14º
DOMINGO DO TEMPO COMUM
06 de julho
de 2014
Leituras:
Zacarias 9, 9-10;
Salmo 144 (145), 1-2.8-9.10-11.13cd-14;
Carta de São Paulo aos
Romanos 8, 9. 11-13;
Mateus 11, 25-13.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Eucaristia, Jesus revela a sua união com o Pai de tal
modo que para conhecer um, é necessário conhecer o outro. O Pai revela-se aos
pequenos através de Jesus, assim Ele convida todos os que andam curvados sob o
peso da vida, para que venham e aprendam uma nova forma de viver livre, na sua
simplicidade e humildade.
1. Situando-nos
brevemente
Amados irmãos e irmãs em Cristo, a palavra “eucaristia”,
vem do grego e se traduz como “ação de graças”. Ela tem três significados: o
primeiro, o ato de dar graças. O Concílio Vaticano II restaurou essa conotação
da palavra eucaristia quando preferiu, nos livros litúrgicos, chamar a
“celebração dos divinos mistérios” de “Celebração Eucarística”, ou seja, todo
esse rito que estamos agora celebrando se chama “eucaristia”.
O segundo significado da palavra eucaristia se aplica à
oração por meio da qual damos graças. Assim a oração central desta “celebração
eucarística” é chamada de “Oração Eucarística”. Já no seu início encontramos o
sentido de dar graças: “Demos graças ao Senhor nosso Deus”. Os antigos não
tinham uma palavra semelhante ao nosso “obrigado”, então para se agradecer a
alguém por algum bem recebido, o “agraciado” comentava publicamente o que
aquela determinada pessoa, o agraciador, tinha feito em seu beneficio. Assim os
Prefácios das Orações Eucarísticas, fazendo memória dos benefícios que Deus nos
fez, a Ele rende graças.
Para a Igreja, Jesus Cristo é o nosso motivo de
Eucaristia, de ação de graças: “Compadecendo-se da nossa fraqueza humana, ele
nasceu da Virgem Maria. Morrendo no lenho da Cruz, ele nos libertou da morte.
Ressuscitado dos mortos, ele nos garantiu a vida eterna” (Prefácio dos domingos
do Tempo Comum II). “Por ele, vós nos chamastes das trevas à vossa luz
incomparável “ (Prefácio dos domingos do
Tempo Comum I), etc. Por fim a terceira realidade à qual se aplica o termo
eucaristia, são os elementos sobre os quais, na celebração eucarística, se
pronuncia a oração eucarística, isto é, o pão e o vinho eucarístico,o Corpo e o
Sangue de Cristo.
Neste sentido, a celebração deste nosso XIV Domingo do
Tempo Comum é, em todos os sentidos, eminentemente eucarística.
2. Recordando a
Palavra
O Evangelho deste domingo está entre as páginas mais
intensas e profundas de todo o Evangelho; ele, na verdade é composto de três
partes. A primeira é uma oração: “Te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra”.
A segunda é uma narração dos feitos salvíficos de Deus
de Deus em favor do seu povo: a revelação “destas coisas aos pequeninos”, a
entrega, por parte do Pai, de todas as coisas ao Filho – “Tudo me foi entregue
por meu Pai” e a profunda intimidade entre o Pai e o Filho que resulta na
“revelação” do rosto paterno de Deus àquele “a quem o Filho o que quiser
revelar”. Essas duas primeiras partes, oração e memória, nós podemos afirmar
que são “eucarísticas”. A terceira parte é um convite: “vinde a mim”.
Os destinatários da revelação feita pelo Pai são os
pequeninos, os humildes, os simples. Os pequeninos deste Evangelho, são em
primeiro lugar os discípulos de Jesus; todo e qualquer discípulo de Jesus, como
é afirmado em Mt 10,42: “quem der, nem que seja um copo d’água fria a um destes
pequeninos, por ser meu discípulo, receberá a vida eterna”.
As coisas que o Pai escondeu “aos sábios e entendidos”
consiste no “mistério do Reino dos céus”, como ouviremos no Evangelho do
próximo domingo: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino
dos céus” (Mt 13,11).
Nesta perspectiva, no entanto, encontramos Jesus como o
mais pequenino entre os pequenos, o mais humilde entre os humildes, o mais
simples entre os mais simples. Tal imagem é evidenciada pela figura real, plena
de contradições, apresentada na primeira leitura: o rei, o justo, o salvador. O
rei é humilde e vem sentado num jumento; é justo porque vem eliminar “os carros
de Efraim e os cavalos de Jerusalém e quebrar o arco de guerreiro”, mas o seu
estandarte é a paz; é simples mas tem um “domínio” que se estende de mar a mar
e de rios a rios, “até aos confins da terra”. Este rei do qual fala o oráculo é
Jesus Cristo.
Estas “contradições” do Rei-Messias está ainda expressa
na coleta da missa de hoje: é pela humilhação, pela queda, pelo rebaixamento,
pela desclassificação do Filho que o Pai reergue o mundo decaído. Esta verdade
revelada aos pequeninos nos remete a uma aclamação eucarística: “Jesus Cristo
deu-nos a vida por sua morte” (Aclamação da Oração Eucarística IV).
3. Atualizando a
Palavra
Irmãos caríssimos escutando esta página do Evangelho
muitos de nós podemos interpretá-la “ideologicamente” que Deus revela os
mistérios do Reino a uma categoria social e a outra não. Mas isso não
corresponde à mensagem de Jesus Cristo que não faz acepção de pessoas, “pois
ele é Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam” (Rm 10,12).
O Pai não “esconde o Reino” aos sábios e inteligentes,
mas ele o “protege” dos que se arrogam inteligentes e se recusam a toda e
qualquer forma de obediência e submissão àquele conhecimento que não vem
necessariamente através da comprovação científica: o conhecimento da fé.
O fechamento a toda revelação que vem do alto, e,
portanto à fé, não é conseqüência da inteligência, mas do orgulho. A falsa ideia do homem de pensar saber tudo de todas as coisas anula e bloqueia o
conhecimento de Deus. Eis porque a Bíblia afirma que “Deus resiste aos
soberbos, mas dá a graça aos humildes” (Tg 4,6).
É verdade que muitas vezes os “humildes” são
identificados com os “Pobres”, o que não quer dizer, necessariamente, que os
desprovidos do bem material sejam humildes. Pobreza e humildade são sinônimos,
na Bíblia, de abertura e disponibilidade à novidade, à dependência de Deus, e estes
se opõem por natureza à riqueza/grandeza como sinônimo de autossuficiência, que
é uma espécie de orgulho que consiste na recusa de toda dependência e na
reivindicação de uma autonomia absoluta com relação ao próximo e a Deus.
O convite de Jesus hoje é feito a todos nós, mas
especialmente àqueles que entre nós estão cansados e fadigados sob o jugo da
superfluidade que nasce da busca desenfreada por essa por essa “pobre riqueza”:
“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos
fardos”.
O teólogo do século V, Filoxeno de Mabboug (440-523) diz
que “a busca da riqueza humana é um caminho que não tem fim na vida: quanto
mais se avança, mais ele se alonga diante de nossos passos; só a morte marcará
o seu fim”; e prossegue o sapiente e atual teólogo: “O mundo pesa sobre nós com
todas as suas ocupações, e os que carregam seus fardos, não tem consciência
disto, porque o amam; vão de encontro a ele, como cegos, sem discernir;
carregam pesados fardos, e os acham leves; cansam-se na busca de prejuízos, sem
o saber” (Filoxeno de Mabboug. Homilia IX, 270-273. In SCh 44, p. 254-256).
“Eu não vos farei ricos”, diz o Senhor. Não como estes
ricos que precisam de muitas coisas, pelo contrário, vos farei ricos
verdadeiros, que de nada precisam, pois o verdadeiro rico não é o que tem
muito, mas aquele a quem nada falta; pois existe uma riqueza que empobrece e
existe uma pobreza que enriquece, assim como existe um saber que obscurece o
entendimento e um “não saber” que é sapientíssimo.
O texto de hoje se conclui com outro trocadilho da parte
do Salvador. Ele fala de “jugo suave e fardo leve”. O seu jugo e o seu fardo
são suaves, não porque são menos exigentes, permissivos, licenciosos, mas
porque eles fazem do homem um ser verdadeiramente livre e, ao mesmo tempo,
somente os livres os podem tomar sobre si.
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Vinde a mim, diz Jesus nesta eucaristia, vinde a esta
mesa. A primeira antífona para a comunhão deste domingo nos coloca em conexão
com a solenidade de domingo passado e uma extensão do convite do Evangelho: “provai e vede quão suave é o Senhor, feliz
o homem que tem nele o seu refúgio”.
A oração depois da comunhão pede para “que enriquecidos
por tão grande dádiva (eucaristia), possamos colher os frutos da salvação sem
jamais cessar” o louvor. A Eucaristia (o pão eucaristizado) que daqui a pouco
receberemos não é só “fruto” da eucaristia/celebração que estamos colocando em
ato, mas é também ela “fonte” de eucaristia/louvor/oração.
A participação neste banquete deve nos levar “cada vez
mais a viver a vida” do Reino, nos ensina a oração sobre as oferendas. A vida
do Reino é uma vida de “santa alegria” de “gozo das alegrias” eternas que tem
sua fonte na consciência de que fomos libertados da escravidão do pecado e da
morte, como nos ensina a coleta da missa de hoje.
A vida do Reino nos foi descrita por São Paulo hoje na
segunda leitura: “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos
habita em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos
vivificará também os vosso corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em
vós”.
Que a “eucaristia” de hoje – celebração/oração/ Corpo e
Sangue de Cristo – transforme a nossa vida numa “vida eucarística”; assim
uniremos a nossa voz a voz de Cristo para dizer: “eu te louvo, ó Pai”!
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