Solenidade
de São Pedro e São Paulo, Apóstolos
Leituras:
Missa do dia
Atos dos Apóstolos 12, 1-11;
Salmo 33 (34), 2-3.4-5.6-7.8-9; Segunda Carta de
São Paulo a Timóteo 4, 6-8.17-18;
Mateus 16, 13-19.
COR LITÚRGICA: VERMELHO
Nesta páscoa
semanal de Jesus Cristo, vamos lembrar-nos de Pedro e Paulo, as duas colunas da
Igreja. Como apóstolos têm a função de anunciar o Evangelho. A mensagem que
anunciam é uma pessoa: Jesus Cristo, para isso é preciso conhecê-lo,
existencialmente.
Hoje, também, rezamos especialmente pelo Papa. Sua missão é
zelar para que a Igreja permaneça unida, fiel a Jesus Cristo e a seu projeto,
realizando com humildade e coragem uma ação evangelizadora, cada vez mais
inculturada, profética e aberta a todos.
1. Situando-nos
brevemente
Diletíssimo povo de Deus, “o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo tornou sagrado para nós este
dia”, escreveu Santo Agostinho (Agostinho
de Hipona, Discurso 295, in PL 38, 1348). E é verdade. Este dia para nós é
duplamente sagrado. Sagrado em primeiro lugar porque é o domingo, o dia do
Senhor, o “dia em que celebramos a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte”,
dia em que ele “arrombou portas de bronze e quebrou trancas de ferros das
prisões“ arrancando-nos “das trevas pavorosas e despedaçando nossas correntes,
nossos grilhões” (Cf. Sl 106, 14.16). Esse dia é ainda sagrado pela dádiva
destas duas grandes colunas da Igreja, Pedro e Paulo que com as suas vidas,
combatendo o bom combate, guardaram a fé que nos salva e que estamos com esta
eucaristia publicamente confessando.
A solenidade de hoje se insere no hall daquelas festas
que são muito caras a todo o povo brasileiro. Festas que celebram com grande
alegria “gigantes da fé” com os quais o nosso povo se identificou tanto: Santo
Antonio e São João.
Hoje, por determinação da VII Assembleia da CNBB, em
todas as igrejas e oratórios espalhados pelos quatro cantos do Brasil,
comemora-se o dia do Papa. Momento em que com as nossas orações voltamos nossos
afetos de amor e veneração, respeito e obediência, àquele que sucedendo São
Pedro na Sé, hoje o querido Papa Francisco, que de Roma, tem o ministério e
confirmar os seus irmãos na fé. Tal ministério nasce exatamente da palavra que
acabamos de escutar no Evangelho de hoje.
2. Recordando a
Palavra
Os textos da Liturgia da Palavra desta Solenidade não têm
como objetivo narrar feitos gloriosos das Testemunhas de Cristo, mas como o
Senhor faz triunfar aqueles que o querem sempre ao seu lado e que não se
perdem em especulações, mas sabem com a clareza do “Pai que está nos céu”,
A primeira leitura nos falou da Igreja nascente que vê
seus “membros” padecendo a tortura e a espada e nos apresenta, passando pela
cruz, os três discípulos que experimentaram antecipadamente sobre o Tabor o
brilho da glória que sucede à morte injusta dos justos: Pedro, Tiago e João.
Pedro está preso nos dias dos “Pães Ázimos” (como Jesus – Cf. Lc 22,21), dias
da páscoa judaica e dias em que a Igreja nascente provavelmente também
celebrava a memória da Páscoa de Cristo (Cf.
M. Augé. L’anno litúrgico, è Cristo stesso presente nella sua chiesa. LEV,
2009, p. 108-109).
O texto é eminentemente pascal: Pedro está aferrolhado e
vigiado por guardas, como Jesus estava no sepulcro (cf. Mt 27, 62-66), dormia e
foi acordado por um anjo. Os termos “dormir” e “acordar” no Novo Testamento são
usados para indicar a morte e a ressurreição. O texto se conclui com uma frase
que se liga perfeitamente ao Salmo Responsorial (Agora sei, de fato, que o
Senhor enviou o seu anjo para me libertar), também esse pleno de “tonalidades”
e “cores pascais”: “de todos os temores me livrou o Senhor Deus”.
Ele é o salmo do Servo de Javé que fez a experiência de
não ser abandonado na mansão dos mortos (At 2, 24). O Salmista é o Senhor
ressuscitado. É também o salmo das suas testemunhas que “todas as vezes que o
buscaram, ele os ouviu e de todo os temores os livrou”. Feita sua experiência
pascal, Pedro, no entardecer do seu ministério repetirá a palavra do salmista
dizendo já ter experimentado, provado e visto a bondade do Senhor (1Pd 2,2).
Ouvimos na segunda leitura “o testamento de Paulo”,
prestes a “ser derramado em sacrifício”, às portas do “momento da sua partida”.
Paulo não se vitimiza, sabe que a única vitima é Jesus Cristo. Sabe também que
para receber a coroa de justiça, das mãos do justo juiz, para ele reservada, é
preciso passar pelo processo da Kenosis, pelo qual passou Jesus. Assim como
toda a vida de Jesus foi um percurso “kenótico”, toda a vida de Paulo foi uma
experiência de combate do bom combate, de guardar a fé e de completar a corrida
do anúncio do Evangelho.
Também Paulo “reproduz” o “Salmista”: “Todas as vezes
que o busquei, ele me ouviu”, porque “o Senhor esteve ao meu lado e me deu
forças”. E mais, “O Senhor me libertou de toda angústia”, “fui libertado da
boca do leão”. A Glória para Paulo reside no fato de ter conquistado tantos
fieis para Cristo, ele que também foi alcançado por Cristo (Fl 3,12). Por isso
perto de “completar sua corrida” afirmou: “Já
não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne
vivo-a na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim”
(Gl 2,20).
Esta fé no Filho de Deus pela qual Paulo vive, é a mesma
professada por Pedro no Evangelho de hoje que se abre com uma pergunta, da
parte de Jesus, “capciosa” e cheia de trocadilhos: “Quem dizem os homens (com
“h” minúsculo) que é o Filho do Homem (com “H” maiúsculo)? Para Santo Ambrósio
“a opinião da multidão também não é sem importância” porque ela é baseada não
na revelação, mas na expectativa gerada pelo “extraordinário”, o que resulta
uma imagem limitada e limitante de Jesus e de sua missão: ele é “algum dos
profetas”.
O segundo ponto de interrogação é mais direto e intimo:
“vós, quem dizeis que eu sou?”. A resposta de Pedro não se baseia no
“extraordinário humano”, mas naquilo que vem do alto: “Tu és o Messias, o Filho
do Deus vivo”. Também Jesus revela a Pedro coisas que vem do alto: a
“construção” de um novo povo (Igreja) que tem como fundamento a Pedra da
profissão de fé de Pedro. Então, porque Pedro se tornou uma “porta da fé” Jesus
lhe confia as “chaves do Reino dos céus”.
3. Atualizando a
Palavra
Numa perspectiva de fé nos perguntamos: o que confiou Jesus
a Pedro quando lhe entregou “as chaves do Reino dos céus?” Responde-nos São
João Crisóstomo: “O que pertence propriamente a Deus, como apagar os pecados,
garantir a resistência da Igreja, malgrado as ondas com que será batida,
comunicar a um pobre pecador uma firmeza superior à do mais sólido rochedo, a
despeito dos ataques da terra inteira [...] Confia a um homem mortal todo o
poder dos céus, do qual dá as chaves, espalha sua Igreja sobre a superfície do
globo; e a estabelece mais solidamente que os céus; porque disse: ‘os céus e a
terra passarão, mas minhas palavras não passarão’ (Mt 24,35)” (CIgC. n.881).
Pastoralmente falando, dizemos que Jesus conferiu a
Pedro o “ministério/serviço” de conduzir o rebanho de Deus (Sl 94,7) rumo à
porta que é o próprio Cristo (Jo 10,7). Este ofício petrino “e dos outros
Apóstolos faz parte dos fundamentos da Igreja e é continuado pelos Bispos sob o
primado do Papa” (CIgC, n. 881).
Pastorear o rebanho do Senhor é um empenho próprio
daqueles que foram ordenados para esse fim, mas o dever de zelar por esse
rebanho, não seria de todo batizado? Depois do Concílio Vaticano II ouvimos
falar do “protagonismo dos leigos”, preferimos usar o termo “comprometimento do
batizado com a causa do Reino”, evidenciando que a construção do Reino, o
anúncio “integral da mensagem”, a “peleja do bom combate”, o “guardar a fé”,
faz com que homens e mulheres, de todas as raças e idades se identifiquem com a
missão do anúncio do Evangelho.
Pedro e Paulo nos ensinam que o importante é levar a missão
do anúncio até as últimas consequências e que, quando pensarmos que é chegado o
termo final, certamente “o anjo do Senhor virá acampar ao redor dos que o temem
e os salvará”. A Solenidade de hoje é de fato um belo convite a toda a Igreja:
“provai e vede quão suave é o Senhor”.
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Irmãos e irmãs, os Apóstolos que hoje celebramos, são os
nossos pais na fé. Eles nos transmitiram a fé como dom, como primícias
(coleta). Não só a fé em nível de conhecimento, de verbalização, mas acima de
tudo nos transmitiram uma fé em nível de celebração. A liturgia não é outra
coisa senão a fé celebrada, a fé colocada em ação, e a Igreja reconhece nessa
dimensão da fé “o cume e a fonte” de toda o seu existir. (Cf. SC, n.10 e 14). É
precisamente para esse momento que se dirige toda a atividade pastoral da
Igreja e, ao mesmo tempo, é desse momento que a Igreja sorve toda a sua
vitalidade.
É a celebração do Mistério Pascal de Cristo, do qual
estamos agora fazendo memória, e do qual participaremos em plenitude quando
comermos do Corpo e bebermos do Sangue do Senhor ao aproximarmo-nos do altar,
que nos impulsionará para sermos testemunhas do Ressuscitado.
A eucaristia que receberemos daqui a pouco tempo é
realmente aquele “pão que alimenta e que dá vida”, aquele “vinho que nos salva
e dá coragem” e que desperta em nós a certeza de “quão suave é o Senhor”, e no
capacita a professar com Pedro: “agora eu sei, de fato, que o Senhor enviou o
seu anjo para ‘nos’ libertar”, e com Paulo: “O Senhor esteve sempre a meu lado
e me deu forças ... e eu fui libertado da boca do leão”. Por fim esta
eucaristia, nos fará “viver de tal modo na Igreja”, perseverando “na doutrina
dos Apóstolos” e enraizados no amor do Senhor, que nos tornaremos “um só
coração é uma só alma” (Depois da Comunhão).
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