«Se quiseres, podes purificar-me.»
S. Marcos 1,40-45.
Não podes perder a
confiança em Deus nem desesperar da sua misericórdia; não quero que
duvides nem que desesperes de te tornares melhor: porque, mesmo que o
demônio tenha conseguido precipitar-te dos cumes da virtude até aos
abismos do mal, muito mais Deus poderá chamar-te de novo para o cume do
bem, e não só reconduzir-te ao estado em que te encontravas antes dessa
queda, mas tornar-te muito mais feliz do que julgavas ser.
Não percas a coragem,
suplico-te, não feches os olhos à esperança do bem, não te aconteça o
que acontece aos que não amam a Deus; porque não é o grande número de
pecados que leva a alma ao desespero, mas o desdém para com Deus. «É
próprio dos ímpios, diz o Sábio, desesperar da salvação e desdenhar dela
quando caíram no fundo do abismo do pecado» (Pr 18,3, Vulg).
Assim pois, todo o pensamento que nos rouba a esperança da conversão
provém da impiedade e, qual pedra pesada que nos amarraram ao pescoço,
força-nos a olhar para baixo, para a terra, não permitindo que
levantemos os olhos para o Senhor.
Mas aquele que tem um coração
corajoso e um espírito esclarecido sabe soltar do pescoço esse peso
detestável. «Como os olhos do servo se fixam nas mãos do seu amo, e como
os da serva nas mãos da sua ama, assim os nossos olhos estão postos no
Senhor nosso Deus, até que tenha piedade de nós» (Sl 123,2-3)
Rábano Mauro (c. 784-856), abade beneditino, bispo
Três livros para Bonose, livro 3,4; PL 112, 1306
Nenhum comentário:
Postar um comentário