sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Caridade: Fazer o bem nos faz bem.




A caridade é a maior de todas as virtudes.

 
A virtude sobrenatural da caridade não é um mero humanitarismo.
O nosso amor não se confunde com a atitude sentimental, nem a simples camaradagem, nem com o propósito pouco claro de ajudar os outros para provarmos a nós mesmos que somos superiores. 

É conviver com o próximo, venerar a imagem de Deus que há em cada pessoa, procurando que também ele a contemple, para que saiba dirigir-se a Cristo.
O Senhor deu um conteúdo inédito e incomparavelmente mais alto ao amor ao próximo, destacando-o como mandamento novo e verdadeiro distintivo dos cristãos. 

A medida do amor que devemos ter pelos outros é o próprio amor divino: “como eu vos amei”.

Não se pode amar verdadeiramente a Deus sem amar ao próximo, nem amar ao próximo sem amar a Deus.

O apóstolo Paulo diz: “ainda vou indicar-vos o caminho mais excelente de todos” (1Cor 12,31). Esse caminho, método ou dom que supera em muito todos os outros se chama caridade. Em algumas Bíblias, utiliza-se a palavra “amor” buscando uma maior aproximação com o sentido original do texto. Por quê?

A “caridade” de que trata o texto não é somente aquela que hoje entendemos como “fazer o bem ao próximo”, “querer bem a todos” ou “suprir as necessidades materiais dos menos favorecidos”. A caridade, por excelência, é o amor que se tem a Deus. Daí vê-se que a tradução pela palavra “amor” também não traduz o sentido completo que o apóstolo queria explicitar.

E o que se quer dizer ao se referir que somente “amor” não é o sentido completo de caridade? Diferentemente de algumas formas de sentimentos que o nome “amor” também acabam recebendo indevidamente, como a paixão, atração sexual ou a fixação em algo ou alguém, a caridade é o amor ao supremo bem, à suprema bondade, ao próprio Deus. Como “Deus é amor” (1 Jo 4,8), esse deleite gerado por Aquele que é (Ex 3,14), pelos seus supremos atributos espirituais, só pode ser gerado pelo próprio Criador e só pode direcionar-se a Ele. Tem-se aí o verdadeiro sentido do “teologal” atribuído a essa virtude: procede de Deus e só pode verter-se para Deus.

Amor a Deus

Esse amor intenso por Deus, com Ele e para Ele, naturalmente deve se derramar aos seus filhos adotivos, suas criaturas eleitas. Afinal, “se alguém disser: ‘amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (cf. 1 Jo 4,20). A partir disso, esclarece-se por que a “caridade”, na linguagem comum, deixou de ser o amor a Deus para se tornar a ação de fazer bem ao próximo. Incapaz de ver o verdadeiro motor que move a ação (o amor a Deus), identificou-se a ação com sua aparência externa (o fazer o bem).

Desse modo, conclui-se também que, embora a caridade humana, ou seja, fazer o bem ao próximo motivado pela simples vontade de ajudá-lo ou de melhorar a sociedade, seja boa em si, não se trata de verdadeira virtude teologal. É essencial, portanto, que o fazer o bem esteja motivado pelo amor a Deus e seja um derramamento desse amor também aos irmãos. Uma das frases atribuídas a Santa Teresa de Calcutá reflete bem esse ponto. Ao tratar com um desvelo sobrenatural um homem tornado extremamente repugnante em seu aspecto por causa de sua doença, ela ouviu de um milionário que estava conhecendo seu trabalho “de caridade”: “Eu não faria esse trabalho nem por um milhão de dólares!”. Ao que a santa respondeu: “Nem eu”.

Somente por caridade, por amor a Deus, podemos realizar ou suportar certas coisas. É o amor de Deus que se derrama, insere-se no ser humano, torna-se parte dele por meio do hábito ou virtude, cresce à medida que este “hábito bom” é reforçado e, finalmente, derrama-se aos outros.

Pe. Emílio Carlos Mancini .

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