SANTO SÚBITO | | | |
O mais rápido processo de beatificação da história da Igreja foi o de João Paulo II. Falecido a 02 de abril de 2005, foi proclamado beato seis anos depois, num significativo 1º. de maio, dia do Trabalhador. Em 27 anos de pontificado – o terceiro maior da Igreja, (34 anos de Pedro e 31 de Pio IX) – foi o Papa dos recordes e do pioneirismo, o que mais viajou (129 países), o que fez maior número de santos (482), de beatos (1340), o que mais dialogou com as grandes religiões monoteístas, o primeiro a visitar o Muro das Lamentações, a pregar numa sinagoga e a visitar a Grécia depois do cisma de 1054, além de ser um poliglota com pleno domínio de 14 idiomas. Foi um incansável trabalhador da messe.
Mas sua beatificação não ocorre pelos itens de um pontificado extraordinário. Ao contrário, emerge do grito do povo reunido na Praça de São Pedro, quando da cerimônia de suas exéquias. “Santo, santo, santo já”, proclamava aquela multidão ansiosa por verem reconhecidas as virtudes daquele que, sem dúvidas, fora o maior e mais influente dos líderes dos últimos tempos, em especial do século passado. Seu lema era um desafio à humanidade: “Não temais, mas abri as portas ao Redentor”. Seu baluarte era um sonho de Paz, pois dizia que “a guerra é sempre uma derrota da humanidade”. Pastor sem fronteiras, também foi vítima. Atribuem-lhe influências pela queda do comunismo a partir da Polônia, pela derrubada do muro de Berlim, bem como pela manutenção de muitas das rígidas regras da Igreja, em especial as que dizem respeito à família ou à estrutura hierárquica da própria Igreja (manutenção do celibato, por exemplo). Muitas vezes incompreendido e por isso perseguido, sofreu na carne um atentado. Era o dia 13 de maio de 1981. O tiro certeiro do turco Ali Agca deixou sequelas, como também sinais de uma fé inabalável. Foi pessoalmente à cela do seu malfeitor para perdoá-lo. Um ano depois, estava em Portugal, no santuário de Fátima, para “agradecer à Virgem por salvar sua vida”. Lá deixou sobre o altar a bala que o feriu e esta foi incrustada na coroa da Virgem, onde se encaixou como peça que faltava, servindo até hoje como ornamento à miraculosa imagem. Dizem alguns exegetas ser este fato a confirmação do terceiro segredo de Fátima. Verdade ou não, o fato maior é que João Paulo tinha especial afeto a essa devoção, sendo ele próprio um dos incentivadores da beatificação e posterior santificação dos pastorinhos de Leiria. De todas as virtudes desse santo homem, salta-nos sempre sua obstinação diante das cruzes que carregou, não como imposição que lhe era devida, mas com amor e resignação filiais aos padecimentos do Cristo pela humanidade. “Coragem, não tenham medo”, repetia sempre, em qualquer lugar, em qualquer circunstância, como Cristo a exortar a própria platéia na sua via-crúcis. Seu martírio lento diante de uma saúde extremamente debilitada, do mal de Parkinson, dos problemas pulmonares, de longe lembrava o “atleta de Cristo” do início de seu pontificado, mas lembrava-nos sempre o calvário do próprio Cristo. Hoje beato. Amanhã (mas um amanhã bem próximo) veremos a elevação de seu nome ao plantel dos santos e santas da fé católica. Não sem antes revermos, mais uma vez, uma de suas mais perfeitas e objetivas frases sobre o assunto, um apelo a todos nós. Ei-la: “A vocação do cristão é a santidade, em todo momento de sua vida. Na primavera da juventude, na plenitude do verão da idade madura, e depois também no outono e no inverno da velhice, e por último, na hora da morte”. Portanto, seja você também um santo, santo já! WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br |
Nenhum comentário:
Postar um comentário