A Esperança pode ser compreendida na
ordem natural e sobrenatural. Naturalmente ela designa uma paixão,
enquanto um movimento da sensibilidade que tende para um bem sensível
ausente, mas que pode ser alcançado ainda que com dificuldade, e um
sentimento, entre os mais nobres do coração humano, que se dirige a um
bem honesto ausente.
É um sentimento de grande importância,
pois ele sustenta o homem em seus empreendimentos difíceis. De maneira
sobrenatural, sustenta o católico em meio às dificuldades relativas à
sua santificação e salvação. Tem por objeto as Verdades reveladas que se
referem à vida eterna e aos meios de adquiri-la, e se funda na
onipotência e bondade divinas. Deteremos-nos neste trabalho a analisar a
esperança sobrenatural e, dentro desta, seu papel em nossa
santificação.
A Esperança contribui para a nossa
santificação de três maneiras principais: primeiro une-nos a Deus;
segundo, dá eficácia às nossas orações e terceiro e torna-se princípio
de atividade fecunda.
Une-nos a Deus desapegando-nos dos bens
terrenos. A todo momento somos solicitados pelos prazeres sensíveis,
pelo orgulho, pela sensualidade... enfim, pelas alegrias, legítimas e
ilegítimas, da esfera natural. No entanto, a esperança quando apoiada
numa fé viva e ardente, mostra-nos que a todas as felicidades terrenas
faltam dois elementos essenciais: a duração e a perfeição.
Nenhum bem terreno é suficiente de si para satisfazer o ser humano uma vez que este foi criado por Deus com sede do infinito.
Após o deleite, sempre há o enfado e
saciedade. A nossa inteligência jamais se dá por satisfeita sem o
conhecimento da causa perfeita, e o nosso coração não se contenta a não
ser em Deus. Só Ele é a plenitude do Bonum, Verum e Pulchrum. E
bastando-Se a Si mesmo, evidentemente, basta-nos a nós.
A esperança, unida à virtude da
humildade, dá eficácia às nossas orações e nos obtêm dos céus os favores
de que necessitamos. Ensina-nos o Eclesiástico: «scitote quia nullus
speravit in Domino et confusus est. Quis enim permansit in mandatis
ejus, et derelictus est, aut quis invocavit eum, et despexit illum?
Quoniam pius et misericors est Deus, et remittet in die tribulationis
peccata (Ecle. 2, 11-12). » Em seus milagres, Cristo nosso Senhor,
jamais desprezou quem a Ele recorreu com confiança. Não atendeu Ele o
centurião, o paralítico descido pelo telhado, os cegos de Jericó, a
Cananéia, a pecadora pega em adultério e o leproso? Ademais não prometeu
ele que "Amen, amen, dico vobis, si quis petieritis Patrem in nomime
meo, dabit vobis" (Jo 16, 23)? Afinal, nada honra tanto a Deus como a
confiança n'Ele que não se deixa vencer em generosidade, concedendo
superabundantes graças.
Por fim, a esperança é um princípio de
atividade fecunda.
Primeiro, porque produz santos desejos, em
particular, o anelo do Céu e de Deus.
Ora, esse anseio dá à alma o
impulso e o ardor necessários para alcançar o bem suspirado e ampara os
esforços empregados para a obtenção do fim desejado. Segundo,
aumenta-nos as energias por meio da expectativa duma recompensa que
superará em muito os nossos empreendimentos. Se no mundo se trabalha com
tanto afã para adquirir bens perecíveis, que as traças corroem e os
ladrões roubam, com quanto mais razão não devemos nós esperar, quando
buscamos uma coroa incorruptível!
Dá-nos, ainda aquela coragem, certeza e
constância que a certeza do triunfo produz. Então, é isto que nos dá a
esperança, pois apesar de fracos por nós mesmos, somos fortes pela
própria força de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário