Só o sentido da audição pode alcançar a verdade, porque só ele ouve a
palavra. […] «Não Me toques», diz o Senhor, isto é, perde o hábito de
confiar nos teus sentidos enganosos, apoia-te nas minhas palavras, acostuma-te
à fé.
A fé não se pode enganar, compreende as coisas invisíveis e não
sofre da pobreza dos sentidos. A fé ultrapassa os limites da razão humana,
os usos da natureza, os limites da experiência. Porque queres aprender com os
olhos o que eles não podem saber? E porque se esforça a tua mão por sondar
o que nunca atingirá? É tão pouco o que uns e outra dão a conhecer de Mim!
É a fé que compete pronunciar-se a meu respeito sem diminuir a minha
majestade; aprende a acreditar com mais certeza e a seguir com mais confiança
o que ela te diz.
«Não Me toques, pois ainda não subi para o Pai.» Como se devesse ou pudesse deixar-Se tocar quando fosse elevado; sim, sem dúvida que poderá ser tocado, mas só pelo coração e não pelas mãos, pelo desejo e não com os olhos, pela fé e não pelos sentidos. «Porque procuras tocar-Me agora [...]? Não te lembras de que, quando Eu ainda era mortal, os olhos dos meus discípulos não puderam aguentar a glória do meu corpo transfigurado, que ainda tinha de morrer? Faço-te ainda o favor de te mostrar a minha condição de servo (Fil 2,7), mas doravante a minha glória afasta-Me de ti. […] Suspende pois o teu julgamento […], reserva à fé o esclarecimento de tão grande mistério. […] Para seres digna de Me tocar, tens de Me contemplar sentado à direita de meu Pai (Mc 16,19; Sl 109,1), não mais na minha condição de abaixamento, mas no meu estado glorificado. Trata-se do mesmo corpo, mas sob outro aspecto. Porque queres tocar-Me na minha fealdade? Espera pelo momento em que poderás fazê-lo na minha beleza.»
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n º 28, 9
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n º 28, 9
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