Retiro Pessoal Mensal
Agosto/2013
Nossa vocação é o AMOR, expresso em nossa vida, obras e ações.
1.A vocação de ser apóstolo
Se eu não existisse, ninguém
perceberia minha ausência. Mas, uma vez que existo, que nasci sem merecimento
meu, cabe-me a responsabilidade de administrar bem esse dom que recebi
gratuitamente.
A vida é um dom, e comO tal deve
ser respeitada desde o seu início, no ventre materno, até o seu último
instante.
Antes de eu existir, Deus me
conhecia e amava; por isso me chamou à vida. "Sim! Pois tu me formaste, tu
me teceste no seio materno. Conhecias até o fundo do meu ser: meus ossos não te
foram escondidos quando eu era formado em segredo. Teus olhos
viam o meu embrião. Deus meu, tu me sondas e de longe penetras os meus
pensamentos, meus caminhos todos são familiares a ti. Conheces minhas
preocupações! Conduze-me pelo caminho eterno. Sou criação tua." (cf. Salmo
138).
Eu não sou uma existência lançada
ao absurdo. E Deus não cria em
série. Cada um de nós é único diante dele. Ele é o artista
que coloca na obra de suas mãos a mente e o coração.
O chamado à existência é uma
eleição de amor. O centro, o ponto de referência do meu existir, é Deus, meu
criador.
O amor de Deus dotou o ser humano
de inteligência que é um reflexo da própria luz eterna e com a qual podemos ler
no livro da criação as perfeições invisíveis de Deus (Rm 1,20).
Dotou-nos de vontade livre que nos
permite conquistar a nós mesmos, amar-nos uns aos outros e cuidar de toda a sua
obra, a saber, os seres vivos e a matéria inerte, responsabilizando-nos pela
conservação do meio ambiente pelo qual Deus visa o nosso bem-estar e a
preservação de todo o tipo de vida: animal ou vegetal.
Deus não nos criou para a
solidão, mas como membros da comunidade humana, daí o nosso dever de
solidariedade para com todos, especialmente para com os mais pobres, doentes,
injustiçados e os que perderam o sentido da vida. Todos são a menina dos olhos
de Deus. Cada pessoa está, pois, envolvida e preenchida pelo amor de Deus que
nos convida ao banquete da vida.
2.Vocação cristã
"Em qualquer época e em
qualquer povo é aceito por Deus todo aquele que o teme e pratica a justiça. Aprouve
contudo a Deus santificar e salvar os homens não singularmente, sem nenhuma
conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo, que o conhecesse na
verdade e santamente o servisse ( LG 9 )". Este povo é chamado Igreja de
Jesus Cristo. Ele nos revelou que Deus é Amigo, que Deus é Pai que nos ama com
ternura. É a mensagem fundamental do Evangelho.
E Deus tem um plano de amor sobre
mim e sobre cada ser humano.
Esse plano não é uma idéia ou um
projeto, nem um programa de realizações. O plano de Deus é uma Pessoa: CRISTO.
"Deus e Pai nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus
Cristo (Ef 1,5). E isso não em consideração a nossas obras, mas por livre
determinação de sua vontade e benevolência (2Tm 1,9)".
Meu chamado à vida recebe um
sentido verdadeiro nessa segunda vocação em Cristo e na Igreja: a Vocação
Cristã. Pelo batismo somos filhos por adoção. Com Jesus e em Jesus podemos
chamar a Deus Abba, Pai! (Rm 8,15), Pai Nosso! O batismo nos faz membros de
Cristo, morada da Santíssima Trindade e Templos do Espírito Santo.
Vocação cristã quer dizer
configuração com Cristo ressuscitado e participação de sua mesma vida.
Vocação é chamado.
Todos os que aceitam o convite de
Jesus formam comunidade. Reúnem-se para a escuta da palavra de Deus, para a
comunhão eucarística, para o serviço fraterno, para o socorro dos pobres,
doentes e desamparados.
3.Vocação universal à santidade
Toda pessoa tem uma vocação, isto
é, um chamado de Deus para se realizar e ser feliz Assim é que, por diferentes
caminhos, ou diferentes estados de vida (casado, solteiro, consagrado ou
sacerdote), todos são chamados por Deus à santidade e à plenitude da caridade.
Vocação, por parte de Deus, é um
mistério de chamamento e de eleição, e da parte da pessoa humana é um mistério
de resposta e de seguimento de Jesus.
Vocação não é uma escolha que se
faz, como se escolhe uma profissão. Na vocação, Deus toma a iniciativa, sem
contudo tirar a liberdade humana de responder de modo positivo ou negativo.
É seu Filho, Jesus quem formula o
convite a toda pessoa que se presta a escutá-lo: "Segue-me".
4.Vocação de ser apóstolo
«Toda a Igreja é apostólica na medida em que é
“enviada” ao mundo inteiro; todos os membros da Igreja, ainda que de formas
diversas, participam deste envio.
“A vocação cristã é também por
natureza vocação ao apostolado”»[1]
A vocação é um selo que nos marca
no mais profundo do ser, algo para o qual alguém está feito, constituído por
Deus “desde o seio materno”[2].
É um chamado interior. Percebe-se
de diversas maneiras ao longo da vida.
Descobre-a quem faz suficiente
silêncio interior e fica à escuta do que o Senhor lhe pede.
Quem a descobre e aceita −pode
ser que após uma resistência interior fruto de uma insuficiente conversão a
Deus − diz-se a si mesmo com plena certeza: “É isto! Para isto nasci! Afinal
achei o que meu inquieto coração andava procurando!”.
Nesse momento ou instante de luz
e claridade sobrevém um gozo muito profundo e intenso, uma transbordante
alegria que precisa ser compartilhada, uma paz e serenidade enorme que inunda o
coração até então inquieto e inclusive às vezes angustiado.
5.O apostolado é uma vocação
O apostolado é uma vocação, é um
chamado que Deus nos fez a cada um “no seio materno”. Quando o Senhor envia
também a nós, fazendo-nos partícipes de sua própria missão, faz-nos um chamado
explícito que por sua vez corresponde a um chamado interior.
Com efeito, o Senhor nos convida
a responder àquilo para o que fomos feitos: para o apostolado. Trata-se de um
chamado que nos toca a todos, sem distinções.
Quem está feito para o
apostolado, você e eu, necessitamos nos realizar no apostolado.
Nisto ninguém pode sentir-se
excluído. Neste sentido, o «ai de mim se não evangelizar!» de São Paulo, a
experiência comum dessa necessidade e urgência de anunciar o Senhor e seu
Evangelho, não se deve unicamente ao fato de que pregar o Evangelho é «uma
necessidade que se me impõe»[3], mas também ao fato de que é um clamor de todo
nosso ser que precisa ser respondido.
Com efeito, quem se encontra com
o Senhor e O acolhe em sua vida, descobre que possui essa “estrutura interior”
que lhe permite dizer: «eu nasci para o apostolado».
Assim como a principal função de
uma vela é a de dar luz, a de iluminar, assim como a vela foi fabricada para
dar luz, nós podemos dizer analogamente que fomos criados para dar glória a
Deus mediante nossa plena realização humana.
Portanto, podemos afirmar que
nascemos para o apostolado porque nossa vocação é sermos perfeitos no amor[4],
sermos Santos e imaculados na presença do Senhor, pelo amor[5].
E quem em Cristo é uma nova
criatura, é como uma vela acesa: não pode deixar de iluminar, não pode deixar
de anunciá-lO, não pode deixar de fazer apostolado, e isto já com sua simples
presença. Com efeito, a presença de quem leva Cristo em seu interior é uma
presença que irradia Cristo: bastará sua simples saudação para transmitir a
paz, o gozo e a força do Espírito Santo[6].
Quem é santo, quem é o que está
chamado a ser, pessoa humana e plenamente cristão, converte-se em um Evangelho vivente.
Em resumo, podemos dizer que
nossa vocação é ser apóstolos, porque estamos chamados a ser Santos, e não se
pode desligar uma coisa da outra.
6. Diante das desculpas, amar mais!
No anúncio do Senhor se encontra
nossa sorte mais profunda. Quem está chamado a ser apóstolo, se realiza fazendo
apostolado.
Entretanto, não poucas vezes
fugimos deste chamado interior e mandato do Senhor —«Vão e façam discípulos a
todas as gentes»[7]— com desculpas diversas: “eu não posso anunciar o Senhor
porque fui muito pecador”, “sou indigno”, “porque sou tão incoerente, como vou
fazer apostolado se eu mesmo não cumprir o que prego?”, “não me creio capaz,
estou tão pouco preparado”. Ou fujo porque simplesmente tenho medo de falar
pelo que vão dizer de mim, como vão reagir, pela brincadeira, o rechaço, a
incompreensão e inclusive perseguição a que me exponho se anuncio o Senhor.
Desculpa para fugir da provocação e da exigência de anunciar o Amor!
Por outro lado, considere como o
Senhor responde a todas estas objeções uma a uma: Se disser: “sou indigno, não
mereço anunciar ao Senhor eu que sou tão pecador”, pense em Isaías, chamado
para ser profeta do Senhor e falar em seu nome. Também ele quis desculpar-se
dizendo: «Ai de mim, estou perdido! Com efeito, sou um homem de lábios
impuros!»[8], e prontamente enviou Deus um anjo com uma brasa acesa para tocar
seus lábios, retirando assim sua culpa e expiando seu pecado. E a nós, homens e
mulheres “de lábios impuros”, não nos oferece Deus algo muito maior?
Não enviou Seu próprio Filho,
para limpar nossos pecados e nos reconciliar com Ele mediante Seu Sangue
derramado na Cruz?
Não nos deixou Ele o sacramento
da Reconciliação, para o perdão de todos os nossos pecados?[9] Então, como
Isaías, uma vez purificados de todos os nossos pecados ficamos também sem
desculpa. Portanto, cada vez que perceba em seu interior a voz do Senhor
dizendo: «Quem hei de enviar? Quem irá por nós?», responda você também com a
generosidade e prontidão de Isaías: «Eis-me aqui, envia-me a mim»[10].
E se você pensar em seu interior:
“sou incapaz, não sei o que dizer, não me sinto suficientemente preparado” e
disser como Moisés: «Perdão, meu Senhor, eu não sou um homem de falar, … pois
tenho a boca pesada e pesada a língua! », medite no que o Senhor responde a
Moisés: «eu estarei em tua boca, e te indicarei o que hás de falar»[11], e se
lance ao apostolado com a confiança posta no Senhor, em que Ele lhe inspirará a
palavra oportuna e saberá tirar muito bom proveito de suas palavras, ainda
quando você creia que é muito pobre o que pode dizer.
Empreste-lhe seus lábios e sua
inteligência, e o Senhor fará o resto! De sua pequenez, de sua insuficiência,
Ele fará maravilhas!
Evidentemente essa situação exige
que você vá-se preparando cada vez melhor mediante o estudo esforçado e o
aprofundamento na fé, para que possa dar razão de sua esperança cada vez
melhor.
E se às vezes você se descobre
dizendo ao Senhor como Moisés: «Por favor, envia a quem quiser», mas não a
mim!, medita na resposta do Filho de Deus que diz ao Pai: «Eis-me aqui, eu vim,
ó Deus, para fazer a tua vontade!»[12], e medita na resposta de Maria, que
diante do convite divino diz: «Eu sou a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo
a tua palavra»[13].
Que exemplo de prontidão, de
disponibilidade, de docilidade, de confiança em Deus, em seu Plano, em sua graça
e força! Seguindo seu exemplo, pronuncie você também seu próprio “sim”, embora
lhe custe, embora exija renúncias e sacrifícios, tendo uma atitude generosa,
cheia de amor pensando mais em quantos precisam ouvir de seus lábios o anúncio
reconciliador do que em sua própria comodidade.
7.Conclusão:
Nossa vocação é o Amor
Nossa vocação é o AMOR, expresso
em nossa vida, obras e ações.
Sempre que ouvimos falar sobre
vocação, logo vem em nossa mente a palavra: “chamado” e partindo deste
conceito, de maneira muito simples afirmamos que vocação é um chamado de Deus,
onde cada um na sua realidade e estado de vida busca responder a esta
iniciativa do Pai, alguns como leigos e casados e outros como consagrados e
ordenados. Acreditamos que a mentalidade de que vocação tem haver apenas com os
consagrados e ordenados, já esteja purificada!
De fato, a vocação é este chamado
de Deus a vivermos a santidade, de maneira diversa, cada um em seu estado de
vida, porém nunca isoladamente.
No entanto, muitas vezes não
refletimos profundamente em que consiste profundamente este chamado. Uma vez
que a iniciativa é sempre de Deus, podemos contemplar o seu verdadeiro sentido,
iluminados pelo evangelista que nos diz: “Deus tanto AMOU o mundo, que entregou
seu Filho único (...)” (Jo 3, 16).
Aqui se fundamenta toda a
vocação. De modo, que somos chamados a nos deixar inundar por tão grande mistério
de Amor. E inundados, viver no amor, viver o amor, nos sentindo amados pelo
Amor, pois “Deus é Amor” (1 Jo 4,16b).
Mas o que significa isso no mundo
atual? Tendo Deus, nos amado por primeiro e tendo nos entregado a Ele, podemos
afirmar que nossa vocação é o amor!
Somos chamados, como pequeninos
(Mt 11, 25b), a “amar a Deus e fazê-lo amado”, não apenas como exemplos, mas
ainda na convivência.
Sendo assim, todos nós que cremos, apesar das adversidades, temos uma
única vocação comum: o Amor. E quanto mais buscarmos nos aprofundar, ao
longo de nossas vidas, neste sentido do chamado, mais o estaremos realizando em
nós, com o Cristo e junto aos irmãos.
Citações para a oração
O Senhor Jesus é o Enviado do Pai: Jo
3,16-17; 8,42; Gl 4,4.
A vocação dos Apóstolos: Mc 3,13-15; Lc
6,13-16.
O envio dos Apóstolos: Mt 10,5-8; Lc 9,2-6.
O mandato do Senhor a seus Apóstolos: Mt
28,18-20; Mc 16,15; At 1,1-2.
Os apóstolos participam da missão do Filho:
Jo 13,20; 20,21.
O testemunho dos Apóstolos: Mc 16,19-20; At
4,33; 5,29-32; 5,42.
O apostolado é fruto do encontro: Jo 1,40-42;
Jo 4,25-29.
O anúncio do Evangelho brota do encontro
com o Ressuscitado: Lc 24,31-35; Jo 20,18.
PERGUNTAS PARA REZAR
1. Quão consciente você é de que
o Senhor o chama a fazer apostolado?
2. Como você avalia o apostolado
que está fazendo? Como pode crescer ainda mais em seu apostolado?
3. Você percebe a urgência da missão apostólica?
Por que?
4. O que significa para você a frase de São
Paulo: «ai de mim se não evangelizar!»?
5. Quais são as principais desculpas que você
põe e que impedem ou dificultam seu apostolado?
6. O que você vai fazer para vencer estas
desculpas?
7. O que tem feito para purificar suas ações e obras
e torná-las Amor doação?
8. Podes afirmar que vossa vocação é o amor
como?
___________________________________________________________
[1] Catecismo da Igreja Católica, 863.
[2] Ver Jr 1,5.
[3] 1Cor 9,16.
[4] Ver Mt 5,48.
[5] Ver Ef 1,4.
[6] Ver Lc 1,44-45.
[7] Mt 28,19.
[8] Is 6,5.
[9] Ver Jo 20,22-23.
[10] Is 6,8.
[11] Ex 4,10-12.
[12] Hb 10,7.
[13] Lc 1,38.
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