sábado, 5 de maio de 2012


 

 A vinha  imagem do novo povo de Deus.

5º Domingo da Páscoa - Ano B -
06/05/2012

“Cantai ao Senhor um canto novo, porque ele fez maravilhas; e revelou sua justiça diante das nações, aleluia!” (Sl 97,1s)

Celebramos hoje a missa que nos faz uma referência à VIDEIRA. No Antigo Testamento “a vinha de Javé” era Israel, era o povo eleito de Deus. Mas esse povo não produziu os frutos esperados por Deus. Daí, o Novo Testamento traz a parábola de Jesus, dizendo que foram os vinhateiros que não quiseram dar a devida parte do produto ao proprietário: este, depois de ter mandado servos, enviou finalmente seu próprio filho, mas os vinhateiros o mataram, e a vinha foi dada a outros arrendatários. Assim, a vinha se tornou imagem do novo povo de Deus. É neste sentido que João recorre à imagem da videira no Evangelho de hoje (Jo 15,1-8).
A parábola que lemos na celebração deste Quinto Domingo da Páscoa aplica-se, inicialmente, a Jesus: “Eu sou a verdadeira videira”, assegura-nos o Divino Mestre. Mas trata-se de uma videira comunitária; é Cristo ligado aos seus discípulos, aos seus apóstolos, aos seus seguidores. É nestes, que estão unidos com Ele, que Jesus produz os frutos que glorificam ao Divino Pai Eterno: os frutos da caridade, do amor, da acolhida.

Meus queridos irmãos,

Jesus Cristo glorioso sobe aos céus, mas permanece como raiz e centro da humanidade redimida, recriada pelo Seu sangue. Jesus permanece como fonte de vida para todos nós. Desta forma, entendemos serem os fiéis um prolongamento de Cristo. A figura da videira para simbolizar o povo não era estranha, já havia sido usada em Isaías (5, 1-7) e em Ezequiel (15,1-8).

Jesus resgata a velha comparação entre os homens e a videira e a ilumina: Deus é o agricultor. A videira é Jesus, a melhor cepa possível, que produzirá os melhores frutos, inteiramente do gosto e do agrado do Deus Pai; dessa videira o Criador jamais se queixará. Pela paixão e ressurreição de Jesus nós fomos enxertados no tronco. Agora fazemos parte da nova videira. Enquanto estivermos inseridos no tronco, como os sarmentos na cepa, é certo que também nossos frutos serão agradáveis a Deus, porque a seiva, a vida de Cristo-tronco, é a mesma que corre em nós-ramos.

Somos, portanto, o prolongamento de Cristo; unidos a Cristo estamos também em nossas obras, da mesma forma como Ele é um com o Pai em todos os passos de sua peregrinação terrena. Esta verdade, sobre a qual Jesus tanto insistiu, é das que mais devem despertar nossa confiança nele, o nosso esforço para conformar nossos pensamentos, planos e ações à sua maneira de agir.

Meus irmãos,

Se somos prolongamentos de Cristo, somos sócios ou parceiros de um projeto divino de salvação. Por isso, temos que pedir, como o Rei Davi, a graça da sabedoria para vivenciarmos nosso batismo e na confirmação de nossa fé dentro do projeto de libertação e de salvação proposto pelo Salvador. Jesus promete esses frutos ricos de fecundidade aos ramos que se fizerem enxertados nele.

Todos nós temos que ser co-participantes do mistério da salvação, temos que procurar dar nossa contribuição para permanecermos unidos a Cristo e ao seu projeto do reino das Bem-aventuranças.

Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado é o Senhor da História e da Graça. Em decorrência disso, Ele precisa dos homens e das mulheres para implementar o seu projeto salvífico. A História depende de Cristo, como os ramos do tronco. Sozinhos, nada faremos, porque o ramo que não está ligado ao tronco perece, morre, desaparece. Unidos, porém, ao tronco, ao Senhor da Vida, transformaremos cada dia de nossa vida numa manifestação do milagre de amor, qual uma seiva que, vinda do Tronco, abençoa os seus ramos fiéis.

Aí reside, pois, a novidade da Missa de hoje: a comunhão da criatura humana com Deus na vida presente, que se plenifica na eternidade. Eis porque devemos repetir, hoje e sempre, com o apóstolo Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne eu a vivo pela fé no Filho de Deus” (Gl 2,20).

Queridos irmãos,

Ao formamos comunhão com o tronco, os ramos edificam a comunidade de fiéis. Comunhão e comunidade vêm da mesma raiz de fé. Temos que nos engajar e nos disponibilizarmos a fazer acontecer o Reino de Deus entre nós. Para isso, contamos com a graça especial da Igreja de Cristo, a única e verdadeira Igreja instituída por Cristo, a Igreja Católica, uma comunidade que se esforça por viver em comunhão, dando ao mundo testemunho dos frutos da salvação que brotam do Senhor Ressuscitado.

Em que consiste esta união vital com Cristo? Nada mais, nada menos do que o amor fraterno. É o amar, não só com palavras, mas em atos e verdade. E a segunda leitura da celebração deste domingo nos fala desse amor eficaz, ou seja, um amor que provem de Deus e que deve iluminar a nossa caminhada de comunidade de fé, de comunidade familiar, de vida pessoal de fé em Deus Trindade.

Antes, a primeira leitura(cf. At 9,26-31) fala da conversão de Paulo, seu contato com os apóstolos de Jerusalém, mediante Barnabé, suas discussões com os judeus do helenismo e sua missão em Tarso. Esse relato nos demonstra que já existia a comunhão eclesial desde os tempos de Paulo.

A liturgia deste domingo nos oferece, ainda, a oportunidade para realçar a relação entre a Mesa da Palavra e a Mesa Eucarística, mediante o simbolismo do vinho. A videira verdadeira produziu, como primeiro de seus frutos, o vinho da salvação, o sangue derramado na cruz pela nossa salvação. Assim, nossos frutos deverão ser da mesma natureza!

Meus irmãos,

A Segunda Leitura nos ensina a amar em obras e em verdade(cf. 1Jo 3,18-24). Que participamos da verdade de Deus, verifica-se no amor fraterno, não em palavras, mas em obras e em verdade. O amor exige o homem na sua totalidade. Mas comunica, ainda, mais do que exige: a certeza de estar em comunhão com Deus, de poder contar com ele, mesmo quando o coração acusa a gente: Deus é maior do que o nosso coração. Fica claro que este é o seu mandamento: que creiamos e nos amemos uns aos outros. Tudo se resume em ver se, como Cristo, dá também a sua vida pelos irmãos, isto é, se ama com fatos e na verdade; numa palavra, se observa os mandamentos de Deus. A dimensão horizontal da vida se torna assim critério de dimensão vertical.

Caros fiéis,

Crescer em todos os sentidos é uma aventura emocionante, que dura o tempo todo de nossa existência. O mesmo Deus que nos estimula a nos darmos ao máximo, compreende melhor do que nós mesmos nossas fragilidades e nos acolhe como realmente somos, para nos ajudar a crescer.

Peçamos, pois, ao Ressuscitado conceder-nos uma fé corajosa, que aumente muito a nossa capacidade de realizar boas obras e vencer os desafios, porque “quem em mim permanece, esse dá muito fruto”. Assim seja.

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