Dez passos para ter...
1ª Passo: Tomar um livro espiritual (Novo Testamento ou Imitação
de Cristo) – ler algumas linhas com intervalos – meditar um pouco no que se
leu, procurar entender o seu significado e gravá-lo no espírito. – Tirar daí
qualquer afeto santo, amor ou penitência, etc., e propor praticar uma virtude
que mais agrade. Não ler muito, nem meditar muito. – Demorar-se em cada pausa,
enquanto o espírito nela encontrar entretenimento agradável e útil.
2ª Passo: Tomar qualquer expressão da Sagrada Escritura, ou
qualquer oração vocal: Pai Nosso, Ave Maria, Credo, por exemplo, pronunciá-la,
demorar-se em cada palavra, tirar dela diversos sentimentos de piedade, nos
quais se demore, enquanto nele se achar gosto. No fim, pedir a Deus alguma
graça ou virtude, conforme o assunto meditado. Não se demorar numa palavra,
quando nela já não se encontrar com que deleitar-se. Passar serenamente para
outra. – Quando se sentir tocado por algum sentimento bom, demorar-se enquanto
ele dura, sem querer passar adiante. Não é necessário fazer sempre atos novos,
basta algumas vezes conservar-se perante Deus, saboreando em silêncio as
palavras já meditadas, ou os sentimentos que elas produziram no coração.
3ª Passo:
Quando o assunto preparado não fornece entretenimento suficiente, fazer atos de
fé, adoração, ação de graças, esperança, amor, etc., dando-lhes a extensão que
se quiser, e demorando-se, um pouco, em cada um para o saborear.
4ª Passo: Quando não se conseguir meditar, nem produzir afetos,
afirmar diante de Deus que se tem a intenção de fazer tantos atos de contrição,
por exemplo, quantas vezes se respirar, se fizerem passar as contas de terço
entre os dedos ou se pronunciar com a boca qualquer oração curta. Renovar, de
quando em quando, este propósito. Se Deus der outro qualquer bom sentimento,
recebê-lo com humildade e demorar-se nele.
5ª Passo:
Nas penas e aridezes, abandonar-se, generosamente, ao sofrimento sem se
inquietar nem fazer esforço para sair dele, sem fazer outros atos senão este
abandono de si mesmo nas mãos de Deus para sofrer essa provação e todas aquelas
que a Ele aprouver. Ou então, unir-se à Agonia de Nosso Senhor no Horto e ao
seu desamparo na Cruz. Persuadindo-se que nela está cravado com o próprio
Salvador e, com o seu exemplo, desejando conservar-se lá e sofrer até à morte.
6ª Passo: Exame interior. – Reconhecer as próprias faltas, paixões, fraquezas,
enfermidades, impotência, misérias, nada. – Adorar os juízos de Deus acerca do
estado em que a pessoa se encontra. – Submeter-se à sua santa vontade. –
Bendizê-lo, igualmente, tanto pelos castigos da sua justiça como pelos favores
da sua misericórdia. – Humilhar-se perante a sua suprema Majestade. –
Confessar-lhe, sinceramente, as nossas infidelidades e pecados, e pedir-lhe
perdão. – Detestar todo o mal que se fez e propor corrigir-se para o futuro.
Esta oração é livre e recebe toda a espécie de afetos; pode-se fazer em
qualquer ocasião, sobretudo, após uma queda inesperada, para se submeter aos
castigos da justiça de Deus, ou após o embaraço da ação, para voltar ao
recolhimento.
7ª Passo: Meditação sobre os fins últimos. Considerar-se na
agonia, entre o tempo e a eternidade – entre a vida passada e o julgamento de
Deus. – Que queria ter feito? – Como queria ter vivido? – Recordar-se dos
pecados, desregramentos, abuso das graças. – Lamentar o mal feito. Propor
remediar o que cause motivos de temor. Imaginar-se no cemitério, esquecido e
todos, – diante do Tribunal de Jesus Cristo, no Purgatório, no Inferno. Quanto
mais viva for a representação, tanto mais proveitosa a meditação. É necessária
esta morte mística para descarnar a alma e ressuscitá-la, isto é, libertá-la da
corrupção do vício. É preciso passar por este purgatório para se chegar ao gozo
de Deus nesta vida.
8ª Passo: Aplicação do espírito a Jesus Cristo no Santíssimo
Sacramento. Saudar Nosso Senhor, com todo o respeito que a presença real exige,
unir-se a Ele e a todas as suas divinas operações na eucaristia, onde, como
Vítima, não cessa de adorar, louvar e amar o Pai, em nome de todos os homens.
Pensar no seu recolhimento, vida oculta, obediência, humilde, etc. – Excitar o
desejo dessas virtudes. Oferecer Jesus
Cristo ao Pai Eterno, como única vítima digna d’Ele, e pela qual podemos
render-lhe homenagem, reconhecer os seus benefícios, satisfazer a sua justiça e
obter misericórdia. Oferecer-se a si mesmo para lhe sacrificar o ser, vida,
empregos. Apresentar-lhe um ato de virtude que se proponha fazer, uma
mortificação a praticar, pelos mesmos fins pelos quais Nosso Senhor se imola no
Santíssimo Sacramento. – Fazer esta oblação com um desejo ardente de aumentar,
tanto quanto se for capaz, a glória que Ele presta a seu Pai neste augusto
mistério. Terminar fazendo a comunhão espiritual. Tornar freqüentes estas
visitas, porque a nossa felicidade nesta vida depende da nossa união a Jesus
Cristo no Santíssimo Sacramento.
9ª Passo: Faz-se em
nome de Jesus Cristo. – Aumenta a nossa confiança em Deus e faz-nos entrar no
espírito e nos sentimentos de Nosso Senhor. Funda-se na nossa aliança com o
Filho de Deus, em sermos seus irmãos, membros do seu corpo místico; no fato de
Ele nos ceder todos os seus méritos e nos legar todas as recompensas que o seu
Pai lhe deve pelos seus trabalhos e morte. É isto que nos torna capazes de
honrar a Deus com um culto digno de Deus e nos dá o direito de tratar com Deus
e de exigir, de algum modo, as suas graças como por justiça. – Não temos esse
direito como criaturas, menos ainda como pecadores, porque há desproporção
infinita entre Deus e a criatura e oposição infinita entre Deus e o pecador.
Mas na qualidade de aliados do Verbo Encarnado, de seus irmãos, de seus
membros, podemos aparecer diante de Deus com confiança, tratar familiarmente
com Ele e obrigá-lo a escutar-nos, favoravelmente, a ouvir as nossas súplicas e
a conceder-nos as suas graças, devido à aliança e à união que temos com o seu
filho. Portanto, aparecer perante Deus, para O adorar, amar, ou louvar, por
intermédio de Jesus Cristo, operando em nós como a Cabeça nos seus membros e
elevando-nos, pelo seu espírito, a um estado todo divino; ou para pedir
qualquer favor, em virtude dos méritos do seu Filho. E, com este fim,
apresentar-lhe os serviços que o seu Filho lhe prestou, a sua vida, a sua
morte, os seus sofrimentos.
10ª Passo: Simples atenção à presença de Deus e meditação.
Antes de se aplicar em meditar o assunto preparado, pôr-se na presença de Deus,
afastando qualquer pensamento distinto, e excitando o respeito e amor a Deus
que a sua presença inspira. – Conservar-se, assim, diante de Deus, em silêncio,
neste simples repouso de espírito enquanto nele se encontrar gosto. – Em
seguida, meditar segundo a maneira ordinária. Bom é começar, assim, todas as
meditações, e útil o fazê-lo depois de cada ponto. – Repousar nesta simples
atenção a Deus ajuda a estabelecer o recolhimento interior. – O espírito
fixa-se em Deus e prepara-se para a contemplação. – Mas não se deve conservar
assim por pura preguiça e para não se ter o trabalho de meditar.
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