado, que por fora é bonito, mas por dentro é cheio de podridão.

O Frei Cantalamessa, baseando-se no pensamento de Santo Agostinho, diz que o espírito de pobreza não se entende quando se tem por base o tempo: "Eu creio que não haja palavra mais urgente para trazer-se presente na vida do que a palavra eternidade". Porque quando digo "eternidade", todos os bens se relativizam. Tudo fica relativo.

O demônio nos prende a este tempo, a este lugar, a estas pessoas, a estes bens, a estas posses, aqui e agora. Deus nos liberta destes bens, deste mundo, desta vida, destas pessoas para a eternidade. Então, se o meu ponto de vista é a eternidade, minha vida será livre dos bens, não vou ser um idólatra do dinheiro nem das preocupações com os bens, não vou ser um idólatra do ter sempre mais nem deste ou daquele sistema. Vou estar livre, porque quando o meu referencial é a eternidade, tudo se torna ínfimo, tudo se torna muito pequeno.

Você pode se perguntar: "Nestes dias, meu Deus, com o que tenho me preocupado mais: com a eternidade ou com o que vou comer? Com a eternidade ou com o que tenho ganho? Com a eternidade ou com o que tenho que pagar? Com a eternidade ou com o que tenho que vestir?
Santo Agostinho diz: "À luz da eternidade, o rico parece um pobre mendicante, que teve uma noite só um belíssimo sonho; sonha que choveu sobre ele do céu uma grande herança. No sonho, vê-se recoberto de vestes esplendorosas, circundado de peças de ouro e prata, possuidor de campos e vinhas. No seu orgulho, despreza até seu pai, e faz de conta que não o reconhece. Mas eis que pela manhã, este homem levanta-se e se vê com um punhado de moscas nas mãos". O que ele quer dizer? Quando tenho em mira a eternidade, o homem mais rico entre os ricos é como um pobre mendigo, que sonha que ficou rico de repente.

Os celeiros

Em Fortaleza, o Pe. Daniel-Ange falou sobre a pretensão que temos de acumular nos celeiros e que queremos acumular cada vez mais os nossos celeiros, o luxo que queremos aumentar dos móveis que nunca voaram pela janela. O luxo que aumento nos meus carros, o luxo que aumento em minhas roupas, e não partilho com uma criança que está rua. Porque dá trabalho, porque é um viciado, porque hoje dou dinheiro e amanhã e ele volta para a rua. Porque se eu for fazer o serviço bem feito, vou ter de me meter "lá onde Judas perdeu as botas", conhecer a família dele, cuidar da escola dele, isso dá muito trabalho e eu sou muito ocupado!

Na minha Bíblia tem uma parábola que fala que um passa muito apressado porque tem de ir para o Templo, outro passa muito apressado porque vai resolver os seus negócios, e só o samaritano pára e socorre o homem que está no chão. Nós precisamos crescer no amor ao evangelho, na coerência, no chamado à pobreza evangélica, que, como ouvimos João Paulo II dizer, é para todos. É um dever, um compromisso de todos.

Quando Jesus diz: "Guardai-vos escrupulosamente da avareza", Ele está falando de céu ou inferno, de vida eterna ou perdição eterna.

Na mesma passagem de Lucas 12, no versículo 20: "Deus, porém, lhe diz: 'Insensato, nesta mesma noite, ser-te-á reclamada a alma. E as coisas que ajuntaste, de quem serão?' Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus".

O profeta Isaías fala da pobreza espiritual: "Deus é um refúgio para o fraco, refúgio para o pobre em sua tribulação". Deus não é refúgio para o forte porque o forte não precisa de refúgio. O que pode tudo neste mundo não precisa de refúgio.

Às vezes alguém diz: "Ah, eu tenho cinco apartamentos, doze carros, dez fazendas... mas sou pobre de espírito, porque estou abandonado nas mãos de Deus". Não está! Se você tem cinco apartamentos, doze carros, dez fazendas, não diga que está abandonado nas mãos de Deus, não se iluda! Agora, se você tem isso e reduz ao mínimo que você precisa, e o resto partilha com os pobres, aí você pode seguir Jesus. Se você fica com o que é necessário para viver, e o resto partilha com os pobres, aí você é pobre de espírito.

Se você não restringe o que tem ao necessário para viver, você ainda não será pobre em espírito, porque ainda estará ajuntando bens sobre bens. É preciso coragem de partilhar, coragem de dar, a coragem que vem do amor. É dever nosso, como batizados, viver com o que precisamos, e não ter mais do que precisamos. É dever nosso dar o que não precisamos, partilhar o que não precisamos. Isso é uma graça, a graça da pobreza espiritual, a graça do abandono nas mãos de Deus. Isso é para homens e mulheres convertidos, homens e mulheres de coragem, que vivam o evangelho.

Olha o que diz João Paulo II sobre a pobreza de espírito: "Pobres de espírito são aqueles que, carecendo de bens terrestres, sabem viver com dignidade humana os valores de uma pobreza espiritual rica de Deus. E pobres de espírito são aqueles que, possuindo bens materiais, vivem o desprendimento interior e a partilha de bens com os que sofrem necessidades".

São Francisco vai mais a fundo: "Muitos há que são devotos na oração, são fortes no culto divino, praticam muito a abstinência, a mortificação corporal, mas por causa de uma única palavra que lhes possa ferir o próprio eu, ou por causa de algum bem que se lhes tire, logo se mostram escandalizados e ficam perturbados. Estes não são pobres de espírito, não odeiam a si mesmos e não amam os que lhe batem na face, segundo o evangelho".

Esse tema da pobreza, para quem é cristão, é sinônimo de muita reflexão, de muita oração, de muita conversão. E o prêmio é a liberdade. A liberdade para evangelizar. Quem não é pobre de espírito, quem ainda é avaro, não tem como pregar o evangelho. É preciso que sejamos livres dos bens da terra a ponto de partilhá-los, e só depois de partilhá-los seremos livres para evangelizar.