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Temos Que Amar Nossos Inimigos Sempre?
O amor exigido do discípulo do Senhor é radical. É muito mais do que a civilidade que evita que uma pessoa exerça vingança pessoal sobre seus inimigos. É a boa vontade positiva que a obriga a orar e trabalhar pelo máximo bem dos seus adversários (Mateus 5,44; Lucas 6,35).
Não é surpresa, portanto, que os homens sempre tenham lutado contra seu impacto.
Tem o cidadão do reino que agir sempre pelo eterno bem-estar dos outros?
Tem que ser esta a sua atitude, quando sua propriedade e até mesmo sua vida estão sendo ameaçadas?
Tem (o discípulo, como agente de polícia, soldado, pai, mãe, etc.) que governar continuamente seu comportamento por este princípio sem egoísmo, que redime?
Esta questão tem dividido os séculos pela controvérsia, alguns argumentando que o princípio do amor do Sermão é absoluto e universal, outros defendendo várias exceções. Por dois séculos depois da morte dos apóstolos nenhum escritor cuja obra sobreviveu aprovou a participação dos cristãos em guerra.
Seguindo o reino de Constantino, quando o império que agora era "cristão" estava sob o ataque das hordas bárbaras, Agostinho e outros, enquanto ainda aconselhavam a não-violência pessoal, permitiam, e até incitavam, os cristãos a participarem de "guerras justas", como agentes do estado civil.
Agostinho defendia tal guerra como defensiva do último recurso empreendido pela autoridade constituída por justas causas, por meios justos e por justos fins (Roland Bainton, Atitudes Cristãs Para Com a Guerra e a Paz, pág. 66, 67, 89-100). As vozes dirigentes da Reforma mantinham o ponto de vista da "guerra justa", justificando pelas guerras de Israel, o envolvimento de cristãos em combates militares e fazendo distinção entre o discípulo como um indivíduo e o discípulo como um agente do estado.
Não há caminho fácil para resolver a questão, se o cristão tem sempre que amar seus inimigos, envolvendo-nos, como o faz, nas difíceis disputas sobre a relação do cristão com o estado, e o direito à defesa pessoal. Não obstante, cremos que a resposta à pergunta que levantamos deveria ser um irrestrito "sim".
Quando alguém argumenta com o direito irrestrito à auto-defesa pessoal contra os ensinamentos de Mateus 5:38-48, o mandamento do Senhor para obrar o máximo bem dos seus inimigos é efetivamente anulado. Excluindo o direito à auto-defesa, em casos de ataque por causa do evangelho, deixa o cristão, na posição quase impossível de ter que apurar rápida e acuradamente o motivo de seu assaltante. Estamos contentes em dizer que qualquer auto-defesa consistente com o bem eterno de nosso adversário é totalmente permissível (Mateus 7,12).
Quando alguém argumenta que as guerras de Israel estabeleceriam que um povo mandado amar seus inimigos pode também mover guerra contra eles, deveria pelo menos se notar que estas foram guerras de agressão não provocada, e freqüentemente de extermínio, que foram lutadas por ordem de Deus (Êxodo 23,31-32; Deuteronômio 20,10-19). Elas exprimem mais o direito de Deus julgar os iníquos do que qualquer caso de "guerra justa." É difícil, se não impossível, comparar as guerras modernas com as guerras de Israel (Clouse, Guerra: Quatro Pontos de Vista Cristãos, pág. 10).
Uma "guerra justa", movida por homens não convertidos, sempre foi mais sonho do que realidade. Dificilmente há uma guerra moderna, talvez nenhuma, na qual ambos os lados de algum modo claro não violaram o modelo da "guerra justa". A guerra moderna nos força a perguntar como a justiça pode ser imposta ao culpado e o inocente preservado pelo bombardeio cerrado de cidades inteiras ou a incineração de populações inteiras, em um holocausto atômico. E, mesmo que isto não fosse verdade, restaria a carga impossível que este ponto de vista coloca sobre o cristão para saber coisas sobre os conflitos internacionais que geralmente não se tornam conhecidas até anos mais tarde. Nenhuma nação move abertamente uma guerra injusta. A justiça é sempre o grito pelo qual elas incitam sua cidadania às armas.
No caso extremo, podemos estar lidando no estado civil com um instrumento de Deus, que existe pela sua autoridade permissiva (Romanos 13,1; João 19,11) e o qual ele usa como um "vaso de ira", para manter a ordem em um mundo ímpio (Isaías 11,5-7,12; Jeremias 25,9; Isaías 14,4-6; Daniel 4,17,24-25; Isaías 44,28; 45,1). Pelo menos estamos lidando com uma instituição sob uma incumbência limitada para agir com justiça, punindo o malfeitor e protegendo o inocente (Romanos 13,1-7; 1 Pedro 2,13-14). Em nenhum caso estamos livres para ter um relacionamento insensato com a autoridade civil, ingenuamente presumindo que porque Deus a "ordenou", ela sempre agirá de acordo com sua vontade. Os dominadores deste mundo estão muitas vezes retratados nas Escrituras como inimigos dos propósitos de Deus (Salmo 2,1-2; Daniel 2:44). A ascensão do nacionalismo tem freqüentemente feito de cristãos patriotas insensatos em todos os países, a lealdade ao grande Rei quase esquecida na febre de um partidarismo estreito. Em nenhum caso temos permissão para entregar nossa responsabilidade por escolhas morais ao estado e assim escapar do compromisso que fizemos, de amar a todos os homens. O reino do céu é uma comunidade de "todas as tribos, e línguas, e povos, e nações" que tem que cumprir a visão profética de um reino onde o homem não mais aprende a guerrear (Isaías 2,4; 11,9). Se, no serviço do reino da justiça, renunciamos a nossas vidas, nada inesperado terá acontecido (Lucas 14,26). Em qualquer circunstância em que nos encontremos, teremos que amar nossos inimigos. Se nossa circunstância previne isso, então nossa circunstância tem que ser mudada.
A†Ω
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