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VIGILIA PASCAL
“Quia vidi Dominum!” (Jo. 20,18)
“Eu vi o Senhor!”
Nesta Vigília de Sábado Santo é um dia que possui uma espiritualidade muito profunda. Por esse motivo, hoje é o dia em que devemos permanecer como Maria, que aos pés da Cruz guardava nos lábios o silêncio, enquanto o seu coração não cessava de oferecer à Divina Justiça a vida do seu Filho pela salvação da humanidade.
Em meio ao silêncio, podemos assim refletir: Jesus desceu ao vale das sombras da morte! Como Jesus desce também aos recantos escondidos e tenebrosos de nossa própria vida?
Como, vai nos encontrar, Ele se depara com aquilo que ignoramos, fingimos não existir, escondemos de nós mesmos e dos outros; aquilo que negamos, que negligenciamos e que guardamos em meio à escuridão, para que não seja encontrado?
Com sua morte e morte de cruz, Jesus nos apresenta a proposta de nos buscar exatamente por entre a escuridão de nossa alma.
Ele quer nos transformar, nos reavivar e nos trazer à verdadeira ressurreição!
Será que nesse dia, permitiremos que Jesus alcance o nosso mais intimo escondido, aquilo que há de morto em nós, para que possamos contemplar de forma real e possível a ressurreição?
Deus quer dar, também para cada um de nós, uma vida nova! “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”. (Efésios 5.14
Que assim como Jesus Cristo, que esteve no sepulcro, hoje possamos nos deparar com todas as situações da vida que nos conduzem à morte.
O que podemos deixar que morra em nós?
O que precisamos deixar que seja resgatado?
Como me libertarei das dores, das mágoas, dos ressentimentos?
Abrirei meu coração ao amor e ao perdão?
Eu quero mesmo recomeçar e fazer essa experiência da vida nova, do despertar dentre os mortos e contemplar a luz de Cristo?
Que nesse dia possamos encontrar no silêncio, não só aquilo que há de morto em nós, mas que possamos nos deparar com o próprio Cristo, que já passou por todas as humilhações e que padeceu na cruz por nossos pecados.
Que no silêncio da alma tenhamos uma fé viva que nos conduza à salvação.
Que cada um de nós possa também viver essa Páscoa, como uma pessoa resgatada do cativeiro, salva e liberta, com coragem para meditar sobre tudo aquilo que nos leva à morte e ao pecado, fazendo a opção de sepultar o que nos arrasta para longe da graça de Deus.
E deixar rolar a pedra do nosso sepulcro para renascer para a vida nova trazida por Jesus ressurecto dentro os mortos.
Que esteja viva em nós a expectativa por esta noite santa, em que Cristo Jesus passou da morte à vida e que cada um à exemplo de Madalena, possa assim dizer: “Eu vi o Senhor!”
Nesta noite como o menino, a criança judia pergunta a seu pai: “Porque esta noite é diferente de todas as outras. Nos podemos perguntar: “Que está acontecendo hoje?
E como uma antiquíssima homilia do Séc IV nós podemos ouvir:
Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam à séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.
Ele vai, antes de tudo, à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, e agora libertos dos sofrimentos.
O Senhor entrou onde eles estavam levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levante dentre os mortos, e Cristo te iluminará. Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: “Saí!”; e aos que jaziam nas trevas: “Vinde para a luz!”; e aos entorpecidos: “Levantai-vos!”
Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te, obra de minhas mãos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra, e fui mesmo sepultado abaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado.
Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi; para restituir-te o sopro da vida original. Vê nas minhas faces as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, a tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar dos teus ombros os pesos dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do paraíso. Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava voltada contra ti.
Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus. Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, constituído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade.”
A nossa assembleia, meus irmãos, é uma festa de vitória, a vitória do Rei do Universo, Filho de Deus.
Hoje, o demônio foi destruído pelo Crucificado, e a humanidade encheu-se de alegria pelo Ressuscitado. […] Exclama este dia: “Hoje, vi o Rei do Céu, cingido de luz, subir acima do brilho e de toda a claridade, acima do sol e das águas, acima das nuvens.” […] Ele esteve oculto, primeiro no seio de uma mulher, depois no seio da terra, primeiro santificando aqueles que são gerados, em seguida concedendo a vida pela Sua ressurreição àqueles que morreram, porque “deles fugirão a tristeza e os gemidos” (Is 35, 10). […]
Hoje a nossa certeza é que Cristo passa em meio às dificuldades dos seus seguidores. Ele está presente e está falando às consciências quando tentam calar a voz dos seus discípulos. Nós, ao saber das tantas más noticias que se avolumam dentro e fora da Igreja, deveríamos sair da tibieza na qual vivemos o nosso discipulado para que o nosso fervor seja uma intercessão poderosa que suba aos céus em favor dos irmãos perseguidos por causa do Nome do Senhor Jesus e Ressuscitarmos com Cristo e como a Igreja primitiva gritar em meio as perseguições Ele Ressuscitou Verdadeiramente!
Queridos vocês sabem : Na China, bispos e sacerdotes da Igreja Católica, a que vive na clandestinidade, são presos por confessar a sua fé; os seminários estão no anonimato e se nega a liberdade religiosa através de um controle total sobre a vida social, cultural e religiosa no país.
A Coréia do Norte declarou-se Estado ateu e não há liberdade religiosa; as manifestações religiosas podem terminar em detenções e envios aos campos de concentração. Há casos de violência contra os cristãos também na Indonésia e no Egito. Na Mauritânia, cuja única religião é o islamismo, está proibido a publicação e a divulgação de Bíblias.
Mas também na América há hostilidade à Igreja Católica. Quem já não ouviu falar das dificuldades que os bispos enfrentam ao pronunciar-se na Venezuela ou em Cuba? Na Bolívia existe uma atitude de desconfiança para com a Igreja Católica. Até no nosso querido Brasil, vários sacerdotes, religiosas e religiosos católicos foram assassinados. ( Irmã Doroty)
Hoje a Igreja celebra a verdadeira morte de Cristo, separação entre corpo e alma, e a salvação de todos os justos que lhe antecederam. Esses são os mistérios do Sábado Santo. A Igreja acompanha silenciosamente essa obra de Cristo na espera da sua Ressurreição. Jesus veio para salvar-nos e está levando a término essa obra. Hoje, no silêncio das nossas igrejas, das nossas residências, meditemos esse mistério. Pensemos também no valor do silêncio para a nossa vida espiritual. Temos que sentir necessidade desse espaço, dessa solidão acompanhada pelo Senhor Jesus na qual podemos expor as necessidades do espírito. Na sociedade moderna, cheia de barulho, é muito importante que nós saibamos encontrar esses momentos de silêncio para falar mais sossegadamente com Deus.
Cristo também desceu à região da morte que estava na nossa alma. Nós havíamos criado essa região tenebrosa com a escuridão dos nossos pecados. Tudo agora é luz!
Ele Ressuscitou-nos!
Agora sim, escutamos com alegria nesta Vigília Pascoal: “O Senhor esteja convosco”. Responderemos que verdadeiramente “Ele está no meio de nós”. Deus está em meio da Igreja, Jesus está na sua alma em graça.
Procuremos escutar nesse Sábado Santo e descobriremos a presença silenciosa de Cristo que passa em todas as circunstâncias da nossa jornada, como outrora no Éden, e contemplaremos o “Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde” (Gn 3,8). E rezemos por todos aqueles que vivem no silêncio forçado da perseguição que é, ao mesmo tempo, uma força silenciosa para toda a Igreja.
A ressurreição do Senhor é ao mesmo tempo um fato histórico que transcende a mesma história. A sobriedade das narrações da ressurreição fala por si mesma. Não busquemos uma explicação racionalista para esse mistério, simplesmente adoremos o mistério! Diante do sepulcro vazio e de testemunhas tão qualificadas, nós renderemos a nossas inteligências.
Nós cremos porque doze homens – brutos, sem cultura, simples pescadores – nos disseram: “Cristo ressuscitou e nós o vimos”. Tal afirmação poderia escandalizar o orgulho intelectual de alguns; nós, ao contrário, acreditamos com fé firme, robusta: o Senhor ressuscitou!
Quebrou-se o silêncio de Deus, pois ele falou-nos tudo no seu Filho.
A árvore da compaixão é, sem dúvida, a Santa Cruz, que agora a contemplamos gloriosa pelo poder da Ressurreição do Senhor.
Cristo ressuscitou, ele mesmo é a árvore da vida.
“Quia vidi Dominum!” (Jo. 20,18)
Homilia Padre Emílio Carlos
Vigilia de Páscoa 2012
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