5º DOMINGO
DO TEMPO COMUM
07 de fevereiro de 2016
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Eis-me aqui, Senhor!
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Leituras:
Isaías 6, 1-2a.3-8;
Salmo
137 (138);
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 15, 1-11;
Lucas 5, 1-11.
COR LITÚRGICA: VERDE
Hoje somos convocados a estar às
margens do lago de Genesaré e a ouvirmos a revelação de Deus, realizada em
Jesus de Nazaré, através da palavra anunciada e da pesca milagrosa. A partir
desta experiência, a exemplo de Pedro, somos convidados a ter uma consciência
mais profunda dos nossos limites e a um ato de fé na Palavra de Jesus que nos
convida a superarmos nossos medos e a segui-lo sem reservas.
1. Situando-nos
Neste quinto domingo do Tempo Comum, recordando o acontecimento
da pesca milagrosa e a vocação dos primeiros discípulos, celebramos nossa
vocação ao discipulado.
É o Senhor quem nos chama. E o chamado é sempre ligado à
realidade e dentro da contingência humana, como aconteceu com Isaías e os
apóstolos. Mas, de todos, o Senhor pede adesão incondicional e totalidade na
entrega. “Eis-me aqui, Senhor. Envia-me!”.
Que nesta celebração o Senhor renove em nós a alegria da nossa
vocação, nos anime sempre a “lançar nossas redes” em seu Nome e nos encoraje a
buscar um jeito novo de “pescar”. Que a sua graça em nós não fique estéril,
mas, seja fecunda e produza muitos frutos de vida.
Neste Ano Jubilar da Misericórdia, “Sintamo-nos chamados a viver
de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco”.
2. Recordando a Palavra
O Evangelho e a primeira leitura falam da vocação. No Evangelho
de Lucas, até agora, Jesus age sozinho, no território da Galileia. Daqui em
diante, vai alargar seu campo de ação e rodear-se de colaboradores. Em uma ação
simbólica, Jesus explica qual será a missão, a pesca generosa do futuro.
O primeiro chamado tem como cenário as multidões: Jesus está à
margem do lago de Genesaré, lugar em que ele realiza sua atividade libertadora.
Ele vê duas barcas paradas, pescadores lavando as redes e sobe em uma barca que
era de Simão; pede que eles se afastem da margem e manda: “Lancem suas redes
para a pesca”, Simão explica que trabalharam a noite toda e não pescaram nada.
Mas, porque ele estava mandando, jogaria as redes.
Assim o fizeram apanharam tamanha quantidade de peixes que as
redes quase se resgavam. Fizeram sinais para os companheiros da outra barca
para virem em auxílio. Encheram as duas barcas. Simão Pedro lança-se aos pés de
Jesus e confessa que era pecador. Todos ficaram espantados por causa da
quantidade de peixes. O mesmo aconteceu com os companheiros João e Tiago. Jesus
disse a Simão: “não temas, daqui para frente pescará pessoas. Então, atracando
as barcas à terra, deixaram tudo e o seguiram”.
A enorme quantidade de peixes, a ponto de as redes quase se
romperem, sublinha que o êxito missionário é obra do Senhor que atua, através
dos discípulos. Tal resultado positivo da pesca leva ao reconhecimento de Jesus
como Senhor, título atribuído ao Ressuscitado.
A profissão de fé é fundamental para reconhecer os sinais da
salvação, os milagres de Deus. O discípulo reconhece sua fragilidade diante de
Jesus e abre-se à revelação da graça divina: “Não tenhas medo! De hoje em
diante tu serás pescador de homens” (5,10).
Os pescadores são chamados por Jesus para seguir seu estilo de
vida. A resposta é radical: “Deixaram tudo e seguiam a Jesus” (5,11).
Abandonaram tudo por causa de Jesus e do seu Reino. Tornam-se companheiros de
caminhada com Jesus, compartilhando sua Boa-Nova e seu destino.
A primeira leitura narra a vocação do profeta Isaías que surge
no século VIII a.C., num contexto litúrgico, no Templo de Jerusalém. Enfatiza
que o chamado é iniciativa do Senhor, aclamado Santo de forma tríplice, cuja
glória resplandece em toda a terra. “A purificação dos lábios”, simboliza a
preparação para acolher o plano do Pai e tornar-se apto a assumir a missão
profética.
A experiência do encontro com Deus e sua Palavra converte a
pessoa e suscita o apelo para o serviço ao Reino. Com o toque de Deus, o
profeta sente-se confirmado na vocação: “Ouvi a voz do Senhor que dizia: Quem
enviarei? Quem irá por nós? Eu respondi: Aqui estou! Envia-me” (6,8). Isaías
responde confiante e torna-se porta-voz da mensagem de salvação.
O Salmo 137 (138) é uma ação de graças individual a Deus pela
manifestação de sua ação salvadora. A pessoa, em meio às aflições, clama a Deus
e é atendida. Por isso, seu canto de louvor e agradecimento é acompanhado de
gestos, em sinal de reconhecimento pelo amor e fidelidade de Deus.
A segunda leitura da primeira carta aos Coríntios, apresenta um
resumo da profissão de fé das comunidades cristãs primitivas: “Cristo morreu
por nossos pecados, foi sepultado e ao terceiro dia ressuscitou” (15,3-4). O
Ressuscitado apareceu a Tiago, depois a todos os apóstolos e por fim apareceu a
Paulo que viu o Senhor gloriosos no caminho de Damasco.
Pela ação da graça de Deus, as testemunhas do Ressuscitado
proclamam a mesma mensagem e os fiéis professam a mesma fé. A ressurreição, a
vida nova em Cristo, torna-se objeto fundamental da pregação e da fé cristã. A
graça do Ressuscitado fortalece Paulo levando-o a dedicar a vida por causa do
Evangelho, a trabalhar mais do que os outros apóstolos.
3. Atualizando a Palavra
Jesus convida os primeiros discípulos ao seguimento e os
transforma em pescadores de gente. Ele convida no contexto da realidade em que
as pessoas estão inseridas, acompanha com a sua graça e pede adesão plena e
generosidade na entrega. A missão dos discípulos prolonga as ações do Mestre.
Para isso, eles devem dar atenção à palavra de quem os chama. A iniciativa de
“Convidar” é dele. “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos
escolhi” (Jo 15,16).
Cada um de nós tem a sua história de vocação: de muitas formas
Deus entra em nossa vida, desafia-nos para a missão, pede uma resposta positiva
à sua proposta. A missão que Deus propõe, por vezes, está associada às
dificuldades, aos sofrimentos, aos conflitos, aos confrontos. É um caminho de
cruz que procuramos nos esquivar. As limitações humanas não podem servir de
desculpa para a recusa da missão que Deus quer confiar a alguém. Pois, se Ele
me pede um serviço, concederá. Isaías é o exemplo de pessoa que confia e arrisca
tudo e se dispõe, de forma absoluta, para o serviço de Deus.
A pesca milagrosa, do insucesso à abundância, revela que o êxito
da missão não depende tanto das qualidades ou limites do discípulo, quanto da
atenção à palavra do Mestre. “O resultado da confiança na palavra do Mestre
reverte a situação negativa e superar as expectativas. A palavra do Mestre gera
abundância para todos. A pesca é pois, um sinal precursor da grande vitória do
Cristo sobre a morte. É dela que surge a abundância de vida para todos”
(BORTOLINI. Op.cit., p.595).
O convite ou a escolha é da livre iniciativa do Mestre, mas
implica seguimento pronto e generoso. Seguimento que resulta da acolhida da
palavra libertadora. “E deixando tudo, o seguiram”.
Hoje, o Senhor entra na barca de nossa vida e de nossas
comunidades para fortalecer a fé posta em prova diante de tantas situações que
tornam nossa missão ineficaz. O apelo de lançar as redes em águas mais
profundas e pescar para alimentar as multidões e libertá-las das realidades de
escravidão, é dirigido a todos nós. Como Pedro, somos convidados a confiar em
Jesus e a aderir a sua Palavra. Pois recebemos o chamado à fé, ao seguimento e
à missão de anunciar o Evangelho com ardor apostólico, como o apóstolo Paulo.
A misericórdia é, em síntese, a Boa-Nova primordial revelada em
palavras e ações por Jesus. Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua
pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus. Todos precisamos da
misericórdia do Senhor, e, por outro lado, também necessitamos ser misericordiosos
para com nossos semelhantes, em especial para com os mais sofridos e
marginalizados. É sendo misericordioso que alcançaremos a misericórdia (cf. Mt
5,7).
“O Senhor nunca se cansa de ter misericórdia de nós, e quer nos
oferecer uma vez mais o seu perdão, todos precisamos disso, convidando-nos a
voltar a Ele com um coração novo, purificado do mal, purificado pelas lágrimas,
para tomar parte da sua alegria” (Papa Francisco, Homilia da Quarta-feira de
Cinzas, 19 de fevereiro de 2015). Que o tempo da Quaresma nos proporcione a paz
e a alegria que brota do abraço misericordioso do Pai.
4. Ligando a Palavra com a ação Eucarística
Somos um povo de profetas e missionários que se reúne para
celebrar a fé, para fazer a experiência da ação misericordiosa do Deus que anda
com seu povo. Um povo de fé que celebra a vitória de Cristo, morto e
ressuscitado, que apareceu aos apóstolos e hoje se manifesta a nós na sua
palavra e no pão partilhado.
Ouvindo e acolhendo amorosamente sua Palavra, somos tocados e purificados
com a brasa do Espírito de Deus que faz brotar de nossos lábios e nossa boca o
louvor dos anjos: “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; toda a terra
está repleta de sua glória”. Experimentando a santidade de Deus, somos também
renovados no ardor da vocação profética e missionária e na mística do serviço.
Pela partilha do pão e do vinho, Ele nos faz participantes da
sua entrega total e nos leva a viver no cotidiano a caridade fraterna e
universal, própria do Reino.
Modelados por esta experiência pascal somos animados a lançar
incansavelmente nossas redes em seu Nome, certos de que nosso trabalho não será
estéril, mas terá um resultado garantido com abundantes frutos.
Assim rezamos na oração depois da comunhão: “Ó Deus, vós
quisestes que participássemos do mesmo pão e do mesmo cálice; fazei-nos viver
de tal modo unidos em Cristo, que tenhamos a alegria de produzir frutos para a
salvação do mundo.
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