22º DOMINGO DO TEMPO COMUM
31 de agosto de 2014
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“Renúncia e seguimento a Jesus Cristo”
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Leituras:
Livro do Profeta Jeremias 20, 7-9;
Salmo 62 (63), 2.3-4.5-6.8-9 (R/. 2b);
Carta
de São Paulo aos Romanos 12, 1-2;
Mateus 16, 21-27.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta páscoa
semanal de Jesus, somos convidados a renunciarmos a nós mesmos, tomarmos a sua
cruz e segui-lo. É a certeza de que caminhar com Ele implica entrega e doação
total. Hoje lembramos o dia nacional do catequista. Que Deus possa abençoar
todas estas pessoas que dedicam parte de seu tempo assumindo o projeto de vida
de Jesus, caminho, verdade e vida.
1. Situando-nos
brevemente:
Domingo da renúncia de tudo para seguir livremente
Jesus. Quem deseja seguir Jesus, fazendo dele “caminho, verdade e vida” ouve de
imediato o apelo: “Renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”. É a certeza
de que caminhar com Ele implica a entrega e a doação radical.
No seguimento de Jesus Cristo, aprendemos e praticamos
as bem-aventuranças do Reino, o estilo de vida do próprio Jesus: seu amor e
obediência filial ao Pai, sua compaixão entranhável frente à dor humana, sua
proximidade aos pobres e aos pequenos, sua fidelidade à missão, seu amor
serviçal até a doação de sua vida.
Celebramos a páscoa de Jesus Cristo que se revela e
amadurece nas inúmeras pessoas e comunidades que, renunciado a si mesmo e
carregando a cruz, doam sua vida em favor dos valores da Boa-Nova do Reino.
Necessitamos nos fazer discípulos dóceis, para aprendermos de Jesus, em seu
seguimento, a dignidade e a plenitude da vida.
Recordamos, com carinho hoje, os diferentes servidores
em nossas comunidades eclesiais.
2. Recordando a
Palavra
Jesus inicia uma nova fase de vida. Até aqui ele foi
instruindo os discípulos e o povo, começando pela Galileia. Agora ele revela o
mistério de sua pessoa, o caminho da cruz, da paixão e ressurreição. O Mestre
passa se dedicar mais à formação interna do grupo dos discípulos.
O caminho da cruz é marcado pela urgência de ir a
Jerusalém, cidade centro do poder político e religioso. Aqui será preso,
torturado e condenado à morte, mas ressuscitará depois de três dias (v.21).
Jesus está determinado e consciente dos riscos que corre por causa da justiça
do Reino que anunciou. Na Judeia os anciãos, os chefes dos sacerdotes e dos
escribas vão oferecer resistência e determinadamente opor-se a Jesus.
Uma realidade dura demais para a cabeça de Pedro. O
discípulo que professara sua fé no Messias, “Filho de Deus vivo”, não consegue
entender as conseqüências de sua missão messiânica. Simão, que não compreende o
mistério do Filho de Deus, propõe uma alternativa e repreende a Jesus: “Deus
não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!”. Ele, a exemplo do
povo Judeu, está arraigado a um messianismo poderoso e vencedor.
Pedro constitui-se para Jesus em uma pedra de tropeço no
caminho. Por isso a reação do Mestre é violenta: “Fique longe de mim, Satanás!
Você é uma pedra de tropeço para mim, porque não pensas as coisas de Deus, mas
as dos homens!” (v.23). O discípulo deseja que Jesus seja feito à imagem e
semelhança dos critérios humanos. Todavia, o Messias não é como os humanos
querem.
Pelo contrário, ele convida para ser aquilo que ele é,
seguindo-o pelo caminho da cruz. As condições implicam a renúncia de si mesmo e
o carregar a que encontrou a vida na doação de sua própria cruz. Realidades que
identificam o discípulo com o Mestre, que encontrou a vida na doação de sua
própria vida. O discípulo que perde a vida tem a grande vantagem: a entrega total
como Jesus. A única forma de realização total será sempre viver para a os
outros. Este é o caminho da Cruz (Evangelho).
O texto de Jeremias pertence à sua 5ª confissão. Em suas
confissões, ele abre seu coração e desabafa diante do insucesso da missão
profética num ambiente refratário e hostil. Ele se dá conta de que entrou “numa
fria”. O que mais o angustia é o silêncio de Deus, já que não vê nenhum sinal
de sua atuação que confirme a verdade de sua pregação dirigida aos concidadãos.
Pessoalmente o profeta tem consciência do chamado de Deus e da missão de falar
em nome do Senhor ao povo.
Vive um profundo dilema entre o insucesso da missão e o
fogo ardente da Palavra que deve anunciar. Esta não lhe permite calar-se. Na
missão, o profeta experimenta a violência de Deus e de sua palavra: “Tu me
seduziste e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu e venceste” (v;7).
Da Palavra que não surte resultados imediatos, brota o grito de lamento e de
sofrimento de Jeremias em relação a Deus, que se transforma em oração e em
aceitação obediente à sua vontade (1ª Leitura).
Paulo, no capitulo 12 da carta aos Romanos, ressalta o
comportamento cotidiano do cristão. A vida cristã caracteriza-se por uma
contínua busca da vontade de Deus, na cotidiana adesão ao sei projeto e como
resposta total e fiel ao chamado, à vocação, às orientações de sua Palavra e da
Boa-Nova de Jesus.
O apóstolo conclui que a vida do cristão é um verdadeiro
sacrifício. A meta de todo o discípulo e missionário de Cristo é fazer da
própria vida um culto agradável a Deus. Isto requer discernimento constante e
empenho por aquilo que suscita, promove e sustenta a vida. Esse é o sacrifício
que agrada a Deus (2ª Leitura).
3. Atualizando a
Palavra
A compreensão da Boa-Nova de Jesus para o domingo de
hoje constitui-se no fundamento da vida e da espiritualidade cristã, entendidas
como seguimento na existência cristã. Seguir e contemplar o Cristo glorioso é
fácil e consolador. Mas o Cristo dos Evangelhos, apresentado como modelo da
prática cristã e fonte de inspiração, é o Mestre que convida ao seguimento,
pela renúncia total e pelo carregar a própria cruz, pois quem deseja ser fiel
ao projeto do Reino deve identificar-se com o Servo Sofredor, abandonado, de
uma vez por toda, a mentalidade do falso messianismo.
Os primeiros cristãos tinham o mesmo desejo de seguir
Jesus, viver como discípulos. Procuravam ter, em seu coração, os sentimentos
que animavam Jesus (Cf. Fl 2,5). Queriam segui-lo a ponto de serem um com ele,
tanto na vida como na morte e ressurreição. Mas o caminho era exigente e
tornou-se fonte de muitas tensões, para as quais não havia respostas prontas.
Pedro, ao repreender Jesus, revela a tentação da comunidade, que consistia em
pensar e agir em conformidade com o sistema dos fariseus e dos escribas.
O seguimento supõe vinculação, adesão à pessoa de Jesus.
Assim, o seguidor adere à sua causa, aos seus ideais e à sua missão,
transformando-se “num pescador de homens” para o Reino e num mensageiro da paz
(Cf. Mt 10,12ss).
O Seguimento requer renúncia dos próprios conceitos
acabados, da ruptura das velhas seguranças, do abandono dos projetos pessoais.
Ao lado de Jesus, não há espaço para outros mestres. Para os seguidores dos
rabinos, era recomendado que, no processo de aprendizagem, tivessem diversos
mestres. Aos seguidores de Jesus, ao contrário, era-lhes ensinado: “Um só o
vosso Mestre” (Mt 23, 8.10).
A adesão incondicional a Jesus Cristo prolonga-se até a
paixão, morte e ressurreição. Assumir o projeto e as atitudes de Jesus deixa o
discípulo exposto às injúrias e à agressão, isto é, os seguidores de Jesus
acompanham o Mestre no caminho da cruz e no sacrifício: “Se alguém quer me seguir, tome sua cruz e me siga” (v.24). “quem não
carregar sua cruz e não caminhar atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc
14,27).
O seguimento traz consigo a exigência da inserção numa
comunidade plural na sua expressão cultural, no modo de viver, de pensar, etc.
Nesta comunidade, os seguidores são chamados a construir uma fraternidade
alternativa à experiência social cotidiana: “Eles serão os irmãos, filhos do
mesmo Pai” (Cf. Mt 23,8s) pelo serviço mútuo (Cf. Mc 10,42s), no perdão
fraterno (Cf. Mt 18,15s) e com espírito de generosa gratuidade (Cf. Mt 5,46).
A opção de seguir Jesus, caminho verdade e vida, traz
consigo a exigência da disponibilidade do discípulo a tudo o que o Mestre
solicitar-lhe na realização da missão. Jesus vivia existencialmente cativado
pelo Reino. Anunciar o reino, torná-lo presente, comunicá-lo é missão de quem
opta com radicalidade pelo seguimento. A causa do Reino é tão apaixonante e tão
absorvente, que todo o resto é relativo e provisório. O amadurecimento no
seguimento de Jesus e a paixão por anunciá-lo requerem que a Igreja renova-se
constantemente em sua vida e ardor missionários.
No sentido amplo da palavra, toda a pessoa de fé é
seguidora de Jesus Cristo, aderindo à sua pessoa, comprometida com sua causa,
convidada a compartilhar do seu destino: sofrimento da cruz, morte e ressurreição,
alegria pela vitória (Cf. Evangelii Gaudium,
88).
A Igreja é seguidora de Jesus porque é sacramento de
Cristo. É o novo povo de Deus que o Espírito Santo conduz nas pegadas do Senhor
Crucificado e Ressuscitado. No tempo da continuidade da missão de Jesus, até a
sua plena realização, o seguimento é obra do Espírito Santo. Neste tempo, uma
autêntica evangelização concretiza-se no seguimento de Cristo na Cruz; no
padecer por Cristo por causa da justiça; no perdão e no amor aos inimigos. Esse
amor superar o amor humano e participa do amor divino, único eixo cultural
capaz de construir uma cultura da vida.
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Hoje, ao participamos, em comunidade, da celebração
eucarística, o Senhor nos revela e nos insere em seu mistério redentor que tem
como caminho a cruz, a paixão. Como no passado, no tempo presente, Jesus sai ao
encontro das pessoas, convidando-as a segui-lo. Como o profeta Jeremias
“deixamo-nos seduzir pelo Senhor”, Na Eucaristia, Cristo unindo-nos a ele, nos
atrai para dentro de sue mistério.
A liturgia fortalece a caminhada, a fim de levar a termo
mediante o compromisso transformador da vida, a realização plena do Reino,
conforme o plano de Deus. O que celebramos na mesa eucarística deve ser
expresso e confirmado na vida. A Eucaristia não se reduz a um meio de
regeneração interior. Ela é um projeto de transformação da sociedade e do
mundo. Ela perpassa os sonhos, as buscas e as esperanças das pessoas. A
Eucaristia é um caminho em direção à terra prometida, anunciada pela Palavra
proclamada no seio da comunidade reunida em nome do Senhor.
A participação à mesa eucarística, com a conseqüente
identificação ao ser e à prática de Cristo, transforma nosso modo de pensar e
de agir. Ajuda-nos na busca das coisas com a mente e a vida renovadas (Cf. Ef
4,23). Assim iluminados pelo encontro com Cristo-luz, nos será possível, com
maior facilidade, discernir a vontade do Pai, aquilo que e bom e que lhe
agrada. Nesse sentido, a participação no banquete eucarístico compromete os
comensais a viverem, no cotidiano da vida, de tal forma que tudo seja para a
glória de Deus.
O mesmo Espírito Santo, que transforma os dons de pão e
de vinho em Corpo e Sangue do Senhor, nos faz assimilar a Palavra de Deus,
purifica-nos do pecado e incorpora-nos a Cristo. O Espírito suscita, em cada um
de nós, os mesmos sentimentos e atitudes de serviço, doação de si mesmo,
obediência ao Pai e dedicação total à missão que marcaram a caminhada do Filho
de Deus.
A celebração eucarística é expressão culminante e fonte
de toda a vida cristã, entendida como seguimento de Jesus Cristo. Aquilo que
aconteceu uma vez, na ultima ceia e na morte de Jesus na Cruz, acontece hoje
par anos, no sacramento da Eucaristia.
“Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste
cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!”
Assim, A Eucaristia é sacramento do Reino de Deus.
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