O meu Bem-Amado é como a noite tranquila
Semelhante ao nascer da aurora,
A silenciosa melodia,
E a solidão sonora,
A ceia retemperadora, que inflama o amor.
Na Sagrada Escritura, o repouso da noite designa a visão de Deus. Tal como a ceia marca a conclusão dos trabalhos do dia e o princípio do repouso da noite, também a alma saboreia, nesta notícia pacífica de que falamos, uma antecipação do fim dos seus males e a garantia dos bens que espera.
Também por isto o seu amor a Deus é em muito aumentado. Para a alma, o amor de Deus é realmente «a ceia retemperadora» que lhe anuncia o fim dos seus males, e que «inflama o amor», assegurando-lhe a posse de todos os bens.
Para melhor podermos compreender quão deliciosa é de fato esta ceia para a alma – pois, como o temos dito, a ceia é afinal o próprio Bem-Amado –, recordemos as palavras do Esposo, no Apocalipse: «Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo» (Ap 3, 20).
Já aqui Ele nos dá a entender que traz a ceia consigo, isto é, o sabor e as delícias com que Ele próprio
Se alimenta e que comunica à alma ao unir-Se-lhe, para que também esta se alimente do mesmo.
É este o sentido das suas palavras: «Cearei com ele, e ele comigo», e é este o efeito produzido pela união da alma com Deus: os mesmos bens de Deus tornam-se comuns a Ele e à alma esposa, porque Ele comunica-lhos gratuitamente e com soberana liberalidade.
Deus é em Si mesmo esta «ceia retemperadora, que inflama o amor».
Ele retempera a esposa com a sua liberalidade, e inflama-a de amor com a sua benevolência.
São João da Cruz (1542-1591), carmelita descalço, doutor da Igreja
Cântico espiritual, 2ª recensão
Nenhum comentário:
Postar um comentário