segunda-feira, 5 de agosto de 2013

"A virtude da fortaleza."

A fortaleza é um termo médio acerca das paixões do temor e da audácia. A fortaleza implica em uma certa firmeza de ânimo, pela qual a alma permanece imóvel diante do temor do perigo da morte. Não é a verdadeira fortaleza aquela que diz respeito ao temor do perigo da infâmia, da pobreza ou dos males pessoais diversos, nem da morte que alguém enfrenta em qualquer caso ou negócio, como no mar ou na enfermidade, mas aquela que é acerca da morte que alguém enfrenta por coisas ótimas, como quando alguém morre na guerra por causa da defesa da Pátria.
Acontece às vezes que alguém teme o perigo da morte mais ou menos do que a razão julga, e, mais ainda, poderá acontecer que coisas que não sejam terríveis, e nisto consiste o pecado do homem, que é principalmente contra a reta razão. Quem enfrenta o que é necessário enfrentar, e foge por temor das coisas que é necessário evitar, e faz isso por causa do que é necessário, e do modo pelo qual é necessário, e quando é necessário, este chamado é forte.
Já os audazes diante dos perigos correm em direção aos mesmos com velocidade e com ardor, porque são movidos pelo ímpeto da paixão além da razão. Quando, porém, estão nos próprios perigos desistem, porque o movimento da paixão precedente é vencido pela dificuldade iminente. Os fortes, porém, quando estão nas próprias obras difíceis, são perspicazes, já que o julgamento da razão pela qual agem não é vencido por nenhuma dificuldade; e antes que se lancem aos perigos, se mantém calmos, porque não agem pelo ímpeto da paixão, mas pela deliberação da razão. 
 
Aquele que enfrenta a morte para fugir dos incômodos não é forte, mas tímido. Quem se sujeita livremente à morte para que possa fugir da pobreza ou de qualquer outra causa que provoque tristeza não é movido pela virtude da fortaleza, mas pela timidez, porque esta atitude provém na verdade de uma fraqueza da alma pela qual alguém não consegue sustentar trabalhos e tristezas e também porque a morte não é enfrentada por causa do bem honesto, mas pela fuga de um mal que entristece.

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