"O
amor consiste em despojar-se e desapegar-se, por Deus, de tudo o que não é
Ele."
(São João da Cruz)
Podemos unir a este pensamento de
São João ás Palavras de Jesus : “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus” (Mt 22,21)
À provocação dos fariseus, que queriam, por
assim dizer, fazer-Lhe o exame de religião e induzi-Lo em erro, Jesus responde
com esta frase irónica e genial. É uma resposta útil que o Senhor dá a todos
aqueles que sentem problemas de consciência, sobretudo quando estão em jogo as
suas conveniências, as suas riquezas, o seu prestígio, o seu poder e a sua
fama. E isto acontece em todos os tempos e desde sempre. A acentuação de Jesus
recai certamente sobre a segunda parte da frase: “E [dai] a Deus o que é de
Deus”. Isto significa reconhecer e professar – diante de qualquer tipo de poder
– que só Deus é o Senhor do homem, e não há outro. Esta é a novidade perene que
é preciso redescobrir cada dia, vencendo o temor que muitas vezes sentimos
perante as surpresas de Deus.
Isto nos diz São João da Cruz:
"O amor consiste em despojar-se e desapegar-se, por Deus, de tudo o que
não é Ele."
Ele não tem medo das novidades! Por
isso nos surpreende continuamente, abrindo-nos e levando-nos para caminhos
inesperados. Ele renova-nos, isto é, faz-nos “novos” continuamente.
Um cristão que vive o Evangelho é “a novidade de Deus” na Igreja e no mundo.
E Deus ama tanto esta “novidade”! “Dar a Deus o que é de Deus” significa
abrir-se à sua vontade e dedicar-Lhe a nossa vida, cooperando para o seu Reino
de misericórdia, amor e paz. Aqui está a nossa verdadeira força, o fermento que
faz levedar e o sal que dá sabor a todo o esforço humano contra o pessimismo
predominante que o mundo nos propõe.
E saber escolher Deus e nem mesmo as
Obras de Deus , pois o que nos salva e Deus por Deus , por isso temos que
despojar-se e desapegar-se por amor a Deus de tudo que não é de Deus .
Aqui está a nossa esperança, porque
a esperança em Deus não é uma fuga da realidade, não é um álibi: é restituir
diligentemente a Deus aquilo que Lhe pertence. É por isso que o cristão fixa o
olhar na realidade futura, a realidade de Deus, para viver plenamente a
existência – com os pés bem fincados na terra – e responder, com coragem, aos
inúmeros desafios novos. Verdadeiramente
São João da Cruz soube “dar a Deus o que é de Deus”, dedicando toda a sua vida
a este “dever sacro, solene e gravíssimo: continuar no tempo e dilatar sobre a
terra a missão de Cristo amando a Igreja e guiando-a para ser “ao mesmo tempo
mãe amorosa de todos os homens e medianeira de salvação.” São João da Cruz foi um dos santos mais
desconcertantes e ao mesmo tempo mais transparentes da mística moderna. Grande
mestre da vida espiritual, transformou todas as cruzes em meios de santificação
para si e para os irmãos. E despojou-se de tudo e de todos desapegou-se das
coisas terrenas e viveu somente para Deus : Deus em tudo e sempre ele é chamado doutor do tudo e nada.
Porque
soube amar a Deus em tudo e a viver inteiramente no nada nada nada. Dizia ele:
É mais fácil para Deus criar do nada que converter uma alma , pois o nada não
tem vontades quanto a alma precisa se submeter a vontade de Deus. Assim sabendo ele dar a Deus o que pertencia
a Deus e ao mundo o que é do mundo chaga a dizer: “Meus são os Céus e minha é a Terra, meus são
os homens, e os justos são meus; e meus os pecadores. Os Anjos são meus, e a
Mãe de Deus, todas as coisas são minhas. O próprio Deus é meu e para mim, pois
Cristo é meu e tudo para mim.” A pessoa que está presa por algum afeto a alguma
coisa, mesmo pequena, não alcançará a união com Deus, mesmo que tenha muitas
virtudes. Pouco importa se o passarinho esta com um fio grosso ou fino… ficará
sempre preso e não poderá voar.” “Para possuir Deus plenamente é preciso nada
ter; porque se o coração pertence a Ele, não pode voltar-se para outro.” Deus é
a nossa prioridade e é a Ele que devemos subordinar toda a nossa existência; e
Deus nos convoca a um compromisso efetivo com a construção do mundo. O que é
mais importante é que o homem reconheça a Deus como o seu único senhor.
O homem
pertence somente a Deus, deve entregar-se a Deus e reconhecê-l’O. Em muitos
casos, Deus foi apenas substituído por outros “deuses”: o dinheiro, o poder, o
êxito, a realização profissional, a ascensão social, o clube de futebol…
tomaram o lugar de Deus e passaram a dirigir e a condicionar a vida de tantos
dos nossos contemporâneos. Quase sempre, no entanto, essa troca trouxe, apenas,
escravidão, alienação, frustração e sentimentos de solidão e de orfandade… O
homem e a mulher foram criados à imagem de Deus. Eles não são, portanto,
objetos que podem ser usados, explorados e alienados, mas seres revestidos de
uma suprema dignidade, de uma dignidade divina. Para o cristão, Deus é a
referência fundamental e está sempre em primeiro lugar; mas isso não significa
que o cristão viva à margem do mundo e se demita das suas responsabilidades na
construção do mundo. O cristão deve ser um cidadão exemplar, que cumpre as suas
responsabilidades e que colabora ativamente na construção da sociedade humana.
Ele respeita as leis e cumpre pontualmente as suas obrigações tributárias, com
coerência e lealdade. Não foge aos impostos, não aceita esquemas de corrupção,
não infringe as regras legalmente definidas. Vive de olhos postos em Deus; mas
não se escusa a lutar por um mundo melhor e por uma sociedade mais justa e mais
fraterna.
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