«Vimos a Sua glória»
Cristo tinha de vir na nossa carne: não um outro, anjo ou embaixador, era
Cristo Quem tinha de vir, em pessoa, para nos salvar (Is 35,4) [...]. Teve de
nascer em carne mortal: eis pois um menino, deitado numa manjedoura, envolto
em panos, alimentado ao peito, que havia de crescer com os anos e, por fim, de
morrer cruelmente. Tantos testemunhos de profunda humildade. Quem nos dá tais
exemplos de humildade? O Altíssimo.
Que grandeza é a Sua? Não a procures na terra, sobe à altura dos astros. Quando chegares às legiões dos anjos, ouvirás dizer: «Sobe mais alto, acima de onde estamos». Quando tiveres subido até aos Tronos, Dominações, Principados e Potestades (Col 1,16), ouvi-los-ás ainda dizer: «Sobe mais alto, que nós próprios somos ainda criaturas», «por Ele é que tudo começou a existir» (Jo 1,3). Eleva-te pois acima de todas as criaturas, de tudo o que foi formado, de tudo o que recebeu existência, de todos os seres que mudam, corporais ou incorporais, numa palavra, acima de tudo. A tua vista não alcança ainda tais alturas; é pela fé que tens de te elevar até lá, é a fé que te deve conduzir ao Criador [...]. Lá, contemplarás o Verbo, que era no princípio [...].
Ora esse Verbo que estava em Deus, esse Verbo que era Deus, por Quem todas as coisas foram feitas, sem Quem nada teria sido feito, e em Quem estava a vida, desceu até nós. Que éramos nós? Mereceríamos que Ele descesse até nós? Não, nós éramos indignos de que Ele tivesse compaixão de nós, mas Ele era digno de ter piedade de nós.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Sermão 293, 5 para a natividade de São João Batista
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