O valor da Santa Missa- Santo Afonso de Ligório
A santa missa é um meio eficaz para obtermos as graças de Deus.
In omnibus divites facti estis in illo
“Em todas as coisas fostes enriquecidos nele” (1Cor 1,5).
Posto que o Senhor esteja sempre disposto a nos conceder as suas graças,
dispensa-as todavia com mais largueza no tempo da missa aos rogos do sacerdote,
juntos aos de Jesus Cristo que é o oferente principal. Os mesmos anjos
aproveitam o tempo da missa para intercederem mais eficazmente em nosso favor;
e o que então se não obtém, obter-se-á dificilmente em outro tempo. Que
tesouros podemos, pois, ajuntar pela celebração devota do divino sacrifício e
pela sua devota assistência!
Considera que a santa missa é um verdadeiro sacrifício impetratório,
isto é, instituído para alcançar de Deus os auxílios e as graças de que
necessitamos. É uma verdade da fé que o Pai Eterno dispensa seus favores sempre
que forem pedidos pelos merecimentos de Jesus Cristo: Si quid petieritis Patrem in nomine meo,
dabit vobis (1) - “Se
pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, Ele vô-la dará”. Observa, porém, São
João Crisóstomo, que no tempo da missa Deus os dispensa com maior largueza aos
rogos do sacerdote, porque estes então são acompanhados e reforçados pelos
rogos do próprio Jesus Cristo, o oferente principal, que neste sacrifício se
oferece ao Pai, afim de nos obter as graças.
Pelo que um grande servo de Deus dizia: Quando celebro e tenho Jesus
Cristo na mão, alcanço tudo que desejo.
Se
soubéssemos que todos os Santos do paraíso, em união com a divina mãe,
intercedem por nós, que confiança não teríamos de tudo suceder para nosso
proveito? Pois
bem, é certíssimo que um só pedido de Jesus Cristo vale infinitamente mais do
que todos os pedidos dos Santos. Este
pedido, posto que, na palavra de São Paulo, Jesus Cristo o faça por nós continuamente
no céu (Qui etiam interpellat
pro nobis (2) - “Que
também intercede por nós”) fá-lo todavia especialmente na hora da missa,
na qual se renova o sacrifício da Cruz.
Eis porque, como se exprime o Concílio de Trento, o tempo da celebração
da missa é exatamente aquele em que o Senhor está no trono da graça, ao qual o
Apóstolo nos exorta que recorramos com confiança para obtermos a divina
misericórdia: Adeamos ergo cum fiducia
ad thronum gratiae (3).
São João
Crisóstomo atesta que os mesmos anjos esperam o tempo da missa para
intercederem mais eficazmente a nosso favor; e acrescenta que o que não se
alcança na missa, dificilmente se alcançará em outro tempo. Oh! Que tesouros de
graças podemos ajuntar celebrando devotamente o divino sacrifício ou assistindo
a ele com atenção: Em todas as
coisas fostes enriquecidos nele!
Se
tivesses certeza de que perto de tua casa se acha uma rica mina de ouro e que
cada dia te é permitido nela entrar meia hora para tirar quanto quiseres, qual
não seria o teu contentamento? Aviva, porém, a tua fé e lembra-te de que o rei
do céu, na santa missa, põe à tua disposição uma mina incomparavelmente mais
preciosa, porque contém os merecimentos infinitos de Jesus Cristo, pelos quais
pode alcançar todas as graças. Propõe-te, portanto, a assistir todos os dias à
missa, mesmo a custo de algum incômodo. Pondera que, se o Senhor se oferece mil
vezes sobre o altar por teu amor, justo é que tu também sacrifiques alguma
pequena comodidade, algum pequeno interesse. E sendo-te impossível ouvir a missa, assiste a ela ao menos em espírito.
Infeliz
de mim! Quantas graças, ó meu Deus, tenho perdido pelo meu descuido em as pedir
celebrando ou ouvindo a santa missa! Mas, já que me iluminais, não me quero mais descuidar disso. Ó Pai
Eterno, uno as minhas orações às de Jesus Cristo e pelo amor desse vosso Filho,
que por meu amor se imola sobre o altar, Vos rogo antes de tudo que me perdoeis
todos os meus pecados, visto que os detesto de todo coração.
Fazei-me, além disso, conhecer os direitos infinitos que tendes ao meu
amor e dai-me força para me livrar de todos os afetos terrestres e de empenhar
todo o meu coração unicamente em Vos amar, que sois o bem supremo, digno de
amor infinito.
Peço-Vos também que ilumineis aqueles que Vos não conhecem, ou
vivem privados da vossa amizade. Meu Pai, dai a todos o dom da vossa
graça; dai a todos o dom do vosso santo amor. Fazei-o pelo amor de Jesus
Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima. (*III 819)
1. Io. 16, 23. - 2. Rom. 8, 34. - 3. Hebr. 4, 16.
(Santo Afonso Maria de Ligório – Meditações para
todos os dias e festas do ano - Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois
de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia,
1922, p. 108-110)
Nenhum comentário:
Postar um comentário