ASCENSÃO DO
SENHOR
12 de maio 2013
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" O Filho do lado do Pai, fonte de vida e do Espírito Santo que guia a Igreja."
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Leituras:
Atos 1, 1-11;
Salmo 46 (47), 2-3.
6-7. 8-9 (R/6);
Carta de São Paulo aos Efésios 1, 17-23;
Lucas 24, 46-53.
COR
LITÚRGICA: BRANCA OU
DOURADA
O Senhor ressuscitou! Aleluia! Nesta Eucaristia,
damos graças a Deus pela ascensão do Senhor ao céu, por esta elevação de todo o
universo com Jesus e por esta certeza de que todas as pessoas são com Ele, elevadas
e introduzidas na intimidade plena e definitiva de Deus. Lembremos com carinho
de todas as mães que são para nós a personificação do amor carinhoso de Deus
para com o seu povo.
1. Situando-nos brevemente
A celebração da Ascensão do Senhor não se restringe à recordação
solene da volta de Cristo ao Pai, Ele que vai para o céu e senta à direita de
Deus, mas é o momento em que se explicita o Filho como fonte do Espírito. Ele,
de junto de Deus, nos enviará aquele que manterá viva na Igreja a memória de
sua Páscoa, configurando-a como um testemunho de seu amor por nós.
Do mistério da Ascensão de Cristo participa toda a Igreja que,
no mundo, continua sua missão guiada pelo Espírito do Senhor. Como peregrina do
Evangelho, tem como horizonte aquele lugar que o próprio Filho ocupa na
companhia de seu Pai. Deste modo, a liturgia de hoje dota de sentido a
existência da comunidade dos fiéis.
2. Recordando a Palavra
No Evangelho, ouvimos que Jesus mandou os discípulos, como suas
testemunhas, pregar a todos as nações a conversão para a remissão dos pecados.
E Ele ordenou que ficassem em Jerusalém até serem revestidos da força do Alto,
o Espírito Santo. Jesus levou os discípulos até Betânia onde foi elevado ao
céu. Os discípulos voltaram a Jerusalém onde frequentavam o Tempo louvando a
Deus.
A narrativa dos Atos dos Apóstolos nos traz a questão
apresentada pelos discípulos: “Senhor, será agora que vais restaurar a realeza
em Israel?” Para entender melhor esta questão, precisamos saber que os
primeiros cristãos esperavam a volta do Senhor Ressuscitado para breve.
Entretanto, Jesus lhes diz: “Não lhes compete conhecer a hora do Senhor”. Isso porque
agora começa o tempo da Igreja em que os discípulos terão de dar testemunho de
Jesus.
O primeiro tempo de seu trabalho junto aos discípulos e suas
discípulas está completo. É o momento para o segundo tempo do “jogo”: o tempo
de Igreja, no qual os discípulos continuarão com a mesma missão de Jesus. Isto
é explicado ainda pela aparição de dois jovens vestidos de branco que lhes
dizem: “Homens da Galileia, por que estais aí a contemplar o céu? Este Jesus
que acabastes de ver partir voltará igualmente”.
Isto não quer dizer somente que os discípulos não devem ficar
olhando para cima, entretanto, devem por mãos à obra na certeza de que Jesus
subiu aos céus. Mais que isso: recordar que, por meio da ação da Igreja no
mundo, vivificada pelo Espírito, o Senhor poderá ser visto regressar de junto
de Deus. Promessa garantida de cumprimento por duas testemunhas celestes. O
tempo da Igreja começou e por meio dela, sacramentalmente, o Senhor sempre se
faz presente.
Na segunda leitura de hoje, ouvimos as palavras de São Paulo
falando sobre as grandezas que o Pai fez em Cristo, ressuscitando-o de entre os
mortos e fazendo-o assentar a sua direita nos céus.
A ascensão do Senhor significa a elevação de Cristo à glória
eterna, assim como dizemos no Credo: “Subiu aos céus, está sentado à direita de
Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos”. Pela
ressurreição, Jesus foi estabelecido Senhor do Universo. Ele participa do poder
de Deus.
São Paulo diz que, no fim dos tempos, Cristo entregará o Reino a
seu Pai, para que Deus seja tudo em todos. Aquele julgamento, a volta de
Cristo, nós chamamos de “parusia”.
“Virá ao fim; Cristo destruirá todas as forças do mal; e
entregará o Reino a Deus Pai. Quando tudo estiver sobre o governo de Cristo, Ele
mesmo, o Filho, se colocará sob a autoridade de Deus que lhe submeteu, para que
Deus seja tudo em todos” (1 Cor 15,24-28).
O Ressuscitado está com o Pai, mas está também conosco, na sua
Igreja. Assim como ele foi visto subir aos céus, será visto também ao retornar
ao seio dos seus – não somente no fim dos tempos – mas como antecipação por
meio de cada gesto dele que a Igreja recordar.
3. Atualizando a Palavra
O acontecimento da Páscoa é único e foi narrado de maneiras
diversas. Ao morrer na cruz, Jesus é, ao mesmo tempo, ressuscitado pelo Pai e
entra numa vida glorificada que não conhece tempo nem espaço. No mesmo momento,
Jesus dá o seu Espírito, o Espírito Santo (Jo 19,30b). Para mostrar a presença
do Ressuscitado no meio dos seus seguidores, os evangelistas narram que Jesus
se mostrou diversas vezes aos seus discípulos.
Lucas quer frisar, especialmente, que Jesus está com Deus e
manda a Força do Alto para a Igreja anunciar o Reino a todas as nações. Por que
Lucas conta a volta ao Pai e a missão da Igreja numa narração em que Jesus foi
levado ao Céu? Por estes relatos, os antigos quiseram manifestar a verdade
sobre a Igreja: ela existe para que, movida pelo Espírito de Cristo, continue
sua missão de mostrar a todos o Pai e o seu Reino.
A Ascensão nos recorda, portanto, que em Cristo, o mundo foi
assumido por Deus, abraçado por Ele. Recentemente, na remontagem do filme “Os
miseráveis”, muitos puderam ouvir na boca do protagonista uma belíssima frase
que resume tudo isso: “Quando amamos os outros, podemos ver a face de Deus”.
E é isso que de fato ocorre quando os cristãos dedicam cuidado e
atenção às pessoas. Permitem que o Senhor “apareça”, “se manifeste” no mundo.
Não é por qualquer motivo que, desde as origens, os cristãos se empenharam em
socorrer os órfãos, as viúvas e os enfermos. Nestes era possível contemplar o
cumprimento do amor de Cristo e, assim, seria possível vislumbrar traços do
mistério.
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
Festejar a “volta” de Jesus para o Pai, longe de entristecer-nos
nos alegra pois se trata da festa da aprovação do Pai à experiência terrena de
Jesus. É uma espécie de pronunciamento de Deus acerca do itinerário pascal de
Jesus, reconhecendo-lhe finalmente como Filho com toda pompa e circunstância
(isto literariamente, o que é óbvio pelas narrativas lucanas).
No âmbito da experiência ritual, podemos perceber que a fazemos
em toda Eucaristia, quando nosso coração a Deus se eleva, tornando-se coração
filial, pois só a partir de tal posição (de filhos no Filho) podemos dar graças
a Deus: Corações ao alto! Nosso coração está em Deus!
A experiência da ascensão nos alcança cada vez que celebramos a
Eucaristia (a anáfora): “Assim, o que na vida do nosso Redentor era visível
passou aos ritos sacramentais” (Leão Magno. Sermões sobre a ascensão. In. Antologia
Litúrgica: textos litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio.
Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003. n.4340).
Em toda celebração Eucarística, fazemos memória da ascensão do
Senhor. Na maioria das orações Eucarísticas ela é recordada, explicita ou
implicitamente. A ascensão, junto com o Pentecostes, são facetas de um só
acontecimento, que é a Páscoa de Jesus. Nós desmembramos para melhor celebrar
cada aspecto.
No caso da ascensão, o aspecto nos é clarificado pela oração
depois da comunhão, que retoma o significado do diálogo invitatório da oração
eucarística: “Deus eterno e todo-poderosos, que nos concedeis viver na terra
com as realidades do céu, fazei que nossos corações se voltem para o alto, onde
está junto de vós nossa humanidade” (Missal Romano, formulário da ascensão do
Senhor).
A experiência litúrgica da assembléia consta, toda ela,
progressivamente, de por o coração em Deus no sentido de decidir e agir de seu
lugar, da sua direita, pois em Jesus já estamos eternamente ao lado do Pai.
A Eucaristia celebrada pela comunidade é fundamental para
assegurar que estamos, porém, agindo conforme o coração de Deus que nos visita
em seu Filho Ressuscitado (cf. Benedictus, como canto de comunhão para o tempo
pascal).
O itinerário quaresmal transformou oi nosso coração de pedra em
coração de carne, ou seja, coração de filhos no Filho!
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