Pedro e João, da ação à contemplação
Naquele
tempo, Pedro voltou-se e viu que o seguia o discípulo que Jesus amava, o mesmo
que na ceia se tinha apoiado sobre o seu peito e lhe tinha perguntado:
'Senhor, quem é que te vai entregar?'
Ao vê-lo, Pedro perguntou a Jesus:
«Senhor, e que vai ser deste?»
Jesus respondeu-lhe: «E se Eu quiser que
ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!»
Foi assim
que, entre os irmãos, correu este rumor de que aquele discípulo não morreria.
Jesus, porém, não disse que ele não havia de morrer, mas sim: «Se Eu quiser
que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso?»
Este é o discípulo
que dá testemunho destas coisas e que as escreveu. E nós sabemos bem que o seu
testemunho é verdadeiro.
Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se
elas fossem escritas, uma por uma, penso que o mundo não teria espaço para os
livros que se deveriam escrever.
Comentário do dia:
Pedro e João, da ação à contemplação
A Igreja tem duas vidas preconizadas e recomendadas por Deus. Uma delas é na
fé, a outra na visão; uma na peregrinação no tempo, a outra na morada da
eternidade; uma no trabalho, a outra na quietude; uma no caminho, a outra na
pátria; uma no esforço da acção, a outra na recompensa da contemplação. [...]
A primeira é representada pelo apóstolo Pedro, a segunda por João. A primeira
decorre inteiramente na terra até ao fim do mundo, e depois acaba. A segunda
só encontrará a sua plenitude depois do fim do mundo, e não terá fim no mundo
que há-de vir.
Foi por isso que Jesus disse a Pedro: «Segue-Me», e acerca de João: «Eu quero
que ele fique até Eu voltar. Que tens tu com isso? Tu, segue-me.» [...] Que a
tua acção Me siga, perfeita e modelada no exemplo da Minha Paixão; que a
contemplação começada permaneça até Eu voltar, e torná-la-ei perfeita quando
voltar. Porque este fervor vigoroso que se mantém firme até à morte segue
Cristo; e este conhecimento que então será revelado em plenitude permanece até
ao retorno de Cristo. Aqui, na terra dos mortais, temos de suportar os males
deste mundo; lá, contemplaremos os bens do Senhor na terra dos vivos (Sl
26,13). [...]
Portanto, que ninguém separe estes dois gloriosos apóstolos um do outro;
porque ambos foram o que Pedro simboliza e ambos serão o que João representa.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de João, n º 124, 5-7; CCL 36, 685
Sermões sobre o Evangelho de João, n º 124, 5-7; CCL 36, 685
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