5º DOMINGO
DA PÁSCOA
28 de abril
de 2013
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" Em Cristo morto e ressuscitado mostra-se a Glória do Pai "
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Leituras:
Atos 14, 21b-27;
Salmo 144 (145), 8-9.10-11.12-13ab (R/ cf. 1);
Apocalipse 21, 1-5a;
João 13, 31-33a.34-35.
COR LITÚRGICA: BRANCA OU DOURADA
O Senhor ressuscitou! Aleluia! Nesta
Eucaristia, Jesus nos convida a viver o verdadeiro amor, que é o bem do
próximo, o respeito e a dignidade. Esse amor constrói a paz, perdoa sempre e
cria comunidade. Devemos estar sempre atentos ao mandamento de Jesus: “Amai-vos
uns aos outros como eu vos amei”.
1. Situando-nos brevemente
Sendo o tempo pascal como “se fosse um só dia de festa” (NALC
22), nos é dada a oportunidade de compreender e experimentar melhor o amor de
Deus que Jesus revela por meio dos ritos litúrgicos e que devem alcançar a
totalidade da vida de seus discípulos.
Neste período, oportunamente, a Igreja é convidada a portar-se
como Cristo Ressuscitado, porque está imbuída do seu Espírito. Com razão,
Tertuliano chamava atenção para o fato de que estes cinqüenta dias que se
estendem, desde a Vigília Pascal, chama-se “Pentecostes”, pois seu Espírito,
que é amor, foi derramado no coração dos fiéis. E para estes, durante este
tempo, não cabe nenhuma atitude ou gesto de tristeza (Cf. AUGÉ, Matias. Quaresma, páscoa e pentecostes. Tempo de renovação
no Espírito. Soa Paulo: Editora Ave Maria. P.143).
Este texto situa-se no contexto do
Último Discurso de Jesus, na Ceia Pascal.
Começa logo após a saída de Judas para trair Jesus, depois que Jesus lhe
disse “o que você pretende fazer, faça-o
logo” (Jo 13, 27). Com a licença
oficial dada ao agente de Satanás para iniciar o processo que iria matá-lo,
Jesus começa o processo da sua glorificação.
A sua fidelidade ao projeto do Pai vai levá-lo à Cruz, que, no Quarto
Evangelho, não é um sinal de derrota, mas da vitória última e permanente de
Deus. Por isso, a morte de Jesus, aparente vitória do mal, será a glorificação
de Jesus, e nele, do Pai.
O anúncio da sua partida, para os
judeus uma ameaça (v33), é para a comunidade dos seus discípulos um momento de
emoção e carinho. A sua última dádiva a
eles é um novo mandamento: “eu dou a
vocês um novo mandamento: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês,
vocês devem se amar uns aos outros” (v 34).
2. Recordando a Palavra
A Liturgia da Palavra se abre com um breve relato das viagens
paulinas retirado dos Atos dos Apóstolos. Lucas narra sucintamente uma
assembléia, provavelmente litúrgica, da comunidade de Antioquia, ponto de
partida do itinerário missionário de Paulo e Barnabé. Nela, os dois apóstolos
do Evangelho têm a ocasião de contar “tudo o que Deus fizera por meio deles” (At
14,27).
O Salmo Responsorial repropõe este evento, fazendo-nos a ele
contemporâneo: “Bendirei o vosso nome, ó meu Deus (...) que vossas obras, ó
Senhor vos glorifiquem (...) narrem a glória e o esplendor do vosso reino” (Sl
144, 1.10-11).
A perícope evangélica, por sua vez, nos diz que esta glória se
deu no Filho do Homem, isto é, em Jesus e termina repropondo o mandamento do
amor, uma vez que é mediante este amor que os discípulos se dão a conhecer e
também anunciam o próprio Jesus.
A glória de Deus em Jesus e a experiência do amor de Cristo
entre os irmãos parece ser o fim do evangelho deste domingo. Tanto em grego
quanto em hebraico, a palavra “glória”, circunscrita ao ambiente da Escritura,
refere-se ao esplendor de alguém, cujo valor se deixa notar –se torna sensível,
tangível – e envolve aqueles que a contemplam (Saliente-se o fato que “doxa”, fora do contexto bíblico significa
também opinião. Esta acepção não aparece nos escritos do Novo Testamento onde o
termo grego é empregado. Já o conceito fundamental de glória, honra e poder
tributado não é comum fora das Escrituras. Isto se explica pelo fato da palavra
grega (“doxa”) ser a tradução do hebraico bíblico kabod na versão dos Setenta {Bíblia
Grega, também, chamada Septuaginta}).
É um termo muito recorrente no Novo Testamento e recebe um
tratamento especial na obra joanina, uma vez que Jesus é sempre apresentado
como aquele que manifesta ao mundo a glória do Pai e por este é glorificado.
Suas ações, suas opções, a envergadura de seu ministério são
vistos sempre a partir de seu caráter revelador de Deus. Aqui entra em cena o
amor que Jesus confere aos seus, como herança e condição, para que sejam
reconhecidos como pertencentes ao seu grupo de seguidores: “Nisto, todos
conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Cf. Jo 13,35).
Por sua morte e ressurreição, Jesus condiciona a experiência de
amor a seu caráter epifânico – revelador – do amor que Deus nos dedica.
3. Atualizando a Palavra
A segunda leitura nos apresenta um trecho do livro do Apocalipse
de São João em que se anuncia a superação de toda tristeza, porque há um novo
céu e uma nova terra como “chão” e “tenda” sobre os quais repousará a
humanidade descansada e feliz (Cf. Ap 21,
1.4).
Este desejo de felicidade, tranquilidade e paz habita o nosso
mundo. Quantos e quantas não se esforçam por criar condições reais de segurança
para que seus filhos e filhas possam brincar e ser felizes! Desde os mais
pobres até os mais abastados, a busca por uma vida boa é uma constante na vida.
Os meios para que se realize tal desejo, no entanto, nem sempre são os mais condizentes
com o Evangelho.
Há os que se corrompem aquilo que não lhes pertence, e está
designado para o sustento e promoção do povo, como o fizeram aqueles do famoso
caso do mensalão ou aqueles políticos tidos como “ficha-suja”. Homens e
mulheres desta categoria pertencem a um mundo que já não existe segundo a
Páscoa do Senhor, pois por meio desta não há lugar para sofrimento e dor: “o
primeiro céu e a primeira terra passaram, o mar (lugar de tribulações) já não existe [...] a morte não existirá
mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia
antes [...]. Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 1.4-5).
O que existe é uma nova cidade que desposou com Deus e participa
de seu beneplácito, porque promove a justiça e a fidelidade à aliança. Há quem
faça objetos a esta verdade de fé, apontando os sinais de morte que se espalham
ao redor. Mas, sabemos que esta verdade se cumpre à medida que o amor de Cristo
habita os cristãos e dá contorno à sua existência.
É preciso que este amor tenha a proporção do amor de Cristo,
(Cf. Aclamação ao Evangelho (Jo 13,34)), pois toda injustiça surge quando o amor
é nossa medida (Cf. Evangelho da
Quarta-Feira de Cinzas: “Cuidado para não praticar a vossa justiça diante dos
homens”).
Este amor e tão fundamental para a
comunidade dos discípulos de Jesus que deve ser tornar o seu sinal
característico: “assim todos reconhecerão
que vocês são meus discípulos” (v. 35).
Mais do que uma lista de doutrinas, mais do que práticas litúrgicas ou
rituais, embora essas tenham o seu lugar e a sua importância, é o amor mútuo e
concreto que deve distinguir os discípulos de Jesus.
O livro dos Atos dos Apóstolos nos
lembra que “foi em Antioquia que os
discípulos receberam, pela primeira vez, o nome de “cristãos” (At 11,26).
Receberam uma nova designação, da parte dos outros, porque a sua maneira de
viver era marcadamente diferente das outras comunidades religiosas da cidade –
era marcada pelo amor mútuo. O Evangelho de hoje nos convida para que
honestamente nos examinemos a nós mesmos, para verificar se este amor-serviço
ainda é a marca característica de nós, discípulos/as de Jesus, na nossa vida
individual e comunitária!
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
A Oração do Dia calca no coração da assembléia a liberdade e a
herança que provém do Senhor por meio de uma súplica a Deus, que nos configurou
como homens e mulheres novos ao nos tratar como filhos e filhas.
Esta liberdade e herança, com a qual somos impelidos a progredir
na vida, tem sua síntese no amor de Cristo que nos une e reúne (Cf. Aclamação da Assembleia à saudação
apostólica (“Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo) e no Rito
do abraço da Paz (“O amor de Cristo nos
uniu”). A Eucaristia é celebrada para que os fieis abracem a nova vida.
Na verdade, para que façam a páscoa da antiga à nova, conforme a
oração depois da comunhão (Cf. Oração
depois da comunhão em que se diz: “fazei
passar da antiga à nova vida aqueles a quem concedestes a comunhão com os vossos
mistérios”). Porém esta vida nova se dá em Cristo, quer dizer, à medida que
Deus permanece em nós e sua glória se faz notar como ocorreu em Jesus, quando
da sua paixão e cruz. Por essa razão, a oração que fecha o rito da comunhão
começa suplicando: “Ó Deus de bondade, permanecei junto ao vosso povo”.
Segundo o testemunho patrístico, a reunião eucarística era
precedida da experiência do amor fraterno e este era o fruto mais genuíno da
celebração. Por isso, muito nos alenta a fala do Papa Clemente Romano, no final
do século primeiro:
“Todos alimentáveis
sentimentos de humildade, sem arrogância, mais dispostos a obedecer do que a
mandar, mais felizes em dar do que em receber. Satisfeitos com as provisões que
Cristo vos dava e atentos às suas palavras, vós as guardáveis cuidadosamente em
seu coração, trazendo os seus sentimentos diante dos vossos olhos. Deste modo,
a todos era concedida uma paz profunda e esplendia e um desejo insaciável de
fazer o bem, pela abundante efusão do Espírito Santo. Cheios de um santo
desejo, e com alegria, estendíeis as vossas mãos para Deus todo-poderoso,
implorando a sua misericórdia, quando involuntariamente cometíeis algum pecado.
Combatíeis, dia e noite, pela comunidade dos irmãos, a fim de conseguir, graças
a essa misericórdia e sentir comuns, a salvação de todos os eleitos. Éreis
sinceros, simples e sem malícia para com os outros. Abomináveis toda revolta e todo
cisma, choráveis os pecados do próximo, consideráveis vossas as suas
necessidades. Éreis incansáveis em toda espécie de bem-fazer, sempre prontos
para toda boa obra. Adornados por uma vida cheia de virtude e digna de
veneração, tudo fazíeis no temor de Deus. Os mandamentos e preceitos do Senhor
estavam inscritos no vosso coração” (Clemente Romano - Carta aos Coríntios).
Talvez pela importância dos cristãos, de todos os tempos, trazerem
consigo, impregnado em sua corporeidade, a herança eterna do amor de Cristo, o
rito da Paz (ósculo/abraço) sempre
foi muito querido dentro das celebrações eucarísticas e, mesmo com as
turbulências históricas, nunca desapareceu completamente.
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