A bem-aventurança do reino de Cristo -
Após ter proclamado a felicíssima pobreza, o Senhor
acrescenta: Bem-aventurados os que choram porque serão consolados (Mt 5,4).
Estas lágrimas que têm a promessa da consolação eterna nada têm a ver com a
comum aflição deste mundo; nem tornam bem-aventuradas as queixas arrancadas a
todo o gênero humano. É outro o motivo dos gemidos dos santos, outra a causa
das lágrimas felizes. A tristeza religiosa chora o pecado dos outros ou o
próprio. Não se acabrunha porque se manifesta a divina justiça, mas dói-se do que
se comete pela iniquidade humana. Sabe ser mais digno de lástima quem pratica a
maldade do que quem a sofre, porque a maldade mergulha o injusto no castigo. A
paciência leva o justo até à glória.
Em seguida diz o Senhor: Bem-aventurados os mansos porque
possuirão a terra por herança (Mt 5,5). Os mansos e quietos, humildes, modestos
e aflitos a suportar toda injúria recebem a promessa de possuir a terra. Não se
considere pequena ou sem valor esta herança, como se fosse diferente da celeste
morada, pois não se entende que sejam outros a entrar no reino dos céus. A
terra prometida aos mansos e a ser dada aos quietos é a carne dos santos que,
graças à humildade, será mudada pela feliz ressurreição e vestida com a glória
da imortalidade, nada mais tendo de contrário ao espírito na harmonia de
perfeita unidade. O homem exterior será então a tranquila e incorruptível
possessão do homem interior.
Os mansos a possuirão numa paz perpétua e nada diminuirá de
sua condição, quando o corruptível se revestir da incorruptibilidade e o mortal
se cobrir com a imortalidade (1Cor 15,54); a provação se mudará em prêmio, o
ônus de outrora agora será honra.
São
Leão Magno (400/461)
Papa e Doutor da
Igreja
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