1º
DOMINGO DO ADVENTO -
01 de dezembro de 2013
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“Vinde ...
Deixemo-nos guiar pela luz do Senhor”
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Leituras:
Isaías 2, 1-5;
Salmo
121 (122);
Carta de São Paulo aos Romanos 13, 11-14a.
COR LITÚRGICA: ROXA
Reunindo todos os anseios da humanidade e de toda a criação por
dias melhores, iniciamos o Tempo do Advento. Na perspectiva do Natal do Senhor,
como acontecimento sempre novo e atual, vislumbramos vigilantes e esperançosos,
a lenta e paciente chegada de seu Reino em nossa história. Com o Advento,
abre-se para nós um tempo favorável de vigilância e conversão.
1. Situando-nos
brevemente:
Neste domingo, iniciamos mais um Ano Litúrgico. Reunindo
desejos, sonhos e utopias da humanidade por profundas transformações e dias
melhores, manifestadas em veementes clamores em nossos dias, iniciamos o tempo
do Advento. Como “memorial da esperança”, o advento alarga nossa vida para
acolher o grande mistério da encarnação.
Na perspectiva do Natal e Epifania do Senhor, como
acontecimentos sempre novos e atuais, vislumbramos vigilantes e esperançosos, a
lenta e paciente chegada de seu Reino e sua manifestação em nossa vida e na
história. O Senhor nos garante que, nesta espera, não seremos desiludidos, como
nos lembra a antífona de entrada deste domingo.
A liturgia abre para nós um tempo favorável de
vigilância e conversão, de retomada de nossas opções como discípulos daquele
que sempre vem e cuja ação é libertadora, consoladora e salvífica.
Acendendo, neste domingo, a primeira vela da coroa do
Advento, somos convidados a aguçar nossa atenção, acordarmos do sono da
passividade para melhor percebermos os sinais da chegada do Reino no cotidiano
e, mais despertos, nos levantarmos da acomodação, do individualismo e do
consumismo que marcam nosso tempo e nos paralisam.
Por isso, pedimos, na oração inicial, que o Pai nos
conceda ardente desejo de buscar o Reino e com nossas boas obras, acorrermos ao
encontro do Senhor, cuja vinda nos alegra e salva como cantamos no salmo.
2. Recordando a
Palavra
Neste dia do Senhor, iniciamos o Ano A, sendo conduzidos
pelo evangelho segundo Mateus (Mateus em aramaico é “Mathaios” e em hebraico
“Matatias”, nome que significa “dom de Deus”, “presente de Deus” para nós. Para
compreendermos bem o primeiro evangelho, é bom sabermos um pouco do contexto em
que foi escrito e como foi elaborado.
Quarenta anos após a morte de Jesus, depois da destruição
do Templo e de Jerusalém (ano 70 d.C.), reunindo vários grupos de fariseus e
escribas dedicados à pregação, houve uma Assembleia em Jamnia (Israel). Com a
destruição ocorrida em toda a parte, para não perderam a identidade e a fé,
escreveram o que era fundamental na organização, na crença e no viver judaicos.
Foi surgindo o judaísmo formativo cada vez mais
legalista e excludente, devido aos conflitos com outros grupos, como os judeus
cristãos da comunidade de Mateus. Esse judaísmo rabínico normativo deixou-nos
como herança a frase de Simeão, o justo, que viveu antes de Cristo: “O mundo
repousa sobre três pilares: o estudo da Palavra (Torá), a Liturgia (Avodab) e
as obras de misericórdia (Hesed)”.
Esse grupo começou a perseguir os judeus cristãos
espalhados em diversas comunidades na alta da Galiléia e na Síria. Aí estavam
as comunidades de Mateus que escreveram, por essa época, o evangelho segundo
Mateus para também afirmar sua identidade e guardar a memória revolucionária de
Jesus e do mistério pascal.
A comunidade de Mateus compunha-se de cristãos de origem
judaica pelo nascimento, pela educação, pela cultura e particularmente pelas
tradições litúrgicas. Como seus antepassados acreditavam na “shekhinah” – santa
presença de Deus que desce sobre o povo em oração, a comunidade cristã tem fé
em Cristo presente em suas reuniões. Para estes cristãos, a nova Lei, a Palavra
de Cristo, é regra de vida, como expressão verdadeira e universal da vontade de
Deus.
A composição do primeiro evangelho é clara, estilo sóbrio
e tom didático. Os dois primeiros capítulos formam a introdução, inspirada em
Moisés. O corpo do evangelho se reparte ente o ministério na Galiléia (4-13) e
em Jerusalém (14-28). Conclusão: A Páscoa da Libertação: Mt 26-28.
O evangelho segundo Mateus pode ser reconhecido como o
novo Pentateuco: a nova lei anunciada em cinco conjuntos de pregações e
narrativas, ou cinco livretos:
1)
“Gênesis” Mt 3-7: vinda do Reino de
Deus e a sua justiça que liberta os pobres.
2)
“Êxodo” Mt 8-10: a justiça provoca
conflitos.
3)
“Números” Mt 11, 1-13,52: o novo
povo de Deus.
4)
“Levítico” Mt 13, 53-18,35: a vida
definitiva do Reino.
5)
“Deuteronômio” Mt 19-25: novas
relações: mulher/homem; adulto/criança; poderoso/servo...
O trecho do evangelho deste domingo (Mateus 24, 37-44)
se insere no quinto livreto, denominado Deuteronômio. A palavra de Deus nos
alerta o que permaneçamos atentos, acordados. Lembra o tempo de Noé (cf. Gn 6,
912), quando as pessoas não estavam atentas aos sinais dos tempos, e sobreveio
a catástrofe do dilúvio; as catástrofes naturais são inesperadas. Assim será a
vinda do Filho do Homem.
O Evangelho usa uma forma apocalíptica de falar sobre a
vigilância constante que devemos viver. É preciso vigiar, pois nãos sabemos nem
o dia, nem a hora em que virá o Senhor. É necessário estarmos constantemente
preparados, como se estivéssemos no fim dos tempos, para não sermos
surpreendidos, como por um ladrão. Neste primeiro domingo do Advento, o que o
evangelho nos pede é vigilância ativa e prontidão.
Para compreender melhor o que o evangelho nos fala,
temos a luz da primeira leitura. O profeta Isaías descreve sua visão sobre a
plenitude da história, o final dos tempos: a casa do Senhor como o cume do
mundo, todas as nações e povos numerosos reunindo-se aí; Deus mesmo instruindo
o povo para que andem em seus caminhos e todos caminhando em suas sendas e em
sua Lei.
As espadas e lanças transformadas em ferramentas de
trabalhar a terra. Não haverá mais guerra e todos caminharão na Luz do Senhor.
É a descrição da utopia do Reino escatológico, Reinado de Deus, esperança
inabalável dos que servem a Deus.
O Salmo 121 (122) celebra a cidade de Jerusalém como
centro de romarias. Jerusalém significa “cidade da paz”. Há um grande desejo de
paz e bem para a cidade em dois aspectos: segurança para os que amam a cidade e
para os que nela habitam. A palavra “shalom”
tem um significado maior do que a ausência de guerra.
A carta aos Romanos nos fala que precisamos reconhecer o
tempo em que vivemos, pois é hora de acordar. É madrugada e o dia já se
aproxima. É necessário vestir a veste da luz e deixar as trevas. A salvação
está chegando.
Não repitamos as ações do povo do tempo de Noé, como
comilanças e bebedeiras, orgias e libertinagens, desonestidades, brigas,
rivalidades e guerras. O convite é muito claro: revistemo-nos das obras do
Senhor Jesus, o Messias. A vida cristã é dinamismo rumo à consumação do “dia do
Senhor”, a vinda de Cristo.
3. Atualizando a
Palavra
Iniciando o ano litúrgico, as leituras já nos apontam
para o final: a vinda do Filho do Homem, e nos dão uma luz orientadora para
nossa caminhada até sua chegada. O salmo nos ajuda a compreender quem é Senhor
que nos mantém na caminhada: “Que Ele não deixe teu pé vacilar, que teu vigia
não cochile! Não! Ele não cochila, nem dorme, o vigia de Israel”.
Nesta confiança, vamos permanecer vigilantes à espera do
Senhor que vem, a cada dia, ao nosso encontro e de toda a comunidade.
“acorramos com nossas boas obras ao encontro de Cristo que vem”, conforme
rezamos hoje na oração do dia.
A visão de Isaías nos enche de esperança de vermos a
humanidade toda vivendo sob a orientação do Senhor, andando em seus caminhos e
Ele mesmo nos ensinando seu projeto. A sua Palavra julgará as nações e os
povos, e todos, ouvindo sua voz, transformarão suas armas de guerra em
instrumentos de trabalho.
Não mais haverá combates uns contra os outros. Toda a
humanidade sairá das trevas do ódio, da injustiça, da competição e será guiada
pela luz do Senhor. Para que esse final chegue, é urgente começar agora.
Nosso pedido ardente neste tempo é: Vem, Senhor Jesus!
Ele já veio, vem e virá mostrar que é possível viver o projeto definitivo do
Pai. Projeto comunitário, sociedade igualitária, de irmãos que vivem na justiça
e na fraternidade. A nós cabe mudar a história da humanidade no momento atual
para que “venha a nós” o Reino de Deus.
É com a globalização da solidariedade, do
cooperativismo, da corresponsabilidade, conforme a convocação feita pelo Papa
Francisco em Lampedusa, que poderemos “estar preparados para a hora que vem o
Filho do Homem”:
“A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós
mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outro, faz-nos viver como se
fossemos bolas de sabão: estas são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão
do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença. Neste
mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao
sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é
responsabilidade nossa!” (Publicados por www.ihu.unisinos.br/noticias/521786
- Noticias - terça, 09 de julho de 2013 “A globalização da indiferença nos
tirou a capacidade de chorar”. O discurso do Papa Francisco em Lampedusa)
Que o Senhor nos encontre atentos, abertos e solidários
ao sofrimento dos irmãos!
Hoje existem catástrofes provocadas por uns poucos que
se sentem donos do mundo e do restante da humanidade. É preciso acordar para a
questão ecológica, para o direito das águas, das plantas e dos animais. Mais
ainda, acordar para os direitos dos pobres, das crianças, das mulheres, dos
indígenas, dos sem água, sem terra e sem teto.
“Despertai-nos, Senhor, com a luz da vossa graça para
percebemos a gravidade do momento e respondermos com prontidão ao vosso apelo”
(Missal Dominical – Missal da assembléia cristã, São Paulo: Paulus, 1995, p.9)
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Em cada celebração eucarística, o Pai nos faz passar das
trevas para a luz de Cristo. Realizou-se ritual e sacramentalmente a vinda do
Senhor, como advento intermediário, na comunhão de irmãos reunidos, na Palavra
proclamada e nos sinais eucarísticos do pão e do vinho, até que sua vinda
definitiva se realize plenamente e “todos vejam a salvação de nosso Deus”. Este
é o grande motivo de nossa ação de graças e nossa ardente súplica até que seu
Reino se estabeleça em toda terra.
Como peregrinos em travessia, seres inacabados em
processo permanente de crescimento e maturação e, vivendo num mundo ainda não
totalmente redimido, marcado por tantas discórdias, exclusões, guerras e
desrespeito à vida, recebemos do Senhor, nesta celebração, o dom do seu
Espírito. Ele nos mantém vigilantes, firmes, confiantes e insistentes,
despojando-nos das atitudes e ações das trevas, para vestirmos as armas da luz.
É necessário continuar suplicando e nos comprometendo
incansavelmente com a vinda do Reino de amor, de justiça, de inclusão, de
igualdade, de solidariedade e de paz em nosso tempo.