Iniciamos outubro,
mês dedicado às Missões e ao Rosário. Maria é presença constante na vida da
Igreja de mulher de Fé.
É a imagem da
perfeita discípula missionária: “Durante toda a sua vida e até sua última
provação, quando Jesus, seu Filho, morreu na cruz, sua fé não vacilou. Maria
não cessou de crer no cumprimento da Palavra de Deus. Por isso a Igreja venera,
em Maria, a realização mais pura da fé”.
O que vem em sua
mente quando falamos a palavra fé? Se, em primeiro lugar, imaginamos verdades a
crer ou doutrina a aceitar, não estamos muito sintonizados com o cristianismo.
A imagem da amoreira
arrancada e transplantada ao mar nos fala que a força da fé está na confiança
que se põe em Deus, não em seu tamanho ou erudição.
Vive da fé e é justo
quem se sente feliz por ser um servo do Reino e, ao final da jornada, não
espera melhor recompensa que poder seguir servindo a seu Senhor, pois sabe que
sua força e o fruto do que faz vêm dele.
A tradução litúrgica
nos traz o termo “inútil”, como qualificação dos servos ao final da tarefa.
Vários exegetas preferem o sentido de pobre, simples. Essa comparação de Jesus
tem o intuito de rejeitar qualquer auto justificação farisaica de querem
recompensas.
A fé supõe a abertura
do ser humano inteiro – o coração – a Deus. Ela é dom, em primeiro lugar, mas
só pode recebe-la quem estiver com o centro de suas decisões disponível para
Deus. É o que canta o refrão do Salmo 94: não fecheis o coração: ouvi vosso
Deus! Na compreensão hebraica, o coração é o centro das decisões da pessoa
humana.
Fé reporta-nos à
relação com uma pessoa: Jesus Cristo. Crente é o que se conecta, adere, confia
totalmente em outro. Não temos fé para que esta nos coloque num lugar seguro,
para que nos proteja, mas para deixar-nos levar, guiar e conduzir por Deus.
Cremos para caminhar.
Os discípulos pedem a
Jesus que lhes aumente a fé. Nós também necessitamos que nossa fé melhore, mais
em qualidade que em quantidade; que seja verdadeira fé-confiança, entrega
alegre ao mistério e ao projeto de Deus. A fé é uma atitude pessoal, uma
postura da total liberdade do ser humano. Uma opção fundamental e radical
porque nele se fundam as raízes de toda a vida do cristão.
Com os profetas, com
Paulo e Timóteo e, sobretudo, com Jesus vemos que a fé não nos dispensa das
duras tarefas da vida. Não é uma escapatória das realidades, muitas vezes
desafiadoras, da vida e não nos facilita o caminho. Simplesmente lhe dá
sentido. A fé não é totalmente enquadrada nos limites do nosso pensamento
humano. Ela é união ao mistério de Deus. Santo Agostinho dizia: se compreendes,
não é Deus.
É amargo descobrir em
algum momento da vida que a fé pode não trazer a solução de todos os problemas.
Por isso, a fé é um processo de amadurecimento. Vemos hoje uma efervescência de
denominações religiosas que prometem tudo em nome da fé: não há problema que
não se possa imediatamente resolver. Há uma espécie de obrigação da parte de
Deus em agir em favor daquele que pede com fé. Será assim?
Hoje Jesus nos ensina
que, no campo da fé, tudo sucede por dom por graça. Não podemos reclamar nada.
O Reino de Deus conduz a uma espiritualidade de entrega total ao projeto do
Pai. Vale lembrar outra distinção fundamental: fé é diferente de superstição ou
magia. O supersticioso quer Deus à sua disposição pela realização de um ato
exterior. Fazer tal “simpatia” resultará no efeito desejado.
Somos pobres,
humildes servos do Senhor que devem alegrar-se simplesmente por poder servi-lo.
Evitemos o ufanismo, o sentimento de fazermos o bem para que Deus se torne
nosso devedor de favores. O dom de Deus, a fé, precisa ser cotidianamente
reavivado e anunciado ao mundo.
Vivemos em situações
adversas hoje, mesmo se não perseguidos oficialmente, em uma sociedade que está
abandonando suas raízes cristãs.
O mal é perceptível
em tantas situações e poderíamos pensar como o profeta: “Senhor, até quando
clamarei, sem me atenderes?” . Mas sabemos que Deus está conosco, se nós
estivermos também com Ele.
Muitos pensam que fé
é falta de esclarecimento, de lucidez, que é fuga, passividade, conformismo.
Estes não entenderam sua real dimensão: fé não é cegueira irracional, mas visão
lúcida; não é fuga, mas aproximação; não é passividade, mas confiança; não é
sentimento intimista, mas atitude de todo o ser que liga as pessoas a Deus. Uma
fé que não é capaz de ser presença misericordiosa não é fé autêntica.
Em última análise,
sem fé nossa existência pode se revelar absurda, sem sentido, desesperadora.
Por isso é na morte de Jesus que se revela ao máximo quem é Deus e o que pode a
fé: ela não permite que a morte tenha a última palavra sobre a vida. A última
palavra é Deus e chama-se Ressurreição.
Pe. Emílio Carlos Mancini .
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