"Anunciar, testemunhar, adorar"
Homilia do Papa Francisco pronunciada na Celebração Eucarística do III Domingo de Páscoa
Roma,
Apresentamos a Homilia do Papa Francisco pronunciada na Celebração Eucaristica do III Domingo de Páscoa, 14 de abril, na Basílica de São Paulo Fora de Muros.
Amados irmãos e irmãs!
É uma alegria para mim celebrar a Eucaristia convosco nesta Basílica.
Saúdo o Arcipreste, Cardeal James Harvey, e agradeço-lhe as palavras
que me dirigiu; juntamente com ele, saúdo e agradeço às várias
Instituições, que fazem parte desta Basílica, e a todos vós.
Encontramo-nos sobre o túmulo de São Paulo, um Apóstolo humilde e grande
do Senhor, que O anunciou com a palavra, testemunhou com o martírio e
adorou com todo o coração. É precisamente sobre estes três verbos que
queria reflectir à luz da Palavra de Deus que escutámos: anunciar,
testemunhar, adorar.
1. Na primeira Leitura, impressiona a força de Pedro e dos outros
Apóstolos. À ordem de não falar nem ensinar no nome de Jesus, de não
anunciar mais a sua Mensagem, respondem com clareza: «Importa mais
obedecer a Deus do que aos homens». E nem o facto de serem flagelados,
ultrajados, encarcerados os deteve. Pedro e os Apóstolos anunciam, com
coragem e desassombro, aquilo que receberam: o Evangelho de Jesus. E
nós? Somos nós capazes de levar a Palavra de Deus aos nossos ambientes
de vida? Sabemos falar de Cristo, do que Ele significa para nós, em
família, com as pessoas que fazem parte da nossa vida diária? A fé nasce
da escuta, e fortalece-se no anúncio.
2. Mas, façamos mais um passo: o anúncio de Pedro e dos Apóstolos não
é feito apenas com palavras, mas a fidelidade a Cristo toca a sua vida,
que se modifica, recebe uma nova direcção, e é precisamente com a sua
vida que dão testemunho da fé e anunciam Cristo. No Evangelho, Jesus
pede por três vezes a Pedro que apascente o seu rebanho, e o faça com
todo o seu amor, profetizando-lhe: «Quando fores velho, estenderás as
mãos e outro te há-de atar o cinto e levará para onde não queres» (Jo 21,
18). Trata-se de uma palavra dirigida primariamente a nós, Pastores:
não se pode apascentar o rebanho de Deus, se não se aceita ser conduzido
pela vontade de Deus mesmo para onde não queremos, se não estamos
prontos a testemunhar Cristo com o dom de nós mesmos, sem reservas nem
cálculos, por vezes à custa da nossa própria vida. Mas isto vale para
todos: tem-se de anunciar e testemunhar o Evangelho. Cada um deveria
interrogar-se: Como testemunho Cristo com a minha fé? Tenho a coragem de
Pedro e dos outros Apóstolos para pensar, decidir e viver como cristão,
obedecendo a Deus? É certo que o testemunho da fé se reveste de muitas
formas, como sucede num grande afresco que apresenta uma grande
variedade de cores e tonalidades; todas, porém, são importantes, mesmo
aquelas que não sobressaem. No grande desígnio de Deus, cada detalhe é
importante, incluindo o teu, o meu pequeno e humilde testemunho, mesmo o
testemunho oculto de quem vive a sua fé, com simplicidade, nas suas
relações diárias de família, de trabalho, de amizade. Existem os santos
de todos os dias, os santos «escondidos», uma espécie de «classe média
da santidade» – como dizia um escritor francês –, aquela «classe média
da santidade» da qual todos podemos fazer parte. Mas há também, em
diversas partes do mundo, quem sofra – como Pedro e os Apóstolos – por
causa do Evangelho; há quem dê a própria vida para permanecer fiel a
Cristo, com um testemunho que lhe custa o preço do sangue. Recordemo-lo
bem todos nós: não se pode anunciar o Evangelho de Jesus sem o
testemunho concreto da vida. Quem nos ouve e vê, deve poder ler nas
nossas acções aquilo que ouve da nossa boca, e dar glória a Deus! Isto
traz-me à mente um conselho que São Francisco de Assis dava aos seus
irmãos: Pregai o Evangelho; caso seja necessário, mesmo com as palavras.
Pregar com a vida: o testemunho. A incoerência dos fiéis e dos Pastores
entre aquilo que dizem e o que fazem, entre a palavra e a maneira de
viver mina a credibilidade da Igreja.
3. Mas tudo isto só é possível, se reconhecermos Jesus Cristo; pois
foi Ele que nos chamou, nos convidou a seguir o seu caminho, nos
escolheu. Só é possível anunciar e dar testemunho, se estivermos unidos a
Ele, precisamente como, no texto do Evangelho de hoje, estão ao redor
de Jesus ressuscitado Pedro, João e os outros discípulos; vivem uma
intimidade diária com Ele, pelo que sabem bem quem é, conhecem-No. O
Evangelista sublinha que «nenhum dos discípulos se atrevia a
perguntar-Lhe: “Quem és tu?”, porque bem sabiam que era o Senhor» (Jo 21,
12). Está aqui um dado importante para nós: temos de viver num
relacionamento intenso com Jesus, numa intimidade tal, feita de diálogo e
de vida, que O reconheçamos como «o Senhor». Adorá-Lo! A passagem que
ouvimos do Apocalipse, fala-nos da adoração: as miríades de anjos, todas
as criaturas, os seres vivos, os anciãos prostram-se em adoração diante
do trono de Deus e do Cordeiro imolado, que é Cristo e para quem é
dirigido o louvor, a honra e a glória (cf. Ap 5, 11-14).
Gostaria que todos se interrogassem: Tu, eu, adoramos o Senhor? Vamos
ter com Deus só para pedir, para agradecer, ou vamos até Ele também para
O adorar? Mas então que significa adorar a Deus? Significa aprender a
estar com Ele, demorar-se em diálogo com Ele, sentindo a sua presença
como a mais verdadeira, a melhor, a mais importante de todas. Cada um de
nós possui na própria vida, de forma mais ou menos consciente, uma
ordem bem definida das coisas que são consideradas mais ou menos
importantes. Adorar o Senhor quer dizer dar-Lhe o lugar que Ele deve
ter; adorar o Senhor significa afirmar, crer – e não apenas por palavras
– que Ele é o único que guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o
Senhor quer dizer que vivemos na sua presença convencidos de que é o
único Deus, o Deus da nossa vida, o Deus da nossa história.
Daqui deriva uma consequência para a nossa vida: despojar-nos dos
numerosos ídolos, pequenos ou grandes, que temos e nos quais nos
refugiamos, nos quais buscamos e muitas vezes depomos a nossa segurança.
São ídolos que frequentemente conservamos bem escondidos; podem ser a
ambição, o carreirismo, o gosto do sucesso, o sobressair, a tendência a
prevalecer sobre os outros, a pretensão de ser os únicos senhores da
nossa vida, qualquer pecado ao qual estamos presos, e muitos outros. Há
uma pergunta que eu queria que ressoasse, esta tarde, no coração de cada
um de nós e que lhe respondêssemos com sinceridade: Já pensei qual
possa ser o ídolo escondido na minha vida que me impede de adorar o
Senhor? Adorar é despojarmo-nos dos nossos ídolos, mesmo os mais
escondidos, e escolher o Senhor como centro, como via mestra da nossa
vida.
Amados irmãos e irmãs, todos os dias o Senhor nos chama a segui-Lo
corajosa e fielmente; fez-nos o grande dom de nos escolher como seus
discípulos; convida-nos a anunciá-Lo jubilosamente como o Ressuscitado,
mas pede-nos para o fazermos, no dia a dia, com a palavra e o testemunho
da nossa vida. O Senhor é o único, o único Deus da nossa vida e
convida-nos a despojar-nos dos numerosos ídolos e a adorar só a Ele.
Anunciar, testemunhar, adorar. Que a bem-aventurada Virgem Maria e o
apóstolo Paulo nos ajudem neste caminho e intercedam por nós. Assim
seja.
© Copyright 2013 - Libreria Editrice Vaticana
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