Reflexões :
“Se você não tem dúvidas, é porque está mal-informado”.
Olha que coisa
boa. Há várias pessoas que acham que o conhecimento é a ausência de dúvida, a
completa certeza, e não o é. Aliás, um conhecimento que fosse pura certeza,
ficaria estagnado e teríamos um nível de redundância muito forte.
É claro que eu não posso ser alguém que só tem dúvidas, porque aí não
ajo. Mas não ter dúvidas sinaliza falta de inteligência. Quando se pensa nas
várias fontes de informação que precisamos ter no nosso dia a dia, é necessário
ter lugar também para a dúvida.
Não a dúvida que se coloca como mera suspeita, mas uma dúvida metódica:
“Será que já sei o que eu preciso?”, “Será que eu não devo pensar um pouco
mais?”, “Será que não estou caindo na armadilha de imaginar que já sei?”
Eu não sei algumas coisas e preciso ter humildade para vir a saber.
A dúvida é parte da necessidade do conhecimento. As dúvidas fazem
parte do ser humano: “Todos experimentamos extravios, incertezas, dúvidas. Quem
não experimentou? Uma vez li uma frase que mexeu comigo: “Sempre que houver
oportunidade de escolha, haverá dúvidas”. Interessante a análise, não?
Imediatamente pensei na fé
cristã. Pensei acerca de minha fé. Fiz uma transposição da frase para minha
realidade. A fé cristã nos apresenta um Deus que nos dá a opção de escolha.
Deus abre espaço para a aceitação ou para a rejeição. Deus abre espaço para a
dúvida. a fé cristã é uma fé que levanta questões, até mesmo acerca de Deus.
Precisamos saber lidar com a dúvida! Temos de explicar que há uma fina
linha de diferença entre duvidar e descrer. Quem descrê peca por não saber como
atrelar dúvida e fé. Tiago escreve que “aquele que duvida é semelhante uma onda
do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte”. A
referência aqui deve ser interpretada “por ser vencido pela dúvida” ou “por não
saber colocar a dúvida em seu devido lugar”. É o erro por não querer
enfrentá-la e nem querer conviver com ela. É o medo de se viver com a dúvida
porque a dúvida cede lugar apenas para a possibilidade e não para a certeza. Percebe?
O homem não gosta de viver sem certezas.
Mas, na verdade as duas sempre estarão juntas. Nem tanto no sentido de
uma combatendo a outra, mas de uma completando a outra. Parece estranho, mas é
o que percebo, pois já li que no céu ninguém precisará de fé, nem esperança,
apenas de amor (1ª Coríntios 14:11-13). A fé precisa acontecer porque nunca
ninguém viu a Deus nem O apalpou. Ninguém abraçou a Deus nem O cheirou. Veja
que, mais do que uma simples aposta, a fé nos remete a um saber de Alguém (e
não apenas crer) mesmo através do improvável e do invisível. Incrível! A fé só
existe porque há dúvida. Entendo que esse caminho de aceitar e compreender a fé
se encontra o esforço de trazer o surreal para o real. De se fazer pontes nas
“fronteiras da fé” entre as duas existências. É o empenho de se fazer tornar
humana a espiritualidade. Nem tanto de “torná-la”, mas de “descobri-la” com
algo humano. A espiritualidade cristã será exata quando for humana (acredito
que a espiritualidade cristã é tão humana quanto Deus o foi em Jesus)!
O caminho de aceitar a fé
somente ganhará significado quando toda essa espiritualidade de fé cristã for
“útil” (no sentido menos pragmático o possível), quando tiver aplicação na
extensão terrena e quando fizer parte de um contexto real, que seja-nos
próprio. A fé precisa ser posta no chão de nosso coração… tão humano e de
carne.
Mas há outra abertura de espaço. Por ser são terrena e humana a fé
abre espaço para a dúvida. O homem gosta da ideia de ser angelical.
Concluo: Fé se sabe, não se explica. É por
isso que a dúvida não acaba prevalecendo, porque a fé entra com o “saber”, e
com a “razão”, nem tanto. O que se tenta explicar, ou, naquilo que se tenta por
razão, é em tudo aquilo que há em torno da fé cristã, e não o que há no centro.
No centro só há o amor… por escolher acreditar.
Os homens gostam de se parecerem com os deuses. Mas a fé cristã faz o
homem voltar para sua concepção natural, inicial e perfeita: humana. A fé
cristã nem sempre encanta porque deixa a dúvida fazer parte do jogo.
“Toda formiga conhece o segredo de seu formigueiro, toda abelha
conhece o segredo de sua colméia.
Elas o sabem de seu próprio jeito, e não do nosso jeito. Somente a
humanidade não sabe seu segredo.”
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