32º
Domingo do Tempo Comum
Dia
09 de novembro de 2014
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“O
Zelo por tua casa me consumirá”
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Leituras:
Ezequiel 47, 1-2.8-9.12;
Salmo 45 (46), 2-3.5-6.8-9;
Primeira Carta de São
Paulo aos Coríntios 3, 9c-11.16-17;
João 2, 13-22.
COR LITÚRGICA: BRANCA
Nesta
páscoa semanal de Jesus, lembramos um templo que ficou marcado na tradição da
Igreja. É a festa da Dedicação da Basílica do Latrão. Trata-se da Catedral de
Roma, onde o Papa é o bispo. Esta tradição remonta o século XII. Inicialmente
foi uma festa exclusivamente da cidade de Roma; mais tarde, estendeu-se à
Igreja de Rito Romano, com o fim de honrar a basílica que é chamada mãe e
cabeça de todas as Igrejas da Cidade e do Mundo. É um sinal de comunhão de
todas as nossas Igrejas com a Igreja-mãe. Pensemos nela como símbolo da unidade
da Igreja e recordação dos muitos edifícios em que o povo de Deus se reúne para
celebrar a fé em comunidade.
1. Situando-nos
brevemente
O aniversário de uma catedral é
anualmente celebrado, pois evoca e celebra a unidade da Igreja na igreja mãe. A
unidade de todo o povo de Deus encontra na liturgia a sua expressão maior, cume
e fonte de toda ação da Igreja. Celebrar a dedicação da Basílica Lateranense é,
pois, expressão da nossa unidade ao Bispo de Roma, sucessor de Pedro.
Por ser a catedral do Bispo de
Roma, a Basílica do Latrão torna-se a igreja mãe de toda a Igreja Católica
Romana – da cidade de Roma e de todo o mundo. Construída pelo imperador
Constantino no tempo do Papa Silvestre I, foi dedicada no ano de 324. Sua
festa, antes celebrada apenas pela cidade de Roma, no ano de 1565 começou a ser
também realizada por comunidades católicas de rito latino de todo o mundo.
Os textos bíblicos para esta festa
são próprios e encontram-se no Lecionário Dominical I, nas páginas 1102-1104.
Os formulários litúrgicos encontram-se no Comum da dedicação de ma igreja,
formulário “B. Em outra igreja”, no Missal Romano, na pag. 731.
2.
Recordando a Palavra
Para os evangelhos sinóticos
(Mateus, Marcos e Lucas), Jesus sobe a Jerusalém para a festa da Páscoa apenas
uma vez durante a sua atividade pública. Para o Evangelho de João, no entanto,
Jesus sobe a Jerusalém, três vezes (cf. 2, 23; 6,4; 13,1), participando todos
os anos da festa maior do judeu fiel. Estava próxima a festa da Páscoa. E João
faz questão de dizer que se trata da Páscoa dos judeus, diferenciando-a da
Páscoa que fará Jesus.
O Templo, casa de Deus, deveria ser
o lugar privilegiado da presença de Deus em meio ao seu povo, lugar da escuta
de sua Palavra e da experiência amorosa do encontro com Deus. Jesus depara-se
com uma realidade oposta, tendo o Templo sido transformado em lugar de “comércio”
com Deus, explicitamente mostrado pela presença dos diversos cambistas e
vendedores de animais para os sacrifícios.
Os cambistas deveriam trocar moeda a
estrangeira dos peregrinos em moeda corrente do Templo. Todos deveriam fazer o
câmbio não apenas porque uma moeda estrangeira não teria valor de compra em
Jerusalém, mas também porque, segundo as prescrições judaicas, uma moeda
estrangeira era impura, e por isso, impedida de comprar alimentos, e
principalmente, os animais para serem oferecidos em sacrifício. E estando
próxima a festa da Páscoa, esta prescrição era observada com mais rigor ainda,
pois a impureza ritual impediria o peregrino e celebrar a Páscoa.
Numa perspectiva profética,
exigindo radical conversão, Jesus mesmo confeccionou um chicote e expulsou
todos do Templo e espalhou as moedas, derrubando as mesas dos cambistas.
Este Templo dever ser
“reconstruído”, diz ele. O lugar da relação com Deus deveria passar agora por
outro Templo: o corpo de Jesus, “levantando”, e em três dias, ressuscitado,
referindo-se à sua Páscoa. Este corpo ressuscitado é, por decorrência, o novo
Templo agora erguido, a Igreja nascida em Jesus e da sua páscoa.
3.
Atualizando a Palavra
Todas as comunidades católicas
neste dia estarão unidas à sede de Pedro, seu sucessor, o Papa Francisco. No
dia da sua eleição, em 13 de março de 2013, ao achegar-se à fachada da Basílica
de São Pedro, inclinando-se fez um gesto profético, pedindo a todo o povo
presente na praça, que rezasse por ele, pois necessitava da oração de todos da
Igreja.
Hoje, nos colocamos nesta unidade
com ele e com seu ministério petrino, e, como Igreja, somos chamados a elevar
preces a Deus, para que o ilumine e o acompanhe com as luzes do seu Espírito
Santo, auxiliando-o em sua missão no mundo. Unidade que se estende às nossas
igrejas particulares, na comunhão com o nosso Bispo local, pastor do rebanho
que lhe fora confiado.
Esta festa também nos remonta à
Igreja que somos nós, corpo de Cristo, do qual ele é a cabeça. Igreja
diversificada em seus ministérios, como serviços de anúncio do Evangelho e
vivência dos seus valores. Igreja construída sobre o alicerce dos Apóstolos,
que tem como pedra viva e angular o próprio Jesus Cristo, seu Senhor e esposo.
Igreja esposa, que na relação amorosa com Jesus gera seus filhos pelos
Sacramentos. Igreja que testemunha o seu Senhor por suas ações proféticas e de
defesa do bem comum, da justiça e da paz.
4.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
A igreja templo é também para nós
um sinal grandioso. Sinal da “casa”, morada de Deus, mesmo sabendo que nada
pode enquadrar e aprisionar Deus, por mais sacro que isto seja.
Como sinal, a igreja nos remete à
experiência de fé e de relação de proximidade com Deus enquanto lugar de louvor
e da própria manifestação de Deus através da proclamação da sua Palavra e das
ações rituais celebrativas, sacramentos da ação de Deus em favor do seu povo.
Para nós esta ação divina encontra
em Jesus Cristo a sua plenitude. Pelo seu mistério de amor, na entrega de sua
vida para a salvação da humanidade, constrói com a família humana um laço muito
estreito, reconstruindo a relação entre Deus e a humanidade. Participamos do
mistério de páscoa pelos sacramentos, principalmente pelos sacramentos da
iniciação cristã, tendo na Eucaristia a sua plenitude e perenidade.
“Mas Jesus estava falando do Templo
do seu corpo” (Jo 2,21). A unidade da Igreja não é realizada por uma declaração
ou por uma ideologia. Ela, em primeiro lugar, é sacramental: a Eucaristia que
celebramos nos torna um só corpo com Cristo em seu mistério de páscoa. Unidade
que atinge todos os cristãos e até o universo, pela força cósmica que tem a
própria Eucaristia (Cf. JOÃO PAULO II,
Carta Encíclica, “Ecclesia de Eucharistia”, sobre a Eucaristia na sua relação
com a Igreja. A voz do Papa n. 185, Paulinas São Paulo, 2003, n.8, p. 11;
KASPER Valter. O Sacramento da unidade. Eucaristia e igreja, Loyola, São Paulo,
p. 107).
Da Eucaristia, corpo místico de
Cristo, por decorrência, emana uma força como água que sai do “santuário” e banha
as árvores, dando-lhes vigor, fazendo-as produzir frutos que servirão de
alimento e remédio. Sim “os braços de um rio vêm trazer alegria à Cidade de
Deus, à morada do Altíssimo” (Sl 45), 5 – refrão do Salmo responsorial.
A unidade da Igreja, portanto, está
em Jesus Cristo. “De fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que
está aí, já colocado: Jesus Cristo” (1Cor 3,11 – segunda leitura). E nós somos
o santuário de Deus em Cristo, pela unidade que ele gera na Igreja, por força
do Espírito Santo invocado sobre o povo celebrante pelas epícleses das orações eucarísticas e que o torna participante do
único pão eucarístico. A nossa unidade se torna visível, dessa forma, tanto
pela ação eucarística em nós, quanto pelo ministério petrino que exerce o Papa.
E isso se expressa esteticamente por nossos templos (prefácio da festa).
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