Descemos mais um degrau
na escada do amor, à medida que Jesus sobe para a escada da Cruz. Ali, o
Filho do homem será elevado, para que o mundo, atraído pelo Seu olhar
amável, seja salvo por Ele. Realiza-se, em pleno, a profecia da serpente
que Moisés colocara sobre o poste: quem olhasse para ela, ficava curado
(Nm 21,8).
1. Ficava curado, não, obviamente, por causa
da virtude terapêutica da serpente, muito menos pela força mágica do seu
bronze. Mas ficava curado por causa desse olhar, desse assumir o
pecado, frente a frente, diante do mal e do seu veneno, desenhado e
espetado naquele poste, mas escondido e envergonhado dentro de cada um.
Na «serpente» está, em negativo, a imagem daquilo que eu sou e não quero
ver. Naquela «serpente», exposta ao olhar, fala-me tudo aquilo que é
meu e tenho medo de assumir, de confessar ou de dizer.
2.
Mas ponhamo-nos, agora, de frente à Cruz, onde o Filho do homem é
elevado, «como a serpente no deserto» (Jo 3,14-15). E ali, na Cruz,
passam dois filmes: volta o filme da “serpente” do meu pecado, da minha
violência, da minha malícia, da minha malvadez. Mas passa igualmente o
filme do perdão subversivo de Deus, que acolhe esta violência e a
dissolve no Seu amor. Se, na serpente, o crente era levado a reconhecer o
seu próprio pecado, na Cruz o cristão vê-se alcançado pelo olhar
misericordioso do Senhor. Por isso, quem se deixa atrair pelo olhar
amável de Jesus na Cruz, não se sente acusado, incriminado ou condenado,
mas acolhido, perdoado, curado e redimido. De olhos fitos na Cruz,
reconheço com toda a verdade: «Senhor, como é grande o meu pecado». Mas,
ao mesmo tempo, atraído pelo olhar amável do Crucificado, espetado na
Cruz, deixo que Ele me diga simplesmente: «Tu és infinitamente amado».
3.
Neste esforço quaresmal de praticar a verdade e de nos examinarmos no
amor, nesta semana tomemos como atributo a amabilidade, a delicadeza, a
gentileza, porque o amor não é inconveniente, o amor não é grosseiro, o
amor não se impõe à força, com dureza ou agressividade, não entra de
“chancas”, não arromba a casa, não entra de rompante; o amor sabe
esperar que se abra a porta do coração do outro para poder entrar, de
mansinho, descalçando as sandálias, com pezinhos de lã. Numa palavra, “o
amor é amável” (1 Cor 13,5). A gentileza é, por isso, irmã da caridade,
que apaga o ódio e conserva o amor. Sim, a gentileza preserva o amor e,
hoje, nas nossas famílias, no nosso mundo, muitas vezes violento e
arrogante, precisamos muito desta gentileza.
4. O olhar
amável do amor, tal como o de Jesus no alto da Cruz, faz com que não nos
fixemos nos defeitos, limites e pecados do outro; antes pelo contrário,
o amor sabe encobri-los e encontrar pontos de contacto com o irmão;
sabe dizer-lhe palavras de incentivo, que o reconfortam, fortalecem,
consolam e estimulam, como aquelas que Jesus dizia às pessoas “Filho,
tem confiança» (Mt 9,2), «Grande é a tua fé» (Mt 15,28), «Levanta-te»
(Mc 5,41), «Vai em paz» (Lc 7,50). E, mesmo lá, no alto da Cruz, ferido
no Seu Amor não amado, Jesus profere palavras amáveis e de consolação:
«Eis o teu filh0; eis a tua Mãe» (Jo 17,26-28), «Perdoai-lhes, Senhor»
(Lc 23,34), «Hoje mesmo estarás comigo no paraíso» (Lc 23,43). Na
família, é preciso aprender esta linguagem amável de Jesus (cf. AL,
99-100)!
5. Queridas famílias: durante esta semana,
sugerimos que vos dediqueis, por algum tempo, a fazer um exame de
consciência, na verdade e no amor! Fazei-o, não como quem condena ou
censura, mas como quem, por amor, procura o maior bem e a cura do outro!
Que cada um saiba dizer, com verdade, ao outro: «Tu sabes tudo, sabes
bem do meu pecado» e o outro possa responder, com um olhar amável e
afável: «Fica tranquilo; sabes bem que és o meu amado».
“O amor é
amável” (1 Cor 13,5).
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