A fortaleza é um termo médio acerca das paixões do temor e da audácia. A
fortaleza implica em uma certa firmeza de ânimo, pela qual a alma
permanece imóvel diante do temor do perigo da morte. Não é a verdadeira
fortaleza aquela que diz respeito ao temor do perigo da infâmia, da
pobreza ou dos males pessoais diversos, nem da morte que alguém enfrenta
em qualquer caso ou negócio, como no mar ou na enfermidade, mas aquela
que é acerca da morte que alguém enfrenta por coisas ótimas, como quando
alguém morre na guerra por causa da defesa da Pátria.
Acontece às vezes que alguém teme o perigo da morte mais ou menos do que
a razão julga, e, mais ainda, poderá acontecer que coisas que não sejam
terríveis, e nisto consiste o pecado do homem, que é principalmente
contra a reta razão. Quem enfrenta o que é necessário enfrentar, e foge
por temor das coisas que é necessário evitar, e faz isso por causa do
que é necessário, e do modo pelo qual é necessário, e quando é
necessário, este chamado é forte.
Já os audazes diante dos perigos correm em direção aos mesmos com
velocidade e com ardor, porque são movidos pelo ímpeto da paixão além da
razão. Quando, porém, estão nos próprios perigos desistem, porque o
movimento da paixão precedente é vencido pela dificuldade iminente. Os
fortes, porém, quando estão nas próprias obras difíceis, são
perspicazes, já que o julgamento da razão pela qual agem não é vencido
por nenhuma dificuldade; e antes que se lancem aos perigos, se mantém
calmos, porque não agem pelo ímpeto da paixão, mas pela deliberação da
razão.
Aquele que enfrenta a morte para fugir dos incômodos não é
forte, mas tímido. Quem se sujeita livremente à morte para que possa
fugir da pobreza ou de qualquer outra causa que provoque tristeza não é
movido pela virtude da fortaleza, mas pela timidez, porque esta atitude
provém na verdade de uma fraqueza da alma pela qual alguém não consegue
sustentar trabalhos e tristezas e também porque a morte não é enfrentada
por causa do bem honesto, mas pela fuga de um mal que entristece.
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