1º DOMINGO
DA QUARESMA
14 de
fevereiro de 2016
|
“A vitória no deserto pré-anuncia o
triunfo pascal”
|
Leituras:
Deuteronômio 26, 4-10;
Salmo
90 (91), 1-2.10-11.12-13.14-15;
Carta de São Paulo aos Romanos 10, 8-13;
Lucas
4, 1-13.
COR
LITÚRGICA: ROXA
No início de nossa caminhada
quaresmal, o Espírito nos conduz, com Jesus, ao deserto e vai nos ensinar como
superar as tentações do ter, do poder e do prazer. Esse caminho passa pela
escuta da Palavra de Deus e requer penitência e através dela temos o perdão de
Deus. Para nos ajudar nesta conversão todos os anos a Igreja no Brasil nos propõe
um tema na Campanha da Fraternidade, que neste ano é ecumênica, ou seja, em
comunhão com as Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional das Igrejas
Cristãs (CONIC). O assunto será sobre o saneamento básico com o tema: “Casa
comum, nossa responsabilidade”, com o lema: “Quero ver o direito brotar como
fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5, 24).
1. Situando-nos
O sagrado do tempo da Quaresma caracteriza-se pela vivência
profunda do mistério da Paixão do Senhor. Na Quarta-feira de Cinzas iniciamos a
caminhada quaresmal em direção à celebração da Páscoa de Jesus e nossa.
Para as comunidades cristãs, a caminhada quaresmal se apresenta
como um tempo de graça em que o próprio Deus, por seu Filho e no Espírito
Santo, nos fortalece na fé e nos educa para o verdadeiro sentido da vida, o
qual irrompe definitivamente na Páscoa.
A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é um
tempo litúrgico muito rico e importante que requer ser vivido com o devido
empenho pela prática da caridade, da oração e da escuta da Palavra de Deus.
O Primeiro Domingo da Quaresma é conhecido pelo “domingo das
tentações”. Jesus está sujeito à tentação e morte por solidariedade à
humanidade. Solidariedade nos sofrimentos que se transforma em sinal de vitória
do próprio Jesus sobre as tentações e sobre a morte, vitória que artilha com
todos aqueles que creem n’Ele (Cf. CNBB. Diretório Homilético. Brasília:
Edições CNBB, 2015, n.62).
A liturgia deste Primeiro Domingo da Quaresma quer nos recordar
que a aliança que Deus fez conosco é eterna. Pois eterna é a sua misericórdia.
A Campanha da Fraternidade, neste domingo das tentações de Jesus, lembra que o
tentador age para quebrar as relações com Deus e estruturar a vida sobre
critérios contrários ao bem comum.
2. Recordando a Palavra
O primeiro domingo da Quaresma é tradicionalmente conhecido como
o “domingo das tentações de Jesus”. Mas, o que nos diz o evangelho de São Lucas
reservado para este dia? Após o batismo nas águas do rio Jordão, Jesus, o Filho
querido de Deus, é conduzido pelo Espírito ao deserto, onde será provado pelo
tentador.
A narração se constitui num diálogo em três cenários. O tentador
se empenha na argumentação sedutora do caminho que leva ao sucesso fácil, ao
poder e ao prestígio espetacular. Jesus se opõe por uma opção de fé e de
fidelidade radical a Deus. Ele se revela o “Filho de Deus” não mediante o
privilégio do “milagre fácil”, do sucesso garantido ou da proteção segura, mas
mediante a obediência ao projeto do Pai até as últimas consequências, até a
cruz. O tentador representa aqui as forças articuladas, visando afastar Jesus
do projeto que o Pai lhe havia confiado.
Mas o Filho de Deus, repleto do Espírito e consciente de sua
missão, não se deixa envolver e nem enganar pelas propostas do tentador. Fiel
ao Espírito que o conduziu ao deserto, Jesus não se deixa persuadir pelas
propostas sedutoras do diabo. Assim, como foi para Jesus, igualmente para os
discípulos a vida é deserto e tentação, isto é, oportunidade para confirmar a
fidelidade ao Senhor.
A primeira leitura (Dt 26, 4-10) é um texto litúrgico próprio da
“festa das primícias”. “Agora trago os primeiros frutos da terra que tu me
deste, Senhor”. Na oferta ritual das primícias da terra, Israel é convidado a
fazer uma profissão de fé, evidenciando a benevolência gratuita do Senhor que,
com seu braço forte, conduziu Israel da escravidão para a liberdade, do deserto
para a terra fértil. Credo que não consiste tanto em proclamar quem Deus é,
quanto fazer memória de sua ação libertadora.
A oferenda cultual ressalta a resposta do povo face à ação
benéfica de Deus. A aliança de Israel com o Senhor será alimentada por esta
memória e por ela nutrirá a certeza de que a Palavra de Deus é fiel. Nossa
caminhada quaresmal é uma oportunidade para renovarmos a memória da ação
salvadora de Deus (1ª Leitura).
O salmista assume a experiência de quem foi amparado e
encorajado pelo Senhor na hora da perseguição. “Ao invocar-me, hei de ouvi-lo e
atendê-lo, e a seu lado estarei em suas dores” (Sl 90/91, 15). Por este canto a
assembleia expressa sua confiança no Senhor que é abrigo e proteção.
A palavra do apóstolo Paulo, dirigida às comunidades cristãs de
Roma (Rm 10, 8-13), nos coloca no centro da fé Cristã: o reconhecimento que
Cristo é o Senhor e ...”. A fé cristã que brota da adesão profunda e integral,
por palavras e ações, é o Filho do Deus verdadeiro, que atua na história em
favor da salvação de seu povo (2ª Leitura).
3. Atualizando a Palavra
Depois de ser batizado nas águas do rio Jordão e ser publicamente
proclamado como o “Filho amado de Deus”, Jesus é “conduzido pelo Espírito ao
deserto”. Mais do que lugar geográfico, o deserto é oportunidade de prova e de
afirmação da fidelidade à missão. O deserto lembra o tempo da gestação do
projeto de Deus para o povo do Antigo Testamento. No deserto os israelitas
forjaram, com sofrimento, um projeto de sociedade alternativa, em que todos
pudessem usufruir da vida em liberdade (Cf.
BORTOLINI, Pe. José. Roteiro Homiléticos, Anos A,B, C, festas e solenidades. São
Paulo: Paulus, Editora, 2006, p.525).
O tentador se mostra habilidoso na arte de induzir Jesus a
falsificar a sua missão e sua relação com Deus, manipulando-o ao seu serviço.
Contudo, o Mestre rechaça as propostas do tentador, ratificando sua determinação
de se entregar até as últimas conseqüências, obediente à vontade do Pai, e de
cumprir sua missão segundo o projeto que lhe fora confiado.
O Papa Francisco explica o método de Jesus perante as tentações:
“Ele não dialoga com Satanás. Jesus sabe
bem que com Satanás não se pode dialogar, porque é muito esperto. Por isto,
Jesus, em vez de dialogar como tinha feito Eva, escolhe refugiar-se na Palavra
de Deus e responde com a força desta Palavra. ‘No momento da tentação, das
nossas tentações, nada de argumentos com Satanás, mas sempre defendidos pela
Palavra de Deus! E isto nos salvará’.
Nas suas repostas a Satanás, o
Senhor, usando a Palavra de Deus, recorda-nos, antes de tudo, que ‘não só de
pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’; e isto nos
dá força, apoia-nos na luta contra a mentalidade mundana que reduz o homem ao
nível das necessidades primárias, fazendo-o perder a forme daquilo que é
verdadeiro, bom e belo, a fome de Deus e de seu amor” (Papa Francisco. Mensagem do Ângelus, dia 10 de março
de 2014).
A Quaresma é tempo de graça para renovarmos a memória por uma
intensa leitura e meditação da Palavra de Deus, do agir libertador do Senhor em
nossa vida pessoal, familiar e social. É tempo de intensificar a caminhada com
o Mestre até Jerusalém, dando-nos conta das exigências do seu seguimento.
Naturalmente, a conversão quaresmal só é possível se tivermos a
coragem de nos confrontarmos com a Palavra de Deus. Palavra que deve encontrar
acolhida e moradia em nós, fazendo calar a voz dos “ídolos” que nos envolvem e
atordoam. Conversão que significa nos alienar de nossos insignificantes e confusos
projetos para assumir algo mais radical e original que nos conduza à
proclamação, com todo o nosso ser, de que Jesus, vencendo as tentações do
deserto, triunfará também na definitiva e última tentação da Cruz. “A penitência
é, no fundo, saudade de nossa autêntica grandeza” (PRONZTO A. Palavra de Dios, comentário a las três lecturas Del
domingo, Ciclo C. Salamanca: Ed. Sígueme. 1999. p.27).
Na caminhada quaresmal, precisamos perceber que a misericórdia
de Deus atinge a todos, a salvação está ao alcance de nossas mãos, só depende
de nós acolhê-la iluminados pela Palavra de Deus, Se por um lado, o tentador
deseja instalar a desarmonia, a harmonia do ser humano com o meio ambiente,
ressaltada pelos textos bíblicos, “é símbolo da vida gratificante que Deus
planejou para nós (CONIC, Campanha da
Fraternidade Ecumênica 2016. Texto-base. Brasília: Edições CNBB 2015, n.126).
4. Ligando a Palavra com a ação
eucarística
A Quaresma é um rico tempo de caminhada para a Páscoa, motivados
pela palavra e unidos aos sentimentos de Jesus Cristo, convidando-nos à oração,
ao amor misericordioso de Deus e à solidariedade fraterna. No encontro
celebrativo da comunidade de fé, memorial da presença do Senhor, somos
alimentados para prosseguir no caminho que conduz à vitória definitiva.
“O sacerdote receberá de tua mão a cesta e a colocará diante do
altar do Senhor teu Deus” (Dt 26,4). Na celebração a comunidade apresenta sua
oferta de vida feita de trabalho, sofrimentos e vitórias. Reconhece que tudo
vem de Deus e que tudo a ele retorna na aliança e na ação de graças. Quem
preside proclama: “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que
recebemos de vossa bondade, e para nós se vai tornar pão da vida” (Oração da
apresentação dos dons).
O sacerdote, na oração sobre as oferendas pede a Deus “que o
nosso coração corresponda a estas oferendas com as quais iniciamos nossa
caminhada para a Páscoa” (Oração sobre as oferendas).
A vitória de Jesus sobre as seduções do tentador no deserto,
antecipando o triunfo pascal, é o grande motivo da ação de graças ao Senhor,
nosso Deus. Em nome da Igreja reunida pelo Espírito, o presbítero inicia a
Oração Eucarística, proclamando: “Vós acolheis nossa penitência como oferenda à
vossa glória. O Jejum e a abstinência que praticamos, quebrando nosso orgulho,
nos convidam a imitar vossa misericórdia, repartindo o pão com os necessitados”
(Prefácio da Quaresma, III).
Nenhum comentário:
Postar um comentário