quinta-feira, 31 de maio de 2012

Presença

 

Quando por um instante o corpo e a mente repousam atentos em nada querer, tudo observar com distância, observa também que tão logo queira algo, o momento se perde. Não pelo querer em si, mas pelas forças que o ego projeta sobre esse querer buscando não apenas realizá-lo com liberdade desinteressada, mas com as ilusões de sucesso e fracasso pessoais, com a ambição de conseguir e assim afirmar tal poder, como se qualquer êxito fosse mérito humano. 

Quanto mais articulado for esse ego, menos se percebe a verdade de que nem a própria vida nos pertence. 
Talvez se perceba nocionalmente, mas não existencialmente, não se experimenta como verdade mas como condescendência do ego.

São Bento orienta “quem quer que seja” que se encontre com a Vida-Jesus, a ter sempre a morte diante dos olhos, não para cultuá-la, mas exatamente para não cultuar as ilusões do mundo que a tornam uma inimiga. 
E em seu capítulo sobre a humildade deixa bem claro a importância de uma inversão de valores quanto ao orgulho e a humildade. 

Quando a mente repousa, percebe-se com humildade “que a vida não é sobre a gente, não se trata de mim, mas de Deus” – Joan D. Chittister (OSB)

O centro da realidade não somos nós e o que queremos, mas Deus, e essa percepção experiencial, não meramente nocional, é que nos capacita à paz de Cristo, a mesma paz que nele estava e nos doou como dom: “Eu vos deixo a Paz, eu vos dou a minha Paz”. 

Paz que não depende de nada além de reconhecer que Deus é o centro, a realidade, e está disponível a nossa espera aqui e agora, onde quer que seja.

A oração é uma inserção de tudo o que somos, como nas palavras de São Paulo, “alma, corpo e espírito”, na Paz de Cristo. 

Mas talvez seja preciso entender que essa Paz não é, como disse Thomas Merton, meramente um gozo, uma suavidade, mas antes, a consciência da presença de Deus em tudo e em todos.

Louvado seja Deus que nos deu em Jesus Cristo o modelo de vida que nos leva a tal consciência. 

Que todos os cristãos não desanimem em meio ao mundo hiper estimulado, hiperativo, hiper agendado, de caminhar segundo o ensinamento de Cristo, essencialmente contemplativo e desperto para a presença de Deus.

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