«Ide e proclamai que está próximo o reino dos céus»
[O jovem] Francisco assistia devotamente à Missa em honra dos apóstolos; o
Evangelho era aquele em que Jesus envia os Seus discípulos a pregar e lhes
ensina a maneira evangélica de viver: «Não possuais ouro, nem prata, nem cobre
em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias,
nem cajado». Logo que compreendeu e interiorizou este texto, ficou apaixonado
por essa pobreza dos apóstolos e gritou, num transporte de alegria: «É isto
que eu quero! É isto que desejo com toda a minha alma!» E, sem mais, tirou os
sapatos, deixou cair o cajado, abandonou o alforje e o dinheiro como objectos
dignos de repúdio, ficou apenas com uma túnica, e deitou fora o cinto, que
substituiu por uma corda: pôs todo o seu empenho em concretizar o que acabara
de ouvir e quis conformar-se em tudo com esse código de perfeição, dado aos
apóstolos.
Um impulso comunicado por Deus levou-o, desde então, à conquista da perfeição
evangélica e a uma campanha de penitência. Quando ele falava [...], as suas
palavras eram totalmente impregnadas pela força do Espírito Santo: penetravam
até ao mais profundo dos corações e mergulhavam os ouvintes em espanto. Toda a
sua pregação era um anúncio de paz, e começava cada um dos seus sermões por
esta saudação ao povo: «Que o Senhor vos dê a paz!» «Foi uma revelação do
Senhor que me ensinou esta fórmula», declarou mais tarde. [...]
Falava-se cada vez mais do homem de Deus, dos seus ensinamentos tão simples e
da sua vida, e alguns, com o seu exemplo, eram tocados por esse espírito de
penitência e logo se juntavam a ele e, deixando tudo e vestindo-se como ele,
começaram a partilhar a sua vida.
São Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja
Vida de São Francisco, Legenda major, cap. 3
Vida de São Francisco, Legenda major, cap. 3
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