"As nações caminharão à sua luz"
"As nações caminharão à sua luz" (Ap 21, 24). O
objetivo da missão da Igreja é iluminar com a luz do Evangelho todos os povos
em seu caminhar na história rumo a Deus, pois Nele encontramos a sua plena realização. Devemos
sentir o anseio e a paixão de iluminar todos os povos, com a luz de Cristo, que
resplandece no rosto da Igreja, para que todos se reúnam na única família humana,
sob a amável paternidade de Deus.
É nesta perspectiva que os discípulos de Cristo espalhados
pelo mundo trabalham, se dedicam, gemem sob o peso dos sofrimentos e doam a
vida. Reitero com veemência o que muitas vezes foi dito pelos meus
predecessores: a Igreja não age para ampliar o seu poder ou reforçar o seu
domínio, mas para levar a todos
Cristo, salvação do mundo. Pedimos somente nos colocar a
serviço da humanidade, sobretudo daquela sofredora e marginalizada, porque
acreditamos que "o compromisso de anunciar o Evangelho aos homens de nosso
tempo... é sem dúvida alguma um serviço prestado à comunidade cristã, mas
também a toda a
humanidade" (Evangelii nuntiandi, 1), que "apesar
de conhecer realizações maravilhosas, parece ter perdido o sentido último das
coisas e de sua própria existência"(Redemptoris missio, 2).
1. Todos os povos são chamados à salvação.
Na verdade, a humanidade inteira tem a vocação radical de
voltar à sua origem, que é Deus, somente no Qual ela encontrará a sua plenitude
por meio da
restauração de todas as coisas em Cristo. A dispersão, a
multiplicidade, o conflito, a inimizade serão repacificadas e reconciliadas
através do sangue da Cruz e
reconduzidas à unidade.
O novo início já começou com a ressurreição e a exaltação de
Cristo, que atrai a si todas as coisas, as renova, as tornam participantes da
eterna glória de Deus. O
futuro da nova criação brilha já em nosso mundo e acende,
mesmo se em meio a contradições e sofrimentos, a nossa esperança por uma vida
nova. A missão da
Igreja é "contagiar" de esperança todos os povos.
Por isto, Cristo chama, justifica, santifica e envia os seus discípulos para
anunciar o Reino de Deus, a fim de que
todas as nações se tornem Povo de Deus. É somente nesta
missão que se compreende e se confirma o verdadeiro caminho histórico da
humanidade. A missão
universal deve se tornar uma constante fundamental na vida
da Igreja. Anunciar o Evangelho deve ser para nós, como já dizia o apóstolo
Paulo, um compromisso
impreterível e primário.
2. Igreja peregrina
A Igreja Universal, sem confim e sem fronteiras, se sente
responsável por anunciar o Evangelho a todos os povos (cfr. Evangelii
nuntiandi, 53). Ela, germe de
esperança por vocação, deve continuar o serviço de Cristo no
mundo. A sua missão e o seu serviço não se limitam às necessidades materiais ou
mesmo espirituais
que se exaurem no âmbito da existência temporal, mas na
salvação transcendente que se realiza no Reino de Deus. (cfr. Evangelii
nuntiandi, 27).
Este Reino, mesmo sendo em sua essência escatológico e não
deste mundo (cfr. Jo 18,36), está também neste mundo e em sua história é força
de justiça, paz,
verdadeira liberdade e respeito pela dignidade de todo ser
humano. A Igreja mira em transformar o mundo com a proclamação do Evangelho do
amor, "que ilumina
incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de
viver e agir e... deste modo, fazer entrar a luz de Deus no mundo" (Deus
caritas est, 39). Esta é a
missão e o serviço que, também com esta Mensagem, chamo a
participar todos os membros e instituições da Igreja.
3. Missão ad gentes
A missão da Igreja é chamar todos os povos à salvação
realizada por Deus em seu Filho encarnado. É necessário, portanto, renovar o
compromisso de anunciar o
Evangelho, fermento de liberdade e progresso, fraternidade,
união e paz (cfr. Ad gentes, 8). Desejo "novamente confirmar que a tarefa
de evangelizar todos os
homens constitui a missão essencial da
Igreja"(Evangelii nuntiandi, 14), tarefa e missão que as vastas e
profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais
urgentes. Está em questão a salvação eterna das pessoas, o
fim e a plenitude da história humana e do universo. Animados e inspirados pelo
Apóstolo dos Gentios,
devemos estar conscientes de que Deus tem um povo numeroso
em todas as cidades percorridas também pelos apóstolos de hoje (cfr. At 18,
10). De fato, "a
promessa é em favor de todos aqueles que estão longe, todos
aqueles que o Senhor nosso Deus chamar "(At 2,39).
Toda a Igreja deve se empenhar na missão ad gentes, enquanto
a soberania salvífica de Cristo não está plenamente realizada: "Agora,
porém, ainda não vemos que
tudo lhe esteja submisso" (Hb 2,8).
4. Chamados a evangelizar também por meio do martírio
Neste dia dedicado às missões, recordo na oração aqueles que
fizeram de suas vidas uma exclusiva consagração ao trabalho de evangelização.
Menciono em particular as Igrejas locais, os missionários e missionárias
que testemunham e propagam o Reino de Deus em situações de perseguição, com
formas de opressão que vão desde a discriminação social até a prisão, a tortura e a
morte. Não são poucos aqueles que atualmente são levados à morte por causa de
seu "Nome". É ainda de grande atualidade o que escreveu o meu venerado
predecessor papa João Paulo II: "A comemoração jubilar descerrou-nos um
cenário surpreendente, mostrando o nosso tempo particularmente rico de testemunhas,
que souberam, ora dum modo ora doutro, viver o Evangelho em situações de
hostilidade e perseguição até darem muitas vezes a prova suprema do
sangue" (Novo millennio ineunte, 41).
A participação na missão de Cristo, de fato, destaca também
a vida dos anunciadores do Evangelho, aos quais é reservado o mesmo destino de
seu Mestre.
"Lembrai-vos do que eu disse: nenhum empregado é maior
do que seu patrão. Se perseguiram a mim, vão perseguir a vós também" (Jo
15,20). A Igreja se coloca no mesmo caminho e passa por tudo aquilo que Cristo passou,
porque não age baseando-se numa lógica humana ou com a força, mas seguindo o
caminho da Cruz e se fazendo, em obediência filial ao Pai, testemunha e
companheira de viagem desta humanidade.
Às Igrejas antigas como as de recente fundação, recordo que
são colocadas pelo Senhor como sal da terra e luz do mundo, chamadas a irradiar
Cristo, Luz do mundo, até os extremos confins da terra. A missão ad gentes
deve ser a prioridade de seus planos pastorais.
Agradeço e encorajo as Pontifícias Obras Missionárias pelo
indispensável trabalho a serviço da animação, formação missionária e ajuda
econômica às jovens Igrejas. Por meio destas instituições pontifícias, se
realiza de forma admirável a comunhão entre as Igrejas, com a troca de dons, na
solicitude recíproca e na comum
projetualidade missionária.
5. Conclusão
O impulso missionário sempre foi sinal de vitalidade de
nossas Igrejas (cfr. Redemptoris missio, 2). É preciso, todavia, reafirmar que
a evangelização é obra do Espírito, e que antes mesmo de ser ação, é testemunho e irradiação
da luz de Cristo (cfr. Redemptoris missio, 26) através da Igreja local, que
envia os seus missionários e missionárias para além de suas fronteiras.
Rogo a todos os católicos para que peçam ao Espírito Santo que aumente na
Igreja a paixão pela missão de proclamar o Reino de Deus e ajudar os missionários, as
missionárias e as comunidades cristãs empenhadas nesta missão, muitas vezes em
ambientes hostis de perseguição.
Ao mesmo tempo, convido todos a darem um sinal crível da
comunhão entre as Igrejas, com uma ajuda econômica, especialmente neste período
de crise que a humanidade está vivendo, a fim de colocar as jovens Igrejas
em condições de iluminar as pessoas com o Evangelho da caridade.
Guie-nos em nossa ação missionária a Virgem Maria, Estrela
da Evangelização, que deu ao mundo Cristo, luz das nações, para que leve a
salvação "até aos extremos da terra" (At 13,47).
A todos, a minha bênção.
Cidade do Vaticano, 29 de junho de 2009
BENEDICTUS PP. XVI
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