O Espírito do Senhor está
sobre mim, pois ele me consagrou com a unção
Lc 4,14-22
Hoje
lembramos que «quem ama a Deus, ame também seu irmão» (1Jo 4,21). Como
poderíamos amar a Deus a quem não vemos, se não amamos a quem vemos, imagem de
Deus? Depois que São Pedro renegara, Jesus lhe perguntou se o amava: «Senhor,
tu sabes tudo; tu sabes que te amo» (Jo 21,17), respondeu. Como a São Pedro,
também Jesus nos pergunta: «Tu me amas?»;e queremos lhe responder agora mesmo:
«Tu o sabes tudo, Senhor, tu sabes que te amo apesar de minhas deficiências;
mas, ajuda-me a demonstrar-te; ajuda-me a descobrir as necessidades de meus
irmãos, a me entregar de verdade aos outros, a aceita-los tal como são, a
valorizá-los».
A vocação do
homem é o amor, é vocação a se entregar, procurando a felicidade do outro e,
assim encontrar a própria felicidade. Como diz São João da Cruz, «No crepúsculo
da vida, seremos julgados no amor». Vale a pena que nos perguntemos ao terminar
cada jornada, cada dia, num breve exame de consciência, com foi este amor e,
pontualizar algum aspecto a melhorar para o dia seguinte.
«O Espírito
do Senhor está sobre mim» (Lc 4,18), dirá Jesus, fazendo seu este texto
messiânico. É o Espírito do Amor que assim como fez o do Messias a «que
consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres» (cf. Lc 4,18),
também “repousa” sobre nós e nos conduz até o amor perfeito: Como diz o
Concilio Vaticano II: «Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem,
são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade». O Espírito
Santo nos transformará como fez com os Apóstolos, para que possamos agir sob
sua moção, nos outorgando seus frutos e, assim levá-los a todos os corações: «O
fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade,
bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio» (Gal 5,22-23).
Jesus é o ungido do Pai que veio ate
nós com a missão de evangelizar os pobres, ou seja, de tornar membro do Reino
dos Céus todos os que colocam a sua esperança no Senhor.
A
sua vida terrena não foi outra coisa senão o pleno cumprimento dessa missão.
Ele anunciou a liberdade dos filhos de Deus e a libertação dos cativos do
pecado e da morte, curou os cegos, de modo que todos podem enxergar além do
mero horizonte da realidade natural, lutou contra todo tipo de injustiça que é
causa de opressão e anunciou a presença do Reino da graça e da verdade. Assim,
Jesus também nos mostra o que é necessário para que a Igreja, o seu Corpo
Místico, seja fiel à sua missão de continuadora da sua obra. Todos nós somos,
sempre, movidos por alguma coisa que atua, direta ou indiretamente sobre nós.
Este 'alguma coisa' pode ser uma força, uma energia, um sonho, um ideal, uma
ideologia, uma idéia, uma teoria, um desejo, uma vontade, um pensamento, um
objetivo, uma palavra, uma convicção, uma obsessão, uma esperança, uma luta,
uma descoberta, uma alegria, uma tristeza, um motivo, uma meta, uma influência,
uma crença, uma fé...
Nem
sempre nos damos conta de que algo nos move. Nem sempre nos perguntamos sobre
aquilo que nos move. O fato é que todos nós somos movidos por alguma coisa e,
nem sempre é por alguma coisa boa, capaz de edificar, realizar, fazer crescer e
tornar mais gente.
Permita-se
fazer essas perguntas: o que me move? Que força me arrasta? Sob que inspiração
eu vivo? Qual é a minha maior energia? Que apelos ganharam meu coração? Com que
espírito eu faço as coisas?
Quando
não nos perguntamos sobre o que nos move (e somos movidos), nos deixamos
arrastar, quem sabe, para longe de um processo humano consciente e maduro. O maior espaço de florescimento para a vida é
o nosso interior mas, não nos damos conta disso e vivemos na superficialidade
de tudo, aprisionados fora de nós mesmos. E essa é, certamente, a maior
tragédia do ser humano.
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