5º DOMINGO
DA PÁSCOA
06 de maio de 2012“Em nossos dias, é, portanto, indispensável proclamar que ‘Jesus, convoca a viver e caminhar juntos. A vida cristã só se aprofunda e se desenvolve na comunhão fraterna’” (CNBB. DGAE. DOC. 94, n.130b).
Leituras:
Atos 9, 26-31;
Salmos 22 (21), 26b-27.28.30.31-32 (R/26a);
1
João 3, 18-24;
João 15, 1-8.
COR
LITÚRGICA: BRANCA
Aleluia irmãos e irmãs!
Neste quinto domingo pascal, ouviremos que a verdadeira vida cristã se resume
na videira e seus ramos. Jesus não é somente nosso caminho, o único modelo a
seguir. Ele é a nossa vida, o “sangue” de nosso espírito, sem o qual não
poderíamos segui-Lo nem permanecer na sua amizade.
Situando-nos brevemente
Seguindo a caminhada pascal, celebramos hoje o domingo do
evangelho da videira e dos ramos. “Eu sou a videira, vocês são os ramos!”
Jesus ressuscitado, que no domingo passado se apresentou como o
Bom Pastor, neste, se manifesta como “videira e o Pai como o agricultor”. Ele
nos convida a uma relação tão interdependente, comparada à dos ramos com o
trono de uma árvore. A comunidade é como uma videira, por vezes ela passa por
momentos difíceis. É o momento da poda, necessário para que ela produza mais
frutos.
A comunidade dos discípulos que permanecer unida ao Ressuscitado
terá vida plena e, como a videira, produzirá os frutos desejados pelo Pai. Esta
comunidade será verdadeira testemunha da presença e do carinho de Deus (o
agricultor) no meio da sociedade.
Celebremos a páscoa de Jesus que se revela em todas as pessoas e
grupos que testemunham um amor solidário, especialmente para com os enfermos e
sofredores de nossa sociedade.
Recordando a Palavra
No Antigo Testamento, a videira era uma imagem do povo de Israel
(cf. Is 5,1-7). Deus a plantou com muito carinho. A videira, no entanto, não
correspondeu ao que dela se esperava (cf. Is 5,3-4). Jesus é a nova videira.
Numa única frase ele explana toda a alegoria. Ele diz: “Eu sou a videira
verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo em mim que não der fruto, Ele o
corta. E todo o ramo que produz fruto, ele o poda!”.
Deus faz a poda através da sua Palavra que chega até nós pela
Bíblia e por tantos outros meios. Jesus segue, afirmando: “Eu sou a videira e
vós sois os ramos!” Não se trata de realidades distintas ou opostas. A videira
sem ramos não existe. Os ramos, todavia, não possuem vida própria. Eles só
produzirão frutos se estiverem vitalmente unidos ao tronco. Jesus é o todo, nós
somos parte dele. “Sem mim nada podeis fazer”.
O discípulo produzirá frutos graças ao Espírito que o
Ressuscitado lhe comunicar. O Espírito é a seiva que, emanando do tronco, torna
o ramo fecundo. Jesus conclui a alegoria, revelando a sorte “dos ramos jogados
fora”, ou seja, daqueles que se afastaram da comunidade do novo povo: “serão
apanhados, lançados ao fogo e queimados”. O exemplo de relação que produziu
frutos é a de Jesus e o Pai. O que o Pai mais deseja é que nos tornemos
discípulos de seu Filho e, assim, produziremos muitos frutos para a glória do
Pai (Evangelho).
A leitura dos Atos dos Apóstolos recorda a estadia de Paulo em
Jerusalém, depois de ter saído de Damasco e de sua conversão. A comunidade é
tomada pelo medo e a desconfiança. Apesar de Paulo empenhar-se em estar com os
discípulos, a comunidade não acredita “que seja um dois discípulos”.
A mediação e o testemunho de Barnabé em favor de Paulo foram
significativos diante da comunidade. Ele segue com entusiasmo, testemunhando Jesus
Cristo, enfrentado ardorosamente as dificuldades e as posições suscitadas por
sua pregação. A Igreja em paz, se edificava e progredia no temor do Senhor, e
crescia em número com a ajuda do Espírito Santo (1ª Leitura).
Pelo canto do Salmo, a comunidade é convidada a agradecer ao
Senhor Deus que jamais abandona quem nele depõe sua confiança. Como Paulo, o
Senhor sustenta nossa labuta em favor da vida e de relações humanas alicerçadas
na justiça. Todos cantam: “Sois meu louvor em meio à grande assembleia;
anunciarei a todos vosso nome!” (Sl 22(21).
A Carta de João que vamos ouvimos nos apresentou alguns
critérios sobre a maneira de viver como cristãos. A prática do mandamento do
amor vai além dos sentimentos e afetos. Ela se concretiza em ações que promovem
a vida e a felicidade dos irmãos.
Mais do que belos discursos, são as ações concretas em favor do
próximo que dão credibilidade à vivência cristã e testemunham o plano salvador
de Deus. Quem alicerça sua vida no amor está livre de todas as dúvidas e inquietações
e tem a garantia de estar no caminho da verdade (2ª Leitura).
Atualizando a Palavra
A Liturgia da Palavra deste 5º Domingo do Tempo Pascal sublinha
a união vital dos discípulos com o Ressuscitado, do batizado com sua comunidade
de fé. Esta união vital Jesus a explica através da alegoria da videira. Ele
mesmo se apresenta como a “videira verdadeira” e nós, seus discípulos, os
ramos, vitalmente unidos a ele. No primeiro Testamento, a videira era
considerada o símbolo do povo eleito de Deus. Mas esta videira não correspondeu
às expectativas do “agricultor”.
O Pai (o agricultor) desejou que o Filho fosse o tronco da
videira e nós os ramos. Se estivermos unidos à videira, que é Jesus, também
daremos os frutos que Jesus deu e então poderemos ser Cristo para os nossos
irmãos, sendo instrumentos de transformação em suas vidas
Não existe vida para o ramo, se ele estiver separado do tronco.
O ramo que se separa da cepa, seca e morre sem produzir frutos, vira lenha e é
lançado ao fogo. Portanto, sem Jesus não há vida, não há frutos. Os frutos aqui
evocados são a santidade de uma vida fecunda pela união a Cristo (cf. Catecismo
da Igreja Católica, n.2074).
Jesus ressuscitado é a Videira e nós somos os ramos dessa
Videira. São Paulo ensina que, pelo Batismo, nos tornamos Corpo de Cristo,
membros do seu corpo (cf. Ef 5,30). Então, no Batismo, o Espírito Santo nos
enxerta como ramo na Videira, que é Jesus Cristo, e consequentemente, “pelo
poder do Espírito Santo, participamos da Paixão de Cristo, morrendo para o
pecado, e pela Ressurreição, nascendo para uma vida nova; somos os membros de
seu Corpo, que é a Igreja, os sarmentos enxertados na Videira, que é ele mesmo”
(Catecismo da Igreja Católica, n.1988).
Os ramos que não se alimentam da seiva do tronco murcham, secam
e são jogados fora. Assim também nós: se não nos nutrirmos do Espírito de Deus,
definhará a nossa vida, gerada em nós pelo Batismo. Os ramos que se mantêm
unidos ao tronco recebem a seiva da vida que os torna fortes, vigorosos e
férteis. Produzem muitos frutos e de excelente qualidade, como os de Jesus:
perfeitos e comestíveis.
Como ramos da videira, precisamos nos deixar impregnar por usa
seiva, que é Jesus Cristo, assim: “estareis capacitados a entender, com todos
os santos, qual a largura, o comprimento, a altura, a profundidade” (Ef 3,18)
do amor de Deus. A nova comunidade, que Jesus ressuscitado inaugura, resulta da
união vital entre ele e seus seguidores.
Jesus repete oito vezes a palavra “permanecer”. Para nós (os
ramos) é vital permanecer no amor. Permanecer em Deus. O amor tem um rosto: no
rosto de Cristo crucificado vemos Deus. “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Como
a planta precisa de água, nós também precisamos da “Água Viva”, o Espírito de
Deus, para nos encharcar desse amor.
Nossa vida cristã depende dessa união: “Sem mim nada podeis
fazer” (Jo, 15,5), isto é, os frutos que produzimos vêm da união a Cristo. Quem
não permanecer unido, secará e perderá a vida. Esta união é fonte de energia, é
graça de Deus. Estar unido é produzir frutos.
Quem ama sofre, pois o amor exige renúncia. Por isso, Jesus
revela que, estar unido a ele é ter que suportar as podas para produzir mais
frutos. Mesmo que a poda seja sofrida tanto para o agricultor, como para a
videira e os ramos, ela se faz necessária. Sem ela, os ramos acabam
prejudicando toda a videira, a qual não produzirá os frutos esperados.
Muitas vezes, as podas do “Agricultor” (Deus) podem ser
dolorosas e não entendemos como acontecem. Podem ser uma doença, um acidente,
determinada provação ou sofrimento que, no curso do tempo, se transformam em
graça e melhor qualidade de vida. São podas que fazem parte do plano de
salvação de Deus, pra cada pessoa ou comunidade. A correção de Deus é de um Pai
amoroso, que deseja ver seus filhos realizados e felizes.
Ligando a Palavra com ação
litúrgica
Na comunidade, celebramos e vivenciamos, pelo Batismo e pela
Eucaristia, a vida que brota da videira verdadeira, Jesus Cristo ressuscitado.
Íntima comunhão com o Ressuscitado é que dá fecundidade aos ramos (os discípulos)
para produzirem abundantes frutos, que manifestam a glória do Pai na missão.
A Eucaristia é a fonte e o ápice de toda a vida cristã (cf.
Lumem Gentium, n.11). A comunhão do corpo do Cristo eucarístico significa e
produz a íntima comunhão de todos os membros no Corpo de Cristo que é a Igreja
- relação de comunhão e participação efetiva na comunidade.
A união vital que se realiza entre Cristo e seus seguidores (os
ramos), pela participação na ação eucarística, nos habilita a novos
relacionamentos com os irmãos e irmãs na sociedade.
O fruto da videira é a uva, que é a matéria principal da
produção do vinho. Na Eucaristia, o vinho e o pão são transformados em Corpo e
Sangue de Cristo, pela ação do Espírito Santo. Na Sagrada Eucaristia, a partir
da Cruz, Jesus nos atrai todos a si (cf. Jo, 12,32) e nos torna ramos da
videira, que é ele mesmo.
Permanecendo unidos a ele, produziremos frutos bons; não o
vinagre da autossuficiência, da injustiça, da corrupção, mas o vinho bom da
alegria de Deus e do amor ao próximo. A Eucaristia, celebrada com o vinho,
fruto da videira, é certamente um momento de graça na íntima união entre o
Ressuscitado e sua comunidade. Desse modo, da ação litúrgica, como “lugar
privilegiado do encontro com o Senhor”, emanará a seiva para a produção de
frutos num novo dinamismo de vida.
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