O que é “ser Igreja”? Escrito II
Esta é uma daquelas perguntas, cuja resposta, num primeiro momento,
dá-se por óbvia. Mas, será que realmente sabemos o que é “ser Igreja”?
Para levar adiante esta reflexão, quero falar de algo importante para
entender de fato o que é ser Igreja.
Ser Presença
Ouve-se
pouco falar do assunto “presença”. Fala-se de quem estava presente neste
ou naquele ato, ou de quem não pode estar; anunciam-se presenças
ilustres em determinados eventos para motivar outras presenças e maior
participação; criticam-se convidados de honra que não marcam presença e
não justificam o motivo da ausência; criam-se contágios festivos com
presenças animadoras; lamenta-se quando aparecem presenças indesejadas
etc... Presença e ausência é questão de convivência e muito mais.
Como tantos temas, a categoria presença é uma realidade que vale a pena
ser tratada e refletida no sentido de ser Igreja e uma Igreja que
caminha para a construção do Reino de Deus.
Às vezes se vai vivendo
e convivendo e uma certa rotina nos invade. Isto pode tirar a
relevância de questões muito importantes e assim vão passando para a
sombra do nosso cotidiano.
Que diferença existe entre “ser presença” e “estar presente”?
Em verdade, eu posso estar presente sem ser presença. Isto se dá quando
predomina a formalidade, a conveniência e não há laços, nem
compromissos de vida e comprometimento com a comunidade e envolvimento,
apenas me faço presente e usufruo do que me é oferecido. Chego e saio,
participo e me ausento sem deixar marcas mais profundas e
significativas, nem ao momento e nem às pessoas, pois não me sinto
envolvido.
Posso estar presente por interesses pessoais e quando
alcancei o objetivo serei um ilustre ausente. Um exemplo desta mesquinha
realidade acontece em tempos de campanha política. São efusivos e
abundantes os abraços, beijos e gestos de proximidade; prometem-se
compromissos de imediata generosidade; chora-se em enterros; aplaudem-se
momentos festivos e aqui o “estar presente” continua sendo uma
encenação de oportunismos.
Não é estranho o “estar presente” de
quem chega para agradar o companheiro ou a companheira com quem vai
andando. A ocasião pode despertar um vínculo, mas pode se tornar uma
simples passagem insignificante para quem convidou ou necessita do
conforto e da ajuda.
Felizmente pode-se “estar presente” como
decorrência do “ser presença”. Neste caso há vínculos de amizade e
comprometimentos cultivados e comprovados de longo tempo e de sincera
convivência.
Quando se é presença, se está presente com o todo de
nosso ser e não só empenho uma função, ou estou em uma escala, visto uma
opa, dou uma catequese, assisto missa nem participo, pois somente sou
cumprido de rito e faço somente o que me convêm, enquanto não me
desinstala. Nem nas horas de alegria precisamos dar muitos gritos e nem
nas horas de tristeza precisamos dizer muitas palavras. A presença já
aumenta o contágio da festa e confirma a solidariedade na dor.
Quando se é presença na vida das pessoas, ao chegar a hora da festa, o
abraço e o sorriso aumentam a graça dos festejados. Quando se é presença
na vida, na hora do sofrimento, do luto e da dor o silêncio da sintonia
já transmite a grande mensagem da solidariedade. Geralmente, quando se
é presença na família, na comunidade e nos ambientes de trabalho, não
precisamos de muita explicação e de muitas palavras. A presença amorosa
e comprometida já fala por si.
Quem sabe ser presença na vida das pessoas, e da comunidade jamais cairá no esquecimento.
A pessoa é presença quando sempre se pode contar com ela: na alegria ou
na tristeza, na saúde ou na doença. Como faz bem ouvir de alguém:
“Conte sempre comigo!”
Quando falamos de serviço, de missão e de testemunho, na vida de uma comunidade cristã católica lembramos de qual sacramento?
Do sacramento da Confirmação é claro, ou como costumamos dizer, da
Crisma. Desde modo, o mistério da Confirmação nos faz ser presença e não
somente estar presente. Pois assinalados na Confirmação com o Dom do
Espírito, somos mais perfeitamente configurados ao Senhor e repletos do
Espírito Santo, para levar o Corpo de Cristo, isto é, a Igreja, o quanto
antes à plenitude, dando testemunho de Cristo no mundo.
A
propósito disso, vale recordar o ensinamento do Concílio Vaticano II: “A
Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária” (Ad Gentes 2). Na
Igreja a unidade sustenta a comunidade.
Juntos peregrinamos em
direção à Jerusalém Celeste, e nesse peregrinar, em mutirão vamos
construindo a Nova Terra, o Reino de Deus, que também é nosso. Reino de
paz e de justiça, onde “não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro,
nem dor” (Ap 21,4).
Deste Reino, a Assembleia Eucarística é
antecipação e prelúdio, pois comendo e bebendo ao redor da mesma mesa,
recebemos a vida eterna e exprimimos a unidade do povo de Deus (Ritual
da Iniciação Cristã de Adultos 2).
O Mistério da Igreja é bem
maior que isso. Ele nos envolve e nos ultrapassa. Eu apenas sinalizei o
caminho. Cabe a você levar adiante essa reflexão. Se estiver atento, vai
descobrir novos caminhos para continuá-la. Aqui vai outro segredo: o
desafio não é apenas saber “o que é ser Igreja”, mas viver como Igreja,
sendo no mundo o bom perfume de Cristo (2Cor 2,15).
Tudo na simplicidade sendo presença e não peso morto somente presente.
1) Como eu posso me avaliar : Presente! Presença! Peso morto! Ocupo espaço!
2) É bom lembrar a parábola de Jesus e a figueira estéril: “Certo homem
tinha uma figueira plantada na sua vinha; e indo procurar fruto nela, e
não o achou. Disse então ao viticultor: Eis que há três anos venho
procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que ocupa ela
ainda a terra inutilmente? Respondeu-lhe ele: Senhor deixa-a este ano
ainda, até que eu cave em derredor, e lhe deite estrume; e se no futuro
der fruto, bem; mas, se não, cortá-la-ás.” (Lucas 13,6-9)
3)
Outro texto : “E ao outro dia, como saíssem de Betânia, teve fome. E
tendo visto ao longe uma figueira, foi lá a ver se acharia nela alguma
coisa; e quando chegou a ela, nada achou, senão folhas, porque não era
tempo de figos. E falando-lhe disse: Nunca jamais coma alguém fruto de
ti para sempre; o que os discípulos ouviram. E no outro dia pela manhã,
ao passarem pela figueira, viram que ela estava seca até as raízes”.
(Marcos, 11, 12-14) A)A figueira seca é o símbolo das pessoas que
apenas aparentam o bem, mas na realidade nada produzem de bom. B) também
o símbolo de todas as pessoas que podem ser úteis e não o são; de todas
as utopias, de todos os sistemas vazios, de todas as doutrinas sem
bases sólidas.
O que falta, na maioria das vezes, é a verdadeira
fé, a fé realmente fecunda, a fé que comove as fibras do coração, em
uma palavra, a fé com obras, pois sem obras é vã. Como posso avaliar
minha fé? Comprometida? De fachada? Só de estar presente?
Para
Refletir: Que árvores estamos sendo? Árvores frondosas, mas sem frutos, e
é por isso que Jesus as condena a esterilidade, pois dia virá em que
ficarão secas até à raiz. Isso quer dizer que todos os sistemas, todas
as doutrinas que não produziram nenhum bem para a humanidade, a
sociedade e a comunidade, serão reduzidas a nada; e que todos os homens
voluntariamente inúteis, que não se utilizaram os recursos de que
estavam dotados, serão tratados como a figueira seca.
Pe. Emílio Carlos Mancini +
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