Retiro Pessoal
Mês de Abril
2013
A Direção de São Pedro um caminho espiritual.
2 Pe
1,1-11
Muitos de nós,
quando queremos algo com muito afinco, colocamos todos os meios e esforços
necessários para alcançar este objetivo. Se a meta é grande, inclusive pensamos
em estratégias e formas de agir a fim de alcançar com maior facilidade o que
buscamos. Algo similar acontece com a vida cristã.
Nossa meta –
como bem sabemos – é alcançar a santidade. Ou seja, configurar-nos com o Senhor
Jesus e alcançar a plenitude da caridade. No entanto, muitas vezes erramos nos
caminho e somos negligentes em responder ao Senhor.
Se para alcançar
bens materiais e muitas vezes efêmeros colocamos tanto empenho, porque não
fazer o mesmo para alcançar a santidade?
Como sabemos
bem, por experiência, não se trata apenas de nosso esforço e empenho. É
necessário atuar com inteligência. Ou seja, implica ter um caminho, um método
que nos ajude a alcançar nossa meta.
Agora, é
necessário fazer aqui uma precisão muito importante: pela natureza do fim que
perseguimos na vida cristã, conseguir a meta da santidade não depende somente
de nosso esforço. Pelo contrário, o fundamental é a graça que Deus derrama
sobre nós, e sem a qual nada poderíamos fazer para avançar nesse caminho à
santidade. Sabemos que a iniciativa é de Deus e que devemos cooperar com essa
graça divina. Trata-se, então, de ser inteligentes e organizados em nossa luta
pela santidade, canalizar nossos esforços para crescer passo a passo,
permitindo que a força divina vá desenraizando os vícios próprios de nosso
homem velho e revestindo-nos do homem novo [1].
Um
método para crescer em santidade
Em sua Segunda Carta,
São Pedro nos propõe precisamente um método para avançar passo a passo pelo
caminho da santidade.
A
espiritualidadecristã tem procurado aprofundar neste caminho espiritual
proposto pelo Apóstolo, a quem Jesus elegera como rocha da fé e cabeça da
Igreja.
Esta Direção
de São Pedro, como vem sendo chamada esta passagem, encontra-se em 2Pe
1,1-11, e nos convida a ser «participantes da natureza divina» [2],
«aplicar toda diligência» para o crescimento nas virtudes, e poder ter, assim,
«ampla entrada» no Reino eterno.
A Direção de
São Pedro, é importante ressaltar, é um caminho cristocêntrico. Ou seja,
«partindo da fé, conduz ao encontro com o Senhor Jesus, tem Cristo como centro
de toda sua dinâmica, e tem como fim a configuração com Ele, o que significa a
harmonia de nossas faculdades, de todo nosso ser em sentido integral, em suas
dimensões corporal, psicológica e espiritual»[3].
A passagem da
carta em que encontramos a Direção de São Pedro é de grande
profundidade e riqueza. Lembra-nos que por meio da graça «nos foram dadas
preciosas e grandíssimas promessas» [4]. De que promessas fala o Apóstolo?
Fala-nos de que não seremos nem «inúteis nem infrutíferos no conhecimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo» [5].
Diz-nos que
«agindo desse modo, não tropeçareis jamais» e que «será outorgada generosa
entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo» [6]. Na
verdade, são belas promessas, que todos desejamos. São Pedro nos fala também da
necessidade de fugir da «corrupção que prevalece no mundo como resultado das
concupiscências» [7], uma vez que ela nos prova e dá lugar ao pecado em nós.
Trata-se,
portanto, de um caminho no qual Deus nos dá a força necessária, nos acompanha
no combate espiritual e nos convida a cooperar com a ação do Espírito para dar
frutos de santidade em nossa vida. Como lembra o Catecismo da Igreja Católica,
«o mérito do homem perante Deus, na vida cristã, provém do fato de que Deus
dispôs livremente associar o homem à obra da sua graça. A ação
paterna de Deus é primeira, pelo seu impulso, e o livre agir do homem é
segundo, na sua colaboração; de modo que os méritos das obras devem ser
atribuídos à graça de Deus, primeiro, e depois ao fiel» [9].
Essa cooperação
com a graça se dá, de modo concreto, no empenho que devemos colocar para
avançar no caminho da virtude.
De
virtude em virtude
Todo método tem
passos, uma sequencia, um caminho com etapas. No caso da Direção de São
Pedro, os passos que propõe nos ajudam a responder com ordem e sentido à
graça que Deus derrama sobre nós. Deste modo, nossos esforços serão mais bem
orientados, e poderemos avançar com maior segurança em direção à meta para a
qual o Senhor nos chama. Estes passos, ou degraus, são uma série de virtudes
interconectadas entre si, originada na fé e cuja meta é a caridade. A Direção
de São Pedro tem como núcleo os versículos 5 ao 7, onde o Apóstolo nos
sugere, a partir da fé, uma autêntica escada espiritual, que tem como passos a
virtude, o conhecimento, a temperança ou autodomínio, a tenacidade ou paciência
nutrida de esperança, a piedade, o amor fraterno e a caridade. Esses são os
passos que devemos dar, os degraus pelos quais vamos subindo até a
meta: a perfeição da caridade [10].
São virtudes
chaves na vida cristã, a tal ponto que – nos diz São Pedro – «quem não as
possui é um cego, um míope: está esquecido da purificação dos seus pecados de
outrora» [11].
Aplicando
toda a diligência
É importante
lembrar que São Pedro nos convida a colocar toda nossa diligência [12] neste
caminho espiritual. Se cooperamos com a graça divina, abrindo-nos à força
transformadora do Espírito Santo, alcançaremos as virtudes mencionadas por São
Pedro, tendo-as «em abundância» [13]. Lembremos que o Apóstolo nos pede fugir
da concupiscência. Isso, por si só, já implica uma decisão livre e
consciente de nossa parte e é consequência do compromisso que assumimos com
Deus em nosso Batismo
de renunciar a Satanás e a todas suas seduções. Agora, sabe-se que em
uma viagem não basta evitar as estradas ruins, é preciso avançar pelo bom
caminho, percorrer as boas estradas. Da mesma forma, no esporte não basta não
se lesionar, ou não perder a concentração, é fundamental fortalecer-se,
adquirir e melhorar as habilidades, elaborar estratégias.
Neste sentido,
São Pedro nos exorta: «aplicar toda a diligência» [14].
Nosso empenho,
em comparação com a força de Deus, pode parecer algo pouco significativo. No entanto,
não é autenticamente cristã uma atitude passiva, indiferente frente a generosa
graça de Deus. A terra boa da qual nos fala Jesus em sua parábola [15] se faz
fértil pela escuta da Palavra de Deus e por colocá-la em prática, de modo que a
semente de salvação que ela porta possa crescer e dar frutos cem por um.
Portanto, junto com a convicção de que primeiro está sempre a graça de Deus,
devemos colocar tudo o que estiver a nosso alcance para que essa graça não caia
em saco furado.
Interiorizemos a
exortação de São Pedro: «Por isto mesmo, irmãos, procurai com mais diligência
consolidar a vossa vocação e eleição, pois, agindo deste modo, não tropeçareis
jamais» [16].
A Direção de
São Pedro é um caminho espiritual que nos convida a colocar toda nossa
diligência em cooperar com a graça de Deus. Assim, passo a passo, transformados
interiormente pelo Espírito divino, iremos despojando-nos de nossos vícios e
pecados – do homem velho – e revestindo-nos das virtudes do homem novo que é
Cristo, até alcançar Nele a perfeição da caridade.
Enquanto
cristãos, somos convidados a «obedecer» a Jesus (Hebreus 5, 9), ou seja, a
escutá-Lo.
Este texto dá-nos um outro
ensinamento importante e difícil: a obediência. Não é uma palavra fácil para os
nossos ouvidos pósmodernos A obediência é frenquentemente encarada como
submissão ou subordinação. Sabemos que muitas injustiças foram cometidas em
nome da obediência. Como falar de obediência numa civilização em que a
igualdade, o respeito pelos direitos humanos e a realização pessoal são valores
importantes? Deus quer esmagar Jesus com a sua vontade? Jesus deve aceitar o
Seu projeto para que a sua oração seja escutada?
Ajudar-nos-á atentar à
etimologia da palavra, com origem palavra latina audire, que significa
«escutar, entender bem». Na Bíblia, a escuta assume um papel muito importante
no caminho da fé. Os crentes judeus dizem todos os dias esta oração: «Escuta,
Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único».
Jesus deve escutar para
compreender o plano de Deus na sua existência.
A escuta exige uma abertura
da inteligência e do coração. Implica compreender e refletir. Jesus não cumpriu
automaticamente a vontade de Deus. Foi gradualmente que compreendeu o que
significa ser um filho verdadeiro de Deus, como viver a escolha interior de
amar.
Escolhendo amar, Jesus diz
sim ao projeto de amor de Deus. Todavia, também O torna vulnerável. Quando
escolhemos amar, aumentamos a possibilidade de sofrer. A vulnerabilidade de
Jesus leva-O à cruz, onde é verdadeiramente Ele próprio, o Filho de Deus,
compassivo e afetuoso.
Enquanto cristãos, somos convidados a «obedecer» a Jesus (Hebreus 5, 9),
ou seja, a escutá-Lo.
Da mesma forma, também nós
devemos aprender pouco a pouco o que quer dizer ser filhos de Deus. Somos
convidados a crescer e a compreender progressivamente o que significa amar para
poder fazer sempre a escolha de amar livremente.
VAMOS ORAR:
CITAÇÕES
PARA MEDITAR
- A Direção de São Pedro: 2Pe 1,1-11
- Ser participantes da natureza divina: 1Jo 4,8.16; 2Pe 1,4b; Ef 1,3-13
- Alcançar a semelhança com Cristo: Col 1,15; Rom 8,29
- Crescer até a plenitude da caridade: 1Cor 13; Jo 15,12-13; Flp 2,5ss
- Fugir da concupiscência: 2Pe 1,4c; Sab 4,1; Tg 1,14-15; 1Jo 2,16-17
- Despojar-nos do homem velho e revestir-nos do homem novo: Col 3,5-17; Ef 4,17-32
- Aplicar toda a diligência: 2Pe 1,5.10a; 2Tim 2,4-6; 1Cor 9,25
PERGUNTAS
PARA REFLETIR NO SEU DIA DE RETIRO:
1.Sou consciente
de que minha vida espiritual necessita uma ordem, uma estratégia, um método?
2.O que é a Direção de São Pedro?
De que forma pode me ajudar no caminho à santidade? Conheço as virtudes que São
Pedro me recomenda viver?
3.Confio nas promessas divinas? Sou
consciente de tudo o que o Senhor Jesus fez e faz por minha salvação?
4.Que tanto me esforço por
cooperar com a graça que o Senhor sempre está derramando em meu coração? Que
tanto me esforço por viver as virtudes da Direção de São Pedro?
5.Estou disposto a viver os meios
necessários para alcançar a santidade, colocando toda minha diligência nessa
tarefa?
6. Como compreendo a palavra
«obediência»?
INTERIORIZANDO
« A virtude é
uma disposição habitual e firme para praticar o bem. Permite à pessoa não
somente praticar atos bons, mas dar o melhor de si mesma. A pessoa virtuosa
tende para o bem com todas as suas forças sensíveis e espirituais; procura o
bem e opta por ele em atos concretos.
O fim duma vida
virtuosa consiste em tornar-se semelhante a Deus.» (Catecismo da Igreja
Católica, n.1803 b)
- Que tão virtuosa é minha vida? Ou seja, que tão habitual e firme é minha disposição por fazer o bem?
- Dou o melhor de mim mesmo nas atividades da vida cotidiana? Escolho sempre o bem?
- Sou consciente de que posso chegar a ser semelhante a Deus, se é que coopero com sua graça por meio de boas obras?
«Com a ajuda de
Deus [as virtudes] forjam o caráter e facilitam a prática do bem. O homem
virtuoso sente-se feliz ao praticá-las. Não é fácil, ao homem ferido pelo
pecado, manter o equilíbrio moral. O dom da salvação, que nos veio por Cristo,
dá-nos a graça necessária para perseverar na busca das virtudes. Cada qual deve
pedir constantemente esta graça de luz e de força, recorrer aos sacramentos,
cooperar com o Espírito Santo e seguir os seus apelos a amar o bem e
acautelar-se do mal. » (Catecismo da Igreja Católica, n. 1810b-1811)
- Tenho consciência da força negativa do pecado em minha vida? Estou disposto(a) a romper com o pecado? Realmente renunciei Satanás e todas as suas seduções? Amo o bem e me guardo do mal?
- Peço a Deus sua ajuda para viver as virtudes? Anseio forjar meu caráter de tal forma que eu possa ter “facilidade na prática do bem”?
- Recorro aos sacramentos da Reconciliação e Eucaristia para receber a graça divina necessária para avançar no caminho das virtudes? Que meios devo colocar para fazê-lo com constância?
Com relação ao
convite de percorrer uma escada espiritual de virtudes, São Beda, o Venerável,
comenta que São Pedro «nos chama seriamente a realizar todo esforço nisso,
porque a pessoa que é mole ou negligente em seu trabalho fica amigo daquele que
destrói suas obras»[17]. Por sua parte, um ancião Padre do Deserto advertia
que: «Não avançamos na virtude porque não conhecemos nossas limitações e porque
não temos paciência nas obras que empreendemos. Queremos alcançar a virtude sem
esforço algum»[18].
- Sou mole e negligente em meu trabalho por conquistar a santidade? Sou consciente de que “aquele que não avança retrocede”?
- Conheço minhas limitações? Que tanto vivo a humildade e sou paciente comigo mesmo (a)?
- Estou disposto(a) a pedir ajuda a pessoas idôneas em vistas a desenterrar de minha vida os vícios e pecados? Com sinceridade, ponho toda minha diligência na vivência da Direção de São Pedro?
Santo Retiro+
- Caminho para Deus – Movimento de Vida Cristã.
- Reflexões textos bíblicos com comentários Taizé.
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