Domingo de Ramos
“Hosana! Bendito o
que vem em nome do Senhor!”
Caríssimos,baste-nos
alguns pensamentos,nesta Eucaristia solene que abre a Grande Semana da nossa
fé, a Semana santíssima, que culminará com a Solenidade da Páscoa, Domingo
próximo.
Isaías apresenta-nos
um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no
meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o
profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de
Deus.
Os
primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura
apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância,
para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É
esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho
convida-nos a contemplar a paixão e morte de
Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar
os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão.
Na
cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que
se faz dom total.
Realmente, Jesus
assume a missão deste Servo misterioso; uma missão de discípulo que escuta, que
encoraja os desanimados e apresenta resistência não violenta ante os sofrimento
e humilhações que lhe são impostos pelos inimigos.
A carta aos
Filipenses 2,6-11 em síntese é toda a trajetória de Jesus Cristo. Este hino
descreve o aniquilamento, o “esvaziamento” do Filho de Deus. Este aniquilamento
expressa o movimento de Jesus que parte de Deus, desde a morte na cruz, e volta
para Deus como Senhor. Jesus não teve medo e, como verdadeiro Servo sofredor,
viveu consciente e livremente a nossa experiência humana até a morte.
O hino cristológico
da carta aos Filipenses constitui a chave principal deste domingo: Jesus
humilhou-se, se rebaixou e por isso Deus o exaltou. O hino descreve a
preexistência do Filho; o mistério da encarnação, de sua paixão, morte e
ressurreição. É nesta perspectiva que nós cristãos somos chamados a seguir os
passos de Cristo, Senhor da história, como seus discípulos, renovar a nossa
adesão a ele, na Grande Semana que inicia.
Acompanhar Jesus, não
é apenas um gesto externo. Implica identificar-se cada vez mais com as atitudes
que O levaram até à morte entende-se que é necessário uma configuração com Ele
, cristão é cristão quando vive e pratica o que seu Mestre viveu .
Que pensamentos poderíamos colher agora na Liturgia da
Palavra desta Missa da Paixão do Senhor?
Eis alguns pensamentos:
Primeiro:
O meio que Deus escolheu para nos salvar não foi o que é grande e vistoso, tão
apreciado pelo mundo. Ao invés, o Pai nos salvou pela humilde obediência do
Filho Jesus.
Reconheçamos na voz
do Servo sofredor da primeira leitura a voz do Filho de Deus: “O Senhor Deus me
desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um
discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhes resisti nem voltei atrás.
Ofereci as costas para me baterem e as faces para arrancarem a barba.
O Senhor
é o meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, porque sei que não
serei humilhado”. Palavras impressionantes, caríssimos! O Filho buscou
humildemente, na obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí encontrou
força e consolo, encontrou a certeza de sua vida. São Paulo, na segunda leitura
de hoje, confirma isso com palavras não menos impressionantes: “Jesus Cristo,
existindo na condição divina, esvaziou-se de si mesmo, humilhou-se, fazendo-se
obediente até a morte, e morte de cruz”.
Caríssimos em Cristo, num mundo que
nos tenta a ser os donos da verdade, desprezando os preceitos do Senhor Deus e
seus planos para nós, aprendamos a humilde obediência de Cristo Jesus, entremos
em comunhão com o Cristo obediente ao Pai até a morte. Só então seremos livres
realmente, somente então viveremos de verdade!
Um
segundo pensamento: O breve e concreto relato da Paixão
segundo São Marcos, apresenta-nos ao menos três modos de nos colocar diante do
Cristo nosso Senhor. Dois modos inadequados, que deveremos evitar, apesar de
tantas vezes neles cairmos; e um modo correto, a que somos continuamente
chamados. Ei-los:
Primeiramente,
o modo dos discípulos, tão vergonhoso: “Então todos o
abandonaram Oh! meus caros, que desde o início temos sido covardes, desde os
princípios somos um mísero bando de infiéis!
Quantas vezes, nos
apertos da vida, fugimos e o abandonamos: no vício, no comodismo, na busca de
crendices e seitas, no fascínio por ideologias, ideias e filosofias opostas à
nossa fé! Como é fácil fugir, como é fácil, ainda agora, abandoná-lo! –
Perdoa-nos, Senhor Jesus, porque ainda hoje somos assim, ainda somos como os
primeiros discípulos: frágeis, inconstantes, covardes mesmo! Perdoa-nos pelo
pouco amor, pela falta de compromisso!
Depois,
o modo de Pedro, que “seguiu Jesus de longe”. Pedros! Não
se pode seguir Jesus de longe! Quem o segue assim? Quem pensa poder ser
discípulo pela metade; quem se ilude, pensando seguir o Senhor sem combater
seus vícios e pecados; quem imagina poder servir a Deus e ao dinheiro, ao
Senhor e aos costumes e modos e pensamentos do mundo! Como terminarão esses?
Como terminou Pedro: negando conhecer Jesus! – Senhor, olha para nós, como
olhaste para Pedro; dá-nos o arrependimento e o pranto pela covardia e frieza
em te seguir! Faze-nos verdadeiros discípulos teus, que te sigam de perto até a
cruz, como o Discípulo Amado, ao lado de tua Santíssima Mãe!
Finalmente,
uma atitude bela e digna de um verdadeiro discípulo do Senhor:
aquele gesto, da misteriosa mulher, que ungiu a cabeça do Senhor com nardo
puro, caríssimo! Notaram, amados em Cristo, o detalhe de São Marcos? “Ela
quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de Jesus”. Quebrou o vaso… isto
é, derramou todo o perfume, sem reservas, sem pena, com amoroso estrago…
Para o Senhor, tudo;
para o Salvador o melhor! E São João diz que “a casa inteira ficou cheia do
perfume do bálsamo” (Jo 12,3).
Ó mulher feliz,
discípula generosa! Dando tudo ao Senhor, perfumou toda a casa com o bom odor
de um amor ser reservas!
Quanta generosidade dessa mulher politicamente
incorreta!
Quanta hipocrisia, quanta mesquinhez dos apóstolos politicamente
corretos, que não compreenderam seu gesto de amor gratuito! – Senhor Jesus,
faz-nos generosos para contigo! Que te amemos como essa mulher: sem reservas,
sem fazer contas!
Ó Senhor, que nos amaste até o extremo, ensina-nos a te amar
assim também, colocando nossos perfumes, isto é, aquilo que temos de precioso,
a teus pés! Então, o mundo será melhor, porque o bom odor do amor haverá de se
espalhar como testemunho da tua presença!
Eis, caríssimos!
Fiquemos com estes santos pensamentos, preparando-nos durante toda esta Semana
para o Tríduo Pascal, que terá seu cume na Santa Vigília da Ressurreição! Nós
vos adoramos, Senhor Jesus Cristo e vos bendizemos, porque pela vossa santa
cruz remistes o mundo.
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