«Já só lhe restava um filho muito amado. Enviou-o por
último»
Naquele
tempo, Jesus começou a falar-lhes em parábolas: «Um homem plantou uma
vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e construiu uma torre.
Depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe.
A seu tempo
enviou aos vinhateiros um servo, para receber deles parte do fruto da vinha.
Eles, porém, prenderam-no, bateram-lhe e mandaram-no embora de mãos
vazias.
Enviou-lhes, novamente, outro servo. Também a este partiram a
cabeça e cobriram de vexames.
Enviou outro, e a este mataram-no; mandou
ainda muitos outros, e bateram nuns e mataram outros.
Já só lhe
restava um filho muito amado. Enviou-o por último, pensando: 'Hão-de
respeitar o meu filho’.
Mas aqueles vinhateiros disseram uns aos
outros: 'Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e a herança será nossa’.
Apoderaram-se dele, mataram-no e lançaram-no fora da vinha.
Que fará
o dono da vinha? Regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a
vinha a outros.
Não lestes esta passagem da Escritura: A pedra que os
construtores rejeitaram tornou-se pedra angular.
Tudo isto é obra do
Senhor e é admirável aos nossos olhos?»
Eles procuravam prendê-lo,
mas temiam a multidão; tinham percebido bem que a parábola era para eles. E
deixando-o, retiraram-se.
Comentário :
Deus tinha criado o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1,26), e havia-o
julgado digno de O conhecer a Si mesmo, pois fora considerado acima de
todos os animais devido ao dom da inteligência, fora criado no gozo das
incomparáveis delícias do Paraíso, e feito senhor de tudo o que se
encontrava sobre a Terra. No entanto, ao vê-lo, instigado pela serpente,
cair no pecado e, pelo pecado, na morte e no sofrimento que a ela conduzem,
não o rejeitou. Pelo contrário, deu-lhe desde logo o auxílio da sua Lei;
designou anjos para o guardarem e para tomarem conta dele; enviou profetas
para lhe reprovarem a maldade e lhe ensinarem a virtude [...].
Quando, apesar destas graças e de muitas outras, os homens persistiram na
desobediência, não Se afastou deles. Tendo nós ofendido o nosso
benfeitor mostrando indiferença pelos sinais da sua protecção, não
fomos abandonados pela bondade do Senhor nem obliterados do seu amor, antes
fomos subtraídos à morte e devolvidos à vida por Nosso Senhor Jesus
Cristo, e a maneira como fomos salvos é digna de uma admiração maior
ainda. «Ele, que é de condição divina, não considerou como uma
usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a
condição de servo» (Fl 2,6-7). «Ele tomou sobre Si as nossas doenças,
carregou as nossas dores, [...] foi ferido [...]» para nos salvar pelas
suas chagas (Is 53,4-5). Ele «resgatou-nos da maldição da Lei, ao
fazer-Se maldição por nós» (Gl 3,13); sofreu a mais infamante morte
para nos conduzir à vida da glória.
E não Lhe bastou devolver à vida aqueles que estavam na morte:
revestiu-os da dignidade divina e preparou-lhes no repouso eterno uma
felicidade que ultrapassa toda a imaginação humana. «Como retribuirei ao
Senhor todos os seus benefícios para comigo» (Sl 115,12), como
retribuiremos tudo o que Ele nos deu? Ele é tão bom que nada pede em
compensação por suas graças: contenta-Se em ser amado.
São Basílio (c. 330-379), monge, bispo de Cesareia da Capadócia, doutor da
Igreja
Regras monásticas, Regras Maiores, § 2
Regras monásticas, Regras Maiores, § 2
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