- Reflexão -
A nova lei
Jesus não veio abolir a lei, mas levá-la à plenitude,
dar-lhe algo "mais" que a faz superar como lei e aceitá-la como opção
interior. De fato, a justiça do fariseu se limita à observância dos artigos da
lei. A justiça do cristão não depende em primeiro lugar da sua observância da
lei, mas de se terem realizado em Jesus os últimos tempos, porque ele veio para
ser o primeiro a obedecer à lei em comunhão com Deus. Cristo estabelece um novo
critério de avaliação moral: a intenção pessoal.
O "mais" da nova
lei
É no coração que se decide a atitude mais verdadeira e mais
radical do homem, é para aí que devemos dirigir a atenção e a escolha: esta é a
exigência superior (o "mais") da lei, com a qual Cristo a cumpre e
aperfeiçoa. Não basta, portanto, não matar; é necessário não se irritar (Mt
5,21s). Não basta não cometer adultério; é preciso não desejar a mulher dos
outros (Mt 5,27s). Não basta lavar as mãos antes das refeições; é preciso
"purificar" o interior do homem (Mc 7,1-23). Não basta erguer monumentos
aos profetas; é preciso não os fazer calar matando-os (Mt 23,29ss). Não basta
dizer: "Senhor, Senhor"; é necessário 'fazer a vontade do Pai que
está nos céus’ (Mt 7,21). Não basta dizer inúmeras palavras na oração; é
necessário ter fé na bondade de Deus (Mt 6,7). Não basta o sacrifício; de nada
servem ato de culto e a observância dos preceitos menores, se não se põem em
primeiro lugar, na própria vida moral, a justiça, a misericórdia e a fé (Mt
9,13; 12,7; 23,23).
A lei é imposta ao homem, de fora. Se Jesus só se limitasse
a espiritualizar a lei, seria um aperfeiçoamento incompleto.
A "nova" contribuição de Cristo é outra: se Jesus
exige um "mais", a motivação está no "mas eu vos digo".
Quem impõe é Cristo, ele foi o primeiro a dar o exemplo. Tornou-se possível ao
cristão amar os inimigos, suportar o sofrimento e a perseguição, porque foi
solicitado e realmente ajudado pelo modelo que tem diante de si. O cristão não
só obedece a uma lei; segue as pegadas de Cristo que o precede e que se torna
para ele modelo-lei-instância e suprema força interior para o dom do Espírito
(Mt 3,11), prêmio-amor beatificante.
Um passo adiante na
fraternidade
As palavras de Jesus convidam o cristão a algo
"mais", a dar um passo adiante na fraternidade. Não basta não matar o
irmão, importa respeitá-lo, ter consideração para com ele, não se achar
superior a ele. Pode-se matar com palavras, com um julgamento severo, com uma
atitude de desprezo. Pode-se matar o irmão deixando-o de lado, fazendo
extinguir-se seu entusiasmo e seus bons projetos, não lhe permitindo
expressar-se livremente. Os marginalizados, os anciãos dos asilos, os débeis
mentais, os afastados são mortos por nosso cruel desinteresse, por nosso
distanciamento, por nossa língua afiada... Não se pode honrar a Deus se o irmão
é desonrado, pois Deus não está só no céu, mas também em cada irmão que
encontramos, especialmente nos pobres, nos pequenos, nos humildes desprezados,
naqueles que nós, às vezes, chamamos de cretinos...
Um passo adiante no amor
O amor do homem e da mulher não é desejo e busca egoístas da
própria satisfação. O amor é querer o bem do amado, é encontro livre e
libertador. A atração física sem amor é sinal de alienação e imaturidade
profunda, é a negação da liberdade e da dignidade da pessoa, é tentativa de destruir
o outro para fazer dele coisa, objeto.
Um amor verdadeiro, com raiz na totalidade da pessoa, se
insere na corrente única de amor que é Deus, Amor que dá o Filho: dom total,
porque Cristo deu sua vida por nós. A família deve viver estas características
de amor, que a marcam profundamente e solidificam a unidade. Dom total. O amor
no matrimônio ou é assim ou não existe. Total até dar-se, sacrificar-se
completamente.
Um passo adiante na
sinceridade
As palavras não foram feitas para que os homens delas se
sirvam enganando-se mutuamente, mas para que levem seu pensamento ao
conhecimento dos outros. Enganar os outros significa deturpar o sinal da
palavra, torná-la sinal de divisão e confusão, em lugar de comunhão e limpidez.
Cristo supera, portanto, a lei judaica quando proíbe a mentira em qualquer
circunstância, tornando assim inútil o juramento.
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