O pobre em espírito sabe ser humilde e disponível à graça de Deus -
Quanto mais tenho, mais quero: isso mata a alma. E o homem ou
a mulher que tem essa atitude não é feliz e não alcançará a felicidade
No sermão da montanha “Jesus manifesta a vontade de Deus de conduzir os
homens à felicidade”.
Nesta sua pregação Jesus segue um caminho particular: começa com o termo
“bem-aventurados”, ou seja, “felizes”; prossegue com a indicação da condição
para ser tais; e conclui fazendo uma promessa.
O motivo da bem-aventurança não está na condição de “pobres em
espírito”, “aflitos”, “famintos de justiça”, “perseguidos”, mas na promessa
sucessiva, a ser acolhida com fé como dom de Deus. “Parte-se da condição de
dificuldade para abrir-se ao dom de Deus e aceder ao mundo novo, o ‘reino’
anunciado por Jesus.”
Não é um mecanismo automático. “Não podem ser bem-aventurados se não se
converteram”, se não se tornaram “capazes de apreciar e viver os dons de Deus”.
“O pobre em espírito é aquele que assumiu os sentimentos e a atitude
daqueles pobres que em sua condição não se rebelam, mas sabem ser humildes,
dóceis, disponíveis à graça de Deus.”
A felicidade dos pobres – dos pobres em espírito – tem uma dúplice
dimensão: em relação aos bens e em relação a Deus:
“Em relação aos bens, aos bens materiais, esta pobreza em espírito é
sobriedade: não necessariamente renúncia, mas capacidade de experimentar o
essencial, de partilha; capacidade de renovar todos os dias a admiração pela
bondade das coisas, sem sucumbir na opacidade do consumo voraz."
“Quanto mais tenho, mais quero; mais tenho, mais quero: esse
é o consumo voraz. E isso mata a alma. E o homem ou a mulher que faz isso, que
tem essa atitude ‘mais tenho, mais quero’, não é feliz e não alcançará a
felicidade.”
Em relação a Deus, “é louvor e reconhecimento que o mundo é bênção e que
na sua origem está o amor criador do Pai. Mas é também abertura a Ele,
docilidade a sua senhoria: “é Ele, o Senhor, é Ele o Grande, não eu sou grande
porque tenho tantas coisas! É Ele: Ele que quis o mundo para todos os homens e
o quis para que os homens fossem felizes”.
O pobre em espírito é o cristão que não deposita sua confiança em si
mesmo, nas riquezas materiais, não é obstinado nas próprias opiniões”.
“Se em nossas comunidades existissem mais pobres em espírito,
haveria menos divisões, contrastes e polêmicas. A humildade, como a caridade, é
uma virtude essencial para a convivência nas comunidades cristãs. Os pobres,
nesse sentido evangélico, se mostram como aqueles que mantêm firme a meta do
Reino dos céus, fazendo entrever que este é antecipado de forma germinal na
comunidade fraterna, que privilegia a partilha à posse.”
Papa Francisco
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