Retiro Pessoal
Mensal
Junho /2013
Encontro configurante com Jesus
A Conformação com o Senhor Jesus
Ao falar da conformação com o
Senhor Jesus, tocamos o que talvez seja o coração da vida cristã.
Como discípulos de Jesus nossa
máxima aspiração é ser com Ele. Não se trata somente de procurar imitar suas
condutas, mas sim de fazer nossos seus sentimentos, pensamentos e ações. Configurarmo-nos
com Ele é, pois, nos abrir desde o mais profundo de nossa realidade a ação do
Espírito Santo para que nos transforme interiormente segundo a medida de
Cristo, o Senhor.
A espiritualidade de um
verdadeiro cristão devera sempre ir em busca, encarnar na própria existência
este horizonte da vida cristã vivendo intensamente o caminho da piedade filial.
Sabemos bem que o mesmo Senhor Jesus nos deixou sua Mãe na Cruz, e nos convida
a ama-la com seu mesmo amor. É este um belo caminho pelo qual vamos sendo
conduzidos pela força do Espírito, da mão de Maria, a um encontro mais pleno
com o Senhor Jesus. Vemo-nos, pois, remitidos ao essencial da ação da graça que
irá nos convertendo cada vez mais até que encarnemos esse apaixonante horizonte
que expressa o Apóstolo quando diz: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que
vive em mim.” (1)
O dom do Batismo
Como cristãos nosso caminho de conformação
com o Senhor Jesus começa quando recebemos o dom do Batismo. Nem sempre somos
conscientes da grande benção que é ter sido batizados. Este sacramento
realmente nos transformou interiormente. Passamos da morte para a vida. Somos
feitos participantes, de um modo misterioso mas absolutamente real, da mesma
Morte do Senhor Jesus para morrer ao pecado e todas as suas obras e da sua
gloriosa Ressurreição, recebendo assim o dom da filiação divina, feitos novas
criaturas nEle.
O Batismo, ensina o Catecismo,
perdoa todos os pecados (2), “faz também do neófito “nova criatura” (2Cor
5,17), um filho adotivo de Deus (cf. Gl 4, 5-7) que foi feito “participante da
natureza divina” (2Pe 1,4), membro de Cristo (ver 1 Cor 6,15; 12,27),
co-herdeiro com Ele (Rm 8,17) e templo do Espírito Santo (cf. 1 Cor 6,19)” (3),
e nos incorpora à Igreja, Corpo Místico de Cristo.
A pessoa humana, pois, encontra
nas águas do Batismo a fonte da vida nova na que bebe sua verdadeira
identidade.
Como disse São Gregório de Nissa:
“Nos enterremos com Cristo pelo Batismo, para ressuscitar com Ele; descendamos
com Ele para ser ascendidos com Ele; ascendamos com Ele para ser glorificados
com Ele” (4).
Este maravilhoso chamado a uma
vida plena desde nosso Batismo se vê muitas vezes ofuscado, postergado por
nosso pecado e fragilidade. Por isso é bom que nos deixemos questionar pela
força interpelante de São Paulo: “Ou não sabeis que todos os que fomos
batizados em Cristo Jesus,
é na sua morte que fomos batizados? Portanto pelo batismo nós fomos sepultados
com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela
glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova (…) Assim também vós
considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus.”(5)
O que significa viver essa vida nova?
Como fazê-lo no dia a dia?
Ao dom recebido em nosso Batismo,
corresponde uma resposta generosa de cada um de nós.
A vida cristã, neste sentido, é o
desenvolvimento da semente de vida eterna que se planta no coração do cristão
no sacramento batismal. Constantemente somos alentado e fortalecidos pela graça
do Senhor para avançar por esse caminho de vida verdadeira, que não é outro que
nos configurarmos com o Senhor Jesus.
Contudo, sabemos bem que devemos
travar um combate espiritual. Sem uma livre opção por abrir o coração a essa
força divina, sem a qual nada podemos, não avançaremos.
É indispensável nossa resposta
generosa e sustentada, como dizia o Papa João Paulo II: “A efusão do Espírito
no Batismo introduz o crente como ramo na videira que é Cristo (cf. Jo 15, 5),
constitui-o membro do seu Corpo místico (cf. 1 Cor 12, 12; Rom 12, 5). Mas a
esta unidade inicial, deve corresponder um caminho de assimilação progressiva a
Ele que oriente sempre mais o comportamento do discípulo conforme à “lógica” de
Cristo: « Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus » (Fil
2, 5). É necessário, segundo as palavras do Apóstolo, « revestir-se de Cristo »
(Rom13, 14; Gal 3, 27).” (6)
Viver no Senhor Jesus
Já que ser cristão significa
antes de tudo viver em
Cristo Jesus e como Ele viveu, talvez a primeira exigência a
qual estejamos convidados é a de conhecer cada vez mais ao Senhor Jesus. “Não
se pode amar aquilo que se ignora” diz Santo Agostinho. E é verdade. Se
quisermos nos conformar com Jesus, se queremos amá-lo cada vez mais, devemos
buscar conhecê-lo cada vez mais.
Contudo, de que conhecimento se
trata? Certamente, não de um que se limite a dimensão meramente intelectual, ou
emocional ou a um redutivo ativismo. É mais, um conhecimento integral, no e
desde o amor: “e quem me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e me
manifestarei a ele” (7).
Conhecer Jesus é encontrar-se com
Ele, porque Ele está vivo. Não é algo que alguém conhece; é Alguém com quem se
encontra. E como podemos ver nos testemunhos evangélicos, é um encontro que
muda a vida para sempre.
Por isso nosso encontro com Jesus
pela fé não pode ser um encontro a conceitos e idéias, e sim a uma pessoa.
O que podemos fazer para seguir
aprofundando nesse caminho de conformação com o Senhor Jesus?
Sem pretender esgotar as
múltiplas ocasiões que a vida cristã nos oferece para avançar neste horizonte,
sinalizemos alguns elementos fundamentais.
Em primeiro lugar, buscar com reverência e constância os
Sacramentos, particularmente o Sacramento da Eucaristia.
Ali encontramos ao próprio Senhor
Jesus, realmente presente, que nos espera e nos convida a entrar em comunhão
com Ele (8). É, pois, um canal de graça inesgotável, fonte da verdadeira vida.
Para isso devemos estar adequadamente preparados, buscando o Sacramento da
Reconciliação, e procurando viver em estado de graça. Ao mesmo tempo, a
Adoração Eucarística é ocasião privilegiada para crescer nesse amoroso encontro
configurante com Jesus Eucaristia.
Em segundo lugar, a leitura e meditação da Palavra de Deus. A
Igreja nos convida a ler a Sagrada Escritura no mesmo espírito com que foi
escrita (9), ou seja, abertos à ação do Espírito Santo que inspirou a escritura
dos livros sagrados. Esta leitura se da sempre sob a guia da Tradição e do
Magistério da Igreja. Deste modo, a meditação da Escritura é lugar de encontro
com o Verbo de Deus, o único que tem palavras de vida eterna (10).
Em terceiro lugar, nos esforçarmos em cultivar nosso amor filial a
nossa Mãe Maria. A piedade filial é sempre cristocêntrica, tem a Jesus como
centro, pois vem de Jesus e nos conduz a uma configuração mais plena com Ele.
Todo exercício de amor filial é, por tanto, sempre uma ocasião concreta de
encontro com o Senhor. E é que nossa Mãe nunca deixará de nos educar e guiar ao
encontro do seu Filho: “Fazei tudo o que ele vos disser” (11).
Finalmente, em tudo quanto façamos em nossa vida cotidiana temos a
ocasião de nos colocarmos na presença de Deus, procurando nos abrir a sua
graça para que informe nossos pensamentos, sentimentos e ações, e desta forma
possamos oferecer-lhe o fruto de nossa vida e apostolado.
Neste sentido, o Papa Bento XVI,
se fazendo eco da exortação paulina, nos convidou “a ter os mesmos sentimentos
que tinha Jesus, conformar nossa maneira de pensar, de decidir, de atuar com os
sentimentos de Jesus” (12).
O encontro com o Senhor Jesus, a
configuração com Ele, nos leva a dar testemunho d’Ele com toda nossa vida.
Nossa aspiração e vocação: configurarmo-nos com Cristo, o Filho de Maria.
A meta em nossa vida cristã é nos
configurarmos com o Senhor Jesus, Filho de Deus e de Santa Maria. Em Cristo,
Deus se fez homem, por obra do Espírito Santo, para nos elevar a nossa
verdadeira grandeza e dignidade humana, mais ainda, para nos fazer partícipes
de sua própria natureza divina.
Ele é o modelo de plena
humanidade. Ser santo, ser santa, é chegar a ser verdadeira e plenamente homem,
verdadeira e plenamente mulher, à medida que nos assemelhamos cada vez mais a
Jesus, à medida que crescemos até alcançar sua própria estatura, à medida que
Ele vive em nós.
Configurarmo-nos com Cristo
implica viver como Ele viveu: “Aquele que diz que permanece Nele deve também
andar como Ele andou”. Não se pode crer em Jesus Cristo sem ser
seu discípulo. Aquele que crê em Jesus compreende que Ele é “o Caminho, a
Verdade e a Vida”. Portanto sente-se impulsionado a percorrer esse Caminho para
deixar-se transformar pela Verdade que Ele revela, a fim de alcançar e
participar da Vida que é Ele mesmo por ação do Espírito Santo. O verdadeiro
crente em Cristo luta e se esforça dia a dia para abrir seu coração à ação da
graça divina, para adquirir os mesmos pensamentos e os mesmos sentimentos de
Cristo, para atuar na vida cotidiana como Ele o faria. É um processo no qual a
graça de Deus com nossa ativa colaboração vai tornando-nos semelhantes a
Cristo.
Então, esta configuração com
Jesus é mais que uma imitação, trata-se de uma transformação, de uma conversão
total, já que Jesus não é somente um modelo para imitar, mas o princípio de
vida interior. Este processo, obra do Espírito Santo em nós, não é possível se
não nos aproximamos do Senhor Jesus, se não O conhecemos, se não cremos Nele,
se não O amamos e permanecemos em Seu amor.
Deus quer que Seus filhos vivam
vitoriosamente, em crescimento espiritual constante, até alcançarem o objetivo
final que é a estatura perfeita em Cristo Jesus. Isso
certamente acontecerá quando a Igreja estiver com Ele.
É preciso que cada cristão
procure, constantemente, os meios para crescer na graça e no conhecimento do
Senhor Jesus Cristo, permanecendo fiel até o fim para alcançar a plenitude.
Crescendo em Amor
A essência da vida espiritual é o
amor. Esse amor que foi demonstrado a nós por Jesus, precisa refletir em nossas
vidas em estado crescente. É o amor que transforma o homem, mudando sua maneira
de pensar, sentir e agir. O apóstolo Paulo escreveu um lindo poema sobre o
amor, exaltando suas características (I Coríntios 13). No final do capítulo
(v.11), ele faz um paralelo da vida material com a espiritual. Considera que o
comportamento do menino é diferente do comportamento do adulto. Certamente o
que ele pretendia dizer com isso é que o crente novo (ainda menino na fé)
possui uma visão limitada acerca do amor de Jesus. Mas, à medida que ele cresce
no conhecimento da graça de Deus, sentirá esse amor inundar seu coração de uma
maneira tão profunda que provará o mesmo sentimento do apóstolo quando disse:
Quem me separará do amor de Cristo? (Romanos 8,35).
O amor não é estático. Ele é
dinâmico; gera boas ações. Quando o crente dá lugar para o amor crescer em seu
coração, ele torna-se útil ao seu semelhante. Em lugar do ódio, nasce o perdão,
o que estava se desfazendo é reedificado pelo amor (I Coríntios 8,1b). O que
praticava o mal, agora pratica o bem (Romanos 13,10). Deus quer que o amor seja
abundante no trato de uns para com os outros (I Tessalonicenses 3,12).
Para crescer na graça e no
conhecimento de Jesus Cristo, é preciso ser perseverante. Cada luta, cada
dificuldade conduz a uma vitória que se traduz como um elemento para o
progresso da caminhada. Essa caminhada é a busca incessante das coisas
espirituais. O apóstolo Pedro exorta à prática de virtudes que devem ser
obtidas com diligência, até que se alcance o verdadeiro amor e, conseqüentemente,
uma natureza divina. “E vós, também, pondo nisto toda a diligência, acrescentai
à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência. E à ciência temperança, e à
temperança paciência, e à paciência, piedade. E à piedade amor fraternal; e ao
amor fraternal a caridade.” (II Pedro 1,5-7). Essa caridade é traduzida como o
amor, a maior de todas as virtudes. Todas essas virtudes devem ser
acrescentadas ao conhecimento cristão a fim de que ele possa chegar à estatura
de varão perfeito (Efésios 4,13).
É através do conhecimento que se
alcança a graça de Deus (I Pedro 1,2). Por que crescer na graça? Porque é a
graça de Deus que capacita o cristão a resistir aos sofrimentos (II Coríntios
12,7). Não somente crescer, mas também ser fortalecido (II Timóteo 2,1-4). Graça
significa favor imerecido de Deus para com os homens. Crescer na graça,
portanto, significa conquistar poder divino para enfrentar as adversidades e
não desistir, mas ser fortalecido para vitórias. Através da graça, o crente
consegue:
– Alcançar maturidade espiritual
– Isso significa deixar as coisas de menino (II Coríntios 13,11). Tornar-se
adulto na fé. Passa a discernir o que é bom, o que é agradável a Deus, o que é
conveniente ao cristão.
– Cultivar o Entendimento – Saber
discernir os valores espirituais, alcançando maturidade para rejeitar tudo
aquilo que não procede do Senhor, não se deixando levar por situações
momentâneas. Desenvolvendo, assim, um senso de valores condizentes com a
Palavra de Deus (I Coríntios 14,20).
O novo crente que se mostra interessado
no seu crescimento espiritual, alcança a graça do Senhor Jesus e a poderosa
ajuda do Espírito Santo. É necessário que essa vontade seja constante para que
ele não seja sempre um “menino” na fé que precisa estar continuadamente
aprendendo os princípios elementares da Palavra de Deus (Hebreus 5,12), mas
deixando os rudimentos da doutrina, prossiga no crescimento espiritual, podendo
alcançar outros estágios de desenvolvimento.
Neste caminho de transformação
interior recorramos sempre à intercessão maternal de Maria nossa Mãe. Ela
melhor que ninguém pode nos educar e guiar no caminho da conformação com se
Filho.
PARA MEDITAR
·
Conformar-nos com o Senhor Jesus é a fonte da
vida verdadeira: Jo 14,6; Rm 8,9-11; Gl 2,20
·
O Batismo e o dom da filiação adotiva: Jo
3,1-21; Rm 6,1-11; 8,15-17; Gl 4,4-7
·
Vida nova em Cristo: Ef 4,21-24; Col 2,6-8;
3,1-4
·
A amorização caminho de conformação com o Senhor
Jesus: Jo 19,25-27
·
Conhecer ao Senhor Jesus: Jo 12.20-21;
14,6-10.21; 17,3; 2Pe 3,18
PERGUNTAS PARA REZAR:
- O que significa estar chamado a conformar-se com o Senhor Jesus?
- Qual é a importância do Batismo no meu caminho de configuração com Jesus?
- O que posso fazer na minha vida diária para viver mais a conformação com o Senhor?
- Como posso aprofundar minha devoção eucarística? O que posso fazer para meditar melhor na Palavra de Deus?
- Que dificuldades encontro para viver um amor filial mariano mais intenso? O que posso fazer para crescer nesse caminho de amorização?
Santo Retiro+
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[1] Gl 2,20 em:
http://www.bibliacatolica.com.br
[2] Cf. Catecismo da Igreja
Católica, 1263
[3] Catecismo da Igreja Católica,
1265
[4] São Gregório de Nissa, Orat.
40,9
[5] Rm 6,3-4.11 em:
http://www.bibliacatolica.com.br
[6] S.S. João Paulo II, Rosarium
Virginis Mariae, 15 em http://www.vatican.va
[7] Jo 14,21 em:
http://www.bibliacatolica.com.br/
[8] Cf. Ap 3,20
[9] Cf. Dei Verbum, 12
[10] Cf. Jo 6,68
[11] Jo 2,5
[12] S.S. Bento XVI, Audiência
geral, 26/10/2005
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