PENTECOSTES
19 de maio de 2013
"O Espírito Santo nós faz um só corpo em Cristo Jesus".
Exponham nossos rostos e nossas almas a esse sopro de vida para nos deixarmos vivificados e renovados. |
Leituras:
Atos 2, 1-11;
Salmo
103 (104), 1ab e 24ac.29bc-30.31 e 34 (r/30);
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios
12, 3b-7.12-13;
João 20, 19-23 (O Diretório Litúrgico da CNBB dá a opção de,
nesta celebração, escolher as alternativas de Rm 8, 8-17 para a segunda Leitura
e Jo 14, 15-16.23b-26 para o evangelho).
COR
LITÚRGICA: VERMELHA
Pentecostes, para o povo de Israel, era
inicialmente a festa ligada às colheitas, e mais tarde, celebração da Aliança,
feita no Sinai, que acontecia cinqüenta dias depois da Páscoa. Nos primeiros
séculos do cristianismo, Pentecostes não era apenas um dia, mas os cinqüenta
dias do tempo pascal, que tinha no último dia o seu encerramento. Havia,
portanto, grande unidade entre Páscoa e Pentecostes. Hoje, lembramos o dia em
que, o mistério pascal atingiu a sua plena realização no dom do Espírito Santo
derramado sobre a Igreja.
1. Situando-nos brevemente
A Festa de Pentecostes anima a Igreja a experimentar a presença
e a ação do Espírito depois da ressurreição de Jesus até os dias presentes. É
um (re)viver atual, pois aquilo que aconteceu com Jesus, no início de sua
atividade messiânica, repete-se agora através da Igreja, na sua missão. O
Pentecostes está para os Atos dos Apóstolos, como o batismo de Jesus está para
os Evangelhos. O batismo de Jesus foi o Pentecostes de Jesus, o Pentecostes foi
o batismo da Igreja.
Com esta celebração, culmina a Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos, sentindo a verdadeira prática de um único Evangelho e um único
Pastor. Pentecostes sinaliza que somos e formamos um só corpo eclesial de
seguidores da missão e da obra de Jesus Cristo. As diferenças nos modos de
louvar, pensar, orar ou manifestar não nos devem impedir de trabalhar juntos
para que o reinado de Deus tenha sua manifestação entre nós.
Com a força do Espírito Santo, buscamos descobrir as
convergências necessárias para o anúncio e o testemunho do único Evangelho que
é Cristo Senhor, como autênticos missionários e profetas, ungidos pelo
Espírito.
2. Recordando a Palavra
O livro de Atos dos Apóstolos reconstrói o movimento de Jesus
depois de sua ressurreição e possui três características fundamentais: é um
movimento animado pelo Espírito; um movimento missionário e um movimento cuja
estrutura básica é representada pelas pequenas comunidades domésticas. (O Evangelho de Lucas e o livro de Atos dos
Apóstolos tem um mesmo autor e constituem uma só obra. É possível que, na sua
primeira composição, formassem um único livro. Neste caso, o Evangelho
terminaria em Lc 24,49 e o livro de Atos de Apóstolos começaria em At 1,6.
Separadas as duas obras, teriam sido acrescentados no final do Evangelho os
versículos 50 a 53 e no começo do livro de Atos os versículos 1 a 5. O prólogo
que encontramos, em Lc 1,1-4, refere-se a toda obra Evangelho-Atos).
O tempo posterior à ressurreição de Jesus é, desse modo, um
tempo privilegiado do Espírito Santo e é exatamente isso que o livro de Atos
resgata. Eis, porque muitos o chamam de “Evangelho do Espírito Santo” e os Atos
dos Apóstolos 1,18, magnificamente, sintetiza: “[...] receberão a força do
Espírito Santo para serem minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e
Samaria e até os extremos da Terra”.
O Livro dos Atos narra os dois modos que o Espírito Santo
trabalha pela unidade da Igreja. De um lado impulsiona a Igreja para fora, para
abraçar na sua unidade um número sempre maior de povos e culturas, e de outro
lado para dentro, para fortalecer-se na unidade. Anima a Igreja a se estender
para a universalidade e a viver a unida na pluralidade.
Ao lermos a primeira leitura e o evangelho desta celebração
poderíamos ser levados de imediato a um questionamento: afinal o Espírito foi
dado no dia da própria ressurreição como nos narra João ou somente após
cinqüenta dias da ressurreição como nos conta o livro dos Atos dos Apóstolos?
Não há incoerência nestes dois relatos. Apenas carece de uma ligeira
explicação; o evangelista quer nos mostrar que o Espírito sempre esteve e está
com e em cada um de nós. O Espírito está sempre presente e sempre vindo.
O Espírito foi dado, mas sempre esperando para ser recebido de
modo que possa se dar de novo e de forma mais completa. A narrativa joanina
visa transmitir aos medrosos seguidores de Jesus, por assim dizer, como numa
ação privada, que eles tinham condições de revelar Jesus ressuscitado com o
poder de perdoar ou não os pecados.
O Espírito Santo que Jesus dá aos seus apóstolos no (vv 21-22)
relato joanino é concedido claramente em, função da missão: “A paz esteja
convosco. Como o Pai me enviou, também eu envio vocês “. Depois de ter dito isso,
soprou sobre eles e disse: “Recebam o Espírito Santo”.
Era, naquele momento, necessário o recebimento do Espírito para
terem coragem de sair pelo mundo como testemunhas de Jesus. Ele não fez isso
somente uma vez na noite da Páscoa, mas o faz continuamente. Também, hoje, ele
se põe diante dos discípulos e da Igreja e repete: “Recebam o Espírito Santo”.
Exponham nossos rostos e nossas almas a esse sopro de vida para nos deixarmos
vivificados e renovados.
Os sinóticos terminam as suas narrativas com a ressurreição ou
ascensão de Jesus. O Evangelho de João trata do sopro do Espírito na manhã da
ressurreição e o livro de Atos dos Apóstolos narra a irrupção do Espírito,
cinqüenta dias após a Páscoa. Esta narrativa de Atos tem a finalidade da
manifestação do Espírito Santo a todos os povos e nações, uma manifestação ao
mundo de que Jesus Cristo é o salvador de toda a criação.
Esta “Epifania da Igreja ao mundo” tornou-se necessária para dar
e incentivar a certeza de que, mesmo sem ver, precisamos crer. É o Espírito que
nos põe no seguimento de Jesus, abre nossos olhos e corações e faz-nos crer
para propagar destemidamente que o Senhor é o Príncipe da Paz. A Igreja é
manifestada e, desde então, nunca deixou de se reunir para celebrar o Mistério
Pascal de Jesus Cristo.
O Salmo de hoje é de um grande louvor a Deus diante das obras
maravilhosas da criação. O salmista reconhece a primazia do Espírito de Deus, o
seu respiro, como garantia da continuidade e renovação da face da terra, mesmo
que haja uma situação de morte. Nem mesmo assim Deus abandonará a humanidade.
Expressa o anseio e a confiança do salmista: manifesta o desejo de sempre
cantar e louvar ao Senhor por toda a vida ininterruptamente.
Como o cristianismo fez ouvir sua voz acima de toda essa
balbúrdia e o que fez para atrair tanta gente com prospectivas assim tão pouco
atraentes, como aquelas da cruz e da perseguição? A resposta é: o Espírito
Santo! Ou, melhor dizendo: “A confiança no Espírito de Deus”.
3. Atualizando a Palavra
Provavelmente o melhor sentido de Pentecostes nos é dado pelo
Concílio Vaticano II: “Para completar sua obra, Cristo enviou o Espírito Santo
da parte do Pai, a fim de que, interiormente, operasse sua obra de salvação e
propagasse a Igreja [...]. No dia de Pentecostes, ele desceu sobre os
discípulos para permanecer eternamente com eles; a Igreja foi manifestada
publicamente ante a multidão; e, pela propagação, iniciou-se a difusão do
Evangelho entre as nações” (Ad Gentes, n.4).
Lucas reúne simbolicamente, em Jerusalém, pessoas piedosas de
todas as nações do mundo que, em Pentecostes, irão receber o testemunho
profético da primeira comunidade apostólica. O Espírito é derramado em função
fundamental de Pentecostes. Lucas combina critérios culturais, geográficos e
sociais, construindo assim o paradigma missionário do Espírito e a inculturação
do Evangelho.
O grande milagre do Espírito Santo, em Pentecostes, é que cada
um entende os apóstolos em sua língua nativa. Convém estar atento para perceber
que não se falava em línguas diferentes (glossolalia), pois, reafirmamos, cada
um escutava o Evangelho em sua própria língua e, poderíamos deduzir, em sua
própria cultura.
Eis, porque Pentecostes é hoje considerada como a festa cristã
da inculturação do Evangelho. A novidade está na unidade da compreensão do
Evangelho mantendo diversidade de línguas, culturas e costumes.
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
São Bonifácio ensinava que o dia de Pentecostes era tão solene como
o dia da Páscoa (Bonifácio, Estatutos de São Bonifácio. In Antologia Litúrgica.
Textos litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima:
Secretariado Nacional de Liturgia, 2003. n.5719). Isto porque se trata da
comunicação do Espírito de Cristo para que a Igreja viva conforme o Evangelho e
o testemunhe no mundo.
A Oração do Dia fala desta realidade ao suplicar que Deus
derrame “por toda a extensão do mundo os
dons do Espírito Santo, e realizai agora no coração dos fiéis as maravilhas que
operastes no início da pregação do Evangelho” (Missal Romano).
O Espírito vem em auxílio da Igreja para que ela realize no
mundo o Evangelho de Jesus, que o Verbo Divino, do qual a Igreja participa pela
Páscoa de Cristo, se encarne.
A vinda do Espírito sobre o pão e o vinho, para que se
transformem no Corpo e Sangue de Jesus, visa a nossa transformação em seu corpo
mediante a comunhão sacramental. O corpo eclesial é, pela participação no mesmo
pão e no mesmo cálice, verdadeiro e real corpo de Cristo. É o Espírito quem
opera esta mudança, este vínculo com o Corpo de Jesus. Mas, paradoxalmente, é a
celebração da Eucaristia quem comunica o Espírito.
As anáforas (orações eucarísticas) têm duas epicleses (chamamento do Espírito): a primeira sobre o pão e vinho
e a outra sobre os que deles participarão pela comunhão. Ou seja: é comendo e
bebendo do Corpo e Sangue do Senhor que entramos na participação de seu
Espírito para vivermos conformados e animados por Ele (Agostino de Hipona. Tratado XXVII. In. Antologia Litúrgica: Textos
litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima: Secretariado
Nacional de Liturgia, 2003. n.3294).
É o Espírito do Pai, que é o mesmo Espírito do Filho, quem dá
corpo ao Verbo, à Palavra de Deus. Os que participam da Eucaristia, depois que
escutam o Evangelho da Vida e fazem comunhão no mesmo pão e no mesmo cálice,
são enviados ao mundo como Corpo de Cristo, isto é, como Palavra feita carne.
Aquilo de que tomaram parte no pão e vinho (Liturgia Eucarística)
é o Corpo do Verbo (que escutaram na Liturgia da Palavra) para que a história
humana, tecida para além da celebração, corresponda ao que foi proclamado no
interior da mesma.
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