18º Domingo
do Tempo Comum – Ano C
04 de Agosto de 2013 - Mês Vocacional - Dia do Padre
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“Ser rico diante Deus: Eis a questão”
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Leituras: Gênesis
18, 20-32;
Salmo 137 (138), 1-2a.2bc-3.6-7ab.7c.8;
Carta de São Paulo aos Colossenses
2, 12-14;
Lucas 11, 1-13.
COR LITÚRGICA: VERDE
Ao celebrarmos esta Eucaristia,
trazemos presente a riqueza, o tesouro mais precioso que o Pai nos oferece,
gratuitamente, e que nos torna capazes de vencer a enganosa segurança do
dinheiro, do lucro desmedido e dos interesses avarentos e mesquinhos que nos
cegam, nos frustram e nos tiram a verdadeira alegria de viver. Neste primeiro
encontro do mês de agosto, somos convidados a refletir sobre a vocação para o
ministério ordenado: diáconos, padres e bispos. Que eles possam ser sempre
fiéis à missão que assumiram.
1. Situando-nos brevemente
Ouvindo
a boa nova do Reino e Deus relatado por Lucas, caminhamos com Jesus rumo a
Jerusalém. Nessa caminhada, fazemos de novo uma parada para aqui nos reunirmos
em assembleia litúrgica. Precisamente hoje, dia semanal da páscoa cristã, dia
do Senhor, dia da comunidade, domingo. Hoje também celebramos a memória de São
João Maria Vianney, é dia do padre e dia das vocações sacerdotais.
Nesta
semana, na terça-feira, dia 06, celebraremos a festa da Transfiguração do
Senhor; na quinta-feira, dia 08, a memória de São Domingos de Gusmão; no sábado
dia 10, a festa de São Lourenço, mártir.
Nesta
parada que fazemos hoje para celebrar a raiz da nossa fé cristã, a saber, a
morte-ressurreição do Senhor Jesus, a Palavra nos traz à consciência o que é
fundamental para que nossa vida, de fato, tenha sentido. Vamos refletir um
pouco sobre isso, à luz do que acabamos de ouvir.
2. Recordando a Palavra
Neste
ano, estamos ouvindo o Evangelho na versão de São Lucas. Ele tem uma
característica própria: dedica especial atenção aos pobres, mais concretamente,
à relação entre ricos e pobres. Lucas destaca, sobretudo, a boa notícia de que
Deus opta preferencialmente pelos pobres: “Felizes vós, os pobres, porque vosso
é o Reino de Deus!” (Lc 6,20). E, ao mesmo tempo, adverte para o grande
problema que implica ser rico: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de
uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Lc 18,25).
O
Evangelho nos apresenta uma disputa entre dois ricos por causa da herança. O
costume era este: se alguém se achasse prejudicado na repartição dos bens,
procurava um rabino para decidir. Aqui, em vez de um rabino, é Jesus que é
procurado: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta comigo a herança comigo” (Lc
12,13).
Jesus,
porém, se situa em outro nível: “quem me encarregou de ser juiz ou árbitro
entre vós?” (v.14). Entre outras palavras, Jesus não está aí para ser “juiz ou
árbitro” sobre ”heranças”. Ele está aí para propor a boa notícia do Reino de
Deus. Ele o faz através de uma parábola precedida por esta advertência:
“Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância, porque, mesmo que se tenham
muitas coisas, a vida de um homem na consiste em se tornar rico diante de Deus”
(v.15).
Então
conta a parábola do rico que, bobamente, guarda e acumula tesouros só para si
e, assim, vem a morrer, sem a consciência de que o verdadeiro sentido da vida
consiste em “se tornar rico diante de Deus” (v.21).
Nesta
parábola, ressoam as palavras vindas dos sábios do Antigo Testamento: “Quando
(alguém) disser: ‘Agora posso descansar, agora vou desfrutar, sozinho, dos meus
bens’, ele não tem consciência de que o tempo vai passar, a morte vai se
aproximar, e ele morrerá, deixando tudo para os outros” (Eclo 11,19). “Perdiz
que choca ovos que não pôs é quem ajunta riquezas sem respeitar o direito. No
meio da vida a riqueza o abandona, na última hora será considerado insensato.”
(Jr 17,11) Elas também ressoam na primeira leitura de hoje “Vaidade das
vaidades, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade... Que resta ao homem de todos
os seus trabalhos?” (cf. Eclo 1,2; 2,21-23).
O
que a parábola nos ensina é claro: “não podemos pôr a confiança nos bens
materiais – ‘riquezas para si’ – mas só em Deus” (Lc 12, 21). Equivale ao
convite para juntar tesouros no céu, como vemos com freqüência nos evangelhos:
‘Ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça nem a ferrugem corroem, onde os
ladrões não arrombam nem roubam’ (Mt 6,20); ‘Se queres ser perfeito, vai vende
tudo que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terá um tesouro nos céus; depois vem
e segue-me’ (MT 19,21); ‘Vendei vossos bens e daí esmola.
Fazei
bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe’ (Lc 12,33);
‘Vossa riqueza está apodrecendo, e vossas roupas estão carcomidas pelas traças.
Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados. A ferrugem deles vai servir de testemunho
contra vós e devorar nossas carnes, como fogo! Amontoastes tesouros nos últimos
dias‘ (Tg 5, 2-3).
Então,
em meio à transitoriedade as coisas e da vida, onde está mesmo o sentido desta
vida? Nós o cantamos há pouco, com o Salmo 89, cujo refrão soa assim: “Vós
fostes, ó Senhor, o refugio para nós” (v.1). Paulo o mostra precisamente em
Cristo, agora ressuscitado, sentado à direita do Pai, como vimos na primeira
leitura. Fazer morrer o que em nós pertence à terra para estar no Cristo que é
‘tudo em todos’: eis o que dá sentido à vida. Por isso, conclama o apóstolo:
“Esforçai-vos para alcançar as coisas do alto, onde está Cristo” (v.1).
3. Atualizando a Palavra
Valeu
o alerta do Senhor para nós hoje! “Os bens materiais seduzem com muita facilidade
o coração das pessoas. A verdadeira riqueza, segundo Jesus, é ser generoso com
os demais, como o Pai é com todos. Por a confiança nas riquezas é falta de
bom-senso, falta de sabedoria. Quem põe o coração no dinheiro tem pouca
consideração para com a vida humana, mergulhe-a no mais absoluto fracasso. De
fato, a experiência nos diz. Quem se fecha em si mesmo e em seus bens, em seu
mundo, perde o melhor de sua vida”.
Completamos
com uma oportuna reflexão elaborada pelo teólogo e biblista Johan Konings, a
qual transcrevemos na íntegra.
“Quem é materialista e só quer conhecer
os prazeres deste mundo, para este o ensinamento de Jesus é indigesto, mas nem
por isso deixa de ser verdade. Não levamos nada daqui. As riquezas materiais
não tem valor duradouro, nem podem ser o fim ao qual o homem se dedica. Talvez
o consumismo de hoje tenha isso de bom: lembra-se dessa precariedade. O produto
que compramos hoje, amanhã já saiu da moda, e depois de amanhã nem haverá mais
peças de reposição para consertá-lo! Nossa nova TV estará fora de moda antes de
tivermos completado as prestações... Por outro lado, esse consumismo é
grosseira injustiça, pois gastamos em uma geração os recursos das gerações
futuras. Se as coisas valem tão pouco, melhor seria não as comprar, e voltar a
uma vida mais simples e mais desprendida. Haverá recessão econômica, mas também
haveria menos necessidade de dinheiro para ser gasto”.
A
caça à riqueza material é um beco sem saída. A razão porque se insiste em
produzir sempre mais é que os donos do mundo lucram com a produção, sobretudo
das coisas supérfluas que enchem as prateleiras das lojas. Para vender esses
supérfluos, criam nas pessoas a necessidade de possuí-las, mediante a
publicidade na rua, no jornal e na televisão. Quando então as pessoas não
conseguem adquirir todas essas coisas, ficam irrequietas; quando conseguem,
ficam enjoadas e nesses casos aparece mais uma necessidade: a psicoterapia.
A
‘sabedoria do lucro’ é injusta e assassina. Leva as pessoas a desconsiderar os
fracos. Um proeminente político deste país disse que ‘quem não pode competir
não deve consumir’. O sistema do lucro e do desejo sempre mais acirrado,
precisa manter as desigualdades, pois parte do pressuposto que todos querem
superar a todos. Tal sistema é ‘ intrinsecamente pecaminoso’, disseram os papas
Paulo VI e Beato João Paulo II.
Ser
rico, não para si, mas para Deus. Não amontoar riquezas que na hora do juízo
serão as testemunhas da nossa avareza, injustiça e exploração (cf. Tg 5,1-6),
mas riquezas que constituam a alegria de Deus!
Não
adianta muito discutir se a produção tem que ser capitalista ou socialista,
enquanto não se tem claro que o ser humano não existe para a produção, e sim a
produção para ser o humano. E este, se for sábio, tentará precisar dela o menos
possível (J. Konings. Liturgia dominical,
p. 440-441).
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
Na
Eucaristia que celebramos “Jesus nos diz: ‘Tomai e comei, tomai e bebei todos’.
O Corpo e Sangue de Cristo que partilhamos querem nos conduzir a uma realidade
onde todos tenham acesso aos bens da vida. Enquanto celebramos nossa fé,
celebramos também as lutas de todos os que esperam uma sociedade igualitária e
fraterna, sinal da comunhão plena entre Deus e sua criaturas” (J. Bortolini. Roteiros homiléticos, p.
649).
Ao
assimilarmos em nossos corpos o Corpo entregue e o Sangue derramado de Cristo,
o verdadeiro pobre generoso até o extremo, que a participação nesta Eucaristia
nos ajude a seguir ao nosso mestre maior, a ter os mesmos sentimentos que ele
teve. Ele se desapegou de tudo, tornando-se apenas solidário com os seres
humanos; pois esta á sua e nossa grandeza, este é o verdadeiro tesouro que dá
sentido à vida (cf. Fl 2, 5-11).
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